- Pára, Ramiro... - pedi quase gemendo, com todos os pelos do corpo arrepiados, sem qualquer convicção.
- Você quer mesmo que eu pare, eu paro. - respondeu Ramiro, com um sorriso convencido nos lábios.
Senti um imenso calafrio começar no pescoço e depois percorrendo por todo o meu corpo. Eu não sabia o que pensar, eu não sabia como agir: eu estava perdidinha, entregue àquela sensação mágica e deliciosa.
- Sabia que não queria que eu parasse. Mas vou parar porque estamos em uma Igreja.
Fechei os olhos e tentei me recompor. Quando cheguei próximo disso, virei e olhei sério para ele, com um olhar de reprovação que não convencia nem a mim mesma. Ramiro então olhou, sorriu de canto e deu um pequeno passo pra trás, o suficiente para deixar desencostar nossos corpos, o que foi um verdadeiro alívio naquele momento pois assim poderia voltar minhas atenções ao casamento de minha amiga que adentrava à Igreja majestosamente.
E lá vinha ela: linda, soberana, parecendo apreciar cada instante daquela sua entrada. A cada passo ela olhava os convidados, alternando leves manejares de cabeça com delicados sorrisos, até que, finalmente, chegou ao altar. Renata sempre foi independente, por isso não quis ninguém para levá-la até lá, como que se quisesse deixar bem claro que estava indo até lá por livre e espontânea vontade. Aliado a isso, seu pai sequer fora convidado para o evento em razão de uma conturbadíssima relação dele com sua mãe, que resultou em uma relação pai e filha praticamente inexistente.
O noivo então (que estava lindo, fazendo o parêntesis), ofereceu o braço e, juntos, subiram até o degrau mais alto do púlpito, até defronte o padre que, sem muitas delongas, iniciou o matrimônio.
A cerimônia estava linda. A luz, as velas, as flores... tudo. Eu estaria no céu em estar vendo minha amiga realizando seu sonho de casamento, não fosse o fato de eu estar naquele turbilhão de sentimentos e o pior: com os pés me matando em razão do salto alto. Comecei então a alternar a perna de apoio, para tentar aliviar o desconforto, mas realmente estavva muito difícil: eu havia me preparado para andar e até dançar de salto, mas não para ficar quase uma hora de pé parada sobre eles. E acreditem: não é nada fácil ou agradável:
- Descansa se recostando em mim.
- O que?
- Tô vendo que você está sem posição. Descansa uma das pernas se recostando em mim. Assim, na amizade.
Olhei pra trás e fuzilei Ramiro com os olhos com um leve franzir de nariz, meio que pra simular um descontamento com a oferta que, apesar de tentadora, parecia oportunista da parte dele. Mesmo assim, mediante a dor lancinante que sentia (e um pouco também por não achar de todo ruim me recostar novamente nele), assenti e dei um leve passo pra trás. Então senti ele passar uma das mãos por minha cintura, me trazendo para mais perto dele.
- Viu? Eu não mordo. A não ser que me peçam.
Pensei em dizer algo que soasse ultrajado ou indignado, mas o máximo que consegui foi um leve apertar em sua mão, que marotamente recostava sobre a lateral de minha bunda.
- Ai! - falou ele com alguma sonoridade. Acho que não tive noção de que um apertar com unhas tão grandes possa ser mais dolorido do que imaginara.
Por um breve instante a cerimônia deu uma leve pausa, com boa parte dos convidados virando seus olhares em nossa direção. Congelei inteira e movimentando somente os olhos pude ver Renata me mirando, com um olhar de reprovação que não deixava dúvidas de que ela não estava aprovando nossa postura naquele altar.
Enfim, aquele breve momento (que pareceu uma eternidade para mim) passou e a cerimônia seguiu. Eu tentava prestar atenção nas palavras proferidas pelo padre (que pareciam emocionar a todos), porém minha atenção seguia concentrada naquele delicioso tocar de corpos entre Ramiro e eu, que, mesmo com o medo de novas reprimendas, era intercalado por carícias nas costas das mãos um do outro, além de respirares mais fortes com o claro intuito de excitar um ao outro, ainda que de leve.
- Para! - sussurrou Ramiro.
- Paro se eu quiser. - desafiei.
Parecíamos crianças brincando de namorar na missa. Já havia feito isso antes na minha infância, porém nunca como a cortejada. E Deus que me perdoe, mas eu estava adorando.
Seguimos então alternando entre a atenção ao cerimonial, as brincadeiras e leve carícias. Aquilo era tão delicioso que até havia esquecido das dores nos pés.
- Pode beijar a noiva... - consentiu o padre, me fazendo retornar à realidade de súbito.
Então Renata e Evaristo se beijaram, ao som dos aplausos de todos os presentes. Soltei a mão que segurava a mão de Ramiro e aplaudi entusiasticamente também, como uma criança disfarçando sua traquinagem.
Então os noivos, felizes, começaram a marcha de saída, sendo seguidos, assim que passavam, pelos convidados.
Fiquei olhando encantada aquela cena, feliz por minha amiga, quando senti Ramiro pegando minha mão:
- Vamos?
Olhei para nossas mãos entrelaçadas meio abismada, olhei para ele (que sorria lindamente para mim) e então respondi sorrindo:
- Vamos. Vamos sim...
E seguimos de mãos dadas atrás do cortejo, comigo reclinando a cabeça em seu másculo e firme ombro, movimento o qual foi agraciado com um delicado beijo dele em minha cabeça.
- Você é realmente muito lindinha... não falei por falar aquela hora.
- Obrigada, Murilo. Eu acredito em você. - e pisquei caricatamente. Você também não é de se jogar fora...
- Vou tomar isso como um elogio.
- Bom que tome, porque é.
E seguimos atrás de todos. Meus pés seguiam me matando, eu estava com a calcinha incomodamente 'entrando', mas eu não podia negar: estava louca para ir pra festa com meu gato.
CONTINUA...