Felipe estava nervoso, mas determinado a dar o próximo passo no relacionamento com Guilherme. Apesar das dificuldades financeiras, o amor que sentia superava qualquer obstáculo. Quando Paris começou a rabiscar suas ideias no caderno, Felipe sabia que tinha feito a escolha certa ao pedir sua ajuda.
— O que você acha de fazermos algo íntimo e especial? — sugeriu Paris, com empolgação. — Se ele sempre sonhou com uma serenata, podemos criar algo ainda mais memorável, sem precisar cantar ou dançar.
— Estou ouvindo — Felipe disse, curioso, observando Paris frenética com suas anotações.
— Podemos organizar um jantar ao ar livre, talvez no lugar onde vocês se conheceram ou onde tiveram o primeiro encontro. No final do jantar, você pode presenteá-lo com as alianças e com a serenata. Você também pode ler uma carta, algo bem pessoal. Algo que mostre o quanto ele significa para você e como você quer viver o resto da vida ao lado dele.
Felipe sorriu, emocionado com a ideia.
— Isso soa perfeito. Ele sempre diz que palavras têm muito significado para ele.
— E eu conheço os gostos dele! — Paris acrescentou, piscando. — Vamos usar velas, flores, e criar o clima mais romântico que ele poderia imaginar. Ah, e posso ajudar com os detalhes! Vamos fazer isso o mais incrível possível, no "nível do Guilherme".
— Acho que ele vai adorar. — Felipe suspirou, aliviado, mas ainda um pouco ansioso.
— E quanto à conversa com os pais dele? — Paris perguntou com um olhar mais sério.
— Vai ser complicado. O pai dele, especialmente, nunca foi muito aberto à ideia de nós dois.
Mas vou tentar. Quero que eles saibam que estou fazendo isso porque amo o filho deles, e quero dar a ele tudo o que puder, enquanto ainda temos tempo.
Paris tocou o ombro de Felipe com carinho.
— Vai dar tudo certo. O amor sempre encontra um jeito.
Kaity decidiu seguir Rebecca para arrancar alguma informação sobre a tal gravidez. Rebecca entrou em um trem e seguiu para uma rua comercial de Londres. Não muito longe, a moça entrou em uma loja de gestantes. Kaity acompanhou cada passo da rival.
— Puxa. Será que ela tá grávida mesmo? — se questionou Kaity, mantendo uma distância de Rebecca, que olhava roupinhas de crianças. — Como eu sou idiota. Claro que ela tá grávida. Merda.
— Precisa de alguma coisa? — uma vendedora se aproximou de Rebecca.
— Não. Estou apenas olhando, obrigada.
— Claro, precisando de algo pode me chamar. — pediu a mulher, antes de voltar a atenção para outra cliente.
De repente, Rebecca se aproximou de um manequim e pegou uma barriga falsa. Ela olhou em volta e seguiu para o provador. Kaity a seguiu, curiosa e ansiosa, estranhando a atitude da ex-namorada de Dylan.
Na área dos provadores, Rebecca tirou a camiseta e colocou a barriga falsa. Sem pensar duas vezes, Kaity pegou o celular e entrou no provador ao lado.
— Vai ficar perfeita. — Kaity ouviu a voz de Rebecca. — Agora aquele idiota do Dylan vai acreditar em mim.
Com o auxilio de um banco, Kaity conseguiu ter uma visão de Rebecca. Porém, ao olhar para o celular, percebeu que o mesmo estava sem bateria. A intercambista observava incrédula enquanto Rebecca ajustava a barriga falsa no provador.
O choque a fez paralisar por alguns instantes, mas sua mente começou a correr com inúmeras possibilidades. Era difícil acreditar que Rebecca estava tentando enganar Dylan de uma forma tão descarada.
— Isso não pode estar acontecendo — sussurrou Kaity para si mesma, lutando para manter a calma. A descoberta a deixava dividida: por um lado, finalmente tinha a prova de que Rebecca estava mentindo, mas, por outro, não sabia como poderia usar essa informação sem parecer que estava apenas sendo mesquinha.
Enquanto Rebecca saía do provador, satisfeita com o disfarce, Kaity recuou rapidamente para não ser vista, o coração batendo acelerado.
— Ele vai acreditar em cada palavra — murmurou Rebecca para si mesma, um sorriso cínico se formando em seus lábios enquanto pagava por mais um enchimento para complementar seu disfarce.
Kaity sabia que precisava agir com cautela. Isso não era apenas uma briga entre duas mulheres disputando a atenção de um homem; Rebecca estava manipulando Dylan de forma cruel. "Eu não posso deixar isso continuar", pensou Kaity, decidida a fazer algo. Mas antes, ela precisava pensar em um plano. Revelar a verdade sem se expor demais seria crucial.
Celestina observou enquanto Guilherme, com um olhar sereno, se preparava para mais uma rodada do tratamento. Seu coração apertava ao vê-lo tão calmo diante de algo tão doloroso. Por mais que tentasse ser forte para ele, as palavras de Guilherme sobre o testamento ainda ecoavam em sua mente. Ela sabia que ele estava tentando proteger Felipe, mas a ideia de perder Guilherme era insuportável.
— Vai ficar tudo bem, Guilherme — disse ela com a voz suave, tentando esconder sua preocupação. — Estou aqui, como sempre estive, e vou continuar cuidando de você.
Guilherme sorriu levemente, seus olhos revelando uma mistura de cansaço e gratidão.
— Eu sei, Celestina. Você sempre esteve comigo. Eu sou muito sortudo de ter você.
O médico se aproximou, preparando os equipamentos, enquanto Celestina apertava a mão de Guilherme uma última vez antes de soltá-la. Embora ele estivesse entrando em outra batalha, ela sabia que seu espírito era forte, mesmo que o corpo estivesse sofrendo.
— Lembre-se, Celestina, cuide do Felipe por mim. Ele vai precisar de você mais do que nunca — Guilherme repetiu em um tom calmo, como se quisesse garantir que suas palavras fossem ouvidas uma última vez.
Celestina respirou fundo, sentindo a dor se intensificar em seu peito, mas assentiu, incapaz de dizer qualquer outra coisa.
Enquanto o tratamento começava e Guilherme fechava os olhos, ela olhou pela janela do quarto de hospital, com o coração cheio de preces silenciosas. Mesmo em meio à angústia, sua promessa estava feita. Felipe seria cuidado. Mas, acima de tudo, ela desejava que Guilherme continuasse com eles por muito tempo.
Celestina segurou Anastácia firmemente enquanto as lágrimas silenciosas rolavam por seu rosto. As palavras de Guilherme, o testamento, o tratamento, tudo parecia estar pesando em sua alma. Ela não sabia mais se o que estavam fazendo era realmente para ajudar Guilherme ou se era apenas um esforço desesperado para prolongar algo inevitável.
— Será que ele ainda tem forças para continuar? — sussurrou Celestina, olhando para Anastácia com olhos tristes e cansados. — Ver ele sofrer assim... dói demais.
— Nós precisamos acreditar, Celestina — respondeu Anastácia, enxugando suas próprias lágrimas. — Ele está lutando, e nós estamos lutando com ele. Precisamos confiar que estamos fazendo o possível, pelo menos por enquanto.
Celestina suspirou, mas o vazio em seu peito não diminuía. Guilherme estava adormecido agora, finalmente livre, mesmo que por um breve momento, da dor excruciante que o assolava. O silêncio do quarto hospitalar, quebrado apenas pelo bip constante das máquinas, era quase ensurdecedor.
— Eu me pergunto se ele sente a mesma esperança que nós tentamos manter... — disse Celestina, olhando para o rosto pálido de Guilherme, adormecido como uma criança. — Ele sempre foi forte, mas vejo o cansaço nos olhos dele. Não sei quanto mais ele aguenta.
Anastácia balançou a cabeça, também encarando o rapaz com tristeza.
— Ele sabe que estamos aqui por ele. E isso é o que nos resta. Ser presença, ser apoio. Mesmo que tudo pareça impossível, nosso amor por ele é o que ainda dá sentido.
As duas ficaram em silêncio por um momento, apenas observando Guilherme, imersas em seus pensamentos e orações, torcendo para que ele encontrasse algum alívio.
A relação entre John e Wallace evoluía de forma intensa, misturando desejo e uma crescente intimidade que ia além das noites compartilhadas. O vínculo que construíam era uma mistura de cumplicidade e liberdade, algo que John não tinha certeza de como definir, mas que começava a tomar espaço significativo em sua vida.
Após uma transa quente, os dois ficaram deitados na cama. Eles aproveitavam os bons momentos para se conhecerem um pouco mais.
— E como foi que os teus pais descobriram sobre a tua sexualidade? — perguntou Wallace.
— A minha família é simples. Eles não sabem quase nada sobre mim. Para eles, enquanto eu continuar mandando dinheiro tá tudo certo. E a sua?
— Família religiosa e tradicional. Digamos que eu fui o filho renegado. E pior que eu não tenho raiva dos meus pais. Na verdade, agradeço, pois foram nas divergências que alcancei meus objetivos. Tudo o que ganhei na vida foi com muito esforço. — Wallace revelou, antes de acariciar os cabelos de John.
— O que não te mata, te deixa mais forte. — afirmou John, fechando os olhos. Ele começou a gostar de carícias.
— Ah, um amigo meu vai abrir um Bar Karaokê. Chama os teus amigos. — Wallace o convidou.
— Amigos?
— A Paris e os outros. — ressaltou o advogado.
— Eles não são meus amigos e...
— Claro que são! — exclamou Wallace, olhando para John e sorrindo. Aquele sorriso que penetrava no coração de John. — Eu vi quando vocês foram visitar o Guilherme. Eles fizeram questão da sua presença. Fora que te vi cantando. Quero que meu namorado arrase no karaokê.
— Namorado. — murmurou John, ficando vermelho. Ele tentou levantar, mas Wallace o puxou de volta.
— Você realmente é cheio de surpresas — murmurou Wallace, rindo enquanto acariciava os cabelos de John. — Mas vai ter que me aguentar no karaokê, não tem escapatória.
John sorriu, mas sua mente divagava um pouco. Era estranho pensar em como as coisas tinham mudado. Há poucos meses, ele estava sozinho, lidando com o término conturbado com Guilherme e tentando esquecer seus sentimentos na noite de Paris. Agora, estava envolvido com um homem que, apesar de sua seriedade profissional, trazia leveza e diversão para o seu cotidiano.
— Tudo bem, acho que posso te acompanhar nessa — disse John, que foi surpreendido por um beijo de Wallace.
— Ótimo. E depois? Vem mais surpresas por aí?
— Quem sabe? — respondeu John, sentindo-se menos preocupado com definições e mais disposto a apenas aproveitar o que tinha com Wallace.
O convite para o karaokê já deixava o clima mais leve, e mesmo que John não estivesse acostumado a se abrir para novos relacionamentos, com Wallace por perto, ele se sentia cada vez mais confortável para explorar esses territórios desconhecidos.
Nariko sempre admirou o trabalho da mãe, Kasuku, uma estilista que havia batalhado por anos para ganhar reconhecimento na indústria da moda. E agora, estava prestes a realizar um dos seus maiores sonhos: participar da tão prestigiada Semana de Moda de Londres. Embora orgulhosa da mãe, Nariko nunca imaginou que se envolveria ativamente no evento. Entretanto, com o nervosismo crescente de Kasuku e as demandas de última hora, a jovem estudante decidiu que era hora de agir e ajudar como pudesse.
Na semana do desfile, Kasuku e sua equipe chegaram ao local para fazer os últimos ajustes. A tensão era palpável, e Kasuku, embora experiente, não conseguia esconder o medo de que algo saísse errado. A passarela estava sendo montada, as entradas e saídas foram medidas milimetricamente, e o cronômetro foi acionado diversas vezes para garantir que tudo corresse dentro do tempo estipulado. No entanto, apesar de todos esses preparativos, Kasuku continuava preocupada.
— E se o ritmo não for o certo? E se os modelos não entrarem na hora certa? — murmurava Kasuku para si mesma, enquanto observava o espaço ao redor, inquieta.
Nariko, observando a aflição da mãe, sentiu um desejo profundo de ajudar de uma forma mais significativa. Ela sabia que Kasuku precisava de apoio, não apenas técnico, mas emocional também. Aproximou-se, tentando soar casual, mas com uma ideia já formada na cabeça.
— Mãe, você acha que eu e meus amigos poderíamos ajudar? — perguntou, sem muita expectativa de qual seria a reação da mãe.
Kasuku olhou para a filha, a surpresa clara em seu rosto. A princípio, não tinha certeza de como Nariko e seus amigos, estudantes sem experiência no mundo da moda, poderiam contribuir com algo tão grandioso. Mas, então, algo lhe ocorreu.
— Bem... suas amigas são bonitas... será que vocês não topariam desfilar? — sugeriu, sem rodeios, mas com uma ponta de esperança na voz.
Nariko piscou algumas vezes, surpresa com a proposta.
— Desfilar? Mãe, eu não levo jeito para a passarela. Eu não tenho o perfil de uma modelo — respondeu, rindo um pouco da ideia. Ela nunca havia se imaginado caminhando sobre uma passarela, com luzes e câmeras voltadas para si.
Kasuku, no entanto, não deixou a insegurança da filha tomar conta da conversa. Aproximou-se de Nariko e, com carinho, segurou suas mãos.
— Filha, você é linda. Ficaria deslumbrante na passarela. Acho que é o sonho de muita gente se sentir bonita, desfilar... muita gente morreria por isso — Kasuku falou com uma mistura de firmeza e carinho, o tipo de fala que só uma mãe consegue proferir com tamanha convicção.
Nariko ficou em silêncio por alguns instantes. Embora ainda estivesse hesitante, algo na fala de sua mãe ressoou dentro dela. Talvez aquilo fosse mais do que apenas andar na passarela. Talvez fosse sobre estar lá para apoiar sua mãe, sobre fazer parte de algo maior, algo que significava tanto para Kasuku.
De repente, uma ideia tomou forma em sua mente.
— Mãe, — disse Nariko, sorrindo de forma decidida enquanto a abraçava — a senhora é um gênio!
Sem esperar resposta, saiu em direção aos bastidores, deixando Kasuku um tanto confusa. A estilista permaneceu parada por alguns segundos, tentando entender o que havia acontecido.
— Eu sou? — murmurou, meio perplexa, enquanto observava a filha se afastar com um novo brilho no olhar.
Nariko já estava pensando em como convencer suas amigas a entrarem nessa aventura. Mesmo com a insegurança sobre desfilar, ela sentia que esse era o tipo de momento que exigia coragem e colaboração. Não era apenas sobre moda, era sobre estar presente, apoiar sua mãe e, quem sabe, descobrir um novo lado de si mesma no processo.
Enquanto a equipe continuava ajustando detalhes da passarela, Nariko sabia que o verdadeiro desfile começaria muito antes de as luzes se acenderem.
Felipe respirou fundo antes de entrar no McDonald's. Ele tinha pensado muito sobre essa conversa e sabia que precisava ser sincero com Leopold, o pai de Guilherme. Marcaram o almoço em um lugar que Felipe pudesse pagar sem constrangimentos, e o McDonald's parecia a escolha mais apropriada. Mas enquanto aguardavam seus pedidos, Felipe mal tocava na comida, sua ansiedade era palpável.
Leopold, atento à inquietação de Felipe, que estava visivelmente desconfortável, interrompeu o silêncio.
— Está tudo bem? — perguntou, observando o jovem mexer nas batatas fritas sem apetite.
Felipe tentou disfarçar, mas o nervosismo era evidente em sua voz.
— Sim. Estou ótimo — respondeu, evitando o olhar de Leopold.
Leopold não ficou convencido. Ele sabia que algo mais estava acontecendo.
— Você está parecendo nervoso... aconteceu algo?
Felipe respirou fundo mais uma vez, sentindo o peso do que estava prestes a dizer. Ele olhou para Leopold, finalmente decidido.
— Eu... eu vou pedir o Guilherme em casamento — falou, de uma vez, sem rodeios.
Leopold, pego completamente de surpresa, se engasgou com o suco que estava tomando. Tossiu e colocou o copo de lado, enquanto Felipe olhava, preocupado.
— Seu Leopold?! O senhor está bem? — perguntou, quase se levantando para ajudá-lo.
Leopold acenou, tentando se recompor, mas o choque ainda estava estampado em seu rosto.
— Estou. Estou bem... — Leopold limpou a garganta e olhou para Felipe, ainda incrédulo. — Você disse que quer casar com o meu filho?
Felipe assentiu, tentando manter a calma.
— Senhor, o Guilherme está muito debilitado, e recentemente teve um ataque de pânico. Ele disse que nunca vai casar... que vai morrer antes de se sentir realizado — explicou, a voz embargada de emoção.
Leopold olhou para ele, ainda processando a ideia. A preocupação era visível em seu rosto.
— Mas você é muito novo e...
— Eu sei, eu sei disso — interrompeu Felipe, determinado. — Mas eu amo o seu filho. Amo do fundo do meu coração. E quero dar tudo o que ele merece. Eu sei que sou pobre, que já estive preso, mas isso não muda o que eu sinto. Eu não quero o dinheiro dele, não quero nada. Se for preciso, posso ir a um advogado e assinar qualquer coisa que diga que não tenho direito a nada.
Felipe falava com uma intensidade que Leopold não esperava. O pai de Guilherme ficou em silêncio por alguns instantes, processando cada palavra, mas uma batalha interna se desenrolava em sua mente. Ele não duvidava da sinceridade de Felipe, mas...
— Felipe, eu não estou duvidando da sua honestidade, é que... eu... eu... — Leopold gaguejava, tentando encontrar as palavras certas, mas antes que pudesse terminar, levantou-se apressadamente, saindo do restaurante sem mais explicações.
Felipe ficou sentado, confuso e frustrado.
— Droga — murmurou para si mesmo, olhando para a porta por onde Leopold havia saído.
Leopold caminhou pelas ruas de Londres até chegar ao terraço de seu prédio, onde costumava ir quando precisava pensar. Sentia-se dividido entre o amor incondicional pelo filho e as dificuldades em aceitar plenamente sua sexualidade. Embora ele aparentasse estar bem com Guilherme ter um namorado, lá no fundo, ainda carregava o peso da desaprovação que vinha de suas próprias convicções.
Ele se apoiou na grade do terraço, deixando as lágrimas correrem livremente pelo rosto. Era um pai orgulhoso e protetor, mas não conseguia aceitar a ideia de que seu filho fosse gay. À medida que as lágrimas caíam, Leopold se permitiu lembrar do dia em que segurou Guilherme pela primeira vez.
Londres – 18 anos antes
No berçário do hospital, Leopold, nervoso e emocionado, olhava para o recém-nascido com os olhos brilhando de felicidade.
— O seu é aquele mocinho de azul — informou a enfermeira com um sorriso, apontando para o bebê adormecido.
— Eu posso pegá-lo no colo? — perguntou Leopold, com uma mistura de ansiedade e admiração.
— Claro, mas precisamos ser rápidos — brincou a enfermeira, entrando com Leopold no berçário.
Quando Guilherme foi colocado em seus braços, Leopold sentiu uma emoção indescritível. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, e ele beijou a testa do filho com carinho.
— Meu filho. Sangue do meu sangue — murmurou, emocionado. — Eu prometo que você será a criança mais feliz deste mundo. Vou te dar tudo o que eu puder. Prometo que vou errar, mas vou tentar ser o melhor pai que eu puder. Vou te ensinar tudo o que sei, mas o principal... vou te ensinar a ser feliz. Se depender de mim, você só vai rir.
A enfermeira, tocada pela cena, sorriu.
— Ele realmente tem um bom pai — disse ela.
— Eu vou ser o melhor pai do mundo — respondeu Leopold com convicção, ainda segurando o filho com todo o amor que sentia.
Londres – Atualmente
No presente, Leopold chorava sozinho no terraço. As palavras que prometera a si mesmo naquele dia ecoavam em sua mente. Ele sempre quis ser o melhor pai do mundo para Guilherme, mas agora se via em conflito entre suas expectativas e o que a vida havia reservado para o filho.
— Eu vou ser o melhor pai do mundo — sussurrou para o vento, enquanto as lágrimas continuavam a cair.
Nariko chegou ao café onde seus amigos se reuniam, com um brilho de entusiasmo nos olhos. Ela mal conseguia conter a animação por conta do desfile que sua mãe, Kasuku, estava organizando. Mas, ao ver os rostos tensos à sua volta, sua excitação diminuiu rapidamente.
— O que aconteceu? — perguntou, preocupada, sentando-se ao lado de Kaity.
Kaity suspirou, lançando um olhar significativo para Paris, que parecia hesitante em falar. Paris, no entanto, logo se adiantou.
— Babado, a Kaity seguiu Rebecca até uma loja de gestantes... e... — Paris fez uma pausa dramática. — Descobriu que ela não está grávida.
Nariko ficou boquiaberta.
— O quê? Mas... como assim?
— Ela estava usando uma barriga falsa, Nariko — explicou Kaity, balançando a cabeça em descrença. — Está tentando enganar Dylan para afastá-lo de mim.
Nariko, ainda chocada, olhou para Dylan, que estava em silêncio, mexendo no café à sua frente.
— Eu sei que é muita coisa para processar, mas... — Nariko começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Kaity, acho que você deveria ter paciência com Rebecca. Eu sei que é difícil, mas... talvez ela tenha os motivos dela.
Kaity apenas deu de ombros, sem conseguir esconder a irritação.
— E tem mais uma novidade — continuou Paris, com uma expressão mais leve. — Felipe vai pedir o Guilherme em casamento.
A revelação trouxe uma nova onda de choque, mas dessa vez acompanhada de excitação.
— O quê?! — Nariko exclamou. — Quando isso aconteceu?
— Eles estão planejando tudo. Felipe quer fazer algo especial, e eu tenho um plano para que o pedido de casamento seja épico.
Nariko sorriu, já imaginando o evento.
— Eu acho que devemos chamar o John — sugeriu Paris, de repente.
A expressão de Nariko ficou séria.
— Você acha? Depois de tudo o que ele fez? — perguntou, hesitando.
Paris deu de ombros.
— As pessoas mudam, Nariko. E, sinceramente, eu gosto do John, apesar de tudo. Ele sabe que fez besteira e tentou corrigir boa parte.
Kaity, que até então estava quieta, assentiu.
— Isso é verdade. Mas será que ele vai querer participar do pedido de casamento do ex? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
Dylan, que ainda estava digerindo a história de Rebecca, finalmente quebrou o silêncio.
— Se fosse com a Kaity, eu não iria — disse, firme.
Wong, que até então estava concentrado no celular, levantou os olhos e sorriu, tocando o ombro de Nariko.
— Com você também, eu não iria — disse ele, com uma piscadela.
Nariko riu, sua animação começando a voltar. Ela contou para os amigos que a mãe havia os convidado para o desfile. Então, Paris teve a ideia de unir os dois eventos - o desfile com pedido de casamento. Com pressa, a intercambista japonesa ligou para mãe e explicou toda a situação.
Comovida pela situação de Guilherme, Kasuku aceitou e preparou tudo com sua equipe, enquanto os amigos se prepararam para a grande surpresa.
— Bom, minha mãe adorou a ideia de termos um evento grande. E, de quebra, ainda vamos desfilar para a marca dela — contou, com o orgulho evidente em sua voz.
Wong levantou a mão, animado.
— Eu tenho ou não tenho a melhor sogra do mundo?
— Nossa, é muita coisa acontecendo — observou Dylan. — Desfile e pedido de casamento, tudo junto.
Paris não perdeu a oportunidade de fazer uma pose dramática.
— E a estreia de Paris nas passarelas — disse, rindo.
Steve, que até então estava absorto em seu notebook, olhou para o grupo e sorriu.
— Eu adoraria ajudar, mas estou com um caso importante. Uma empresa está jogando água contaminada no mar, e vou ter que viajar para resolver isso.
— Tudo bem, amor. Eu desfilo por nós dois — respondeu Paris, dando-lhe um sorriso brincalhão.
O clima no grupo começou a se tornar mais leve, as tensões se dissipando à medida que se concentravam nos planos para o grande evento. Entre o desfile e o pedido de casamento, todos sabiam que seria uma semana inesquecível.
Naquela tarde, Felipe encontrou-se com Anastácia, a mãe de Guilherme, para uma conversa que ele sabia ser necessária. Depois de toda a angústia que sentira ao falar com Leopold, ele precisava de um novo alento, e talvez uma visão diferente sobre seu plano de pedir Guilherme em casamento.
Felipe explicou tudo o que havia dito ao pai de Guilherme: o quanto amava seu filho, seu desejo de vê-lo feliz, mesmo que o tempo juntos estivesse se esgotando. Anastácia ouviu em silêncio, seus olhos fixos na janela enquanto observava o movimento das ruas abaixo. Quando Felipe terminou, ela se virou e, sem dizer uma palavra, o envolveu em um abraço forte.
— Você não tem noção do que está fazendo pelo meu filho — sussurrou Anastácia, sua voz cheia de gratidão e dor.
Felipe sentiu as lágrimas surgirem em seus olhos. Ele não queria chorar, mas a emoção era esmagadora.
— Eu só sei que eu o amo — disse ele, com a voz trêmula. — E se for para perder o Guilherme... eu... eu quero fazê-lo feliz enquanto ainda posso. — As lágrimas finalmente escorreram por seu rosto.
Anastácia o abraçou ainda mais apertado.
— Oh, meu amor, vem cá. Eu entendo. Isso acaba com a gente, não é?
Felipe assentiu, ainda preso ao abraço caloroso dela.
— Eu nunca... nem nos meus maiores sonhos... imaginei que perderia a oportunidade de passar mais tempo com o amor da minha vida — confessou Felipe, soluçando. — No Brasil, a gente mora na mesma cidade, e mesmo assim, eu sinto que não fiz o suficiente...
Anastácia o soltou delicadamente e segurou suas mãos.
— E quando você vai propor a mão dele? E os anéis? — perguntou, com um sorriso suave.
Felipe sorriu, embora ainda estivesse abalado.
— Eu já comprei os anéis. São simples, mas...
— Isso é um detalhe — interrompeu Anastácia. — Eu posso vê-los?
Felipe tirou os anéis do bolso, revelando duas alianças de ouro discretas, porém carregadas de significado.
— Eu posso guardá-los para você? — ofereceu Anastácia, ao notar o nervosismo dele.
— Claro — respondeu Felipe, rindo nervosamente. — Eu estava com medo de perder eles.
De repente, Leopold apareceu na sala, visivelmente abalado. Seus olhos estavam vermelhos, como se tivesse acabado de chorar. Felipe e Anastácia se entreolharam antes de voltar a atenção para ele.
— Eu... — começou Leopold, com a voz falha, enquanto se sentava no sofá. — Eu me lembro do dia em que peguei o Guilherme nos braços pela primeira vez. Ele era tão pequeno. Eu prometi a mim mesmo que não faria com ele o que meus pais fizeram comigo. Sem castigos, sem surras... nada. Eu jurei que faria do Guilherme o menino mais feliz do mundo. — Leopold cobriu o rosto com as mãos, sufocando um soluço.
Anastácia se aproximou e o abraçou com ternura.
— Mas você faz, querido. Você já enfrentou tantos preconceitos, até os seus próprios. Você abraçou o seu filho, mesmo quando isso ia contra tudo o que sua família pregava.
Felipe também tentou confortá-lo.
— E o Guilherme ama o senhor. Ele sabe o quanto o senhor mudou por causa dele.
Leopold suspirou profundamente.
— Mas um casamento... imagine o que as pessoas vão dizer...
Anastácia, ainda segurando a mão do marido, olhou-o nos olhos.
— As pessoas já dizem. Vamos ser realistas, Leopold. O Guilherme pode morrer, e o sonho dele é viver isso. — Ela acariciou o rosto dele com amor. — Você me ensinou o que é o amor, Leopold. Você me faz tão feliz... eu te amaria, mesmo se você fosse o homem mais pobre do mundo.
Leopold soltou um riso abafado, mas ainda emocionado.
— Nem eu me amaria sendo pobre — brincou, olhando para Felipe com um sorriso de canto. — Sem ofensas, Felipe.
Felipe apenas riu.
— Não me ofendeu, senhor.
Leopold respirou fundo e olhou para o casal à sua frente.
— Bem... será que vamos ter que chamar minha mãe para o casamento? Será que ela viria?
Felipe, rindo junto com Anastácia, respondeu:
— Podemos mandar um convite.
Leopold voltou seu olhar para Felipe mais uma vez.
— E sua família? Eles gostariam de vir?
— Eles podem participar via Skype — respondeu Felipe, ainda tentando manter o bom humor. — Minha mãe adorou o Guilherme. Ela vai aprovar essa ideia.
Leopold acenou com a cabeça, pensativo.
— Bem... parece que temos um casamento para planejar.
Anastácia sorriu e segurou as mãos de ambos.
— Agora você precisa contar ao seu sogro o que está planejando para o pedido, Felipe.
Felipe se sentou ao lado deles e começou a descrever o plano detalhado que tinha para pedir a mão de Guilherme em casamento, e, pouco a pouco, a atmosfera tensa foi substituída por uma sensação de expectativa e esperança.
Naquela tarde, enquanto Guilherme se sentia surpreendentemente melhor, ele recebeu a visita de Nariko e Kasuku. A atmosfera no quarto era leve e animada. Celestina, que estava sempre ao lado de Guilherme, notou que ele havia comido mais do que o normal, e isso trouxe um grande alívio.
— Desculpa não ter lhe dado atenção na noite do baile, dona Kasuku — Guilherme se desculpou, sentindo-se um pouco culpado.
— Oh, tudo bem, querido. Você é jovem e merece se divertir — respondeu Kasuku, com um sorriso gentil.
Nariko, sempre animada, não demorou a compartilhar a novidade:
— Guilherme, eu conversei com a mamãe e ela quer que a gente participe do desfile... na Semana de Moda!
Guilherme arregalou os olhos, surpreso.
— Sério? E vocês vão?
Kasuku, tocando gentilmente o braço de Guilherme, completou:
— Todos vocês. — Ela sorriu. — Criei uma peça exclusiva para você usar no desfile. Já falei com seus médicos e posso te roubar por algumas horinhas.
— Nossa, eu nem sei o que dizer... — Guilherme estava impressionado e lisonjeado ao mesmo tempo.
Nesse momento, Leopold entrou no quarto, observando a cena com um olhar terno.
— Apenas seja um bom menino, agradeça e aceite o convite — disse ele, cumprimentando Kasuku.
Guilherme riu e, seguindo o conselho do pai, respondeu:
— Bem, se for dessa forma, eu aceito. Obrigado.
Nariko bateu palmas, empolgada.
— Que ótimo! Vai ser tão divertido!
Kasuku, satisfeita com a aceitação, começou a se despedir.
— Então, vejo vocês na passarela. Filha, eu preciso ir. Vou pedir para minha assistente te ligar para pegar as credenciais, ok? — disse ela, apertando o ombro de Nariko.
— Sim, mãe — Nariko respondeu, acenando.
Kasuku se aproximou de Guilherme e pegou sua mão com delicadeza.
— Querido, nos vemos em breve — disse ela, apertando a mão de Leopold e dando um beijo em Celestina. — Senhor Thompson, sempre um prazer. Querida, beijos. Com licença. — E saiu do quarto, deixando uma aura de expectativa e glamour.
Leopold, notando a melhora no filho, comentou:
— Você parece estar melhor. Está até corado.
— Ele comeu todo o almoço hoje — Celestina acrescentou, com um sorriso.
Nariko não perdeu a oportunidade de brincar.
— Muito bem, Guilherme.
No entanto, Guilherme, sempre consciente da sua condição, ficou um pouco preocupado.
— Pai, acho melhor o senhor falar com os médicos sobre essa liberação. Não quero criar expectativas e depois não poder ir.
Leopold, divertido, fez um gesto de saudação militar.
— Sim, senhor. Com licença — disse ele, saindo para resolver a questão.
Celestina, aproveitando o momento, virou-se para Guilherme e falou em português:
— Vou aproveitar que a tua amiga japonesinha tá aqui e vou ao banheiro.
Em seguida, ela tentou se dirigir a Nariko em inglês, mas hesitou, buscando as palavras certas.
— Er... minha querida... vou ao banheiro... com licença. — Ela acabou desistindo de falar em inglês e sorriu, tentando disfarçar.
Nariko riu, achando a situação adorável.
— Acho que falei "com licença" certo — disse Celestina, novamente em português, antes de sair do quarto.
— Ela é uma graça. Ela trabalha para vocês? — perguntou Nariko, ainda rindo da cena.
— Ela é minha segunda mãe. Trocou minhas fraldas e tudo mais — respondeu Guilherme, também rindo. Mas, de repente, seu tom ficou mais sério. — Ei, Nariko, ainda bem que você veio. Quero te pedir um favor enorme, e precisa ser segredo.
Nariko imediatamente se inclinou para frente, curiosa.
— Claro, qualquer coisa para você. O que é?
Guilherme olhou ao redor, certificando-se de que estavam sozinhos, e começou a explicar seu pedido secreto para Nariko, sabendo que podia confiar plenamente nela.
O grande dia do desfile finalmente chegou, e o grupo estava prestes a viver uma experiência emocionante e única. Guilherme, Felipe, Wong, Nariko, Kaity, Dylan, John e Paris estavam nervosos, porém entusiasmados com a oportunidade de desfilar para a marca de Kasuku. Todos, exceto John, que parecia desconfortável com a situação.
John, impaciente, virou-se para Paris:
— Qual o seu problema comigo?
— Oi? — Paris fingiu não entender, claramente provocando.
— Para, Paris. Eu não mereço a sua amizade.
Paris sorriu com ironia e respondeu:
— Somos amigos?
John bufou, irritado.
— Achei uma sacanagem o que você fez. Tinha que me envolver nisso? Eu já não estou envolvido demais?
Paris manteve o ar de superioridade, mas sem perder a leveza.
— Você não quer o bem do Guilherme?
John colocou a mão na cintura, expressando todo o drama de sua personalidade.
— Droga. Você sabe jogar baixo.
Paris se inclinou um pouco, como se estivesse prestes a revelar um segredo.
— E se eu te contar que o Wallace está aí?
A expressão de John mudou imediatamente.
— Não. Você não... não... não... eu não acredito! — Ele começou a andar de um lado para o outro, agitado. — Paris... eu juro que... eu vou...
Antes que pudesse continuar, Kasuku apareceu.
— Meninos, vocês já podem ir para o camarim — disse ela com um sorriso acolhedor.
Paris lançou um olhar significativo para John.
— Vamos, meu melhor amigo.
— Tenho outra opção? — John resmungou, seguindo Paris, claramente ainda nervoso com a revelação.
Enquanto isso, Felipe, sentindo a pressão da ocasião, foi ao provador para vestir a peça que Kasuku havia criado especialmente para ele. Ao colocar a roupa, ele sentiu uma presença familiar ao seu lado. Era Guilherme.
— Oi? — disse Guilherme, com um sorriso suave.
Felipe olhou Guilherme de cima a baixo, impressionado.
— Você... — ele hesitou, admirando o namorado — você está deslumbrante.
Guilherme, com um olhar divertido, respondeu:
— E você está lindo. Agora confessa... — ele se aproximou, envolvendo Felipe em um abraço.
— Confessar o quê? — Felipe perguntou, rindo.
— Que você está desfilando por minha causa — provocou Guilherme, sorrindo maliciosamente.
Felipe riu e beijou Guilherme.
— Tá se achando, né? — disse ele. — E sim, estou desfilando por sua culpa.
Eles riram juntos, e Guilherme, com um brilho no olhar, sugeriu:
— Se quiser, podemos correr daqui.
Felipe balançou a cabeça, recusando.
— Não. Eu me desafiei hoje.
— Sério? — perguntou Guilherme, curioso.
— Me desafiei a atravessar a passarela sem tropeçar ou cair.
— Olha, então a aposta foi alta? — Guilherme brincou, levantando a sobrancelha.
Felipe sorriu.
— Altíssima. Você nem faz ideia.
Nesse momento, Nariko tirou uma foto dos dois sem que percebessem, interrompendo a conversa.
— Ei, vamos! A mamãe está nos chamando.
Felipe pegou a mão de Guilherme e ambos seguiram até o local onde Kasuku esperava os modelos.
— Olá! Eu quero agradecer aos modelos e aos amigos da minha filha Nariko que toparam esse desafio — Kasuku começou, com um ar de gratidão. — A minha linha de roupas é feita para todos. Tenho a diversidade como a minha principal marca. Acho que a moda é democrática e existe espaço para tudo e todos. Quero que vocês se divirtam bastante. E prometo pizza para todos depois!
O grupo aplaudiu, aplaudindo também o entusiasmo de Kasuku.
Felipe, se aproximando de Guilherme, disse:
— Amor, vou no banheiro. Volto em cinco minutos — e lhe deu um beijo carinhoso antes de se afastar.
Guilherme assentiu com um sorriso.
— Tá bom.
Felipe procurou desesperado por Anastácia, ele a encontrou na primeira fileira do desfile. O intercambista pegou a caixinha com as alianças e correu para os bastidores. O desfile começou e a música começou a agitar as coisas. A primeira a subir na passarela foi Paris, a moça aproveitou seus poucos minutos de fama e arrancou palmas da plateia. Depois foram Dylan, Nariko, Kaity, Felipe, Paris e John, os outros modelos continuaram a rotação da passarela.
— Querido. — Kasusu pegou no ombro de Guilherme e o levou para o corredor. — Sua vez.
— Tudo bem. — pensou Guilherme. — Respira. Fica tranquilo. — coração batendo forte, indo em direção a passarela.
A forte luz dificultou a visão de Guilherme, mas ele continuou até o fim. Quando ele chegou na frente da passarela, todas as luzes se apagaram e a música parou. Todos que acompanhavam o desfile ficaram sem entender. Um tímido Felipe entrou na passarela e ficou de frente para o namorado.
— Peço uma salva de palmas para o Guilherme Thompson. — pediu e o público aplaudiu.
— Felipe? — questionou Guilherme, olhando para os lados, ainda confuso.
— Eu te amo, Guilherme. — Felipe declarou. De repente, as notas iniciais da música "When I Look at You" da Miley Cyrus saiu do sistema de som. E para surpresa de Guilherme, Felipe começou a cantar.
Enquanto Felipe tentava cantar, visivelmente emocionado, sua voz tremia, e ele errava algumas notas, mas o sentimento era genuíno. Guilherme não conseguia conter as lágrimas. As pessoas na plateia ficaram comovidas, mas também um pouco confusas com o que estava acontecendo, até que Paris, sempre atenta e divertida, percebeu que Felipe precisava de ajuda.
— A gente precisa ajudar o Felipe. — chamando a atenção de John. — Ele está tão nervoso!
— Estou adorando essa palhaçada. — John deu uma risada e levou um beliscão de Paris. — Eu não sei se estou preparado para isso, Paris.
— Vai ser divertido! E você canta muito bem. — puxando John e pegando dois microfones de um assistente. — Obrigada.
Com os microfones em mãos, Paris e John subiram na passarela para acompanhar Felipe na música. A plateia foi à loucura com a intervenção inesperada, e todos começaram a bater palmas no ritmo da canção.
— O que está acontecendo? — questionou um confuso Guilherme, que começou a chorar.
— Eu só queria mostrar o quanto eu te amo. — Felipe se declarou. — Mas sou péssimo nisso! — soltando um riso nervoso.
Com a ajuda de Paris e John, a música seguiu em frente. Mesmo que a apresentação não fosse perfeita, o sentimento que transbordava era o mais importante. Na plateia, os pais de Guilherme estavam emocionados, e Celestina secava os olhos enquanto Leopold sorria, orgulhoso.
— Você sabia que o John cantava? — Leopold questionou para a esposa, que chorava copiosamente.
— Ele parece um anjo. — afirmou a mãe de Guilherme, limpando as lágrimas com um lenço.
— Guilherme, você é a música da minha vida. — Felipe se aproximou de Guilherme e segurou em sua mão. — E eu quero te fazer uma pergunta. — se ajoelhando.
A plateia prendeu a respiração, esperando o grande momento.
— Guilherme Thompson, você aceita casar comigo? — perguntou Felipe, tirando a caixinha com as alianças do bolso e revelando os anéis,
Guilherme ficou em choque, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente.
— Eu... eu sempre sonhei com isso, mas... e meus pais? — as dúvidas cresceram no coração de Guilherme.
— Aceita, filho! — gritou Leopold, antes de assobiar para o casal.
— Aceita, querido! Nós queremos sua felicidade. — disse Anastácia, que também estava chorando.
O apoio dos pais de Guilherme foi a última confirmação de que ele precisava. Ele olhou nos olhos de Felipe, que ainda estava ajoelhado, e respirou fundo.
— Sim, eu aceito! — se ajoelhando e abraçando Felipe.
A plateia explodiu em aplausos e gritos de felicidade. Os dois se beijaram, e as luzes voltaram a brilhar com força na passarela. Paris e John terminaram de cantar, e a música se fundiu ao som da comemoração.
— Eu te amo. — colocando o anel no dedo de Guilherme. — Você é o amor da minha vida.
— Eu te amo, Felipe. — respondeu Guilherme. Ele pegou o anel e colocou no dedo do noivo. — Obrigado por fazer tudo isso. Você é perfeito para mim.
Com a felicidade visível no ar, o desfile continuou, mas a noite pertencia a Felipe e Guilherme.
Depois do evento, ambos voltaram para o hospital, já que Guilherme, apesar de todo o momento emocionante, não estava se sentindo muito bem. Ele adormeceu após tomar um remédio indicado pelo médico de plantão. No dia seguinte, o rapaz acordou com uma coceira na cabeça.
Sonolento, ele andou até o banheiro que ficava do outro lado do quarto. Ao se olhar no espelho, Guilherme gritou e assustou Felipe, que dormia na cama do visitante. Desesperado, Felipe entrou no banheiro e viu Guilherme jogano chão.
— O que foi, amor? — questionou Felipe se abaixando para verificar o noivo.
— O meu cabelo está caindo. — Guilherme mostrou vários tufos de cabelo faltando em sua cabeça.
Felipe apertava Guilherme contra o peito, sentindo seu corpo tremer enquanto chorava. As lágrimas de Guilherme se misturavam com o desespero de ver seu cabelo, um símbolo de sua identidade, caindo como folhas secas ao vento. A doença, que até então parecia distante em meio a tantos momentos felizes, agora se manifestava de maneira cruel e implacável.
— Eu estou aqui com você, Guilherme. — disse Felipe. — E eu não vou a lugar nenhum. — tentando segurar a própria emoção.
— Eu estou perdendo... perdendo tudo, Felipe. — Guilherme revelou em soluços. — Meu corpo... meu cabelo... E se eu perder a vontade de lutar?
Felipe sentiu um aperto no coração ao ouvir essas palavras. A força que Guilherme sempre demonstrou, mesmo diante das dificuldades, parecia vacilar naquele momento. Ele segurou o rosto de Guilherme com carinho, olhando diretamente em seus olhos marejados.
— Você não está perdendo tudo, amor. Você tem a mim, tem sua família... e tem sua vontade de viver. Eu sei que agora tudo parece escuro, mas eu te prometo que você não está sozinho. Vamos passar por isso juntos, dia após dia. — afirmou Felipe.
Guilherme abaixou a cabeça, ainda soluçando, mas sentindo o conforto nos braços de Felipe. O medo de perder o controle sobre seu corpo e o avanço da doença o consumia, mas a presença de Felipe era um farol de esperança em meio à escuridão.
— Eu estou com medo, Felipe. Eu não quero... — respirando fundo, tentando controlar a voz. — ...eu não quero que você me veja assim, tão fraco.
Felipe apertou ainda mais o abraço, como se tentasse transmitir toda a força que Guilherme precisava naquele momento.
— Eu te amo de qualquer jeito, Guilherme. — Felipe declarou e apertou o noivo. — Não importa se você está forte ou fraco, saudável ou doente. Eu te amo pelo que você é, não pelo que a doença tenta tirar de você. E eu vou estar aqui, sempre, até o fim. Prometo.
O choro de Guilherme foi diminuindo aos poucos, enquanto ele se deixava ser amparado. As palavras de Felipe, embora não apagassem o medo, acalentavam seu coração. Ele sabia que o caminho à frente seria difícil, mas também sabia que não estava sozinho.
Eles ficaram ali, abraçados no chão do banheiro por um longo tempo, até que o silêncio finalmente os envolveu. Mesmo em meio à dor e à incerteza, o amor entre eles ainda brilhava como um pequeno ponto de luz, um lembrete de que, apesar de tudo, eles ainda tinham um ao outro.