Foi uma sensação estranha ser possuído por meu pai sabendo que ele sentia em mim o perfume que mamãe usava para entregar-se a ele. Aquilo me parecia anormal, mais doentio do que, às vezes, me parecia ser a própria relação que estávamos tendo. Mas me sujeitei a viver aquela situação sem me sentir tão culpado porque, afinal, ele é quem tinha desejado.
Não vou negar: depois de uma estranheza inicial, entreguei-me ao tesão, sem culpa mesmo. Papai amava minha mãe, não tenho qualquer dúvida disso. E, embora nunca tenham descuidado da reserva de sua vida íntima, eu sabia que eles haviam tido uma vida sexual ativa até ela adoecer e morrer repentinamente. Se ele estava me usando para lembrar-se dela, é porque tinha carinho por mim. Afinal, podia ter mandado qualquer puta botar o perfume – e teria sido até mais convincente, já que iria ter peitos e uma buceta para simular aquele reencontro. Mas, em vez disso, tinha escolhido a mim.
Ele me comeu magnificamente – carinhoso como nenhum homem jamais fora, e firme nas horas certas. Tive dois orgasmos – um deles, na verdade, uma sucessão de pequenos gozos, curtos mas profundos. Ele, por sua vez, ejaculou duas vezes, emendando um gozo ao outro com mais metidas, me fudendo novamente sem tirar a pica.
Mas aquele entusiasmo todo não foi apenas por conta dessa fantasia. Talvez entusiasmado pela perspectiva de ter de volta minha mãe, ainda que apenas numa foda e tendo ciência da simulação, ele insistiu para que nossa conversa no restaurante caísse toda hora em sexo. Não escondeu o quanto de tesão sentia pela ideia de que estava diante do filho que se esmerara para mais tarde ser novamente possuído por ele – preparado como sempre, mas agora lisinho como ele mandara e usando o perfume que ele escolhera. Falou isso explicitamente, dessa vez quase sussurrando num tom assumidamente sacana. Em toda a nossa conversa, cuidava para que não fosse ouvido por ninguém além de mim.
– Quando tu começou?
- Não faz tanto tempo, pai.
- Te descabaçaram quando você ainda morava aqui em casa? Quem foi o cara?
- Não. Foi só na capital. Aqui nunca fiz nada.
- Nem um boquete? Não mente pra mim. Tu é muito safado pra ter esperado tanto.
- É verdade, pai.
Fiz uma pausa. Ele notou que eu ainda prosseguiria, se conseguisse tomar coragem. Aguardou, me incentivando.
- Aqui eu só pensava em você, pai. Eu me guardava pra você, mesmo sabendo que isso era uma besteira.
Ele se reacomodou na cadeira, apoiando-se no encosto.
- Tu disfarçava mal, garoto. Eu não entendia muito bem, mas sabia que tinha alguma coisa estranha com você.
Tomou um gole da cerveja.
- Mesmo quando bem garoto. Eu não gostava que você encostasse em mim.
- Eu sei – disse, me emocionando visivelmente. – Você não escondia isso. Só mamãe me abraçava, me dava colo.
Ficamos em silêncio.
- Pára de frescura porque aqui não é lugar pra isso – falou mais baixo, aproximando-se da mesa.
Seu tom não foi de censura. Foi mais de quem dá um conselho. Isso me reconfortou. Rapidamente, me recompus.
- Foi seu colega de quarto quem te descabaçou? – retomou ele.
Disse que não, e era verdade. Os colegas que dividiam o apartamento comigo, na capital, sequer sabiam que eu era gay. Não sei se o convenci, mas ele continuou a insistir. Queria saber quem tinha sido, como tinha acontecido. Eu não poderia contar, porque fora desvirginado numa cabine de um banheiro de pegação. Tinha sido muito bom, mas não era uma coisa bonita para se contar – menos ainda para o próprio pai. Ou mesmo para um amante.
- Foi numa sacanagem, pai. Não tenho nada de me orgulhar disso. Deixa essa história pra lá – respondi, de olhos baixos, quando ele insistiu mais uma vez, mesmo diante de meu embaraço.
- Eu quero saber.
- Não. Não quer, não.
- Quero. Quero saber o quão puto você é.
Respirou forte. A dureza de sua voz não escondeu o tom confessional do que disse:
- Isso me dá tesão.
Eu contei. Ele quis mais detalhes. Se tinha doído muito, se eu tinha sujado o cara, o que tínhamos feito com a camisinha usada. E se eu havia treinado antes, me enfiando coisas. Se eu ainda pensava naquele homem que me deflorara. Se eu tinha me sentido como uma garota perdendo a virgindade, e se não era assim então como era. Ele queria mesmo ouvir putaria. Mesmo desconfortável em ser obrigado a me revelar tão cruamente, eu contei tudo.
- Só não te como agora aqui, em cima dessa mesa, porque ia perder meus clientes todos – foi o que disse depois de saciar sua curiosidade. Seus dentes pareciam até trincados, de tanto tesão.
Voltou a temas como esse diversas vezes, numa espécie de punheta cerebral, como se estivesse acumulando porra para me deixar lotado dela – o que, afinal, acabou fazendo mesmo. Eu acabava revelando tudo o que ele queria saber. Meu óbvio constrangimento não o refreava. Ao contrário, parecia estimulá-lo a avançar cada vez mais. Não se excitava apenas pelo que eu contava, mas porque eu contava: ele parecia ter prazer em me obrigar a expor-me daquela forma.
- Você é meu pai... Não quero falar dessas coisas na sua frente.
- Por isso mesmo tenho o direito de saber. Sou teu pai. E agora tenho mais direito ainda, porque sou teu macho.
Num ímpeto, me joguei contra o encosto da cadeira Ele não conteve o riso diante da minha reação. Meus olhos certamente se arregalaram e minha expressão ficou paralisada.
- Não é verdade? – completou, depois de rir de mim. – Não é assim que tu me vê? Não era isso que queria de mim? Não foi no que me transformou, no teu macho?
Eu não sabia como interpretar aquilo. Não sabia se ele estava me sacaneando, se me acusava, se queria me humilhar, se apenas estava sendo sincero na naturalidade com que pronunciava aquela expressão. Continuei sem ação.
Adotou uma postura de aproximação. Falou baixo, numa entonação que eu poderia mesmo interpretar como carinhosa:
- Você vai ter vergonha agora, depois de tudo o que fez? Sou teu macho mesmo. E estou gostando, não se avexe.
Meu rosto seguramente demonstrou a satisfação que suas últimas palavras me deram. Mentalmente, ouvi ele repetir: “Sou teu macho mesmo”. E de novo, de novo, e de novo. Queria agarrá-lo ali mesmo.
- Eu gosto de você, Mateus. Do teu jeito, do teu corpo, de como se dedica a mim. Sempre gostei.
Eu me enterneci.
- É verdade, garoto. Pode não parecer, mas eu gostava de ver como você fazia de tudo pra eu gostar de você. Eu só não sabia como fazer pra gostar.
Ele falava baixo, porque o restaurante estava quase vazio e não havia freguês algum perto de nós. Isso era bom, porque não havia o risco de alguém na mesa ao lado prestar atenção no que falávamos. Em compensação, também não havia aquele burburinho que abafa as conversas feitas num volume normal de voz.
Mas, embora cuidadoso, não estava sussurrando, cochichando. Não falava como um criminoso, ou como se nós fôssemos criminosos. Apenas usava um tom mais baixo do que o usual. Discreto, mas não sorrateiro. Éramos como um casal que troca confidências, não dois homens marcados pela culpa.
Isso me punha menos embaraçado, até mais excitado: aquele cara frente a mim era o macho que me comia, e esse macho agora conversava abertamente comigo, me reconhecendo como seu companheiro, como seu amante. Era isso: eu começava a me ver como seu amante; aquilo estava mesmo se transformando em realidade; era concreto, palpável.
Eu estava ali naquele restaurante diante dele e não era imaginação: olhava os pelos de seu peito que escapavam da camisa e lembrava como os havia acariciado, e sabia que ele devia pensar algo parecido quando observava meus lábios, que ele já havia tantas vezes invadido com sua língua. Meu macho tinha me levado para jantar fora, e meu macho era meu pai, mas também o homem com quem eu sonhara a vida inteira.
- Eu sempre te achei estranho, já te disse; diferente, diferente de tudo – ele continuou. – Mas gostava. Não entendia por que gostava, mas gostava de um jeito que eu não sabia qual era. Só agora você mostrou como eu podia fazer pra te entender e poder gostar de verdade de você.
Pegou o copo e olhou-me pelo vidro, completando antes de entornar mais um gole da cerveja:
- Te metendo a pica.
Meu pau subiu na hora. Ele pôs de volta o copo sobre a mesa.
- Te enfiando o cacete pra poder te entender e te aceitar como meu filho.
Minha respiração estava ofegante, mas creio que eu conseguia disfarçar. Mas o enrijecimento do meu corpo inteiro era notório. Ele não tinha como não perceber meu estado, mas insistiu:
- Tu nunca foi como eu queria. Desde pequeno. Eu olhava pra você e não conseguia me ver. Todo pai se vê no filho, mesmo que ele seja diferente, que tenha outro jeito de entender as coisas, mesmo que não pense igual. Mas todo pai quer se ver no filho. Contigo não tinha jeito disso. Você era muito errado. Não dava conta.
Olhei para baixo, envergonhado com o que escutava. Eu sabia, mas ouvir aquilo da boca dele me corroia por dentro.
- Você viu que eu não era capaz, não é...?
- Só não veria se fosse um imbecil. Tu sempre mostrou que seria um fracassado se tentasse ser como eu queria. Tu nunca mostrou que podia ser um homem com H maiúsculo.
Sua franqueza me machucava, mas também me seduzia.
- Cheio de coisinhas, de desenhinhos, de brincadeirazinhas de cantar e dançar. Depois, sempre enfurnado em casa. Os meninos todos na rua, soltos, sem camisa, e você... Você sempre no teu próprio mundo, sem sair pra se aventurar com os colegas, jogar uma bola, me deixar te ensinar a tomar um porre.
- Você nunca me chamou pra isso.
Ele ignorou o que eu disse:
- Mas nunca achei que você fosse viado. Isso nem me passou pela cabeça, mesmo quando te pegava um tempão olhando pra mim. Nenhum pai quer um filho viado. Eu teria vergonha só de pensar; por isso, nem pensei. Só comecei a desconfiar depois que tua mãe te visitou pela primeira vez. Aí ela contou coisas que, sem perceber, foi me dando ciência.
- Que eu não tinha namorada, por exemplo.
- Também.
- Ela não me disse nada. Não sabia que você...
- Nem ela soube das minhas suspeitas. Tua mãe morreu sem sequer desconfiar que tinha posto um viado no mundo. Ainda bem.
- Pai... – eu disse, quase suplicando. – Pai, não... Não fala assim; não fala assim comigo.
- Mas não é o que tu é?
Tive vontade de dizer que, se eu era, ele também era. Que, pelo menos agora, tinha passado a ser, já que estava fazendo sexo com um viado. Então, era tão viado quanto eu. Mas essa vontade não durou mais do que um triz.
- Na verdade, eu agora estou bem gostando que tu tenha nascido desse jeito.
Sua voz era tranqüila. Acomodou-se na cadeira, dando espaço para o garçom que chegava para servir a refeição. Olhamos um para o outro rapidamente, como se fora nada. Ele agia como se não soubesse que eu tinha esperado a vida inteira para ouvir aquilo.
[continua]