Gastei uma manhã avoado, pensando – ou tentando não pensar, na noite anterior. No trabalho era conselho de classe, os professores se reuniam para discutir o andamento das turmas, e, fui pego distraído algumas vezes.
- Deveria tomar um café, está dormindo em pé. – Disse um amigo de profissão, rindo de mim.
Mais tarde, entrando no carro para ir embora, recebo uma ligação de Cauã.
- Olá. Espero não estar atrapalhando.
- Imagina!
- Ontem à noite... foi meio... louco. – Ele falou pausadamente. – Eu acredito que esqueci minha carteira na sua casa. A procurei por todos os lugares, talvez tenha caído no seu quarto... quando nós... tiramos a roupa daquele jeito, sabe?
Soltei uma gargalhada.
- Vou verificar, se eu encontrar, te aviso.
- Obrigado Johnny.
- Por nada, Cauã.
Corri até minha casa e subi as escadas, vasculhei cada canto do quarto e encontrei o objeto caído atrás de uns livros situados na cômoda. Saquei o celular do bolso, desbloqueei a tela e estava prestes a enviar uma mensagem para Cauã. “Por que não entregar pessoalmente?” Esse pensamento, que mais parece uma tentação insana onde todo o orgulho se deita para o coração passar por cima de qualquer racicinio lógico, veio me deixar inquieto. Andei com a carteira até o carro e dei partida.
Parei na residência de Cauã instantes depois. Um rapaz da minha idade, bigode e pequenos cachinhos dourados desceu de um taxí e apertou a campainha antes de mim.
- Com licença, essa é a residência da Milenna e do Cauã, estou certo? – Perguntou o rapaz, dirigindo-se a mim.
- Correto. – Confirmei.
- Ótimo, é que nunca estive aqui e tenho medo de ter errado o endereço.
O portão abriu. Um rapaz veio nos atender, era um dos colegas de universidade do Cauã que aceitaram passar uns dias hospedados em Campinas, eu havia falado com ele na noite anterior. Tinha uma franja grande que por vezes precisava afastar na direção oposta para conseguir enxergar as coisas. Chamava-se Fernando.
- Olá Matheus! – Disse, afastando o cabelo dos olhos. – O que veio fazer aqui, cara? – Riu nervosamente, parecendo surpreso.
- Preciso resolver algumas coisas. – Disse o rapaz loiro, o qual agora eu descobria o nome “Matheus”.
- E você? Johnny, estou certo? – Perguntou Fernando.
- Sim, eu vim falar com o Cauã...
- Com licença, eu preciso entrar, vai ser rápido, eu prometo. – Falou Matheus, cortando minha frase e passando pelo portão adentro.
Eu não sabia quem era o tal Matheus, mas sua personalidade era um tanto inusitada. Apresentava uma cara séria com um acréscimo de tensão e forçava a entrada na residência como se alguém o estivesse tentando impedir.
-O Cauã e a Milenna não estão, parece que foram buscar uns exames numa clínica aqui perto, é coisa rápida, já já estão de volta. – Anunciou Fernando antes que Matheus alcançasse a porta de entrada da casa.
- Tudo bem, eu aguardo. – Falou, desapontado.
- Se não se importa, também irei esperar por Cauã. – Informei a Fernando.
- Podem ficar à vontade.
Matheus e Fernando iniciaram uma conversa. Deslocado, comecei a mexer no celular, esperando a hora passar e tentando desviar a atenção da nova decoração da sala de estar, a qual agora continha porta-retratos de Cauã e Milenna. Sabia que estava sendo incrivelmente tolo por estar ali, mas continuava, culpando a mim mesmo e perguntando “Por que diabos somos tão idiotas quando amamos?”, não encontrei respostas.
André entrou na sala. Era um rapaz pálido, magricelo e cabelos lisos que batiam na bochecha, vestia preto e parecia anti-social, sua cara de amargurado dizia muito sobre si próprio. Voltou para trás quando percebeu novas pessoas na casa. Pronto, com certeza avisaria a mãe sobre o convidado indesejado, no caso eu. Pensei em ir embora e deixar a carteira em algum lugar, mas isso pareceria estranho.
- Hoje as moscas decidiram rondar essa casa. – Falou uma voz rabugenta.
A velha Sônia chegou arrastando um salto, braços cruzados e cenho franzido. A conversa cessou, todos pararam para ver o que a mulher tinha para dizer.
- Rapaz, não sei o que você faz aqui!– Ela reclamou.
- Bom, eu... – Comecei a dizer.
- Preciso conversar com Milenna, é rápido e não importo que o Cauã esteja junto, eu vim em paz. – Respondeu Matheus, me atropelando.
Com o tempo percebi que a exclamação da velha tinha sido direcionada a ele e não a mim.
- Sabe onde eles foram? – Ela sorriu.
Fernando se revirou no sofá, percebo o quanto ele quer sumir dali.
- Não senhora, e sinceramente a mim não importa. Preciso ter uma conversa com ela e esse é meu único interesse hoje. – Ele anda até a porta. – Irei esperar lá fora, sei que não sou bem-vindo.
- Eles foram buscar o exame de gravidez. Milenna fez o teste de farmácia e deu positivo, agora só falta o médico confirmar.
Merda. Meu chão sumiu. Ela estava brincando, isso não poderia ser verdade... André me encarou com um sorrisinho no canto da boca como quem entendia muito bem que as palavras da mãe tinham me atingido em cheio.
Uma criança mudaria as coisas. Um motivo a mais para o casamento ir em frente, um novo obstáculo entre Cauã e eu.
Matheus saiu da casa. Sônia me afrontou com cara de deboche e virou-se, rindo.
- O que Deus une, nada há de separar. – Falava.
- Fernando, tenho um compromisso e não posso mais esperar. Poderia entregar essa carteira pro Cauã? – Pedi.
- Com certeza, cara. Vai na paz!
Sai arrasado daquele ambiente pesado. Matheus aguardava cabisbaixo do lado de fora do portão. Quis ir até ele e descolar uma conversa para entender o porquê de ele estar ali, mas não tinha mais energia emocional para isso, precisava dar o fora o quanto antes. Peguei o carro e fui para casa.
...
Enfiei a cara no travesseiro e dormi por duas ou três horas seguidas. Cair no sono é o melhor remédio para esquecer qualquer merda, mesmo por alguns instantes. Senti um abraço terno similar ao que havia ganhado na noite anterior, o cheiro de ervas perto e forte ao meu lado, um corpo quente, braços largos envolvendo meu corpo... Acordei de supetão. Infelizmente um sonho infeliz para foder com meu emocional.
Parei e contemplei o vazio do quarto, o silêncio da casa e o buraco na alma. “Onde você foi se meter?”, “Por que se doar tanto?”, “Cauã precisa ser uma página virada”... Frases pairavam na minha cabeça, todas elas gritavam e ricocheteavam nas paredes do meu cérebro, ditando as medidas que eu deveria tomar dali em diante.
Continuei deitado até meu celular começar a tocar. “Deve ser ele, me agradecendo”, pensei, mas estava errado. Número desconhecido, quem poderia ser? Atendi.
- Alô?
- Johnny?
- Eu mesmo.
- Sou eu, o Rogério.
- Qual Rogério? – Perguntei, pesquisando o nome dele na memória.
- Você vai achar isso muito louco, mas nós nos conhecemos há uns cinco anos atrás, eu juro! Você estava de viagem ao Rio de Janeiro, tomando umas no bar, eu sentei pra conversar com você...
Claro, o rapaz do Rio! Eu jamais havia apagado a memória do dia em que nos conhecemos. A noite singela que fizemos sexo e em seguida bebemos vinho pela madrugada conversando sobre a vida. Com certeza um dos dias mais interessantes que tive naquela viagem.
- Lembro, lembro sim. Eu não poderia esquecer...
- Eu tenho o seu número anotado em uma agenda, ainda bem que você não trocou desde aquele tempo, né? Jurei que não conseguiria falar com você. – Disse, aos poucos, a voz atrativa. Havia me esquecido daquele timbre.
- E por que demorou tanto tempo para ligar? – Perguntei, interessado.
- Estive tentando tomar um rumo na vida. Conclui a graduação, namorei, casei, separei... Larguei o Rio por um tempo e estou de volta à Campinas para umas férias.
- Bastante coisa.
- Muito assunto para uma boa conversa, se quiser podemos falar sobre isso qualquer hora. Ah, claro, se você quiser...
- Eu quero, quero sim.
- E aquele seu primo? Conseguiu encontrar ele?
- Rogério, essa é uma longa história, acho que posso te contar com mais detalhes hoje à noite, você tem algum plano?
- Tenho um jantar com os meus pais logo mais, depois disso tô livre a noite todaplano para a noite. Perfeito. Agradecia a Deus por ter um motivo para não ficar enterrado meio a cobertores com um drama para chorar. Tomei um banho, coloquei uma boa roupa, perfume e desci as escadas. Mamãe, que estava sentada na sala de estar vendo TV com papai, perguntou onde eu estava indo. Eu ri da questão porque após a visita de Cauã ela ficou muito curiosa para saber o que se passava entre a gente.
- Indo encontrar um amigo em um barzinho.
- Por acaso esse seu amigo é o seu primo Cauã? – Perguntou Gregório, arqueando uma das sobrancelhas.
- Com certeza não. - Eu ri ao responder.
- Eu e seu pai poderíamos jurar que vocês tinham voltado às boas... – Disse mamãe, corando.
Arregalei os olhos buscando um sentido para “Voltado às boas”
- Vocês estão fantasiando, nós não temos nada e não teremos. Agora se não se importam, boa noite! – Tranquei a porta, deixando-os mais confusos que antes.
Enquanto atravessava a calçada para chegar até meu carro, ouço uma batida no portão da casa à frente. Flávio andou na minha direção, nervoso.
- Aconteceu alguma coisa? – Pergunto.
- Sim, sempre acontece. – Ele estava muito irritado. – Podemos conversar no carro? – Pergunta. – Não quero que alguém nos escute.
Entramos no veículo.
- Pode desabafar. – Toquei o ombro de Flávio.
Ele cobria o rosto com uma das mãos e chorava soluçando.
- Eu não aguento mais essa vida. As coisas começaram a se complicar depois de uma pregação na igreja. O pastor falou sobre o “homossexualismo” como um vício, um mal comportamento e seus “adeptos” um dia pagarão pelos atos pecaminosos. Essa pregação ficou por mais de uma semana na minha cabeça. Eu não entendo... Como Deus pode me castigar se é algo que pertence a mim desde a minha infância e um sentimento do qual não posso me esquivar? Que mal eu estaria fazendo à humanidade se amasse outro homem? – Ele dizia aos soluços. – Pela primeira vez na vida eu reuni coragem para ir à casa do pastor conversar sobre isso. Eu planejava convencê-lo de que ser gay é inevitável, pois, desde bem pequeno eu sinto atração por homens e por incontáveis vezes, jeitos e modos, eu quis apagar esse detalhe da minha vida. Tanto que cheguei a ponto de parar de lutar contra mim e começar a aceitar que seria assim e ponto final. Tive uma conversa de horas com ele, e, ao fim eu tinha mais dúvidas do que respostas. Ele repetia sempre o mesmo discurso: Isso não condiz com os planos de Deus para o homem, o homem foi feito para mulher, assim como ela para ele, as sagradas escrituras abominam o ato, não existiria procriação se o mundo fosse feito de gays e lésbicas... Então ele me perguntou se eu tinha desejos homossexuais. Não tive coragem de negar e assumi, pedindo que fosse um segredo entre ele e eu. Mas não foi bem assim, no culto de ontem à noite ele pediu um tempo para conversar a sós com a minha mãe, voltei para casa sozinho e assim que ela chegou, começou a agir feito louca. Disse que expulsaria todo tipo de mal da minha vida, e eu deveria iniciar uma rotina de orações diárias com leituras, evangelhos indicados pelo pastor. Ela não consegue parar de falar sobre cura espiritual e quer me levar em caravanas para cultos de libertação em outra cidade... Eu insisto em dizer que não sou um doente mas ela me ignora.
Fiquei estarrecido com a história. É impressionante ver quantas pessoas sofrem com a repressão à sexualidade, sobretudo no meio religioso.
- Graças a Deus meus pais sempre foram bem tranquilos com relação a isso, mas existem algumas pessoas que sofrem em uma longa jornada até se sentirem livres para viver com a condição que vieram ao mundo. Para muitos é um peso, o qual é necessário abrir mão da própria liberdade sexual para fingir perante outras pessoas algo que não existe, esse é o caso dos homens gays casados, os quais traem suas esposas para descontar os desejos retidos de uma vida de privações. – Falei, e nesse momento pensei em Cauã, e em como, de certa forma, colaborei para a traição na noite anterior. – Eu não os julgo, eu entendo o peso, eles agem dessa forma por medo: seja da rejeição da família e amigos, ou pelo preconceito, ou a perca da reputação. Existem muitas coisas em jogo. Mas é admirável aqueles que conseguem lutar por sua independência, dizer a tudo e todos “Eu sou assim e nada pode me mudar pois eu não preciso de mudanças”. Flávio, todas as vezes que eu te vejo na rua, com os olhos atentos em mim e na maioria das vezes tristes e apreensivos, eu enxergo alguém dentro de você gritando por socorro, sedento por liberdade, amor, carinho e aceitação. Lute com todas as suas forças para não se tornar um desses caras pois o preço é muito caro. Use o amor como a maior motivação, não desista nunca, porque a tua honestidade para consigo mesmo e o amor que existe dentro de você são uns dos maiores dons que dons que Deus poderia lhe dar.
Flávio me abraçou. Eu, sempre, manteiga derretida, chorei junto com ele.
-Obrigado por ser esse suporte emocional, sem você eu não conseguiria. Juro que teria desmontado. – Ele secou as gotas que escorriam pelos olhos. – Aquele rapaz com você ontem à noite.... Você ficou com ele? – Questionou, ciumento.
- Eu já devo ter contado a história daquele meu primo que foi obrigado a ir morar Rio de Janeiro...
- Você ta brincando? – Disse, boquiaberto. – Era ele? Então quer dizer que vocês estão juntos!
- Não, talvez eu não o veja mais daqui para frente. O Cauã foi a maior luta de amor da minha vida, mas algumas coisas não têm jeito, apesar tentarmos insistir, elas precisam de um ponto final.
- Eu não vou negar, fiquei enciumado. Mas a história de vocês dois é muito linda, eu não ousaria interferir.
- Sabe, Flávio. Eu não sei expressar a dor na minha alma em ter de renunciar ao maior desejo da minha vida. Confesso que estou muito desconcertado.
Flávio abraçou-me mais uma vez., da forma como eu gostava de ser abraçado: forte, e os braços longos me envolvendo. Por sorte a rua estava vazia e ninguém poderia nos ver no escuro. As mãos dele carregaram a minha para algo escondido dentro da calça. Abaixei o zíper e um pênis duro e grande saltou para fora. De todos os homens com quem estive, com certeza Flávio ganhava em questão de tamanho, era incrível como conseguia esconder o membro dentro das calças. Ele conduziu meu rosto para eu poder chupá-lo. Minha boca escorregou até a metade do membro, enquanto me esforçava para abocanhar o máximo possível. Caprichei no movimento vai-e-vem, sentindo o gosto doce da lubrificação. Flávio gemeu contido, para não dar pistas a respeito do que acontecia no carro. Mordia o dedo para abafar o barulho da excitação.
- Isso, gostoso... Ahh... – Gemia, incentivando, passando as mãos em meus cabelos.
O ajudei a gozar usando a mão, masturbando de leve e chupando a cabeça. Seu desempenho rendeu bastante esperma, e foi limpo com esforço graças a uma caixa de lenços dentro carro.
- Para onde está indo?
- Encontrar um amigo que não vejo há anos.
- Um dia eu ainda vou sair com você.
- E você pode. Sabe disso. – Respondi, em um sorriso.
...
O barzinho localizado no Cambuí, centro da cidade, era animado por um MPB misturado com samba. Era uma característica que me remetia ao Rio de Janeiro. E, ao ver Rogério sentado em uma mesa, tomando um copo de cerveja importada, camisa listrada, bermuda e a barba cheia me senti novamente na cidade maravilhosa.
- Eai, como está meu amigo? - Me recebeu com abraços.
Conversamos a noite toda. Ele é o tipo de cara que rende horas de papo. Antenado, preocupava-se em discutir as últimas tendenciais culturais, o quanto havia aprendido no curso de jornalismo e os planos para a futura pós-graduação. A vida vinha sendo generosa, comprou um apartamento em outra região do Rio e abandonou o lugar apertado que vivia até então. Gozava de seus 34 anos e corpo jovem, como se ainda não passasse dos 30.
Duas ou três caipirinhas depois eu já me sentia forte o suficiente para conversar sobre Cauã. Imaginava que para ele era um saco ter de me escutar reclamar de uma relação complicada, além do mais, Rogério demonstrava vontade de ficar comigo. Senti-me decepcionado comigo mesmo por isso, mas precisava pôr para fora os dramas dos últimos diasAgora é quase certeza, ele e Milenna terão um filho e esse é o motivo que confirma o casamento. – Eu disse, mais tarde, naquela mesma noite.
- O que você disse? Johnny, me diz uma coisa, qual é o nome desse teu primo?
- Cauã Audebert.
- Isso não é possível. – Rogério arregalou os olhos. – Esse mundo é muito pequeno.
Ele refletiu, parecia juntar pensamentos antes de dizer qualquer coisa.
- O que está havendo?
- Um dos motivos de eu ter vindo a Campinas foi para ajudar um amigo meu. O nome dele é Matheus, um brother camarada de muitos anos.
Esse nome não me era estranho.... Não poderia ser...
- Ao que me parece, Matheus e Cauã foram muitos amigos na faculdade, os dois faziam Direito, seu primo é formado nisso, estou certo?
- Sim, correto.
- Eles dois eram bons amigos a princípio, se conheceram no final do ensino médio. Matheus me contou que seu primo era muito estranho nessa fase: não tinha amigos, falava pouco e se afastava das pessoas com facilidade. O tempo passou e por ironia do destino foram estudar na mesma turma de universidade. Nesse período Matheus apresentou Cauã a Milenna, a garota com quem tinha namorado durante a adolescência e agora o acompanhava nos estudos. Eles tinham um relacionamento um tanto tempestuoso.... Terminavam, reatavam, mas é fato que em nenhum momento Matheus deixou de amá-la. Por fim, o tempo passou e o meu amigo notou uma aproximação grande entre o seu primo e a amada dele. No princípio ele achou que isso serviria como incentivo para esquecer de vez aquela mulher, mas o ciúme envenenou Matheus por completo conforme o tempo passava. E ao fim de cinco anos, Matheus e Cauã foram de grandes amigos a rivais. Ele nunca desistiu de reconquistar a mulher da vida dele, por isso resolveu vir a Campinas conversar com ela a fim de convence-la a não se casar.
- Isso se encaixa perfeitamente! Hoje eu vi seu amigo na casa de Cauã a procura de Milenna.
- Infelizmente acho pouco provável que isso venha a acontecer. Mas é bom saber que as histórias se cruzaram. Quem sabe se trabalharmos juntos para enfraquecer ambos os lados conseguimos por fim nesse casamento?
A ideia me parecia atraente, mas meu senso egoísta pesava. Valeria a pena por fim em um casamento com uma criança a caminho? Existia muito receio de minha parte em mexer com relações alheias.
- Eu não sei, preciso de um tempo para pensar.
- De qualquer forma guarde isso em segredo, ok? O Matheus precisa de tempo e abertura para conseguir ela de volta.
- Tudo bem, prometo que não direi nada.
...
Cheguei em casa sentindo o corpo pesado. Mesmo depois do sexo oral em Flávio, da bebida, a companhia de Rogério em um barzinho, Cauã predominava em meus pensamentos.
Subi as escadas pouco mais de uma da manhã. Fui para o banheiro, tomei uma chuveirada para sentir o corpo leve. Ao voltar, desbloqueio a tela do celular e ativo o despertador do dia seguinte, uma notificação de mensagem aparece. “Cauã: Olá, está acordado? ”.
Eu: Sim, estou.
Cauã: Titia falou que você esteve hoje aqui, peço desculpas se ela foi mal-educada com você em algum momento.
Eu: Fica tranquilo.
Cauã: Vai dormir logo?
Eu: Talvez.
Cauã: Se eu chegar aí em menos de 10 min. acha que podemos conversar?
Eu: Ok.
Sentei em uma cadeira à beira da janela e vigiei a rua, até o instante em que um carro preto chegou e parou em frente à minha residência.
Desci as escadas sem fazer barulho e desejando não acordar meus pais. Passei pelo portão e lá estava ele. Tentei decifrar seu rosto: parecia sonolência, os olhos vermelhos acompanhavam meus movimentos.
- Eu vou ser pai. Os exames confirmaram a gravidez.
- Parabéns. – Eu disse, tocando seu ombro.
- Obrigado. Eu queria poder me sentir completamente feliz, mas uma parte de mim está com muito medo. Eu não sei se vou ser um bom pai.
- O que é isso, claro que vai, pode apostar. Você é uma pessoa boa, Cauã!
- Pessoas boas são sinceras, não traem, e acima de tudo respeitam a si mesmas.
- Você teve motivos sólidos para ter feito o que fez.
- Eu não acredito nisso, fui criado para enganar.
- Não diga bobagem. – Refutei. – Você não deveria estar na sua casa?
- Minha casa está super-lotada, eu e o Renan estamos tentando equilibrar os convidados para o casamento. Por isso hoje eu dormiria na casa do meu irmão, mas me deitei e não parei de pensar em você um único instante.
Meu interior congelou.
- Confesso que essa noite não foi fácil para mim também.
- Tem um espaço para mim na sua cama? – Perguntou.
- Sim. – Não pude rejeitar.
- Só preciso de um abraço seu por toda a noite, talvez isso me faça sentir melhor.
Entramos. Fechei a porta do quarto, deitei na cama, ele ao meu lado, dividi um cobertor, seu braço se alojou na minha nuca e encostei minha face em seu peito. Ele dormiu rápido e eu tentei ficar acordado o maior tempo possível ouvindo os batimentos do seu coração.
...
Agradeço aos leitores que vierem a dedicar um tempo para realizar a leitura, e gosto de receber críticas de toda natureza (me refiro as construtivas), então, não deixe de comentar o texto, isso é muito importante para mim.
Também disponibilizei o texto no Wattpad, que proporciona uma leitura mais confortável, não deixarei o link pois o site Casa dos Contos Eróticos pode o censurar. Busquem no GOOGLE por "Os Primos (Romance Gay)" e cliquem no primeiro link.
Obrigado a todos!