Guilherme estava sentado na pequena sala de espera do consultório médico, com o coração batendo forte no peito. Ele tinha 19 anos, cheio de sonhos e planos, mas naquele momento, tudo parecia suspenso no ar, como se o tempo estivesse segurando a respiração junto com ele. O relógio na parede marcava cada segundo com uma intensidade quase cruel, enquanto ele aguardava o retorno do médico com os resultados dos exames.
Quando a porta se abriu e o Dr. Harper entrou, o rosto sério e compenetrado do médico fez o estômago de Guilherme se revirar. O que veio a seguir foi um turbilhão de palavras técnicas que giravam em torno do tratamento.
Por causa dos protocolos de segurança, a droga experimental seria transportada da Alemanha para Londres, ou seja, levaria duas semanas. Neste momento, o jovem viu a oportunidade de viajar para o Brasil e, assim, conhecer os parentes de Felipe.
— Eu preciso falar com vocês. — disse Guilherme, a voz trêmula. E então, ele contou para os pais o desejo de viajar para o Brasil. — Eu decidi. Antes de começar qualquer tratamento, eu quero viajar para São Paulo. Quero conhecer a família do Felipe. — a reação foi imediata.
— Você não pode viajar agora, Guilherme! — exclamou Leopold, a voz cheia de preocupação. — E se algo acontecer? Você precisa estar aqui, perto dos médicos, perto de nós!
— Pai, mãe. — falou Guilherme, chorando. — Eu só tenho seis meses. Eu não quero passar o tempo que me resta preso em uma cama de hospital. Deixa eu ir para São Paulo. Rever a minha cidade, antes...
— Antes de que? — perguntou Leopold, que andava de um lado para o outro. — Guilherme respirou fundo.
— Antes do tratamento. — implorou Guilherme, apelando para o bom coração de Leopold. — Por favor, por favor.
Leopold olhou para o filho, o coração partido, mas ele sabia que não podia impedir Guilherme de viver o que lhe restava da maneira que escolhesse. Com um suspiro pesado, ele assentiu lentamente.
— Ok. Se você quer desse jeito. — saindo do quarto do hospital. Anastácia se aproximou do filho e o beijou na testa.
— Ele está preocupado.
— Eu sei, mãe. Todos estão, mas eu que tenho uma bomba relógio na cabeça, lembra? — questionou Guilherme.
— Não fala desse jeito. — Anastácia deu um último beijo no filho e levantou da cama. — Deixa eu preparar as coisas da viagem.
Guilherme sorriu, um sorriso triste, mas cheio de gratidão. Ele sabia que aquela viagem seria difícil, mas também sabia que era exatamente o que ele precisava. Aquela notícia havia mudado sua vida de uma forma que ele jamais poderia ter imaginado, mas também lhe havia dado uma clareza que poucos têm: a de que o tempo é precioso, e que ele estava determinado a aproveitá-lo ao máximo.
Não demorou para contar as novidades para Felipe. A contra gosto, Leopold marcou três passagens, afinal, não deixaria o filho viajar sozinho. Celestina seria acompanhante dos dois jovens. Diferente da primeira vez, o empresário pagou passagens na classe executiva e não contou para o filho.
— Pegou todas as coisas? — perguntou Guilherme, enquanto checava a carteira.
— Sim, peguei. — respondeu um nervoso Felipe, que abriu a mochila e olhou todos os itens. — Passaporte, documentos, os presentes da minha família. Tá tudo aqui.
— Estão prontos? — quis saber Nariko ao entrar na sala, onde encontrou os amigos com diversas malas e bolsas.
— Que inveja. — disse Paris de maneira dramática. — Queria ir para o Brasil, mas agora como sou órfã...
— Para de ser boba. — rebateu Guilherme, rindo, pois adorava o lado dramático da amiga. — O teu pai ainda não entrou em contato?
— E nem vai entrar. — Paris respondeu, sentando no sofá e abraçando Tchubirubas. — Conheço o meu pai. Nada vai mudar aquela cabeça dura, mas foi ele que perdeu uma filha maravilhosa.
— Não se preocupe, amiga. Vamos adotar você. — afirmou Kaity, sentando ao lado de Paris e a abraçando.
— Por favor, Kaity. As minhas bolsas e sapatos não se pagam sozinhos. — brincou a patricinha, que estava adorando o grupo de amigos que ganhou graças a Guilherme.
— Filho, o motorista está esperando. — Anastácia entrou na sala e cumprimentou os amigos do filho.
— Ei, carinha. — Felipe se aproximou de Tchuburibas. — Por favor, fique comportado e obedeça a Dona Anastácia. — o cachorro adorou o carinho de Felipe.
— Não se preocupe, Tchubis. Em breve, o Kiran e a Kiara estarão aqui. Você vai gastar muita energia. — contou Guilherme e o cachorro começou a abanar o rabo.
A atmosfera no aeroporto de Londres estava diferente. Guilherme, Felipe e seus amigos andavam pelos corredores recém-reformados, onde tudo parecia novo, brilhante, quase como se o acidente de seis meses atrás nunca tivesse acontecido. Mas para eles, especialmente para Guilherme e Felipe, a memória daquele dia ainda estava fresca.
Era a primeira vez que voltavam ao aeroporto desde o incidente. Naquela noite fatídica, dois aviões haviam colidido na pista, causando um caos indescritível. As chamas, a fumaça, os gritos... Eles quase não conseguiram escapar. O destino tinha sido cruel, mas também misericordioso, deixando-os vivos para contar a história. Agora, seis meses depois, estavam de volta, com sentimentos mistos e uma tensão no ar que ninguém conseguia ignorar.
Celestina caminhava alguns passos à frente, distraída pelas plantas e flores que adornavam o novo aeroporto. Ela tinha um olhar atento para a natureza e, com sua câmera em mãos, tirava foto de tudo que achava interessante. "Essas plantas estão maravilhosas", comentou ela, apontando a câmera para uma trepadeira que subia pela parede de vidro. "Acho que eles fizeram um bom trabalho aqui."
Paris, Kaity e Nariko estavam ao lado de Celestina, conversando um portinglês - mistura do português e inglês - animadamente sobre a viagem. Embora tentassem manter o clima leve, o peso da memória da doença de Guilherme ainda pairava sobre o grupo. De vez em quando, os olhares se voltavam ao rapaz, como se estivessem verificando se estava realmente bem.
Anastácia e Leopold caminhavam logo atrás, com os rostos marcados por preocupação. Anastácia segurava a mão de Leopold, apertando-a de tempos em tempos, como se tentasse confortar a si mesma. O coração deles estava apertado com a decisão do filho de viajar para o Brasil, especialmente agora, com o prognóstico sombrio que pendia sobre ele como uma nuvem. Eles sabiam que não podiam impedi-lo, mas isso não tornava a situação menos angustiante.
O grupo finalmente chegou ao portão de embarque, onde Celestina, após tirar mais algumas fotos das plantas que rodeavam a área, se juntou a eles. Ela percebeu o ar de melancolia e decidiu tentar quebrar o clima pesado.
— Ei, gente, vamos tirar uma foto juntos aqui! Para lembrarmos que superamos tudo isso e estamos prontos para novas aventuras! — sugeriu, levantando a câmera.
Apesar da apreensão, todos concordaram. Eles se reuniram em frente a uma enorme parede de vidro que dava vista para a pista, agora cheia de aviões prontos para decolar, mas sem nenhum sinal dos destroços que antes estavam ali. Eles sorriram para a foto, embora alguns sorrisos fossem um pouco forçados, refletindo a mistura de sentimentos que todos ali compartilhavam.
Depois da foto, Anastácia se aproximou de Guilherme e Felipe, os puxando para um abraço apertado.
— Por favor, cuidem-se. E voltem para casa. — disse ela, sua voz carregada de emoção.
— Nós vamos, mãe. Prometo. — respondeu Guilherme, sentindo o calor e o amor dos pais o envolvendo.
Com a chamada final para o embarque, eles se despediram dos amigos, que os acompanharam até o último instante. Paris, Kaity e Nariko acenaram, desejando uma boa viagem. Celestina tirou uma última foto do casal enquanto eles caminhavam para o avião, prontos para começar uma nova etapa em sua jornada.
Felipe ficou impressionado com a primeira classe. Celestina logo se acomodou em sua poltrona, por sorte, ela viajaria sozinha. Os comissários de bordo começaram a preparar os passageiros para decolar. Felipe ficou brincando com os dispositivos de sua poltrona.
— Espera. — pediu Guilherme, pegando o celular. — A gente precisa tirar uma foto. — acionando a câmera e registrando o momento.
— Bobo. — disse Felipe. — Eu também posso fazer um vídeo. — pegando o celular e gravando o namorado. — Estou aqui com Guilherme Thompson, o namorado mais lindo do mundo. E eu não estou falando isso porque consegui essas poltronas na primeira classe. Eu digo isso, pois ele é o amor da minha vida.
— Enfim, vamos aproveitar este momento. — Guilherme abraçou Felipe e o beijou.
A viagem correu de forma tranquila. Guilherme sentiu um pouco de desconforto e logo tomou os medicamentos. Ele dormiu nos braços de Felipe que aproveitou para filmar o momento. Depois de quase 10 horas de viagem, o trio desembarcou em São Paulo.
Eles pegaram um táxi e Felipe reconheceu a rua onde ficava o apartamento de Guilherme. O jovem trabalhou como porteiro em um dos edifícios. O casal subiu e Guilherme fez um pequeno tour pelo apartamento. Celestina seguiu para o seu quarto, e Guilherme mostrou o quarto para Felipe.
— Sua casa é linda. — disse Felipe, olhando em volta. — Tudo bem arrumado, você fez um ótimo trabalho.
— Sim, mas é a nossa casa. — falou Guilherme, deixando Felipe sem jeito. Ele se aproximou do namorado e o beijou.
— Amor, isso é seu. Eu não tenho nada, mas vou ter e vamos conquistar muitas coisas. — afirmou Felipe, retribuindo o carinho de Guilherme.
— E que tal se eu te mostrar o banheiro? — questionou Guilherme, tirando a camiseta do seu namorado.
— Uma ótima ideia.
Felipe não cansava de Guilherme. Depois de muito tempo, ele aprendeu que o sexo pode ser prazeroso. Eles transaram três vezes naquela tarde. No fim, os dois deitaram e foram vencidos pelo cansaço. Felipe acordou com o toque de Guilherme, que o admirava.
Cada vez que Felipe fazia sexo com Guilherme, ele se sentia mais perto do parceiro. Eles transaram três vezes naquela tarde. Eles deitaram a acabaram cochilando. Felipe acordou com o toque de Guilherme que admirava o namorado dormindo.
— Bom dia? — perguntou Felipe, ainda confuso com o fuso horário
— Boa noite. São 20h. — respondeu Guilherme, levantando da cama e vestindo uma cueca. — A Celestina fez a janta e foi dormir. Ela falou que estava morta.
— Amor, amanhã nós vamos conhecer a minha mãe?
— Claro, bebê. — disse Guilherme, colocando o resto da roupa. — Você quer ir hoje, né?
Felipe: - Sim. Geralmente, aos domingos a mamãe chega da igreja por volta de 21h.
— Que tal uma surpresa? Adoro surpresas. — afirmou Guilherme sorrindo. Felipe não se segurou de felicidade, saiu da cama e abraçou o namorado.
Felipe trouxe três malas com roupas e brinquedos para os irmãos. Eles tiveram dificuldade em colocar tudo no carro, mas Guilherme alugou um com o bagageiro grande. Ao contrário de Felipe, Guilherme nunca passou perto da periferia. Ele na verdade não reconhecia nada.
Com o auxílio de Felipe e do GPS, Guilherme se desafiou pelas ruas de São Paulo. Foram quase 40 minutos. De repente, Felipe avistou a mãe caminhando pela calçada, provavelmente, retornando de um dos cultos dominicais. O rapaz baixou o vidro e assobiou para a mãe.
— Vai pra onde gatona?
— Como é? — questionou Célia para si mesma e virou brava. — Me respeite e....
— Oi. — soltou Felipe, sorrindo. Ele saiu do carro e abraçou a mãe, que não conseguia acreditar.
— Meu... meu... Felipe. — disse a mulher emocionada.
— Mãezinha. — Felipe se afastou e sorriu. — A senhora está linda.
— Meu filho. Seu curso já acabou? Meu Deus. Você tá tão magrinho.
— Não, mãe. Vem. — abrindo a porta do carro. — Entra, por favor.
— Com licença, — pediu Célia, antes de entrar e encontrar Guilherme no banco do motorista. — E você é o famoso, Guilherme?
Sim. Apesar de amar muito Guilherme, Felipe se sentia feliz em estar em casa. A rua que ele passou a maior parte de sua vida, a casa onde ele viveu muitas dificuldades com a família. Estava tudo ali. Guilherme ficou feliz por conhecer onde o namorado morava.
— Deixa eu logo te falar. — Felipe virou para o namorado. — A casa é um ovo.
— Felipe. — soltou Guilherme, sem tirar os olhos do trajeto. — Não precisa justificar nada.
— É aqui, seu Guilherme. — pediu Célia, que não esperou Guilherme estacionar direito e saiu correndo para dentro de casa.
— O que foi? — perguntou Guilherme sem entender nada.
— Ela vai tentar arrumar a casa. — explicou Felipe, saindo do carro e indo até o porta-malas. — A mamãe deixa meus irmãos aqui, e eles transformam tudo num inferno.
— Amor, não ri da minha sogrinha, por favor. — pediu Guilherme, desligando o carro e saindo. — Vamos tirar as malas.
— Deixa que eu pego, amor. — com dificuldade, Felipe tirou as duas grandes malas do carro.
De repente, quatro jovens apareceram e começaram a fazer muitas perguntas para Felipe. Guilherme começou a rir ao ver o namorado ser atacado por questionamentos.
— Calma. — implorou Felipe. — Quero apresentar uma pessoa. — apontando para Guilherme. — Esse é o meu namorado, Guilherme. As crianças começaram a comentar sobre a beleza do rapaz. — Amor, essa pequena aqui se chama Steffany. — contou Felipe, pegando uma garota de cinco anos no colo. — Esses são Frederico e Nina. — apontando para mais duas crianças.
— Você conheceu a Lady Gaga? — perguntou Nina, que tinha apenas 10 anos.
— Comprou um carrinho de controle remoto? — quis saber Frederico, de 13 anos.
"O avião balançou muito?"
"É verdade que tudo explodiu?"
"Cadê o Tchubirubas?"
"Trouxe meus brinquedos?"
A quantidade de perguntas deixou Felipe zonzo. Outro rapaz apareceu. Ele era muito parecido com Felipe, mas possuía diversas tatuagens pelo corpo. Se chamava Rodrigo e tinha feito 18 anos recentemente. Nos últimos meses, o rapaz se meteu com pessoas erradas e acabou pagando o preço, mas como era réu primário foi solto.
— Então, você é o famoso Guilherme? Cara, deixou a mamãe louca. Ela está limpando a casa toda. — disse Rodrigo cumprimentando Guilherme e abraçando Felipe.
— Não precisava. — afirmou Guilherme nervoso.
— A dona Célia é assim.
A casa de Felipe estava à frente de Guilherme, uma construção simples de madeira, com tábuas desgastadas pelo tempo e algumas telhas deslocadas no telhado. O ar cheirava a grama molhada e terra, misturado ao aroma de comida caseira que escapava pelas janelas abertas. Felipe respirou fundo, tentando acalmar o nervosismo, afinal, era o primeiro namorado que conheceria a sua casa.
Ao atravessar a porta da frente, Guilherme foi recebido por uma sala de estar modesta. As paredes de madeira, pintadas com uma cor clara que já começava a desbotar, estavam decoradas com fotos da família. Ele observou cada detalhe: o sofá antigo, coberto com uma manta colorida; o chão de madeira que rangia levemente sob seus passos; e o pequeno rack onde uma televisão antiga ocupava o lugar de destaque.
Os irmãos mais novos de Felipe já estavam sentados no chão, distraídos com os presentes que Guilherme havia trazido. A alegria nos rostos das crianças fez Guilherme sorrir, mas ele notou o olhar discreto de Dona Célia, a mãe de Felipe, que parecia um tanto constrangida. Ela estava parada ao lado da mesa, ajeitando nervosamente os pratos, evitando encontrar o olhar de Guilherme. Ela sabia que ele vinha de uma família influente, e a diferença social entre eles era algo que a incomodava profundamente.
— Desculpe, se eu soubesse que vocês estavam a caminho. — disse a mulher.
— Dona Célia, não precisa se incomodar. Eu sou uma pessoa sem frescuras. — comentou Guilherme, tirando um presente de uma sacola. — Ah, minha mãe pediu para lhe entregar isso.
— Não precisava. — soltou a mulher, que ficou sem graça.
— Abre, mãe. — incentivou Felipe, que sentou à mesa e ficou esperando a reação.
— Olha que lindo. Uma gargantilha e brincos. Adorei. Obrigada. — agradeceu.
— Felipe! Valeu pelo tênis brother. Agora as gatinhas não vão resistir. — falou Rodrigo, rindo. — O casaco tá maneiro também.
Guilherme ficou muito feliz ao encontrar a família de Felipe. Por outro lado, quem não ficou nada feliz ao descobrir tudo foi John. Ele sentiu que estava perdendo terreno para Felipe. John foi até a casa dos Thompsons para pegar um documento e encontrou Tchubirubas.
— Que foi? — questionou, olhando com desdém para o animal. — Cachorro feio. Teu dono tentou, tentou até que conseguiu, né? Eu não sei o que faço. Você bem que poderia se aliar a mim. Eu te daria tudo. — ele deu uma risada sem graça, pois se tocou que Tchubirubas era o amigo fiel de Felipe.
— Sabia que faz mal falar sozinho? — uma voz feminina chama a atenção de John, que se assusta e vira. Se tratava de Paris, que passava uns dias na casa de Guilherme.
— Nossa que susto. Tá fazendo o que aqui?
— Sou babá do Tchubirubas. E você? Arquitetando qual plano diabólico?
— Nem sempre é um plano diabólico. — tentou desconversar John, guardando os documentos dentro de uma pasta.
— Entendi. — disse Paris, pegando Tchubirubas no colo e saindo da sala.
— Ei. — John chamou a atenção de Paris. — É muito errado querer ter um final feliz? — Paris parou e voltou a atenção para o rapaz.
— Depende dos meios que você faz isso. Olha, John. — Paris pensou no melhor conselho. — A sua história com a do Guilherme já passou. Acabou muito antes do Felipe aparecer. Você é jovem, inteligente, poderia namorar qualquer pessoa da Inglaterra. Não vou mentir, você é lindo. Deveria usar essas qualidades para superar o Guilherme e achar o seu final feliz. Você pode. Agora já pensou na situação do Felipe? O Guilherme vai morrer. — a voz de Paris ficou embargada. — Ele vai ficar sozinho. Isso sim é perder o grande amor de sua vida.
— Dentre todos, você é a única que não tem medo de mim.
— Eu sou poderosa, querido. — afirmou a patricinha, olhando para Tchubirubas e sorrindo. — Sim, eu sou. — fazendo uma voz engraçada.
— Quer sair pra beber hoje a noite? — a pergunta de Paris pegou John de surpresa.
— Pera aí. — fingindo limpar os ouvidos. — O que você disse?
— Não me faça repetir. Quer ou não quer? — John arrumou a gravata e esperou a resposta de Paris.
— Quero. — respondeu Paris, abraçando Tchubirubas. — Estou precisando beber muito hoje. O Steve precisou pegar alguns documentos na Irlanda. Até pensei que ia ser babá de cachorro o fim de semana todo. — olhando para o animal. — Sem ofensas.
Enquanto Guilherme conversava com Rodrigo e Célia, Felipe colocava os irmãos mais novos para dormir. Ele sentia falta deste momento de qualidade com a família. Felipe contou uma história para os pequenos e não demorou muito para todos dormirem. O rapaz voltou e encontrou todos rindo na cozinha.
— E tudo explodiu. — Felipe ouviu a voz do namorado.
— Eu fiquei tão preocupada quando apareceu no Jornal a explosão no aeroporto. — lembrou Célia, que sentiu o toque do filho em seu ombro.
— Foi tenso. — afirmou Felipe. Dona Célia percebeu que havia algo de errado com o filho.
— Aconteceu algo, filho?
— Não, mãe. — respondeu Felipe, olhando para Guilherme.
— Eu vou morrer em seis meses. — Guilherme jogou a bomba. — Rodrigo e Célia se olharam assustados. Eles não sabiam como reagir.
Guilherme contou toda a história para a família de Felipe. A família de Felipe ouviu cada palavra. Célia levantou, pegou na mão de Guilherme e o abraçou. Um abraço sincero e duradouro. Rodrigo abraçou Felipe que começou a chorar.
— E existe algum plano? — quis saber Rodrigo, ainda envolvendo o irmão em um abraço. — Em Grey's Anatomy sempre tem um...
— Existe sim, uma droga experimental, mas não tem nem 2% de chance. — lamentou Guilherme. — Desculpa, jogar isso em cima de vocês. — Guilherme levantou e saiu da sala. Ele passou pela cozinha e se abrigou no quintal.
Guilherme não foi muito longe, já era tarde e ele ficou com medo. O rapaz ficou escorado vendo o bairro de Felipe, Célia chegou e ficou ao lado do jovem. Guilherme começou a chorar e pediu mais uma vez desculpa à mãe de Felipe.
— Falei aqui sem pensar. Agora a senhora vai pensar que eu sou um garoto mimado....
—Quando eu conheci o pai do Felipe, eu pensei que tinha achado a sorte grande. — Célia quebrou o silêncio e conseguiu a atenção do genro. — Ele era carinhoso e atencioso, então os meus filhos nasceram e a gente foi se distanciando. Com isso, o homem que eu pensei que conhecia começou a desaparecer. Ele ficou violento, me batia sem qualquer piedade.
— O Felipe me contou. — pegando nas mãos de Célia. — Ele foi um monstro.
— Guilherme, o Felipe já sofreu muito nessa vida. E você trouxe muita alegria para o meu filho. Assim que ele entrou em casa, eu percebi que havia algo de errado. — disse Célia. — Eu senti isso quando o pai dele começou a fazer aquelas barbaridades. Só te digo uma coisa, meu filho, aproveita. Aproveita esse tempo que você tem. Seja feliz, faça o Felipe feliz.
— Eu vou. Eu prometo. — abraçando Célia.
Genro e sogra. Célia, apesar de religiosa, amava o filho e, também, sentiu muita empatia por Guilherme. Ela afirmou que colocaria o jovem em todas as suas orações. Eles se recompõem e voltaram para a casa.
Quer saber sobre uma amizade improvável? Paris e John. A patricinha foi até o apartamento de John. Ao ver as roupas sociais do amigo, ela riu e o deixou bravo. Por ser uma pessoa boa, Paris decidiu ajudá-lo com um look para a balada.
Paris foi até o apartamento de John. Ela riu quando viu o rapaz sair de casa. Ele queria ir para a balada de terno e gravata. Paris decidiu ajudar o colega para ele não fazer nada na balada.
Enquanto John se trocava no quarto, Paris recebia diversas mensagens do namorado, inclusive, fotos provocativas.
— Tá rindo de mim novamente? — perguntou John, saindo do quarto.
— Cala boca. Nem tudo é sobre você. Ainda não terminou? — olhando para John e ficando boquiaberta.
— Que foi?! — olhando no espelho. —Nossa, quanta diferença.
— Meu Deus. Onde estava essa tua versão hot?
— Obrigado. Eu acho. — John arrumou o cabelo na frente do espelho.
Felipe comeu bem naquela madrugada, quando ele voltou para casa de Guilherme ele precisou ir ao banheiro. Guilherme ficou preocupado com seu namorado, então pediu para Celestina fazer um chá.
— Desculpa, viu. — lamentou Felipe ao sair do banheiro e deitar ao lado de Guilherme. — Eu que deveria cuidar de você.
— Relaxa, amor. Ainda tenho um tempo sobrando.
— E o que achou da minha família? A minha casa é simples, né?
— É sim. — respondeu Guilherme, tocando no rosto do namorado e sorrindo. — E é na simplicidade que mora a verdadeira beleza. Você não deveria ter vergonha da sua casa. Ela pode não ser luxuosa, mas nem todo o dinheiro do mundo pode pagar a felicidade que existe lá.
— Eu já disse que te amo?
— Sim, mas é bom saber isso toda hora.
— Te amo. — beijando Guilherme.
A noite estava em plena efervescência nas ruas de Londres. As luzes piscavam em um ritmo frenético. Paris decidiu levar John em um karaokê. Após alguns drinks, os dois decidiram se apresentar no palco. Eles escolheram a canção "Dancing Queen", do ABBA.
Do palco, John percebeu que um homem o observava de longe. Ele era moreno, com uma barba cheia e bem cuidada, o tal homem tinha um ar confiante, e seus olhos, fixos em John, transmitiam um interesse claro. John sentiu seu coração acelerar. Havia algo de atraente naquele estranho.
Depois da canção, Paris e John seguiram para o bar. Muitas bebidas depois, Paris contou para John toda a situação que passou com os pais.
— Espero que aquele racista pague! — exclamou Paris, antes de tomar um gole de vodca.
— Que mal. Sinto muito, Paris. Detesto pessoas racistas. — lamentou John.
— Ei. — Paris serviu mais bebida para si e para o amigo. — Vamos fazer um brinde?
— Brinde?
— Sim. — respondeu Paris, erguendo o copo. — Um brinde. As novas amizades.
— Com licença. — uma das garçonetes se aproximou dos dois. — Como você se chama? — olhando para John.
— John. Algum problema?
— Aquele rapaz. — apontando para o homem bonito que estava paquerando John. — Ele queria que eu entregasse o cartão dele.
— Não precisa. — disse John, assustado e disfarçado de maneira engraçada.
— Precisa sim. — pegando o cartão das mãos da mulher. — Ele vai ligar. Obrigada.
— Com licença. — pediu a moça, saindo.
— Paris. — soltou John.
—Olha. — Paris riu, enquanto lia o cartão. — Wallace Jones, Advogado. Já é um começo. Gato e advogado. — entregando o cartão para John.
— Ei, Paris. Obrigado. — agradeceu.
A semana passou voando. Felipe e Guilherme aproveitaram cada minuto no Brasil. Foram ao cinema, lanchonetes que gostavam de ir em São Paulo, baladas e, até mesmo, fizeram uma massagem juntos. Felipe aproveitou também para matar a saudade da família e amigos. Dona Célia organizou uma festinha para celebrar a visita do filho. Ela fez todos os pratos favoritos de Felipe.
Felipe e Guilherme começaram a dançar na festa que estava sendo realizada em cima de uma laje. De repente, uma forte chuva começa a cair, algumas pessoas procuram abrigo, mas o casal decidiu ficar. Os irmãos menores de Felipe começaram a brincar na chuva. Guilherme abriu os braços e olhou para o céu.
Em Londres, John encontrou a pulseira da balada. Ele lembrou do bom momento que teve ao lado de Paris. Os dois muito loucos dançando e bebendo todas. O funcionário de Leopold encontrou o cartão do advogado e, mesmo com medo, ligou para ele.
Após muitos bons momentos em São Paulo. Felipe e Guilherme decidiram voltar para Londres. Dona Célia fez um bolo de maracujá, o favorito do seu filho, mas pediu para que Felipe comesse no aeroporto. Muitas lágrimas marcaram a despedida, mas o jovem prometeu que voltaria para casa.
No caminho para o aeroporto, Felipe sentiu falta de Celestina. De uma maneira engraçada, Guilherme contou toda a verdade para o namorado. Celestina já estava a caminho de Londres, os dois fariam uma viagem para a França.
Antes de retornarem para Londres, o casal foi para Paris. Guilherme queria que Felipe tivesse experiências boas ao seu lado. Eles passaram uma semana viajando por algumas cidades da Europa. Guilherme queria que aquela viagem durasse para sempre, mas sabia que sua realidade era completamente diferente.
A última parada do casal foi na Noruega. Guilherme queria apreciar a Aurora Boreal. Eles tiveram que acordar de madrugada para acompanhar um grupo de turismo. Depois de alguns minutos de caminhada, o casal foi agraciado pelo belo fenômeno. Guilherme se alinhou nos braços de Felipe.
— Felipe. — balbuciou Guilherme, olhando para o céu.
— Não fala nada, por favor. — pediu Felipe. Ele estava com medo. Com medo de um futuro sem Guilherme.
— Eu quero que você tenha todas essas oportunidades. — disse Guilherme, puxando o rosto do namorado para si. — Quero que você seja feliz.
— Mas eu sou feliz. Eu estou feliz ao seu lado. — Felipe não aguentou e chorou abraçando o namorado. — Desculpa, eu.... eu...
— Eu te amo, Felipe. Eu te amo muito, viu.