Alex tentou dar apoio total ao amigo, mas era impossível não chorar ao ver o cara que você gosta com outra pessoa.
- o que foi que ele falou?
- ele não sabe que eu vi. Eu saí de lá sem que ele me percebesse.
- então só tem uma solução.
- qual? - perguntou João.
- você fingir que nada aconteceu, e continua tocando a vida com ele.
- e tu acha que eu consigo? Minha vontade é de voltar la e estragar a foda dos dois. - dizia João com ira.
- seria se rebaixar demais.
- porra Alex, por que ele fez isso cara?
- não fica assim não mano. Ele não te merece.
- eu queria não gostar tanto dele.
João e Alex ainda não haviam saído do estacionamento. O primeiro não tinha condições de ligar o carro.
- da mesma forma que você gosta tanto, você aprende a esquecer.
- como Alex? Me diz como eu vou esquecer aquele cara?
- isso eu não sei João, mas não vai ser chorando aqui dentro de um carro. - Alex passava as mãos pelas costas de João.
- você tem razão Alex. Ainda quer ir ao shopping?
- querer eu quero sim. Mas deixa pra outro dia.
- O aniversário que tu vai né hoje?
- é sim.
- então vamos la. Eu te levo.
João ligou o motor do carro e foi deixando a faculdade.
- mas não vai te atrapalhar?
- não. É bom, ate que eu esfrio a cabeça. Se eu continuar pensando nisso, talvez faça uma loucura.
- certeza?
- sim. - confirmou João.
A chuva voltava a cair forte. Durante o caminho, Alex tentava entreter João para que ele não pensasse em Fabinho.
- se importa se eu te esperar aqui no carro? - disse João no estacionamento do shopping.
- claro que me importo. Quero que tu me ajude a escolher uma roupa maneira.
- na boa irmão. Hoje eu não consigo ajudar nem a mim.
- eu insisto João. Tua opinião é importante.
João sorriu sem graça.
- ta beleza. - disse descendo do carro.
concluindo as compras, João deixou Alex em casa, e pegou um caminho conhecido. O menino guiou seu carro ate o apartamento de Fabinho. Viu as horas no relógio, e ficou dentro do carro aguardando seu namorado chegar.
Impaciente, João não aguentava mais teclar pelo whats e o namorado não aparecia.
Já era tarde, quando João viu Fabinho entrar com o carro na garagem do prédio. Imediatamente, João saiu de seu carro, e foi em direção a Fabinho.
- João? - disse Fabinho saindo do carro.
- oi. Não esperava me ver aqui?
- pra falar a verdade não. Mas que bom que veio. Ia mesmo te chamar aqui.
- pra que? Ia terminar comigo?
Fabinho riu.
- papo mais doido João. Claro que não. Ia te chamar pra vir almoçar comigo.
- nós dois e mais quem?
- como assim João? Não to entendendo o que tu quer dizer.
- aonde tu passou a manhã?
- na faculdade. Você sabe que eu tinha aula hoje pela manhã. Eu te falei.
- mudou de curso? Agora tu faz odonto?
- eu não sei onde tu quer chegar, mas eu não to gostando do rumo dessa conversa.
- tu não tem que gostar de nada cara. Tu me sacaneou Fábio, e ainda ta tentando esconder.
- meu Deus do céu. Esconder o que João? Você ta assim porque eu não te liguei agora de manhã? O que eu fiz que te deixou tão irritado? - Fabinho se colocava como vitimizado.
- para cara, para. Eu vi tudo, porque tu não assume?
- assumir o que? - por dentro Fabinho sabia do que João falava, mas ele iria negar ate o fim.
- você vai mesmo continuar mentindo né!?
- eu não to mentindo João. Só não sei do que tu ta falando.
- ta Fábio. - disse João se afastando de Fabinho. - eu achei de verdade que você fosse me falar a verdade... Mas eu tava enganado.
- O que te contaram? - Fabinho tentaria esconder uma mentira com outra mentira.
- ninguém me contou nada. Eu vi... Eu vi cara. Se alguém contasse eu não acreditaria, pois eu confiava muito em você.
- e o que você viu?
- você quer mesmo que eu fale aqui? Bloco de engenharia, corredor com as luzes apagadas, banheiro vazio. Não te lembra nada?
- eu não quis aquilo. O Alan me forçou...
- e tu não podia dizer não? Ele colocou uma arma na tua cabeça pô?
- eu sou homem João.
João riu de sarcasmo.
- pra mim já deu. - disse João virando as costas.
- espera. Onde tu vai? - Fabinho segurou por seu braço.
- vou sair daqui cara, e nunca mais eu quero falar contigo.
- João, pra que esse drama todo cara? Foi só uma chupada.
- quantas?
- quantas o que?
- quantas chupadas ele já te deu?
- foi a primeira...
- não mente. - João o interrompeu.
- to falando a verdade. Foi a única vez, e nunca mais irá se repetir.
- por mim você pode fazer quantas vezes quiser. Tu ta livre velho. Vai la ''galinhar''.
- ta fazendo besteira João. Queria que eu assumisse, já assumi. O que mais tu quer?
- de tu eu não quero mais nada cara... mais nada.
- espera João. Vamos subir e conversar com calma. Daqui a pouco ta cheio de gente aqui,
- quero conversar contigo mais não.
- desculpa João. Eu errei, mas não te trai...
- não me traiu? - João o interrompeu. - porra! - exclamou o garoto. - nosso conceito de traição é muito diferente cara.
- eu te amo João. Traição seria só se eu tivesse ficado com outro por amor, e não foi assim. Foi só carnal.
- ta certo. - João tinha os olhos marejados. - eu espero que você encontre alguém que aceite esses teus rolos numa boa. Eu não sou trouxa não cara.
- nunca pensei, nem te fiz de trouxa. Só fui fraco, e to aqui assumindo. Vamos subir pra conversar.
- não!
Fabinho segurou o braço de João com força, mas este se desvencilhou.
- esquece a gente cara.
- não vou esquecer, e nem você vai. - disse Fabinho.
João saiu do estacionamento, e Fabinho o acompanhou ate a rua.
- deixa desse drama João. Vamos conversar com calma que a gente vai se entender.
- você sacaneia comigo, e ainda me chama de dramático? - João estava parado na porta do carro.
- não vou deixar você ir. - disse Fabinho parado entre o corpo de João e a porta do carro.
- a gente já falou o que tinha pra falar, Fábio.
- para de me chamar assim. O que custa você entrar um pouquinho somente?
- custa muito, cara. Você vai continuar mentindo. Vai tentar me convencer no gogó.
João abriu a porta do carro, e Fabinho voltou a fechá-la. João empurrou Fabinho, entrou no carro e deu partida. Agora ele já poderia chorar.
O menino parou o carro em uma praça, antes de chegar a sua casa. Desceu. Caminhou ate uma banquinha de cachorro quente, pediu um completo com suco de uva, e comeu desesperadamente.
- faz outro por favor. - disse ele ainda no primeiro.
- é pra já. - disse o vendedor.
João olhou para o sol, e depois para o pulso. Já passava das quatorze horas.
- aqui moço. - disse o vendedor lhe entregando o segundo cachorro quente.
- obrigado. - agradeceu.
- mais suco?
- tem de laranja?
- tem sim.
- quero um.
- é pra já. - disse o vendedor.
João, que estava sentado em uma cadeira plástica, de costas viradas para um barranco, não percebeu que um cachorro se aproximava. Quando deu fé, o animal já estava cheirando seu lanche. O susto foi inevitável, a cadeira girou e João desceu barranco abaixo.
No chão, sentia dores nas pernas e percebeu que o joelho sangrava muito. Tentou levantar, e sentiu uma profunda dor nas costas.
- ta bem amigão? - disse um homem tentando ajudá-lo.
- se eu to bem? Ta de brincadeira comigo né!? - João cuspia grama com barro.
- desculpa cara, meu cachorro se soltou da coleira, e eu não consegui segura-lo. Mas te garanto que ele não iria te morder. Ele só queria brincar.
- com meu cachorro quente né!? - disse João tirando o excesso de barro do corpo.
- eu pago outro pra você. - Disse o homem sento simpático.
- precisa não. Passou a fome. - João certificou-se de que o celular e a carteira não haviam sido arremessados com a queda.
O jovem, dono do cachorro, ainda acompanhou João ate o carro.
- você não precisa de nada? Eu moro aqui perto, se você quiser, te levo em casa, e minha mãe faz uns curativos. Não quer ir comigo?
- não. - João foi grosso.
O menino voltou para a estrada, e em pouco tempo estava em sua casa. A preocupação agora era em como ele iria subir ao quarto despercebido. Estacionou o carro, deu uma arrumada na aparência, e subiu as escadas correndo. A dor por fora não se comparava a dor interna.
Entrou no banheiro, trancou a porta, e olhou-se no espelho. Com certeza, aquele tinha sido um longo dia.
Momento atual.
João deixara Fabinho na porta do seu edifício.
- você não quer entrar? - perguntou Fabinho.
- não. - disse João. Eu to indo nessa.
- vai no meu carro. - ofereceu Fabinho.
- vou pegar um táxi.
- sem necessidade. Meu carro ta disponível, não vou sair mais hoje mesmo.
João continuou recusando.
- prefiro ir de táxi. - disse o menino.
- tudo bem. Você pode ao menos ligar pra dizer que chegou bem?
João pensou em falar algo, mas achou melhor evitar.
- ligo. - disse por fim.
- obrigado por ter vindo me deixar João. Obrigado mesmo.
- por nada. Agora eu vou nessa. Se cuida.
- ta bom. Você também.
Na noite movimentada, não demorou muito para João encontrar um táxi vazio. Fabinho viu João partindo. Talvez para nunca mais voltar.
João chegou em casa, e encontrou as luzes apagadas. Provavelmente todos já dormiam. Tomou um copo d'água na cozinha e subiu para o quarto.
No dia seguinte, João acordou depois das nove horas. Lembrou do aniversário da avó e levantou-se para fazer sua higiene matinal. Tomou um banho caprichado, colocou uma bermuda jeans, jogou uma regata no ombro e saiu do quarto. Sentia-se mal pela forma que tratara o primo na noite anterior e queria pedir desculpas.
- Diogo? - disse João entrando na cozinha.
- bom dia primo. - respondeu Diogo com um sorriso no rosto.
- bom dia. Sabe cade o Mateus?
- ele havia ficado no quarto. - respondeu Diogo tomando café.
- ta ok. Obrigado!
- nada. - respondeu o primo de vinte e um anos.
João subiu as escadas, e lentamente foi abrindo a porta do quarto. Olhou para a cama, e não encontrou o primo.
- Mateus? - chamou entrando totalmente no quarto.
- aqui primo. - disse Mateus saindo de dentro do banheiro. O rapaz de vinte e três anos escovava os dentes.
João ficou admirado ao ve-lo apenas com uma toalha na cintura.
- bom dia. - disse João.
- dia. - respondeu Mateus.
- eu queria conversar contigo, mas to vendo que tu ta ocupado. Volto outra hora.
- pode falar agora primo. Tô ocupado não. Tava só tomando um banho. Calor demais aqui na tua cidade.
- é... Aqui é um pouco quente mesmo.
- um pouco? Um pouco é de onde eu venho. - Mateus sorriu, arrancando uma risada do João. - Mas diga lá, o que ocê quer falar comigo?
- eu queria pedir desculpas por ontem. Fui grosseiro contigo, que só queria ajudar.
- precisa pedir desculpas por nada não primo. Você tava nervoso. - disse Mateus.
- ainda assim. Eu não poderia ter falado contigo daquela forma cara. Desculpa cara.
- bom... Já que é tão importante pra você, eu desculpo sim. Sem ressentimentos.
João sorriu.
- eu fico mais aliviado primo. Tava me sentindo mal.
- fique não. - disse Mateus deixando cair a toalha.
João não era acostumado a ficar nem ver outros homens pelados com tanta naturalidade. O menino ficou sem voz ao ver o pênis do primo balançando entre as penas.
- o que foi primo? - perguntou Mateus sem entender. - primo, cê ta bem?
João olhou para Mateus, e sua voz não saiu.
Mateus, ainda, sem entender deu uma coçada nos ovos e foi em direção a João.
- que tu tem? - disse ficando de frente para o primo.
- eu vou descer primo. Que bom que ta tudo certo entre a gente. - disse João suando frio.
João virou-se para sair do quarto, mas Mateus tocou em seu ombro.
- espera primo. - disse Mateus. - senta aí que eu quero levar um papo contigo.
Continua...