SAMUEL
Na segunda-feira de manhã, encontrei Daniel no seu escritório, olhando pela janela. Os móveis e todas as suas coisas haviam finalmente chegado, e a inquietude dele me mostrou o quanto estava sobrecarregado com a tarefa de arrumar tudo. Passei a maior parte do fim de semana alternando entre o horror e a celebração daquilo que fiz no baile, e fui para o trabalho tentando fazer minha mente parar de relembrar os detalhes e escrutinar minhas ações. Fiquei até a meia-noite no sábado e, infelizmente, tratei de todos os contratos e arquivos que eu teria a semana inteira para resolver. Com exceção de alguns telefonemas, agora eu não tinha mais nada para fazer e, nos últimos dias, um Samuel ocioso não era uma coisa boa.
– Precisa de ajuda?
Daniel riu, desabando no sofá.
– Eu nem sei por onde começar. Acabamos de arrumar nosso apartamento. Além disso, parece que empacotei tudo isso ontem mesmo.
– Comece com a estante de livros. Eu nunca sinto que tudo está organizado até ver linhas de livros arrumadinhos um do lado do outro.
Suspirando, ele deslizou do sofá e rastejou até uma pilha de caixas.
– Você se divertiu no baile?
Abri uma caixa e peguei um estilete.
– Definitivamente.
Pude sentir seu olhar em cima de mim, e aquela atenção estranha parecia queimar meu rosto. Eu provavelmente deveria ter explicado melhor, mas minha mente foi tomada por um completo branco. O que mais tinha acontecido? Nós chegamos. Comemos alguns aperitivos. Max e eu dançamos, e então pedi para ele tirar fotos enquanto transava comigo em cima da mesa. Assim que me lembrei do resto – o jantar que perdemos, o leilão do qual ele foi participar, o lindo jardim para onde eu escapei depois do nosso… encontro; tempo demais tinha se passado para que eu respondesse com uma única palavra.
– Bom – ele disse, com um tom de voz insinuante. – Estou feliz que você tenha decidido ir. Max e Will aparentemente organizam esse baile todos os anos e arrecadam um monte de dinheiro para caridade. Acho isso incrível.
– Incrível – murmurei, lembrando de Max vestido daquele jeito. Meu bom Deus, aquele homem tinha nascido para usar smoking. E também não parecia nada mal ele pelado. Olhei pela janela, lembrando de sua respiração quente em meu pescoço. – Não vou tirar – ele grunhiu, esticando sua mão enorme sobre meu peito. – Apenas quero enfiar cada vez mais fundo, sem parar. Eu não sou um cara pequeno, mas o tamanho da sua mão me faz me senti pequeno, como se ele pudesse me erguer e me partir em dois. Mas, ao invés de ficar com medo, eu abri ainda mais as pernas, recebendo-o ainda mais fundo.
– Mais forte. Ele se afastou um pouco para olhar em meus olhos.
– No seu mamilo ou aqui em baixo?
– Nos dois – admiti, e então ele voltou a mergulhar em meu pescoço, mordendo minha pele. Comecei a pensar nas fotos que ele tirou e estremeci um pouco. Tentei não imaginá-lo olhando para elas. Talvez até se tocando… Daniel limpou a garganta e tirou alguns livros da caixa. Pisquei, com força, e olhei para os livros na minha frente. Deus, de onde vinham essas coisas?
– Eu vi você conversando com Max – ele disse. – E vocês dançaram juntos por, tipo, umas três músicas. Você já conhecia ele antes?
Por acaso ele podia ler mentes? Mas que diabos, Daniel? Não olhei para ele. Em vez disso, apenas murmurei:
– Não, conheci ele no… – fiz um gesto no ar – na sexta-feira.
– Ele é lindo – ele disse.
Só faltou dar uma piscadela. Eu podia sentir seu olhar sobre mim. Daniel era a pessoa menos sutil do mundo. Ele soltava uma insinuação como se fosse um avião bombardeiro.
– Você não acha ele deslumbrante?
Finalmente, olhei para ele e revirei os olhos.
– Para com isso. Não vou ficar suspirando por Max Stella na sua frente. Ele parecia legal, só isso.
Ele riu e guardou alguns livros na estante.
– Certo. Estou apenas me certificando de que você não foi enfeitiçado por ele. O Max parece um cara muito legal, mas, sabe, ele definitivamente é um jogador. Pelo menos ele não esconde isso.
Ele ficou me observando por um minuto enquanto eu tentava não mostrar reação. Foi uma indireta sobre o Andy que parecia justa, e o tipo de coisa que poderíamos rir juntos daqui a um ano ou dois. Mas, agora, suas palavras apenas se dissolveram num silêncio constrangedor.
– Desculpe – ele murmurou. – Péssima hora. Você sabia que Max e Bennett estudaram juntos?
– Sim, ele mencionou algo sobre isso. Eu não sabia que Bennett tinha feito faculdade na Inglaterra.
Ele assentiu.
– Cambridge. Max foi seu companheiro de quarto desde o primeiro dia. Ele não me contou muitas histórias, mas as que contou… – ele se perdeu no pensamento e balançou a cabeça, voltando a prestar atenção nos livros.
Eu supostamente deveria estar desinteressado, completamente desinteressado nisso tudo, não é? Fiquei olhando para meu polegar, e só então percebi que tinha sofrido um corte de papel. Controle-se, Samuel. Seu cérebro está tão fixado em Max que você já nem sente mais dor? Isso é patético.
Então, como fingir que eu não me importava com as histórias que Daniel poderia ter escutado? Quer dizer, obviamente o fato de ele não ter contado muitas histórias significava que ele contou ao menos algumas. Certo? Organizei vários periódicos em ordem alfabética, fingindo estar concentrado. Por fim, a pergunta parecia que estava me sufocando, e eu não resisti:
– Então, que tipo de coisas eles faziam?
– Coisas de homens – ele disse, distraído. – Jogavam rúgbi. Faziam a própria cerveja e davam festas malucas. Pegavam o trem para Paris e blá, blá, blá, travessuras.
Eu queria estrangular o Dan.
– Travessuras?
Ele olhou para mim de repente, como se tivesse se lembrado de alguma coisa, e seus olhos negros definitivamente brilharam com alguma malícia.
– Ei, isso me lembrou de uma coisa. Falando sobre travessuras…
Meu estômago congelou.
– Você desapareceu na sexta-feira durante o baile por, tipo, uma hora! Onde você estava? Meu rosto esquentou e tive que limpar a garganta, franzindo a testa como se não conseguisse lembrar direito.
– Ah, eu me senti meio cansado. Eu, humm… fui dar uma volta no jardim.
– Que pena – ele suspirou. – Eu achei que você tinha esbarrado em um garçom gostosão e tinha ido transar em cima de alguma mesa.
Uma tosse seca explodiu em minha garganta, e de repente minha boca ficou tão seca que eu não conseguia parar de tossir. Daniel se levantou e foi buscar um copo de água na recepção. Quando voltou, tinha um sorrisinho no rosto.
– Te peguei! Você sempre começa a tossir quando fica nervoso assim.
– Estou bem.
– Mentiras. Mentiroso cheio de mentirinhas e mentironas. Agora, conte tudo.
Eu absolutamente me recusei a olhar para ele. Algo naqueles olhos cinzas e no sorriso paciente apontados diretamente para mim me faziam confessar qualquer coisa.
– Não tem nada para contar.
– Samuel, você desapareceu, só voltou uma hora depois e parecia… – ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e revelou o sorriso mais malicioso do mundo. – Você sabe como estava parecendo. Como se tivesse acabado de transar.
Com o estilete, abri uma caixa, tirei uma pilha de revistas e entreguei para ele.
– E foi uma coisa maluca demais para explicar.
– Você está brincando? Você está falando com o homem que transou com o chefe na escadaria do décimo oitavo andar.
Levantei a cabeça com surpresa e comecei a rir. Tomei um pouco de água para tentar parar de tossir.
– Caramba, Dan. Eu não sabia desse detalhe – pensei naquilo por um instante. – Deus, ainda bem que eu nunca usava as escadas. Que indecência. Isso teria sido muito constrangedor.
– Nós éramos ridículos. Nada poderia ser mais louco do que aquilo – ele deu de ombros e voltou a me olhar de um jeito estranho. – Ou será que poderia? O que você me diz?
– Certo – eu disse, encostando no sofá. – Lembra do cara que eu conheci na boate na semana passada? O gostosão?
– Sim?
– Ele estava lá na sexta-feira.
Os olhos dele se estreitaram e praticamente pude ver as catracas girando em seu cérebro.
– No baile?
– Pois é. Ele me encontrou na frente dos banheiros – olhei o céu lá fora para que ele não visse a mentira em meus olhos. – Nós ficamos. Acho que é por isso que eu parecia… humm… amarrotado.
– Quando você diz “ficamos”, você quer dizer…?
– Isso mesmo que você está pensando. Num salão vazio – olhei para seu rosto e encarei seus olhos. – Em cima de uma mesa.
Ele soltou uma exclamação e bateu as mãos juntas.
– Olhe só para você, todo selvagem em Nova York.
Aquilo parecia algo que Max diria, mas saiu de um jeito tão diferente que, por um momento, me deixou sem palavras. Era desorientador desejá-lo tanto assim, imaginar o que ele estaria fazendo, se estaria olhando para as minhas fotos neste exato instante.
– Eu sempre soube que, lá no fundo, você era assim, Samuel – ele acrescentou.
– Acontece que eu realmente não quero outra relação séria. E, mesmo que quisesse, fiquei com a impressão de que essa não é a praia dele – parei antes que acabasse revelando demais. Se eu mencionasse mais um pouco da reputação de Max nas colunas sociais, Daniel iria com certeza descobrir sobre quem eu estava falando. Ele concordou enquanto ouvia e arrumava uma pilha de revistas.
– Mas ele é divertido, Dan. E você sabe como as coisas eram com Andy.
Ele parou de arrumar, mas continuou brincando com o canto de uma página.
– Bom, aí é que está, Sam. Eu na verdade não sei. Quer dizer, vamos lá: nesses três anos que nós dois nos conhecemos, eu apenas jantei com vocês umas cinco vezes. Aprendi mais sobre ele lendo os jornais do que ouvindo as poucas histórias que você contava. Você mal falava sobre ele! Sempre fiquei com a impressão de que ele usava a reputação da sua família para criar uma imagem de pessoa bem relacionada…
Eu me senti culpado, e um constrangimento se instalou em meu peito como se fosse um peso de chumbo.
– Eu sei – respirei fundo lentamente.
Uma coisa era imaginar como as pessoas me viam, outra era ouvir com todas as letras.
– Eu sempre achava que, se contasse algo sobre ele, eu seria mal interpretado e acabaria arruinando sua imagem pública. Além disso, nós não éramos como você e Bennett. Nós não nos divertíamos muito na época em que eu te conheci. O Andy era um falso e um grande babaca. Levei tempo demais para perceber isso. O que aconteceu na sexta-feira foi apenas diversão.
Daniel olhou para mim.
– Ei, tudo bem. Eu sabia que era algo assim – ele abriu outra caixa. – Então, esse cara novo é legal, é diferente do Andy?
– Sim.
– Então você quer dizer que ele gosta de você?
– Ao menos fisicamente, o que é suficiente para mim nesse momento.
– Então, qual é o problema? Parece a situação perfeita.
– Ele é meio intenso. E eu não confio muito nele.
Colocando os livros de lado, ele se virou para me encarar.
– Samuel, o que vou dizer agora pode parecer estranho, mas apenas escute.
– Claro.
– Quando o Ben e eu começamos… aquilo que estávamos fazendo, cada vez que acontecia eu dizia para mim mesmo que seria a última vez. Mas acho que eu sempre soube que continuaria acontecendo até que a situação se esgotasse. Para a nossa sorte, acho que nunca vamos parar de sentir a mesma paixão das primeiras vezes. Mesmo assim, eu não confiava nele. Eu nem mesmo gostava dele. E ainda por cima ele era meu chefe. Quer dizer, tem algo mais inapropriado do que isso? – ele riu, e, seguindo seu olhar em direção à mesa, eu vi que a primeira e única coisa que ele tinha arrumado era uma foto dos dois na França, onde ele o pediu em casamento. – Mas acho que, se eu tivesse me permitido aproveitar pelo menos um pouco, talvez aquilo não tivesse me consumido tanto.
Comecei a entender exatamente o que ele queria dizer sobre sentir-se consumido. E sabia também que eu estava conscientemente lutando contra Max, contra a ideia de Max. Mas as minhas razões eram diferentes. Não era uma relação entre patrão e funcionário, ou qualquer outro tipo de disputa por poder. Era o simples fato de que eu não queria ser de mais ninguém. Eu queria ser dono de mim mesma por um tempo. E, embora essa coisa com o Max fosse insana e completamente diferente de qualquer coisa que eu já tivesse sentido antes, eu era diferente – e estava gostando disso. Gostando muito.
– Eu gosto sim dele – admiti cuidadosamente. – Mas não acho que ele seria um bom namorado. Na verdade, eu sei que não seria. E eu mesmo definitivamente não seria um bom namorado no momento.
– Certo, então talvez vocês devessem apenas se encontrar de vez em quando para transar casualmente. Você sabe, como parceiros sexuais.
Eu ri, mergulhando o rosto em minhas mãos.
– Fala sério. Que vida é essa?
Ele olhou para mim como se quisesse afagar meu cabelo.
– Sam, essa é a sua vida.
George estava lendo o jornal na minha sala com os pés na minha mesa quando eu voltei.
– Trabalhando muito? – provoquei, sentando no canto da mesa.
– É hora do almoço. E você recebeu um pacote, meu querido.
– Você foi até a sala de correspondência?
Ele balançou a cabeça negativamente e levantou um pacote que estava em seu colo.
– Para ser entregue em mãos. Foi deixado aqui por um mensageiro muito bonito, devo dizer. Tive que assinar e prometer não abrir.
Peguei o pacote e fiz um gesto mostrando a porta, mandando George ir passear um pouco.
– Você nem vai me dizer o que é?
– Não tenho visão de raio X e não quero você aqui quando abrir. Então suma logo daqui. Com uma bufada de protesto, ele tirou os pés da minha mesa e foi embora, fechando a porta depois de sair.
Fiquei olhando para o pacote por vários minutos, sentindo um formato retangular dentro do envelope. Um porta-retratos? Meu coração começou a acelerar. Dentro havia um embrulho e um cartão que dizia:
Anjo, Abra isto com discrição. É a minha favorita. Seu estranho.
Engoli em seco, sentindo como se estivesse prestes a libertar uma coisa que eu não seria mais capaz de conter. Olhando a porta para ter certeza de que estava bem fechada, abri o pacote, com as mãos tremendo ao perceber que realmente era um porta-retratos. Feito de madeira, havia apenas uma foto: era a imagem da minha barriga e a curva da minha cintura. A mesa preta debaixo de mim estava visível. As pontas dos dedos de Max também apareciam em baixo, como se estivessem me prendendo na mesa pela cintura. Uma tênue faixa de luz se estendia através da minha pele, como uma lembrança da porta que se abriu e da pessoa que andou pelo salão do outro lado da tela. Ele deve ter tirado a foto logo após se enterrar em mim. Fechei os olhos, lembrando a sensação de quando gozei. Eu me senti como um fio desencapado plugado na parede, com a carga elétrica que iluminaria o salão passando diretamente por mim. Ele punhetou meu pau passando o polegar na cabeça e continuou entrando em mim. Eu quis fechar as pernas por causa daquela intensidade, mas ele grunhiu e me manteve aberto com o bater de seus quadris.
Enfiei o porta-retratos de volta no envelope e escondi tudo na minha bolsa. Um calor se espalhou em minha pele e eu nem podia ligar o ar-condicionado ou abrir uma janela num andar alto como aquele. Como ele sabia? Senti o peso daquilo me pressionando: o quanto eu queria que fosse uma foto de nós dois, o quanto eu queria ser visto. Ele entendia, talvez até melhor do que eu mesmo. Tropeçando na minha mesa, sentei e tentei avaliar a situação. Mas, exatamente na minha frente, estava o New York Post, aberto na seção de colunas sociais. E bem no meio da página tinha uma história intitulada
MAX STELLA, O DEUS DO SEXO, EM VOO SOLO
O playboy milionário tentou algo novo no Museu de Arte Moderna. Não, ele não começou a investir em arte, e com certeza não estava lá para arrecadar fundos (sejamos honestos: o cara já arrecada mais dinheiro do que um caça-níquel em Las Vegas). No sábado à noite, em seu baile anual para arrecadar fundos para a Alex’s Lemonade Stand Foundation, Max Stella chegou… sozinho. Quando questionado sobre onde estava seu acompanhante, ele disse simplesmente “Espero que ele já esteja lá dentro”. Infelizmente para nós, os fotógrafos foram proibidos de entrar no evento.
Mas nós vamos pegar você na próxima, Mad Max.
Fiquei olhando o jornal, sabendo que George o tinha deixado lá para que eu visse, e provavelmente agora estava em algum lugar dando risada por causa disso. Minhas mãos ainda estavam tremendo quando dobrei e guardei o jornal na gaveta. Por que não me ocorreu que um fotógrafo poderia estar lá? Não ter nenhum fotógrafo era um milagre. E, embora Max com certeza soubesse disso, eu não sabia, e nem mesmo pensei nisso.
– Merda – sussurrei.
E então percebi, com uma clareza súbita, que essa coisa entre nós precisava acabar totalmente ou eu precisaria de algum controle. Senti um pouco de alívio em retrospecto por esse descuido, pensando que já tinha evitado três desastres na minha primeira semana. Liguei meu notebook e busquei no Google o endereço da “Stella & Sumner”. Não pude evitar um sorriso.
– É claro. Rockefeller Plaza, número trinta.
A Stella & Sumner preenchia metade do septuagésimo segundo andar do Edifício GE, um dos prédios mais icônicos da cidade. Até eu o reconhecia ao longe. Porém, para uma empresa de capital de risco tão conhecida, fiquei surpreso com o pouco espaço que ocupava de fato. Por outro lado, não era preciso muita gente para gerir uma empresa que basicamente apenas arrecada e investe dinheiro: Max, Will, alguns executivos juniores e vários tipos de gênios da matemática. Meu coração batia tão rápido que precisei contar até dez, e então corri para o banheiro ao lado dos escritórios para me recompor. Chequei cada cabine para ter certeza de que estavam vazias, depois fui me olhar no espelho.
– Se você vai fazer isso com ele, lembre-se de três coisas, Samuel. Primeiro, ele quer a mesma coisa que você. Sexo sem compromisso. Você não deve mais nada para ele. Segundo, não tenha medo de pedir aquilo que você quer. E terceiro… – eu me endireitei e respirei fundo: – seja jovem. Divirta-se. Desligue o resto.
De volta ao corredor, as portas de vidro da Stella & Sumner abriram automaticamente quando me aproximei, e uma velha recepcionista me cumprimentou com um sorriso sincero.
– Estou aqui para falar com Max Stella – eu disse, sorrindo de volta.
Ela tinha um rosto familiar. Olhei para a placa onde estava seu nome: Brigid Stella. Meu Deus, a recepcionista era a mãe dele?
– Você tem hora marcada, meu amor?
Seu sotaque era igual ao dele. Voltei minha atenção para seu rosto.
– Não, na verdade não. Eu gostaria só de um minuto.
– Qual é o seu nome?
– Samuel Dillon.
Ela sorriu – mas não um sorriso de quem sabe de alguma coisa, graças a Deus –, olhou em seu computador e pegou o telefone.
– Estou com Samuel Dillon na recepção. Ele quer dar uma palavrinha com você – ela escutou por alguns segundos e depois disse: – Certo.
Quando desligou, ela já estava acenando com a cabeça.
– É só seguir pelo corredor e virar à direita. A sala dele é a última.
Agradeci e segui pelo corredor. Quando me aproximei, vi que Max estava esperando na porta, encostado no batente e mostrando um sorriso tão convencido que eu parei a uns bons três metros de distância.
– Não fique tão convencido – sussurrei. Ele começou a rir, virando-se e entrando na sala. Eu o segui e fechei a porta atrás de mim.
– Não estou aqui para fazer o que você está pensando – então, fiz uma pausa, reconsiderando meu discurso. – Certo, talvez eu esteja sim aqui por causa disso. Mas não exatamente. Quer dizer, não aqui, e não aqui hoje, com a sua mãe logo ali fora! Meu Deus, quem contrata a própria mãe para ser sua recepcionista?
Ele continuou rindo, com aquela maldita covinha aparecendo em seu rosto, e, a cada palavra enrolada que eu dizia, ele parecia rir ainda mais forte. Caramba, ele era completamente adorável, brincalhão… irritante… e estúpido!
– Para de rir! – eu gritei e então bati com a mão na minha boca quando percebi que minhas palavras ecoaram ao redor. Ele se esforçou para mudar a expressão, andou até mim e me beijou uma vez, de um jeito tão doce que eu literalmente esqueci por um momento o que estava fazendo ali.
– Sam – ele disse com a voz baixa. – Você está lindo.
– Você sempre diz isso – respondi.
Fechei os olhos e senti meus ombros relaxando. Não conseguia lembrar de uma única vez nos últimos três anos em que Andy havia me elogiado em algo que não fosse minha escolha para o vinho no jantar.
– Isso é porque eu não sou nada se não for honesto. Mas o que você está vestindo?
Abri os olhos e olhei minha camisa branca, minha calça azul-marinho, minha gravata preta e meus suspensórios pretos.
Max estava olhando diretamente para meu pau, e senti ele duro na hora sob seu olhar. Ele sorriu com o canto da boca. Ele sabia.
– Estou vestindo… roupa de trabalho.
– Você está parecendo um estudante safado.
– Tenho vinte e sete anos – fiz questão de lembrar. – Você está sendo um pervertido olhando para o meu pau.
– Vinte e sete – ele repetiu, aumentando o sorriso. Ele agia como se todas as informações que eu passasse fossem uma pérola que ele juntava para formar um colar. – Quantos dias dá tudo isso?
Estreitei os olhos.
– O quê? Isso dá… – olhei para cima por alguns segundos. – Cerca de nove mil, oitocentos e cinquenta. Um pouco mais, já que meu aniversário é em agosto. Então dá quase dez mil dias. Ele gemeu e pressionou a mão no peito de um jeito dramático.
– Droga. Ele é bom com números e se veste desse jeito. Não posso resistir aos seus encantos.
Não pude evitar sorrir de volta. Ele nunca foi rude ou mal-educado comigo e já tinha me dado mais orgasmos em uma semana do que qualquer outro homem em… Oh, Samuel, que deprimente. Vamos mudar de assunto.
Ele olhou para mim mais uma vez e disse:
– Bom, eu certamente mal posso esperar para que você diga qual é o motivo desta visita tão inesperada. Mas me deixe responder sua pergunta mais recente. Sim, minha mãe é a minha recepcionista e parece mesmo um pouco estranho. Mas eu desafio você a tentar tirá-la de lá. Eu juro, você vai acabar sem uma orelha na cabeça.
Ele deu um passo para frente e, de repente, já estava muito perto. Perto demais. Eu podia ver as pequenas listras no casaco de seu terno, podia ver os vestígios da barba crescendo em seu queixo.
– Eu vim até aqui para conversar com você – eu disse.
Minha voz deve ter soado minúscula e precisei buscar forças para dizer as palavras que eu tinha ensaiado tanto. Eu não queria ser a mesma pessoa que ficou com o Andy no começo: alguém em quem se passava por cima facilmente. Depois de seis anos, percebi que o problema era que eu não me importava de verdade em lutar por qualquer coisa. Ele sorriu.
– Suspeitei desde o princípio. Você quer sentar? Balancei a cabeça negativamente. – Quer algo para beber? – ele andou até um minibar e levantou uma garrafa de cristal com um líquido âmbar. Sem pensar, aceitei, e ele preparou dois copos. Ao entregar, sussurrou:
– Apenas dois dedos hoje,anjo.
Não contive uma risada.
– Obrigada. Desculpe, toda essa situação… está me consumindo.
Ele ergueu uma sobrancelha, mas pareceu desistir de jogar mais uma insinuação na conversa.
– Também sinto isso.
– Com você, sinto como se estivesse nadando num lugar que não dá pé para mim – comecei dizendo. Ele riu, mas não de um jeito rude.
– Dá para perceber.
– Entende? Antes do que aconteceu na boate… estive com o mesmo cara a minha vida toda. Max tomou um gole de seu drinque e depois ficou olhando para a bebida, apenas escutando. Considerei o quanto eu realmente queria contar sobre Andy, sobre mim e sobre como nós éramos como um casal.
– Andy era mais velho. Mais estabelecido, mais experiente. Nosso namoro era bom – eu disse. – Tudo estava sempre bom. Acho que muitas relações terminam desse jeito, apenas… bom. Fácil. Sei lá. Ele não era meu melhor amigo, e nem era realmente meu amante. Nós apenas morávamos juntos. Tínhamos uma rotina.
Eu era fiel; ele saía transando por toda Chicago.
– Então o que aconteceu? Quem apertou o gatilho?
Fiz uma pausa, olhando para ele. Eu já tinha usado essa expressão com Max? Tentei lembrar e concluí que não. Usei esse termo para descrever minha vida depois que fui embora, mas nunca falei desse jeito com ele. Senti um arrepio percorrer meus braços. Um milhão de respostas cruzaram minha mente, mas a que usei foi:
– Eu estava cansado de ser tão velho sendo tão jovem.
– É isso? Você só vai me contar isso? Você é um completo enigma, Samuel.
Olhando para ele, eu disse:
– Considerando o que nós fizemos juntos, você não precisa saber nada além disso. Eu deixei muita infelicidade em Chicago e não estou querendo me envolver com ninguém no momento.
– Mas então você me encontrou na boate – ele disse.
– Se me lembro bem – respondi, passando a ponta do dedo pela sua camisa –, foi você quem me encontrou.
– Certo – ele disse, e sorriu, mas, pela primeira vez, seus olhos não sorriram primeiro. Ou mesmo depois. – E aqui estamos nós.
– Aqui estamos nós – repeti. – Decidi que era minha hora de ser um pouco selvagem – olhei para a janela, para as nuvens flutuantes no céu, que pareciam tão sólidas e convidativas, como se eu pudesse pular em uma e sair voando por aí, para qualquer lugar, um lugar onde eu estaria segura daquilo que estava prestes a dizer.
– Mas encontrei você algumas vezes desde então e… eu gosto de você. Apenas não quero que as coisas fiquem malucas ou saiam dos trilhos.
– Eu entendo perfeitamente.
Será que entendia mesmo? Era impossível que ele entendesse. E, na verdade, não importava se entendia, ainda mais importante do que minha vida permanecer nos trilhos era minha necessidade de não ter uma vida tão segura quanto era em Chicago. A segurança era um pesadelo. A segurança era uma mentira.
– Uma noite por semana – eu disse. – Serei seu uma noite por semana.
Ele me encarou com aquela expressão calma e pensativa e eu percebi que, todas as vezes que o vi antes disso, ele mostrava as cartas que tinha. Seu sorriso era completamente honesto. Sua risada era perfeitamente real. Mas esta expressão era sua máscara. Minha barriga deu um nó doloroso.
– Quer dizer, se é que você quer me ver de novo.
– Eu definitivamente quero, quero e muito. – ele me assegurou. – Só não sei exatamente o que você quer dizer. Levantei e andei até a janela. Senti ele se mover atrás de mim e disse:
– Sinto que a única maneira de conseguir lidar com isso agora é estabelecer um limite muito claro. Além dessa fronteira, estou aqui para trabalhar, para construir uma vida. Mas dentro desse limite… – fiquei em silêncio, fechando os olhos e apenas deixando a ideia no ar. A ideia das mãos de Max. A ideia de sua boca. Seu corpo esculpido e sua grossura pressionando contra mim de novo e de novo. – Podemos fazer qualquer coisa. Quando eu estiver com você, não quero me preocupar com mais nada.
Ele se moveu para o lado, de um jeito que eu virei meu rosto apenas levemente e vi que ele me olhava diretamente nos olhos. Ele sorriu. A máscara tinha sumido, o sol da tarde batia na sala, e seus olhos pareciam arder em chamas.
– Você está oferecendo apenas seu corpo para mim.
– Sim – fui o primeiro a desviar os olhos.
– Você realmente vai me dar apenas uma noite por semana? Estremeci.
– Sim.
– Então você quer… o quê? Um caso sem compromisso, mas com compromisso? Eu ri e disse:
– Eu certamente não gosto da ideia de você saindo por aí pegando vários homens. Então, sim, isso faz parte do acordo. Se é que você faz esse tipo de coisa.
Ele coçou o queixo, sem responder minha proposta.
– Qual noite da semana? Sempre a mesma noite?
Eu não tinha pensado nesses detalhes, mas concordei com a cabeça.
– Às sextas-feiras.
– Se eu não posso sair com outros homens, o que acontece quando eu tiver um evento na quinta ou no sábado onde preciso levar um acompanhante?
Meu peito se torceu de ansiedade.
– Não. Nada de aparições públicas. Acho que você vai precisar levar sua mãe nessas ocasiões.
– Você é um garoto exigente – seu sorriso seguiu suas palavras e cresceu lentamente, como uma fogueira que se acende devagar. – Isso parece tão organizado. Nosso modus operandi não tem sido assim até agora, Anjo.
– Eu sei. Mas esta é a única maneira que parece sã para mim. Não quero aparecer nos jornais com você.
Suas sobrancelhas se juntaram.
– Por que isso especificamente?
Balançando a cabeça, percebi que tinha falado demais. Então murmurei:
– Apenas não quero.
– Eu não tenho nenhuma voz nisso? – ele perguntou. – Vamos apenas nos encontrar no seu apartamento e transar a noite inteira?
Passei a ponta do dedo pelo seu peito novamente, descendo ainda mais, até chegar em seu cinto. Esta era a parte que eu esperava que ele aceitasse, e a parte que eu mais temia. Depois da boate, do restaurante e do baile, eu estava começando a me sentir viciado em adrenalina. Não queria abrir mão disso.
– Acho que nos saímos muito bem até agora. Não quero usar meu apartamento. Nem o seu. Vou esperar você me enviar uma mensagem de texto dizendo onde eu devo te encontrar e o que esperar no geral, para que eu possa me vestir de acordo. Não me importo com o resto.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei. Comecei apenas provocando, mas então o beijo ficou tão intenso que eu quase desejei retirar tudo que disse e ficar com ele todas as noites da semana. Mas ele se afastou primeiro, respirando pesadamente.
– Eu posso evitar os fotógrafos, não quero também nenhum outro homem com você, mas estou obcecado em tirar fotos. É minha única condição. Sem mostrar os rostos, mas fotos são permitidas.
Um arrepio subiu pelas minhas costas e eu encarei seu rosto. Só de pensar em ter provas dele tocando minha pele nua e depois olhando fotos de nós transando fez um calor se espalhar do meu peito até o rosto. Ele percebeu, sorrindo e acariciando meu queixo.
– Quando isso terminar, você vai precisar apagar as imagens – eu disse. Ele assentiu imediatamente.
– É claro.
– Te vejo na sexta, então – coloquei minha mão dentro de seu casaco, aproveitando para passear nas linhas duras de seu peito antes de tirar seu celular do bolso interno e discar meu número. Meu celular tocou no meu bolso. Senti seu sorriso sem nem precisar olhar em seu rosto. Guardei o telefone de volta no bolso dele, virei e fui embora, sabendo que, se eu olhasse para trás, não resistiria e voltaria. Eu me despedi de sua mãe e fiz a longa viagem de elevador até o saguão no térreo, pensando na câmera de seu celular o tempo todo. Depois de andar dois quarteirões, meu celular tocou dentro do meu bolso.
Era do Max,
Me encontre na sexta, entre a 11th e a Kent no Brooklyn. 18h. Vá de táxi e espere até eu abrir a porta. Você pode ir direto do trabalho.