Boa noite leitores. Decidi muito e não vou mais adiar o capítulo. Como escritor amador fiz um bom trabalho. Esse capítulo seria um último pedaço do anterior então não esperem revelações. Tenham uma boa leitura e muito obrigado a todos que me acompanharam.
nayarah : Muito obrigado por acompanhar o conto. Realmente foi emocionante. Acompanhe o próximo: Coração Ferido!
magus: Já passou, foi um constrangimento desnecessário. Obrigado por acompanhar o conto. Já postei outro chamado Coração Ferido. Boa leitura
Chria: Como vai mineirinha, andei viajando muito ao exterior ai ficou complicado. Tenha uma boa leitura e obrigado por acompanhar.
arrow: Obrigado cara, família é família e o perdão é um ato. Fernando tem um coração bom, foi uma mentira necessária. Os fins justificam os meios.
Talles de Lima: Ola Talles, como foi sua prova cara? Espero que tenha se dado bem, minha mãe é advogada e falou que a prova é brutal. Fernando está cansado, ele quer paz, poderia ter sido barraqueiro, mas não. Já postei outro conto, acredito que você irá gostar dele. Muito obrigado por acompanhar nesses quase um ano cara. Boa leitura.
Vitor Gabriel ☑: Sumido! Quero te matar, minha ansiedade está a mil. Quando sai capítulo novo cara, estou morrendo aqui de curiosidade. Em relação ao leitor nem dei muita trela a ele, se fosse bom estaria escrevendo o próprio conto e não criticando sem argumento o dos outros. Fico feliz que você tenha reaparecido. Acompanhe o próximo conto: Coração Ferido, vai ser intenso.
Alex curte peludo : Boa noite amigo, fico feliz que tenha gostado do capítulo. Me despeço de Ação e Reação e já pulo para outro conto que inclusive venho agradecer pelo comentário. Ele será diferente desse aqui. Boa leitura e muito obrigado por me acompanhar.
Plutão: Obrigado Plutão, eu agradeço por acompanhar e comentar o conto e já tenho outro postado: Coração Ferido, terá uma carga emocional, mas será mais intenso. Abraços.
Rose Vital: Eu que peço desculpas pela demora. Feliz aniversário super atrasado, ariano conhece outro, nem que for virtualmente. Que bom que consegui te comover, o último capítulo foi pensado nisso. Esse fecha o ciclo e os personagens enfim vão viver sua vida. Fico feliz que tenha me acompanhado, agradeço de coração. Já postei outro conto: Coração Ferido, dê uma olhada lá, será mais intenso.
LuuhBarros: Obrigado, a opinião de um novo leitor comentando e votando é sempre importante para mim. Dê uma olhada no meu novo conto: Coração Ferido.
A todos, obrigado e boa leitura.
Ação e Reação – Seguir... – 2° Temporada
Já estávamos de férias da faculdade e Felipe tinha ido me buscar no trabalho. No carro em frente à minha casa conversávamos sobre o que aconteceria a noite e ele se mostrava um pouco apreensivo.
- Môr, mas você acha mesmo que vai dar certo? – Perguntou Felipe desviando a atenção da rua.
- Eu espero que sim Felipe, são 15 anos sem um olhar o outro, você já imaginou todo esse tempo sem me ver ou eu ver você? – Ele negou com a cabeça - acho que está na hora do meu tio Enzo e Mario serem felizes, você não acha? – Alisei a mão dele que apertou e sorriu concordando – amor, você sabe que não vai poder jantar aqui em casa hoje e que nem eu poderei dormir contigo, não sabe? – Ele fechou a cara.
- Sei, mas você promete me ligar se acontecer qualquer coisa e guardar dois pedaços grandes de Lasagna de frango para mim – esse era o preço justo a se pagar.
- Claro amor – beijei seu rosto fazendo ele sorrir – que namorado compreensivo que eu tenho né? – Brinquei com ele.
- A lasagna do seu tio é muito boa môr, você não valoriza por que conhece mais de comida italiana do que eu, mas eu nem sempre tenho lasagna para comer – Felipe sendo dramático, mas aí eu pensei bem e eu realmente gostaria que ele estivesse comigo de noite. Felipe passava o dia enfiado no trabalho ou então na faculdade e quando eu não ia para casa dele dormir ele ficava sozinho. Felipe nunca foi de ter muitas amizades.
- Claro que valorizo, mas é que como você disse eu já comi muita lasagna nessa vida – ele me olhou com aqueles olhos grandes – você quer ficar para jantar Felipe? – Seu sorriso respondeu minha pergunta.
- E dormir? – Pensei bem e assenti, gostava de dormir em seus braços.
- Dormir... – franzi a testa.
- Meus pés estão do jeito que você gosta... – sussurrou em meu ouvido me fazendo arrepiar – usei botina o dia todo...estão com o cheiro que você gosta safado...cheiro do teu homem... – apertei o pênis dele por cima da calça.
- Vamos transar aqui môr... – ele me beijou.
- Hum... – gemi quando ele beijou minha orelha, Felipe cheirava e perfume e um pouco de suor, estava deliciosamente excitante.
- Vamos... – ele abriu o zíper da calça animado, o som me despertou.
- Não... – a razão tinha voltado – está doido Felipe, não quero ser preso por atentado violento ao pudor, pelo menos não na frente de casa... – ele me fitou e caímos na gargalhada.
Já haviam se passado 2 meses que Enzo havia retornado dos mortos e ainda era estranho a nova realidade. Lembro que algumas pessoas ainda ficavam constrangidas perto dele, sem graça, já outras como Felipe e seus pais, Maria e seu Antônio já estavam tão habituados com ele que já éramos uma grande família, pois a maior parte dos últimos fins de semana ou estávamos no sítio dos meus “sogros” como Felipe falava ou então aqui em casa ou na casa do seu Antônio ao redor da piscina ou da churrasqueira.
Acontece que eu via uma certa ansiedade em tio Enzo em ver o seu ursão italiano e isso ficava cada vez mais angustiante. Há três dias atrás eu peguei o telefone e liguei para o Mario, não sei como mas fiz um drama no telefone que se fosse premiado eu levaria um Oscar. Além de Felipe, meu pai e Cibele eram os outros cúmplices e haviam insistido para que eu não fizesse o que estava planejado, mas convenci eles do contrário.
- Boa noite filho, boa noite Felipe – cumprimentou meu pai assim que chegou do trabalho sem se surpreender com a presença de Felipe.
- Boa noite seu Giovane – disse Felipe, meu pai sorriu e largou sua maleta na mesa.
- Como foi o seu dia, vendeu algum trator? – Perguntou meu pai ao meu namorado engatando uma conversa animada sobre implementos agrícolas.
- Não é trator tio, é implemento e maquinário agrícola – Felipe o corrigiu.
- Eu sei, só fiz isso para encher o saco – riu meu pai. Felipe pensou um pouco e depois riu também.
Após conversa na sala Enzo nos chamou para jantar. Nessa conversa fiquei sabendo que tinha saído o reconhecimento de paternidade, agora eu era oficialmente filho do Giovane. Ele me contou isso com algumas lágrimas nos olhos e eu acabei me emocionando também.
- Enzo, entrei com a papelada para regularizar sua situação perante a justiça brasileira e panamenha – disse meu pai a ele quando sentamos a mesa para jantar – não será nada fácil explicar o que aconteceu, mas creio que iremos conseguir resolver tudo, eu e Antônio estamos pessoalmente cuidando disso – ele sorriu.
- Obrigado Gino, não sei como te agradecer – disse Enzo que nesse momento estava de luvas deixando a mesa uma lasanha de frango que eu tinha pedido para ele fazer para a janta dessa noite – está aqui a sua lasanha Fernando... – ele sorriu orgulhoso.
- Parece estar ótima tio, obrigado... – senti o aroma do manjericão e molho ao sugo me deixando com mais fome ainda.
- Não sei se vou me acostumar com uma comida dessas... – disse meu tio esfregando as mãos.
- Acostuma sim, a comida mineira é boa, mas a italiana também tem sua vez... – Enzo disse taxativo, ele era bem bairrista quando se tratava de comida.
- Com certeza – disse Felipe de boca cheia – o senhor tem mãos de fada... – disse ele todo atrapalhado... – quer dizer...o senhor entendeu – nós rimos.
De repente fiz uma retrospectiva de tudo o que aconteceu nesse ano e de quanto eu somei para minha vida. Ainda estava faltando uma coisa, mas se não me engano dentro de alguns minutos essa alguma coisa tocaria a campainha.
- Está feliz Filho? – Perguntou meu pai. Enzo nos olhou com um semblante tranquilo.
- Sim, estou... – Sorri para o meu pai e tio – tio Enzo, guarde um pedaço de lasanha para o Marcos, se bem conheço ele é bem capaz de ele me cobrar depois – ele riu e assentiu.
- Claro que guardo, ainda bem que fiz bastante – rimos os 4.
- Marcos volta quando do Rio? – Perguntou meu tio.
- Parece que só tem mais uma reunião amanhã e aí estará tudo acertado – disse meu pai.
- Seu Enzo, que mãos abençoada o senhor tem para cozinhar – disse Felipe.
- Que bom que gostou, queria que você conhecesse meu restaurante lá no Panamá – disse meu tio um pouco triste.
Estávamos comendo tranquilo quando a campainha toca me fazendo pular da cadeira para ir atender a porta.
- Deve ser a Cibele – pude ouvir meu pai falar.
- É... – Concordou Enzo.
- Provavelmente - comentou Felipe.
Quando abri a porta lá estava ele parado me fazendo sorrir e tirar um peso enorme das costas. Como eu imaginava, aquele grande homem barbudo peludo e meio grisalho com cara de mal abriu um sorrisão quando me viu. Em uma das mãos estava seu celular e na outra um embrulho com uma garrafa de vinho e uma caixa com biscoitos italianos recheados com creme de avelã que eu amava e que sempre comprava pela internet. Mario lembrou e trouxe para mim.
- Fernando, mi vieni a dare un abbraccio, come stai? (Fernando, vem me dar um abraço, como você está?) – Perguntou Mario com seu jeito italiano e alegre me puxando para um abraço apertado.
Mario estava com uma roupa normal, estava lindo, um quarentão que faria muitas mulheres e gays suspirarem, era engraçado pois conseguia ver seus pelos pela abertura da camisa, braços e pernas, sua barba meio grisalha bem aparada, até então ele ainda não sabia que Enzo estava vivo, mas isso acabava hoje, graças ao drama que fiz no telefone e que foi reforçado pelo meu pai fazendo com que ele ficasse preocupado prometendo pegar o primeiro voo para o Brasil.
- Sto bene, vi ringrazio, mi permetta di abbracciare più padrino, vi siete persi (eu estou bem, obrigado, deixa eu abraçar mais você padrinho, senti sua falta) – sorri encarando ele que agora me olhava com certa preocupação e desconfiança. Ainda ganhei um beijo em cada lado da bochecha me deixando envergonhado mesmo sendo um cumprimento comum entre homens italianos e descendentes.
De repente o sorriso de Mario sumiu, seu rosto ficou pálido e ele levou as mãos a boca. Eu sabia o que era, quando me virei Enzo estava imóvel olhando impactado para a gente ou melhor, para Mario. Felipe já estava a postos se precisasse amparar meu tio, ele me olhava em cumplicidade. Seus olhos brilhavam, ele sorria, Mario agora me olhava confuso e olhava para ele, seus olhos marejados brilhavam.
- Dio mio! (Meu Deus) – exclamou Mario após alguns segundos.
- Ciao Mario (Oi Mario) – Enzo o cumprimentou de longe, totalmente sem graça fazendo Mario se espantar e me olhar assustado - come stai? (Como vai?) – Mario negou com a cabeça como se estivesse tendo um devaneio, uma alucinação e eu queria matar meu tio, pois se você fica sem ver a pessoa amada durante 15 anos não é assim que se cumprimenta.
- Enzo! – Ele teve um mal-estar, mas logo se recuperou - Che cosa sta succedendo qui? Quel brutto scherzo è questo? (O que está acontecendo aqui? Que brincadeira de mau gosto é essa?) – Ele fechou a cara e segurou meu braço com força e raiva fazendo eu gemer com o aperto e pela primeira vez ficar com medo dele. Felipe veio para cima dele mas pausou assim que ouviu meu pai.
- Mario, Rilasciare il braccio di mio figlio (Mario, solte o braço do meu filho) – a voz forte do meu pai com sua pose altiva fez ele lhe dar atenção soltando meu braço e olhando pasmo para o que acabou de ouvir.
- Giovane amico mio (Giovane meu amigo...) – Mario estava atordoado, ele me olhava confuso e eu sorria tentando mostrar que tudo estava bem. Ele olhava meu pai que estava parado de braços cruzados e olhava Enzo como se fosse um fantasma e esse já não se contendo derramava as primeiras lágrimas. Um sentimento forte unia os dois, mas eu realmente estava com medo de que desse tudo errado.
- Mario, guarda me, per favore, calmati, abbiamo molto di cui parlare (Mario, olha para mim por favor, se acalme, nós temos muito que conversar) – Disse meu pai se aproximando com cautela.
- Ma come? (Mas como?) – Agora sim ele ficou atordoado.
- Mario, Fernando sa già tutto (Mario, o Fernando já sabe de tudo) – Ele não alterou a voz, estava neutro.
- Mario, so che di Giovani mio padre e tu lo sai (Mario, eu já sei que o Giovane é meu pai e que você sabia disso) – expliquei enquanto ele olhava para o meu pai que assentia com a cabeça.
- Fernando Perdonami, ho fatto per amore della Enzo e aiutarlo (Me perdoa Fernando, fiz isso por amor ao Enzo e para ajudar ele) – ele segurou minhas duas mãos enquanto pedia desculpas.
- Padrino, calmati, è il momento per voi di essere felice (Padrinho, se acalme, está na hora de você ser feliz) – Sorri, mas ele não.
- Non voglio mantenere la calma, lo so perché stanno facendo questo a me, chi è questo? (Não quero ficar calmo, quero saber porque estão fazendo isso comigo, quem é esse?) – Mario apontou o dedo para mim e eu bati com a mão para ele tirar da minha cara.
Mario baixou o olhar e então abruptamente foi para cima de Enzo apertando seu pescoço com as duas mãos, reação essa que eu nunca imaginaria que acontecesse muito menos vindo da parte dele que se mostrava tão sensato e controlado.
- Chi sei tu maledetto, perché stai facendo questo a me? (Quem é você maldito, por que está fazendo isso comigo?) – Nunca vi Mario assim, também, convivi com ele muito pouco, agora ele parecia mesmo um bandido, um gangster italiano, seu rosto vermelho de raiva e o puro ódio em seus olhos me fizeram pensar.
- Mario! Scioglietelo ora, non farmi fare una misura drástica ( Mario! Solta ele, não me faça tomar nenhuma medida drástica) – Meu pai gritou, Mario pareceu ouvir, mas então ele encarou Enzo que assustado tentou abrandar a situação.
- Mario, io sono Enzo, io sono vivo (Mario, sou eu, estou vivo) – Enzo respondeu com esperança, ele tentou consertar, mas Mario que até então olhava com tristeza mudou a feição dando uma bofetada em Enzo.
- Bugiardo, ingannatore, il mio Enzo è morto (Mentiroso, farsante, meu Enzo está morto) - chega, eu tinha que dar um basta nisso.
- Vile (Covarde) – gritei fazendo ele me encarar assustado.
Mario então parou, ofender ele fez o mesmo cair em si e perceber que estava perdendo a razão e machucando alguém que o amava e que ele amava, tive certeza disso pois ao se acalmar e respirar fundo ele encarou Enzo e sua feição foi mudou para espanto, alegria e culpa. Enzo também se deixou levar e então Mario se afastou escorando-se na parede oposta e desceu até o chão.
- l mio amico, è stato tre settimane Enzo apparsi qui alla porta. Fernando pianificato questo contro di te, ma non immaginare che avresti reagito così (Meu amigo, já fazem 3 semanas que enzo apareceu aqui na porta. Fernando planejou esse encontro de vocês, mas não imaginamos que você reagiria assim) – Mario encarava ele e encarava meu tio, eu não ousei sair de perto de Enzo e por nenhum momento deixei de encarar Mario decepcionado – Ho finito per rivelare tutto a Fernando, mi sono stancato di bugie, ma penso che già capito che chi è c'è il suo Enzo, lo stesso che si pensava fosse morto, ho trascorso la sensazione di perdere il mio amico, in modo da non lasciare l'emozione parlare per voi, parlare con lui (Acabei revelando tudo ao Fernando, eu cansei de mentiras, mas acho que você já percebeu que quem está ali é seu Enzo, o mesmo que você achou que tinha morrido, eu passei pelo sentimento de perda meu amigo, por isso não deixe que a emoção fale por você, converse com ele) – meu pai sabia usar as palavras. Mario olhava com vergonha para mim, mas então se levantou e se ajoelhou perto de Enzo que estava de cabeça baixa. Pegou em seu queixo e fez Enzo encarar ele.
Dizem que o amor é um segredo que os olhos não escondem. Acredito que eu fico com cara de besta e meus olhos brilham quando vejo Felipe do mesmo jeito que ele fica quando me vê. Enzo e Mario se conectaram pelo olhar, uma intimidade que poucos casais conhecem e que é tão sútil e pessoal. Entendi que o amor deles sobreviveu ao tempo por que nunca morreu, se renovou no momento em que se encontraram. O comportamento de cada um refletiu suas personalidades.
- Il mio amore (Meu amor) – ele chorava, Enzo chorava.
- Sono qui Mario, io ti lascerò mai, andiamo insieme ora l'amore (Eu estou aqui Mario, nunca mais vou te deixar, vamos ficar juntos agora amor) - abraçados ficaram por mais ou menos 30 minutos, sem nenhuma palavra, só ao toque de seus corpos. Era possível ouvir a respiração forte deles e nada mais. Felipe segurava minha mão e meu pai olhava compadecido.
- Vem pai, Felipe, vamos deixar eles a sós – puxei eles dois pela mão – vamos tomar o resto do vinho lá na sala – ele assentiu e então pegamos as taças na mesa e a garrafa de vinho.
- Vamos – meu pai concordou e nós três seguimos para lá.
De tempo em tempo eu ia junto de Felipe espiar o que acontecia na sala e por duas vezes peguei Mario e Enzo se beijando. Sobre transar com Mario decidi que nunca contaria ao meu tio. Seria uma coisa irrelevante nessa nova fase deles que não precisavam para atrapalha-los.
Dessa vez usamos a sala da parte de trás, a que dá para os fundos da casa, de lá quase não se ouvia o que acontecia na sala de estar. Felipe acabou recebendo uma ligação do seu pai, a mimosa a vaca de estimação dele ia dar a luz e na euforia ele acabou desistindo de dormir comigo por causa daquela vaca. Fiquei puto, mas era parto de risco e o veterinário já estava lá. Ele me convenceu a ir até o rancho, mas eu teria que trabalhar cedo e ele não.
- Môr, já imaginou um filho meu contigo... – ele disse antes de sair.
- Não né, se isso acontecesse provavelmente teríamos que matar a criança, seria uma aberração, dois homens não podem ter filho, pelo menos não ainda... – pensei bem.
- Bobo, barriga de aluguel – ele deu um tapa de leve no meu ombro.
- A tá – respirei aliviado – cuidado na estrada, me liga quando chegar lá está bem? – Ele me beijou.
- Sim, eu cuido, tenho que voltar para você, até por que sou seu marido – ele olhou para trás e sorriu, eu não.
Entrei para dentro de casa de novo e Mario e Enzo já estavam sentado no sofá na sala de estar, um olhava para o outro e Mario acariciava com um sorriso o rosto de Enzo. Pelo que vi eles tinham se acertado e provavelmente hoje dormiríamos na edícula.
- Filho, você ainda tem raiva do que fiz a você... – comentou meu pai receoso.
- Não... – franzi a testa – uma mentira vai ser sempre uma mentira, mas você foi capaz de cuidar de mim pai, mesmo se privando de me contar a verdade – me escorei em seu ombro.
- Eu teria feito tudo diferente se pudesse voltar atrás – disse ele.
- A terceira lei de Newton, ação e reação diz que toda ação provoca uma reação de mesma intensidade e direção, mas com forças opostas – ele franziu a testa.
- O que isso quer dizer? – Perguntou se ajeitando no sofá.
- Se você tivesse me assumido quando nasci provavelmente nada disso estaria acontecendo pai – ele pareceu pensar – nada acontece por acaso, estamos onde deveríamos estar, não reclamo da vida, talvez a surra que eu tenha levado de Marcos era para ter acontecido mesmo, assim como eu ter conhecido um certo esquentadinho, não se arrependa, eu não me arrependo de nada, vamos deixar a vida seguir...
Realmente seguiu. 3 meses depois Enzo ia morar em definitivo na Itália com Mario depois de ele insistir muito. Ele já estava montando um bistrô em Turim e enquanto Mario advogava ele seria chefe de cozinha. 21 anos depois o sonho deles se realizaria, antes tarde do que nunca.
- Você vai me visitar lá Fernando? – Pediu ele no dia que nos despedimos.
- Vou sim tio, meu namorado tem que conhecer a Europa... – brinquei com ele – vou dizer até logo, tchau não... – eu queria muito chorar.
- Tchau mano, se cuida e fica com Deus – meu pai abraçou ele, choraram que nem criança.
- Vou viver minha vida Gino – Enzo sorriu.
- Prenditi cura di mio fratello Mario, ti auguro tutta la felicità del mondo (Cuide do meu irmão Mario, desejo a vocês toda a felicidade do mundo) – Mario chorava também. Nos despedimos e dois meses depois os veria de novo.
Meu pai acabou conhecendo minha professora de sociologia de um jeito engraçado. Eles brigaram quando por acaso ele interrompeu sua aula abrindo a porta da sala entrando com tudo dizendo que precisava falar urgente comigo. Foi briga na certa, acabaram indo discutir no corredor e eu tive que apartar. Professora Adriana uma mulher com seus 42 anos, 1,70, com curvas, cabelos e olhos pretos, solteira, 3 gatos e com seu inconfundível sotaque mineiro de Belo Horizonte chamou a atenção dele. Resultado, pós mais uma vez se estranharem só que dessa vez no mercado o meu pai e minha professora estão jantando juntos na minha frente parecendo um casalzinho bobo apaixonado. Fico feliz por eles, ambos têm o gênio forte, mas acredito que um completa o outro, vejo o olhar deles e lembro do olhar de Felipe para mim.
Marluce foi embora para Belo Horizonte, foi contratada para ser cozinheira de um restaurante renomado da capital após um dos donos experimentar sua comida em Uberaba. Maria e seu Antônio estão viajando para Paris, sonho antigo de Maria.
Cibele conseguiu um intercâmbio para a Austrália já que suas notas foram as mais altas do curso.
- Caipira, cuida do Nando – disse ele abraçando Felipe.
- Vou cuidar – ele fungou o nariz.
- Tchau amiga, se cuida – abracei ela.
- Vou achar um australiano louro e bronzeado de sol, quer um também Nando? – Ele piscou o olho.
- Não precisa, o môr não gosta de louros sarados, prefere caipiras... – ele me puxou pela cintura, uma senhora olhou com escárnio.
Após chorarmos muito ela embarcou no avião, seria uma nova etapa na vida dela que valorizaria muito seu currículo e a faria crescer.
Nunca mais ouvi falar de Ágatha muito menos da mãe piranha dela, mas fiquei sabendo tempos atrás que as duas estavam morando em BH ainda e que viraram alpinistas sociais, tal mãe tal filha.
Marcos e Luiz ainda estão juntos. Recentemente foram morar no centro de Uberlândia para o desespero do meu pai que viu um de seus filhos sair de baixo das suas asas, mas achei que ele estava acostumado com a ideia. Estão felizes, acho que tudo acontece quando tem que acontecer. Eu e Marcos nos amamos, mas como irmãos. Não minto que não a atração sexual, mas ambos temos nossos companheiros e eu não trairia Felipe por nada, uma foda não vale isso.
- Môr, você vai dormir comigo hoje? – Perguntou Felipe.
- Adoraria - respondi saindo de cima de seu colo. Havíamos transado dentro da colheitadeira nova, era um fetiche dele, assim como transamos com ele usando roupa de futebol e eu usando roupa social, era um fetiche meu.
- Vamos para um piquenique? – Perguntou ele.
Felipe havia preparado um piquenique para gente, estávamos fazendo 2 anos de namoro firme. Ele me levou para passear na beira do reservatório de Capim Branco, bem estilo dele, era isso que eu gostava, nada com Felipe era cliché, ele sabia do que eu gostava e eu sabia do que ele gostava também.
- Você um dia vai casar comigo, vai morar comigo... – Felipe disse assim que tirou seu pênis de dentro de mim, transamos na beira do reservatório – não quero te perder, você é uma parte de mim... – interrompi ele.
- E você é uma parte de mim também, sabe Felipe, nossa ligação é muito forte, não consigo mais pensar em não ter você na minha vida – ele acariciava meu rosto.
- Não pense, nunca vou sair da sua vida... – ele veio vindo para cima de mim cheirando meu rosto, fazendo caricias com o nariz e me beijando – eu não vou deixar você escapar, tem muito Felipe esquentadinho e minhas meias suadas para você – ele mordeu o lábio.
- Eu sei.... – Sorri.
- Eu te amo Fernando Parcianello – disse ele em meu ouvido.
- Eu te amo Felipe Passos – retribui.
Ao pôr do sol, com o reflexo na água transamos mais uma vez...
Fim!
Agradeço a todos que me acompanharam nesse quase um ano de Ação e Reação. Peço desculpas se em algum momento fui leviano, peço desculpas se o capítulo não agradou todo mundo. Fernando e Felipe vão seguir, nada é para sempre, mas como kardecista acredito que o amor deles se renovara em outra vida.
Esse conto foi um divisor de águas para mim. Cheguei a maturidade suficiente para contar minha própria história. Espero que quem me acompanhou aqui acompanhe no meu próximo conto. Muito Obrigado.