Ele não conseguia parar de sorrir da minha vergonha. Até então nem ele sabia o que realmente se passava ali.
-calma, não precisa ficar assim. -Disse ele parando o riso. -minha única reaçao foi sair dali vendo ele vindo para sua direção.
-eu não sei nem o que dizer. -disse agora conseguindo me aconchegar no banco do carro voltando minha mente ao ocorrido. Ele me olhou fixamente por um momento.
-mau pergunte, mas aquele cara tava vindo para cima de você para te agredir?
-não, ele é um idiota que depois de fazer burrada veio querer se desculpar.
-Hum, entendi. Bom, já que estamos bem distantes, posso te deixar em um ponto de taxi para você seguir mais tranquilo para casa.
-claro, por favor, e desculpa por invadir seu carro.
Por mais que fosse uma situação constrangedora eu ali no carro de um estranho que acabei de invadir, minha cabeça só ficava com a imagem dos dois se beijando.
-aqui está bom pra você? -disse ele me acordando das lembranças de alguns minutos atrás. -se quiser posso ir mais adiante.
-está ótimo aqui, obrigado. -estendi minha mão para agradecer, onde reparei uma beleza ali que não tinha visto antes por estar cego pelo transtorno. Ele era branco, tinha os olhos azuis claros, o cabelo liso e puxado para o loiro e recentemente cortado curto, um corpo musculoso, dava para ter uma percepção mesmo com o terno o escondendo, ele tambem era alto, pude perceber mesmo com ele sentado. Aquele cara parecia ter sido desenhado, não conseguia achar defeito algum ali.
-Imagina, era o mínimo que eu poderia fazer depois de te ver naquele estado. -Corei na hora.
-que falta de educação a minha, nem me apresentei. -prazer, Charlie.
-o prazer é todo meu Charlie. -depois de uma pequena pausa ele diz seu nome. -me chamo Marcelo.
-obrigado mais uma vez. -Ele nada disse, apenas sorriu.
Caminhei até o ponto e ele não saiu com o carro enquanto não adentrei o local. Quando sai que pude perceber aquela BMW Serie 3, eu só podia estar cego mesmo pra não notar tal diferença entre um Siena e uma BMW.
O senhor que se encontrava na recepção disse que todos os taxis estavam em corridas e que poderia demorar um pouco até chegar algum.
Peguei meu celular para chamar um Uber, mas minha internet não estava a meu favor. Ótimo, teria que esperar alí sabe-se Deus lá quanto tempo. Sentei em um banco na espera de aparecer um santo taxi pra eu poder ir pra casa descansar, quando ouço a buzina daquele carro que agora já sabia quem era, me chamando. Ele abriu o vidro do passageiro.
-não posso te deixar aí desse jeito até sabe-se lá quando possa aparecer um taxi.
-não precisa, eu aguardo. Afinal eu já atrapalhei você até a entrar na festa, você já fez bastante por mim só me trazendo até aqui. -Dizia já corando novamente. Como aquele estranho conseguia me deixar totalmente sem jeito.
-você quem me salvou de entrar no evento provavelmente mais chato que eu iria desde semana passada, só estava indo por consideração a um amigo. Entra, te deixo em casa.
Entrei e seguimos rumo a minha casa conforme passei as coordenadas para ele.
-então aquele cara é seu namorado?
-ERA. -Disse de forma firme. -dele só quero distancia agora.
-pelo que imagino foi algo serio. -disse ele olhando para a estrada enquanto conversava comigo.
-ele me decepcionou mais do que qualquer outra pessoa, ficando com o fulano lá.
-fulano? -ele olhava confuso pra mim.
Acabei sorrindo.
-o ex namorado dele, um babaca que é próximo dele pelo fato dos pais dos dois serem amigos.
Ele apenas acentia com a cabeça. Eu falava mais do que ele, ele mais me escutava do que falava.
Pouco tempo depois chegamos em casa.
-obrigado e desculpa mais uma vez.
-eu que agradeço, que bom ser a quem você pôde desabafar. -aí que fiquei com mais vergonha ainda, eu nem tinha percebido quanta asneira eu estava falando. -e prazer novamente Charlie.
Corei novamente com aquilo. Entrei em casa e então ouvi ele saindo com o carro. Meus pais já dormiam, então procurei não fazer tanto barulho. O choro já tinha passado, o transtorno também e fui retomando a sanidade, apenas me joguei no sofá refletindo sobre tudo que aconteceu. Eu estava despedaçado por dentro.
Depois de uns 20 minutos levo a mão no meu bolso para pegar meu celular mas não o encontrava. Levantei, procurei no restante dos bolsos, no sofá e nada. Pego o celular da minha mãe para poder ligar para o meu, mas antes mesmo de eu discar, o telefone dela toca com um numero chamando que eu não conhecia.
-alô?
-Charlie, é o Marcelo. Espero não estar incomodando, mas foi o numero mais viável que encontrei para te ligar. Você esqueceu seu celular no banco do carro.
-pois é, estava procurando ele agora mas não o encontrava. Bem que eu imaginava mesmo.
-estou chegando em casa agora, mas posso voltar para te entregar.
-não, não. Não precisa. Não vou incomodar novamente, eu posso te encontrar depois em algum lugar para pegar.
-se quiser te entrego no seu trabalho na segunda quando eu for almoçar. -Não acreditei que até onde eu trabalho falei para ele, com certeza eu estava sem filtro dentro daquele carro. Era a bebida misturada com chifre.
-imagina, não precisa se deslocar até meu trabalho para me entregar, eu busco.
-não me importo em levar, bom que já resolvo umas questões próximo do seu local de trabalho.
Fiquei morrendo de vergonha novamente, só de ouvir a voz daquele homem eu já tremia. Ele tinha uma postura, um tom de vóz confiante.
-tudo bem, pode ser.
-ótimo, então salva meu numero que vamos conversando por aqui, prometo que não destravo mais seu celular. -falou dando uma risada um tanto gostosa.
-nem tem nada de tão interessante aí. -Sorri também.
-então combinado, fique bem! Boa noite.
-obrigado, a você também.
Salvei o contato dele no telefone da minha mãe e pude notar que ele tinha whatsapp, sua foto de perfil era ele com uma linda mulher de cabelos negros e bem lisos, estavam sentados ao ar livre de óculos e com um enorme sorriso os dois. Claro que ele é casado, um homem daquele não estaria solteiro assim tão fácil.
Eu estava tão exausto que rapidamente peguei no sono. No domingo a primeira coisa que fiz foi ir até a casa do Gabriel conversar sobre o ocorrido.
Levei minha chave, pois se ele não estivesse lá eu o esperaria.
Cheguei e não vi sinal dele pela casa, fui lentamente até o quarto que estava com a porta aberta e fui para voltar para trás na hora quando vejo ele transando com uma mulher, ele me viu e tratou de tampar o rosto dela para ela não ver a cara de supresa dele, apenas ele tinha visão para a porta. Saí dalí e pensei em ir embora, mas como ele tinha me visto, obviamente ele iria dispensa-la rápido, então fui para o outro quarto.
Uns 10 minutos depois ele leva ela até o elevador e volta trancando a porta.
-esse é o principal motivo de eu não morar aqui com você. -digo saindo do quarto.
-até parece, nem tava tão gostoso assim. -disse ele tirando a toalha da cintura e entrando no banheiro deixando a porta aberta.
-imagino mesmo, porque ela tava gemendo tão baixo que precisei chegar no quarto para saber que você estava aqui. -Dizia escorando no vão da porta do banheiro. O box do banheiro era um branco fosco, conseguia ver apenas a sombra dele, ele ainda estava de pau duro. Provavelmente nao tinha gozado, mas também não questionei.
Não tínhamos problema em ficar pelados um na frente do outro, mesmo que eu seja gay.
-e então, como foi com o trouxa lá?
-peguei ele beijando o ex e não consegui falar nada que eu queria, apenas sai correndo de lá.
-Uai, se você pegou o príncipe beijando outro no baile, quem é que vai trazer seu sapatinho de cristal? -ele ria no chuveiro.
-e quem é que vai te fazer gozar agora? -Nem percebi quando falei, apenas saiu.
Ele entendeu e sorriu
-vou deixar você terminar o que começou la no quarto. -eu disse já saindo.
-ok, hoje vou fazer com a esquerda pra parecer outra pessoa batendo. -Apenas revirei os olhos e saí finalmente sorrindo.
Liguei a tv no quarto dele esperando ele sair. Ele chega de cueca secando o cabelo, senta do meu lado e começa a escutar toda a história.
-ainda acho que deveria dar umas porradas nesse seu principe sapo. E esse tal de Marcelo?!
-o que tem ele?
-você mais falou dele do que do Henrique desde a hora que sentei aqui.
-sério?! Nem percebi.
-sei...
-to cheio de fome, o que a gente apronta pra comer? -Disse eu levantando da cama e tentando desvencilhar do assunto.
-você eu nao sei, mas vou pedir almoço porque não to afim de cozinhar pra marmanjo não. -Ele seguiu até a sala, deitando no sofá. -mas como você está no meio termo, eu peço pra você também.
-idiota. -me joguei no sofá em cima dele. Passamos o resto do dia assim, a noite voltei em casa e peguei minhas coisas, iria dormir na casa do Gabriel essa noite.
Quando eu dormia lá, mesmo com dois quartos no apartamento, Gabriel e eu sempre dormíamos juntos na cama de casal dele, sem segundas intenções.
Na segunda de manhã recebo uma mensagem do Marcelo no celular da minha mãe. Fiquei com o celular dela até pegar o meu, para manter contato.
"Olá Charlie, bom dia! tudo bem?
Saírei para o almoço 12h."
"Posso te encontrar no seu trabalho por volta de 12h30?"
"Oi, bom dia. Estou bemmelhor e vc? Pode sim, te aguardo nesse horario."
"Estou ótimo. Perfeito então, passarei no horário marcado."
Por volta de 12h30 o vi chegar, vendo aquele carro não teve como não dar um sorriso lembrando de toda confusão.
-bem melhor te ver sorrindo. -disse ele saindo do carro e tirando os óculos escuros.
Naquele momento consegui ver ele mais lindo ainda. Estava com um traje social, mas desta vez sem blazer e gravata. Pude ver seus músculos desenhados na camisa. Tentei, juro que tentei nao olhar, mas o volume que se fazia na calça justa dele não teve como não notar, vai saber o monstro que se escondia lá dentro. Agora em pé conseguia ver que ele tinha uma coxa bem grossa e um bumbum visivelmente gostoso. Seus olhos azuis brilhavam sobre o sol.
-Charlie, está tudo bem? Ele olhava curioso pra mim.
-tudo, tudo ótimo, desculpa, olhei o carro e fiquei lembrando de toda confusão. (aham tá, o carro...sei).
-se sente melhor?
-sim, com certeza, a sanidade voltou e agora só colocar a cabeça no lugar. -sorri para ele.
-que bom. Prefiro você assim, sorrindo, voce é um bom garoto, outros amores virão. -Disse com um sorriso sincero. -bom, trouxe seu celular e vê se não perde. -novamente vejo aquele sorriso gostoso.
-pode deixar, vou tomar cuidado.
-você sabe de algum restaurante por aqui, não vou ter tempo de voltar para almoçar e estou cheio de compromissos hoje.
-claro, na verdade estou indo pra lá agora, almoça comigo, é o mínimo que posso fazer depois de tudo. -Eu realmente chamei ele pra almoçar comigo?!
-podemos entao, vamos lá. A pé ou de carro? -disse ele fazendo piada.
-a pé, por favor. Nada de carro pra mim.
A pior coisa de almoçar com algum desconhecido é a vergonha que tenho. Seleciono aquilo que é mais prático para cortar com facilidade para não passar vergonha. Mas felizmente correu tudo bem. Até pra almoçar ele é todo elegante, acho que aprendeu desde cedo. Eu mesmo gosto de pegar com a mão, curto comer no estilo Brad Pitt.
Na hora de pagar ele quis pagar a minha refeição, mas por muita insistência acabei pagando a dele, afinal não era nem o mínimo do que eu poderia fazer por ele.
Ele voltou para o trabalho e eu para o meu.
Engraçado, ele sabe onde moro, onde trabalho, sobre meu relacionamento e a única coisa que sei dele é que ele trabalha nao sei onde, se chama Marcelo, tem uma BMW e é noivo, notei a aliança dourada na sua mão direita durante o almoço.
Durante o trabalho que fui olhar meu celular, 25 ligações do Henrique e mais de 100 mensagens no whatsapp, nem abri.
No decorrer do dia salvei o numero do Marcelo no meu telefone para agradecer novamente pela açao.
"Oi, boa tarde. Novamente obrigado pelo celular e desculpa mais uma vez pelo incomodo"
"Eu que agradeço pelo almoço, pena que não me deixou arcar com os valores."
"É o mínimo que eu poderia fazer, na verdade nem chega perto disso."
"Como disse, voce é uma ótima pessoa, continue sempre assim."
"obrigado, você também."
"E não precisa se desculpar mais, você não fez nada que mereça desculpas, agora um obrigado realmente sempre será bem vindo, rs. Vou voltar ao trabalho. Agradeço por entrar em contato, abraços."
"eu que agradeço. Também vou voltar. Abraços."
Aquele homem parece uma mensagem eletrônica digitando com tamanha educação. Resolvi jogar o numero dele no Facebook para ver se conseguia saber algo mais sobre ele, por mais conversador que ele seja, ele é bem reservado com sua vida pessoal e profissional.
Infelizmente não encontrei nada, tentei a foto do perfil e nada, instagram, snapshat, Google imagens, ate Twitter, mas nenhum resultado para minha busca, acabei desistindo.
Na hora de ir embora vejo o carro do Henrique do lado de fora do meu trabalho me esperando, resolvi parar de evitar ele e acabar logo com isso.