Fiz o jantar e pus a mesa, como se tornara habitual, mesmo prevendo que papai chegaria tarde naquela noite. Sua saída pela manhã, levantando-se antes mesmo de eu acordar e sem se despedir, foi um sinal de que as coisas não estavam bem. E acertei nas minhas conclusões: ele chegou bem além da hora, ignorou tanto a refeição quanto a minha própria presença e foi direto para o quarto. Desta vez, não estava mais apenas lacônico ou distante: seu semblante era hostil, carrancudo.
Vacilei em tomar alguma iniciativa, mas fui até a porta de seu quarto. Ele estava com o torso nu, preparando-se para abrir a calça.
- Pai... – falei, acanhado.
- Sai daqui.
- Pai, eu acho que a gente...
Ele me encarou. Foi o suficiente para que eu desistisse de qualquer contato. Saí, com medo, e fui para a cozinha esquentar o jantar. Mesmo pessimista, eu ainda tivera alguma esperança de que iríamos fazer a refeição juntos. Esperara por ele, mesmo sabendo que seria em vão. Eu estava morto de fome.
Enquanto a comida esquentava, tirei a mesa e guardei a louça. Pus o prato e os talheres na cozinha mesmo, só para mim. Enquanto aguardava para me servir, fiquei pensando o quão boçal eu era: os anos haviam passado e eu continuava feito um babaca quando o assunto era meu pai. Mesmo prevendo que ele estaria do jeito que chegou, eu tinha me preparado todo, sonhando com uma outra noite como aquela; tinha agido como se ele não fosse ele. Fizera a higiene íntima, me perfumara, colocara a única camisa mais maneira que tinha trazido, tal como se esperasse por um namorado. E agora estava ali, de pé, sozinho quase à meia-noite, sentindo o corpo ainda dolorido e o cuzinho inchado e arrombado pela surra da madrugada.
Ouvi um barulho e instintivamente me encolhi, assustado. Não era dentro de casa; apenas um cachorro ou um gato que remexera alguma coisa na rua, ou algo assim. Mas o olhar que ele havia me lançado fora tão ameaçador que eu estava alerta para qualquer coisa.
Nada melhorou nos dias seguintes: ele mal olhava para mim e falava apenas o essencial, quase que entre os dentes. Eu continuava tentando agradá-lo. Punha guloseimas no café da manhã, caprichava no jantar, mas ele apenas comia e se levantava da mesa assim que terminava, quase como se eu não existisse. Passei a usar um odorizador quando passava as roupas dele, para que ficassem levemente perfumadas, rearrumei seu armário, organizando e dobrando cuidadosamente todas as peças, engraxei todos sapatos, dei uma limpa no quartinho de depósitos do quintal, onde ele guardava as ferramentas. Nada disso o impressionava.
Aquilo foi me fazendo cada vez mais mal. Comecei a me sentir culpado pelo que ocorrera. Afinal, eu é que havia ido até o quarto dele, eu é que o tocara, que me deitara ao lado dele. E talvez, sem saber, meu olhar naqueles dias tivesse revelado minha cobiça por ele. Talvez eu mesmo o tivesse provocado a fazer o que fez. Eu ia me sentindo sujo, promíscuo, um aproveitador de um pai viúvo que, carente, precisava apenas da minha atenção, e não do meu sexo.
- Você quer que eu vá embora, pai? – perguntei, tímido, num jantar.
Ele continuou a comer, e eu não insisti. Então, largou os talheres e olhou bem nos meus olhos.
- Pra mim tanto faz. Se quiser ficar, fica. Faz a limpeza, prepara a comida. Se não quiser, vai embora e não aparece mais, ou apareça quando quiser. Tanto faz.
Depois, voltou a comer. Falou com tal desprezo que meus olhos se encheram d’água, mas não esbocei qualquer reação. Mastigava, concentrado, até que fez um intervalo. Sem tirar os olhos do prato, tentou fazer uma voz firme – o que, para ele, sempre foi muito fácil – e disse:
- Tu não é importante pra mim.
Permanecemos em silêncio. Não sei se ele se deu conta de que não fora convincente, e nem sei mesmo se ele não fora convincente, mas eu quase sorri olhando-o continuar a refeição. Continuei mudo. Apenas o admirava.
- Se não vai comer, não devia ter feito tanta comida – falou algum tempo depois, ainda sem me olhar. – Sou eu quem paga por isso aqui. Custa dinheiro.
Seu tom foi sério, mas não raivoso. Pedi desculpas e voltei ao prato, visivelmente animado. Ele certamente percebeu, dada a minha agitação, mas não se manifestou. Como nas outras noites, simplesmente levantou-se após esvaziar o prato e foi para o quarto.
Tirei a mesa, lavei a louça, passei pelo banheiro para escovar os dentes. Quando ia saindo, pela primeira vez após a noite em que ele me comeu, reduzi o passo ao passar pela porta de seu quarto. Não estava encostada, como era habitual. Não totalmente aberta, mas pela metade. A luz estava já apagada mas, pela janela, a lua cheia deixava as formas visíveis. Ele estava inteiramente nu.
Nem me passou pela cabeça entrar, mas me permiti uma parada para olhá-lo, sem fazer barulho. Não fiquei mais de um minuto até que ouvisse sua voz:
- Vai dormir, Mateus.
Saí rapidamente, surpreso por ele ter notado minha presença. Minha pele estava toda arrepiada e meu coração havia disparado. A imagem de seu físico à meia-luz, ali a poucos metros de mim, me deixara meio tonto. Pensar que ele penetrara em mim, que aquele corpo havia me coberto, aquelas mãos me acariciado, as pernas grossas forçado as minhas para abrir espaço para sua posse, tudo aquilo voltara à mente com a visão dele deitado, displicentemente sensual, como que alheio ao que seus pelos, seus músculos, seu suor emitiam. Deitei-me com a adrenalina a mil, sem qualquer possibilidade de sono. Estava em ereção – o que ocorria com frequência – e pensei em me masturbar. Mas não fiz, por medo de ele me flagrar. Medo que eu mesmo não compreendia, porque evidentemente não haveria como ele saber o que eu estaria fazendo, mas mesmo assim sentia. Demorei a dormir, rolando de um lado para o outro.
Dois dias se passaram e, quando eu fazia o café, ele cruzou a cozinha, apenas de cueca. Havia acabado de despertar e não entendi a razão daquilo. Era uma cena comum na minha infância mas que não tinha mais razão de ser, visto que transformara o quarto de casal numa suíte, ainda com minha mãe viva. Ele se dirigiu ao antigo banheiro cujo acesso era pela cozinha, e que há muito tempo não era utilizado.
Fechou a porta e eu me concentrei no café, tentando aliviar o impacto daquela sua presença. Depois do que havíamos vivido, ele andar pela casa de cueca não era como antes. Não tinha cabimento que, por mais bruto que fosse, ele não percebesse que as coisas haviam mudado. Ele não era simplesmente um pai que ficava à vontade com o filho, mas um pai que há poucos dias tinha fudido duas vezes o filho gay.
A presença dele seminu, o estrondo de seu mijo forte, os ruídos de sua movimentação no banheiro, nada daquilo era adequado para a situação que estávamos vivendo. Ele achava o quê? Que estava simplesmente em casa com um outro homem? Que poderia ter comigo a liberdade que teria com um outro cara, como se eu não o desejasse e como se ele, ao menos durante uma noite, não tivesse me desejado também?
Quando eu já punha a mesa, ouvi ele me chamar, do banheiro.
- Eu não trouxe a toalha. Pega pra mim. Rápido, porque não quero perder a hora – disse, com a porta fechada. O chuveiro já havia sido desligado.
Retornei, bati e ele disse que eu entrasse, pois a porta não estava trancada. Ía pendurar a toalha quando, do boxe, ele disse:
- Me dá aqui – e estendeu a mão.
Estava molhado, com o corpo todo exposto pela cortina aberta; o cacete pendendo sobre os dois culhões pesados. Eu tentei em vão desviar o olhar, mas por mais rápido que tenha sido, não pude deixar de ver. Agiu com naturalidade. Começou a se secar. Voltei à cozinha; meu peito era um tumulto. Logo, cruzou comigo, na sala, apenas enrolado na toalha.
Quando ele saiu para o trabalho, corri para o meu quarto para me masturbar. Quando ia fazê-lo, me recompus e fui ao banheiro, em busca da cueca. Eu sabia que ele a tinha deixado lá, desleixado como sempre. Não era a primeira vez que eu faria aquilo: antes de pô-las para lavar, eu sempre as cheirava, passava no rosto, às vezes acariciava minha bunda com elas. Tudo o que eu reprimira na adolescência agora me vinha ferozmente, depois que ele havia me possuído. O sentimento de culpa não fora capaz de conter aquele tesão represado por tantos anos.
O defeito no aquecedor do banheiro fora providencial. E eu torcia para que o excesso de compromissos dele retardasse o máximo possível o conserto. Era a oportunidade que eu tinha de, ao menos, admirar seu corpo desfilando pela casa. Só isso já me deixava feliz.
Mas minha satisfação não parou aí: ele passou todo o fim de semana em casa, fazendo trabalhos no quintal, um hábito seu que povoara minha infância e, principalmente, a adolescência. Serrava, lixava, pregava, pintava – tudo apenas de short, sem camisa. Eu imaginava como ele devia estar exalando aquele leve odor de suor que marcara minha infância, perfumando o jardim à sua volta. Eu não ficava à vista dele, com medo que se revoltasse ao me pegar contemplando-o. Queria que me chamasse para ajudá-lo, ficar ao seu lado, como eu ansiara tantas vezes quando morávamos juntos, com mamãe. Algumas vezes me chamou, pedindo alguma coisa, mas me dispensou logo em seguida.
No domingo, fui avisá-lo que o almoço estava pronto e ele, mais uma vez, mandou que eu lhe levasse uma toalha. Estava completamente suado; o torso aqui e ali coberto de serragem, os bíceps enrijecidos pelo esforço contínuo. Quando voltei, estava sob o chuveiro que tínhamos junto ao jardim: a cabeça levantada recebendo os jatos d’água, o tronco ereto. O short colado à pele revelava os contornos do que carregava entre as pernas e entrara em mim, do que produzia o leite que havia me irrigado. Eu quase pirei, ali mesmo. Mas pus a toalha sobre uma mureta e rapidamente saí, antes que ele baixasse a cabeça e me desvendasse.
Mais tarde, mandou que eu levasse água gelada e, enquanto eu esperava me devolver o copo, o vi bebê-la de forma tão voraz que a deixou escorrer pelos cantos da boca. Os fios de água pareceram ter o trajeto conduzido por sua virilidade. Acompanhei percorrer todo seu torso, os mamilos largos, o caminho escuro que lhe dividia o abdômen em direção ao sul, até os pelos mais íntimos que o cós do short deixava revelavar. Retornei à cozinha; o copo tremia na minha mão.
Havia uma maior proximidade, mas ele continuava taciturno. Quando, após me dirigir uma ou duas frases, eu me animava e esboçava uma conversa, ele simplesmente me ignorava. Mantinha-se fisicamente distante – a ponto de aguardar que eu me afastasse quando entrava na cozinha, onde muitas vezes havia o risco de nos encostarmos.
Eu procurava me satisfazer com estes pequenos regalos do dia-a-dia, já conformado de que o que ocorrera àquela noite nunca mais se repetiria. E dava graças aos céus de que, apesar da gravidade do ato que havíamos cometido, ainda estivéssemos conseguindo conviver. Eu rezava para que o tempo passasse vagarosamente, que aquele convívio, ainda que tênue, pudesse se fingir eterno. Mas sabia que, depois que eu fosse embora, o tempo cuidaria para que ambos vissem aquilo como algo de um passado a ser esquecido.
Todavia, não demorou até que houvesse uma reviravolta naquela aparente calmaria – que, por dentro, me consumia de tesão. Foi um susto na madrugada, que não me desesperou no choque porque sua agilidade não deu tempo para isso. Meu short foi rasgado e eu acordei com seu corpo, totalmente nu, pressionando o meu.
Ele me pegou pelos quadris, por trás, e cravou o caralho de uma só vez. Travou imediatamente minhas pernas com as suas, imobilizou minhas mãos com apenas uma e com a outra tapou minha boca. Eu não tinha como reagir. Suas manobras haviam sido certeiras e ele era maior e mais forte do que eu. Não tinha como ter reação, exceto retesar o corpo, o que o medo tratou de fazer à minha revelia. Deixei que me comesse pelo tempo e do jeito que quis.
Ele explorava meu corpo com a boca enquanto metia feito uma fera, enfiando com força como se quisesse me rasgar. Era doloroso. Não para ele: estava se fartando ao me cobrir. Realizava-se como homem em meu corpo e me realizava como seu amante.
A compreensão do que se passava e o abatimento causado por seu ataque fez com que, paulatinamente, minha rigidez se afrouxasse. Eu não oferecia resistência. Ele compreendeu o que tinha sob si e, aos poucos, relaxou a intimidação. As metidas continuaram firmes, mas as mãos passaram a percorrer meu corpo, a orientar minha bundinha segurando-me pela cintura, a acariciar meu cabelo; talvez tenha até procurado me olhar, conferido se era o temor ou a entrega o que dominava meu rosto.
Eu queria dizer para que ele me comesse, que se aproveitasse de mim sem pena, que eu era dele, que ele era o macho da minha vida e todas essas coisas que queremos gritar quando estamos sendo fudidos. Mas me continha, com medo de sua reação ao testemunhar no que o filho se transformava em suas mãos. Até que ele passou os braços por baixo de mim, apertou muito forte o meu tórax contra si e, assim colado, despejou seu sêmen.
Quando terminou o gozo, continuou fudendo. Eu ouvia o barulho molhado de sua pica entrando e quase saindo, entrando e quase saindo, saboreando meu cu aberto e agora escorregadio de esperma. Talvez fosse degradante, mas eu era feliz.
Usou-me bastante assim, quase quieto; apenas a pélvis em movimento para que ele se refestelasse em meu canal encharcado. Então, em contraste com esta placidez, levantou-se de uma vez só, dando um tapa em minha bunda. Eu me voltei, esperando o sorriso ao qual eu corresponderia, enfeitiçado e agradecido. Mas ele sequer me olhava enquanto se dirigia à porta. Quando saía, parou. Talvez tenham se passado dois segundos até voltar-se para mim.
- Não quero ouvir um pio sobre isso amanhã – disse, num tom muito sério e tão gutural que quase não consegui ouvir.
[continua]