Meus amores, me perdoem? Eu falhei com a promessa de que logo postaria. Mas aqui estou, não desisti do meu relato e muito menos desisti de vocês. Essa parte que venho contar a vocês hoje tem um peso sentimental muito grande pra mim, eu escrevia e chorava ao mesmo tempo. Então peço que leiam com carinho, pois é algo que realmente me marcou.
Referente ao meu sumiço, eu confesso que desanimei um pouco em escrever. Sei lá, me perguntei o porquê de estar contando a minha história para pessoas que nem ao menos me conhecem e que muitos já estavam cansados de acompanhar o meu relato, embora havia bastante leitura dos capítulos. Teve até algumas notas mudadas para zero pelo sumiço rs. Mas, sem chororo, aqui estou e continuarei a contar a minha história. Devo dizer, que estamos quase chegando ao fim.
Em tudo, quero agradecer a todos que estão lendo e comentando. Mais uma vez ouso falar: os comentários de vocês são motivadores, muito mais que um número x de leitura, pois eu sinto que estão pertinho de mim. E embora eu não consegui fazer o agradecimento individual que eu mencionei, tenho lido todos com muita alegria e senti falta de muitos que deixaram de comentar. Talvez pareceu que eu fui ingrato, mas não foi minha intenção. É que tenho postado com tanta pressa e acabo fazendo um agradecimento geral e disponibilizando o capítulo. Enfim, boa leitura e um beijo no coração de cada um de vocês.
Parecia que eu mal havia pegado no sono e logo já estava sendo acordado por aquele grito acompanhado de um choro. Era a minha mãe, levantei de cueca mesmo e meio perdido em relação ao espaço, acabei batendo o dedo na ponta de algum móvel, mas me apressei em ver o que estava acontecendo. Entrei na sala e vi minha mãe aos prantos segurando o celular.
- O que aconteceu? – eu perguntei desesperado.
Mas a minha mãe não conseguia responder, ela só chorava e chorava, faltava o ar e ela não conseguia falar. Fui até a cozinha e peguei um pouco de água com açúcar, no caminho até a cozinha, temi pelo pior. Entreguei a água com açúcar a ela e ela não queria beber.
- Bebe, por favor – eu supliquei – Você precisa se acalmar.
Com muito custo, ela aceitou tomar a água e logo se acalmou.
- O que aconteceu? – eu perguntei.
Mal perguntei e ela desabou a chorar novamente. Tentou falar algo, mas as palavras não saíram com clareza.
- Seu pai está no hospital – ela disse em meio as lágrimas – Ele teve um derrame.
Meu coração acelerou e eu senti um frio percorrer por toda a minha espinha, parecia que a mensagem acabava de chegar no cérebro: meu pai estava no hospital por conta de um derrame. Eu tentei manter a calma e minha mãe chorava bastante, troquei de roupa rapidamente e fomos até o hospital que ele estava. Eu não conseguia concentrar em quase nada, eu não tinha muita noção de tempo e era difícil aceitar o que estava acontecendo. E não era o sono, era por tantas coisas que passavam na minha cabeça.
Chegamos no hospital e logo nos informaram que não poderíamos entrar na sala agora, o caso dele era grave e teríamos que aguardar. Minha mãe chorava e eu chorava também, era difícil manter a calma em meio àquela situação. Eu sentia culpa, muita culpa mesmo, jamais me perdoaria se o meu pai morresse e eu não pudesse falar com ele pela última vez. Um médico veio e falou com a minha mãe, liberou a nossa entrada e logo que chegamos eu vi o meu pai em uma maca, completamente imóvel e vulnerável.
- Olha, o caso dele não é dos melhores – o Doutor falou – Não adianta eu mentir para vocês, a equipe médica está fazendo o possível para salva-lo. Mas não sabemos quanto tempo ele vai resistir.
Minha mãe desfaleceu e quase não conseguimos segura-la. Eles ficaram cuidando dela e eu fiquei aguardando. Pensei em ligar para o Renato, mas era 03:53 da manhã, ele estaria dormindo tão pesado quanto poderia. Sentei, encostei a cabeça nos meus joelhos e chorei, pedi a Deus que não levasse o meu pai. Eu tinha tanta coisa a falar, eu tinha muito amor guardado por ele ainda e a esperança de que um dia ele me aceitasse. Fui até onde estava a minha mãe e eles haviam dado um calmante a ela, quase pedi um também. Fiquei aguardando notícias sobre o meu pai e acompanhando a minha mãe.
As horas pareciam não passar, olhava no relógio achando que tinham se passado uns 30 minutos e apenas haviam passado 2 ou 3. Logo foi amanhecendo e liguei para o Valter avisando que não iria trabalhar, expliquei a ele o que havia acontecido e ele falou que eu não deveria me preocupar com algum trabalho no momento. Muito solicito, falou que se eu precisasse de algo, era apenas ligar em seu celular que ele prontamente atenderia. Havia amanhecido e liguei para o Renato, ele mal atendeu e eu logo desabei a chorar.
- Felipe? – ele perguntou – Aconteceu alguma coisa, amor?
- Renato – falei com a voz embargada – O meu pai teve um derrame, estou aqui no hospital com a minha mãe desde madrugada...
- Que hospital você está? – ele me cortou – Felipe, onde você está?
Falei o endereço do hospital e ele disse que em poucos minutos chegaria. Eu fui até onde estava a minha mãe e ela estava chorando.
- Felipe – ela choramingou – Eles não falaram mais nada sobre o seu pai, não faço a mínima ideia do que está acontecendo agora e fico aqui nessa situação.
Eu fui até ela e a abracei.
- Vai dar tudo certo, mãe – eu falei – Temos que ter fé em Deus.
- Ah, meu filho – ela choramingou – Tanto que eu falei para aquele homem parar de beber, não se estressar tanto com o trabalho e tantas outras coisas.
- Eu sei, mãe – falei.
Renato me ligou e eu atendi. Ele havia chegado no hospital e pediu para eu encontra-lo na recepção, fui até onde ele estava e ele estava lindo, todo bagunçado, parecia que havia apenas levantado da cama e vindo ao meu encontro.
- Meu amor – ele falou e me deu um beijo, me envolvendo em um abraço apertado – Eu estou aqui com você, vai ficar tudo bem.
- Eu espero, Renato – eu falei triste – Não quero que meu pai morra sem eu falar com ele.
- Vai ficar tudo bem – ele falou.
Ele me acompanhou até onde estava a minha mãe e ela ficou contente de vê-lo ali, agradeceu por ter faltado ao trabalho para ficar ao nosso lado. O Renato tinha contato com alguns médicos do hospital e então conseguiu algumas informações, meu pai já havia acordado e estavam fazendo alguns exames antes de liberar a entrada de familiares. Minha mãe insistiu para que ele pedisse que a deixassem entrar, mas falaram que realmente deveríamos aguardar. Uns bons minutos depois, o doutor veio nos chamar e fomos até onde o meu pai estava. O Renato optou por não entrar, falou que não sabia como seria a reação do meu pai e então ficou aguardando a nossa volta.
Entramos no quarto onde meu pai estava e vi que ele estava acordado, o lado esquerdo do seu rosto estava torto e quando ele nos viu entrando, ficou surpreso e deixou uma lágrima escorrer. Minha mãe foi até ele e o abraçou devagar, eu fiquei imóvel ali de longe, não sabia que reação ter naquele exato momento que eu o via, parece que não havia uma liberdade para um abraço.
- Venha cá, meu filho – minha mãe chamou – Venha aqui perto do seu pai.
Eu me aproximei e ele me acompanhava com os olhos, olhei em seu rosto e as lágrimas escorriam por sua face. Eu cheguei perto do meu pai, do meu paizinho querido e o abracei. Embora havia acontecido tantas coisas entre nós, eu o amava, ele foi a figura paterna que eu tive. Ausente? Sim, talvez... Mas era o meu pai e eu temia em perde-lo.
- Pai – eu falei com a voz embargada – Paizinho, que bom que acordou.
Ele teve o lado esquerdo do seu corpo paralisado, não conseguia falar direito e mesmo assim se esforçou em falar.
- Eu nunca imaginei que iriam vir por mim – ele falou com dificuldade – Eu pensei que iria morrer sozinho, quando acordei não vi ninguém ao meu redor e senti a solidão em meio a dor da morte.
- Não fale assim – minha mãe replicou – Nós estávamos ansiosos para te ver, mas não nos deixaram entrar antes, mas estaria ao seu lado desde o momento que fiquei sabendo que havia passado mal.
- É verdade – eu falei – Tentamos entrar.
- O Doutor falou que eu ficarei com sequelas – ele falou pesaroso – Mas eu estou feliz de estar vivo.
- Não se esforce muito em falar – eu disse – Temos que priorizar a sua recuperação para que possa sair do hospital.
- Eu sei, meu filho – ele falou pesaroso – O Pai está tão feliz de te ver aqui.
Nesse momento, ele chorou e até soluçou. Eu o abracei e pedi para que não chorasse, que se acalmasse e que outra hora falaríamos sobre os problemas.
- Não, meu filho – ele falou – Eu fui tão injusto com você. Eu te disse coisas horríveis, eu até desejei que você morresse e olha só pra mim – ele fez sinal com a mão que estava movimentando bem – Estou morrendo primeiro que você, mas quando acordei nessa cama, pedi a Deus que não me deixasse morrer sem antes ver vocês, a minha família.
Eu chorei, minha mãe chorou e meu pai também.
- Você não vai morrer- falei – Eu também pedi a Deus que não o deixasse morrer, eu não queria perde-lo ainda.
- Me perdoe, meu filho – ele disse – Me perdoe por ter sido injusto com você. Sempre foi um garoto bom, boas notas, me ajudando no posto.
- Não tenho o que perdoar, pai – falei – Está tudo bem. Não se esforce mais.
Foi uma choradeira danada, muita emoção e muito carinho renascendo. O doutor disse que meu pai deveria aguardar mais alguns procedimentos e explicou que ele realmente ficaria com algumas sequelas que talvez poderiam ser revertidas com muitos exercícios. Embora estivesse ocorrendo tudo isso, o meu pai estava feliz, feliz por estar vivo. Eu deixei a minha mãe conversado com o meu pai e fui até o Renato, que já estava comendo todas as unhas de tanta ansiedade.
- O louco – ele falou aliviado – Pensei que não voltaria mais, estava quase indo lá.
- Está tudo bem – eu o tranquilizei.
Expliquei a ele o que havia acontecido lá no quarto e mesmo eu contando, ele também chorou de felicidade. Me abraçou forte e quase não me soltou mais.
- Você sabe que se ele quiser eu posso cuidar dele, certo? – ele se ofereceu – Só não sei como vai falar isso pra ele. Mas mesmo que ele não queira os meus cuidados, posso pedir ao Júlio que cuide dele.
- Obrigado, meu amor. Veremos essa questão assim que ele tiver alta – falei – Eles pediram para aguardar mais um pouco.
Eu e o Renato ficamos conversando ali por uns minutos. Ele comentou que deveríamos tomar café e então eu fui até o quarto perguntar a minha mãe se ela queria algo que eu traria pra ela.
- Qualquer coisa – ela falou – Eu estou bem, nem sei se vou conseguir comer.
Eu concordei e quando estava saindo do quarto, o meu pai me chamou.
- Felipe – ele falou baixinho e com dificuldade – O Renato está aí fora?
- Está – eu respondi com receio.
- Quando voltar do café, poderia pedir a ele que viesse aqui? – ele pediu.
- Eu vou avisa-lo – falei receoso – Não vou demorar.
- Eu aguardo – ele falou.
Saí do quarto e fui encontrar o Renato. Entramos em seu carro e seguimos até um padaria que ele conhecia ali na região. Pedi um café com leite e um misto quente com peito de peru, ele pediu o mesmo.
- Renato – eu falei – O meu pai pediu que você fosse vê-lo quando voltássemos ao hospital.
- Claro – ele falou – Assim que voltarmos, eu vou lá.
- Tudo bem – falei receoso.
- Com o que está preocupado? – perguntei.
- Não sei – respondi – Eu estou tentando assimilar tudo o que está acontecendo agora, muita coisa para um dia só.
- Fica calmo, meu amor – ele falou – Vai dar tudo certo.
Os nossos pedidos chegaram e então comemos. Ficamos conversando um pouco e então voltamos para o hospital. Levei alguns pães de queijo e um café com leite para minha mãe também. Chegamos no hospital e o Renato ficou aguardando do lado de fora, entrei no quarto e avisei a minha mãe que ela não poderia tomar café ali no quarto. Ela agradeceu e saiu para tomar café, meu pai pediu para que eu entrasse e chamasse o Renato também. Chamei o Renato e ele veio ao meu encontro, entrou no quarto e ficou aguardando eu fechar a porta.
- Sentem-se aqui – ele falou.
Eu e o Renato tomamos os dois lugares desocupados que havia ali, o Renato estava em uma serenidade tão grande que eu o invejei.
- Bem, meninos – meu pai falou meio sem jeito – Eu vi a morte. Vi a morte da minha família, vi a morte dos meus sonhos e vi a minha morte física também. Confesso que há um único culpado, eu mesmo. Cheio de egoísmo e prepotência, acabei perdendo as coisas que eu mais amava. E o meu preconceito me cegou a tão alto ponto que eu tive que passar por toda essa situação pra que eu pudesse reconhecer a minha ignorância. Eu devo pedir perdão a vocês, eu temi em morrer sem poder falar com vocês pela última vez.
Meu pai chorou, olhei para o Renato e ele estava chorando também.
- Eu já conversei com sua mãe – ele falou – Eu fiz aquela mulher sofrer demais, ela que sempre esteve ao meu lado. Meu filho, eu te fiz sofrer. Eu te disse coisas absurdas – ele embargou as palavras em meio as lágrimas – Me perdoe. Doutor Renato, me perdoe.
- Não tenho o que perdoar – o Renato falou primeiro – O Senhor pode contar comigo em tudo para que possa se recuperar, eu estarei ao lado do senhor o quanto for necessário.
- Pai, o senhor não tem que pedir perdão – falei – Está tudo bem. Temos que seguir em frente e esquecer tudo isso.
- Não, meu filho – ele falou – A vida nos cobra. Eu devo pedir perdão sim.
- Então está perdoado – eu falei – Mas não falaremos disso novamente, o senhor tem que ficar bem.
- Doutor Renato, você me perdoa? – ele perguntou.
- É claro que sim – o Renato falou – Perdoo e ressalto novamente que estou ao seu lado no processo de recuperação.
Eu estava feliz por aquilo tudo, como disse, minha mente era tão lenta que não conseguia processar tudo aquilo. O meu pai estava falando com muita dificuldade, o médico falou que ele dependeria de nós para muitas coisas e que não havia um tempo exato para sua recuperação. Passei o resto do dia ali no hospital, nem roupa eu troquei e o Renato ficou ali comigo também. Quase terminando o dia, o doutor deu alta ao meu pai e então fomos para a casa onde morávamos, minha mãe achou que seria mais fácil ficar ali para cuidar do meu pai. O Renato nos seguiu até lá e então avisei a minha mãe que iria em casa pegar algumas roupas, ela concordou e ficou cuidando do meu pai.
Seguimos até o apartamento e peguei algumas roupas, arrumando em uma pequena mala. O Renato veio e me abraçou forte, cheirando o meu pescoço.
- Eu estou fedendo – falei.
- Está mesmo – ele falou – E te amo do mesmo jeito.
- Vou tomar banho aqui mesmo – falei – Acho que vou dormir lá no meu pai também.
- Isso mesmo – ele falou – Vocês tem que ficar juntos, ele precisa de vocês agora.
- É verdade – eu concordei – Amanhã não irei ao trabalho, preciso ver algumas coisas que ele vai precisar.
- Eu estou orgulhoso de você – ele falou e me apertou mais um pouco em seus braços – Você foi forte, foi sensato e foi bondoso. Eu nunca senti tanto orgulho de alguém.
- Para de exagerar – eu falei.
- Felipe, eu não estou exagerando – ele falou – Agora você não consegue mensurar a proporção do que você fez, mas foi algo muito grande e significativo. Muitos não fariam o que você fez, muitos não fariam o que o seu pai fez. É passar por algo que o ser humano constrói e alimenta como uma barreira sem fim: o orgulho.
Eu me atentei as suas palavras, eu amo esse homem do fundo da minha alma.
- Eu te amo – falei – Eu TE AMO.
- Eu também te amo – ele falou – Infinitamente.
Beijei o Renato e então consegui escolher uma roupa para vestir, estava um pouco frio e então peguei agasalho para minha mãe também. O Renato pediu para tomar banho comigo, mas ele não estava com nenhum instinto safado, sabe o que ele disse?
- Eu quero cuidar de você – ele falou – Eu quero ficar do seu lado até sentir que você está realmente bem, vou me assegurar para que isso aconteça.
- Então vem – falei – Eu deixo você tomar banho comigo, eu deixo você cuidar de mim.
O Renato pegou uma roupa minha, que ficou bem mais justa do que ficaria em mim. Entrou comigo no banho e ensaboou minhas costas, lavou o meu cabelo e fez massagem no meu pescoço. Assim fiz nele também, trocamos amor e carinho, cuidados e juras de amor eterno. Eu amo o Renato, ele é o homem da minha vida.