- solta ele. - disse Fabinho chegando junto de Alex.
- é o que? - disse Edgar o encarando.
- mandei você soltar meu namorado. - disse Fabinho aumentando o tom da voz.
Edgar olhou para João, sem nada entender.
- quem é esse cara? - perguntou Edgar.
- quem é você. Essa é a pergunta correta. - disse Fabinho aproximando-se do rapaz.
- Fábio, o que tu pensa que ta fazendo cara? - João aparentava esta muito chateado.
- eu não queria chegar a esse ponto, mas você ta me obrigando. Nós ainda estamos juntos João.
- esse cara é seu namorado? - perguntou Edgar.
- não te mete. - Fabinho apontou o dedo na cara do rapaz.
- tu ta louco? Quem tu pensa que é pra falar comigo assim? Ta chapado meu irmão? - disse Edgar empurrando Fabinho.
- Fabinho vai embora daqui cara. - disse João entrando no meio dos dois.
- você ta me pedindo pra sair, pra poder ficar com esse cara aí? - Fabinho apontava para João.
- eu não to ficando com ninguém cara, me esquece. - gritou, João.
- mas João...
- da um tempo Fabinho. Deixa o João esfriar a cabeça. - Alex falou tentando levar Fabinho consigo.
- quanto tempo leva pra isso? - perguntou o rapaz olhando seriamente para João.
- não tem tempo, Fábio. É definitivo.
- não. - Fabinho negou com a cabeça. - Não tem nada definitivo. Eu posso ate te dar esse tempo pra você pensar melhor, mas é só ate você colocar suas ideias no lugar.
Antes que João respondesse algo, Alex entrou na conversa.
- ele aceita, Fabinho. Agora vamos embora. - Alex puxou o ex de João pelo braço.
- aceito porra nenhuma não. Você vai ter que sumir da minha vida, cara. Não te quero nem mais como amigo. Acabou velho. Será que não ver que você ta me sufocando?
- eu to te sufocando? E ta querendo liberdade pra que? Quer ficar soltinho na pista pra ficar de mãos dadas com uns e outros por aí? - Fabinho tinha fúria nos olhos.
- olha aqui meu irmão, não te conheço, mas vou logo falando que não to gostando do teu tom de voz. Pode abaixar a bola. - Edgar aproximou-se mais uma vez de Fabinho.
- e tu vai fazer o que? Vai me bater? - disse Fabinho oferecendo a cara.
- se você continuar me provocando... talvez. - disse Edgar sem pestanejar.
- Alex, leva o Fabinho daqui por favor. - disse João.
- Fabinho, tu ta piorando tudo cara. Tu ta de cabeça quente, e o João, idem. Não é assim que vocês irão resolver os problemas.
Fabinho respirou fundo, e voltou a encarar João.
- tira um tempo pra nós, João. Não joga tudo fora dessa forma.
João nada respondeu. O rapaz apenas virou as costas para Fabinho, e tentou sair dali.
- espera. - Fabinho tocou no ombro de João. - desculpa! - disse ele suspirando fundo. - Eu não sei o que me deu. Fiquei com medo, sei la. Já faz dias que você ta assim comigo.
- nada vai voltar a ser como era antes. Cada um pro seu lado sem mágoas, cara. Será que é tão difícil de entender?
- isso você não pode decidir sozinho. Passamos por tudo juntos, por que agora você tem que...
- mas você traiu sozinho. - disse João apontando o dedo para Fabinho. - Então por que eu não posso tomar uma decisão sozinho também?
- não é que tu não possa. Eu só não acho justo.
- caralho Fabinho. Logo você falar em justiça.
- eu não sei mais o que falar. Não sei mais o que fazer pra você me perdoar.
- quer saber mesmo? Não fala mais nada. Não faz nada. Só desaparece da minha vida. Você ta piorando cada vez mais as coisas.
Fabinho não conseguiu conter as lágrimas.
- então vai ser assim? - perguntou.
- por favor cara. Faz isso por mim e por ti.
Contrariado, Fabinho acabou cedendo.
- tudo bem. - disse Fabinho com a voz embargada. - Eu vou sumir por um tempo, mas que fique claro que vai ser só por um tempo. Espero que você use esse tempo pra repensar sobre nossa situação. - e saiu cuspindo fogo.
- vai atras dele por favor, Alex. Eu fico te esperando. - João pediu.
- pode deixar. Tu não precisa me esperar ta!?
- e tu vai voltar pra casa como?
- eu dou um jeito.
- certeza?
- tenho.
- beleza. Valeu Alex. - agradeceu, João.
- que isso João, estamos aí pra isso mesmo. Mais tarde eu te ligo.
- ta bem. - disse o menino.
- caralho! que rolo doido. Esse cara é mesmo teu namorado? - perguntou, Edgar.
João pensou em negar. Seu maior segredo acabara de ser revelado da pior maneira.
- foi um dia. - disse respirando fundo. - eu vou nessa cara, desculpa te fazer passar por isso. - disse, João.
- Mas ta tudo bem? Da pra você ir dirigindo?
- da! Rapidão eu chego em casa.
- verdade? Se você quiser eu te levo.
- não, não. Ta de boa. - disse cumprimentando o rapaz. - depois a gente se esbarra.
- beleza! - disse Edgar tocando em suas mãos.
João foi caminhando ate o carro, aquele percurso parecia ser infinito, o rapaz queria sumir dali, e de preferencia nunca mais ver Edgar. Talvez assim poupasse a vergonha que sentiria por muito tempo.
João não percebeu, mas Edgar o acompanhou com os olhos, ate que ele entrasse em seu carro.
Ao adentrar no veículo, João afundou a cabeça no volante. Ele fechou os olhos e tentou imaginar que aquilo era um pesadelo, e que Fabinho não havia feito passar por tamanho constrangimento. Ledo engano. João abriu os olhos e estava tudo ali: A faculdade, o estacionamento... e ate Edgar. João deixou cair uma lágrima, era um misto de vergonha com raiva.
Chegando em sua casa, João sem descer do veículo ligou para Mateus.
****
- fala primo. - disse o rapaz do interior.
- ta em casa?
- to.
- eu to aqui na frente. Vem aqui pra gente ir fazer tua inscrição no curso de eletricista.
- beleza primo, vou só colocar uma calça, e calçar minha botina.
- ta bom. Traz teus documentos.
- levo sim.
- to te esperando. - disse o rapaz com a voz querendo falhar.
****
João encerrou a ligação, e recostou sua cabeça no banco do motorista. O rapaz sentia-se cansado depois de uma manhã fadigada.
Não demorou muito, e Mateus estava batendo no vidro da janela. João destravou as portas, e o primo entrou.
- e aí primão!? - perguntou Mateus colocando os cintos.
- e aí primo. Como é que foi o dia? - João deu partida no automóvel.
- um pouco chatinho. - Mateus sorriu - não tem muita coisa pra fazer aqui na cidade.
- é que tu chegou agora. Depois de fazer tua inscrição vou te levar pra dar uma volta. O que tu acha?
- ara primo. Eu adoraria.
- me diz o que tu gosta de fazer?
- gosto de fazer muita coisa.
- tipo?
- pescar, uma partidinha de futebol, rodeio, mexer com a terra, tanger a boiada, participar de uns rallys também. Lá a gente sempre apostava um peixe.
- peixe? No rally?
- em tudo.
- mas as pessoas aceitavam? Eu ate gosto de peixe, mas acho que não teria coragem de participar de um rally pra ganhar um peixe não. - João sorriu.
- ara primo. - disse Mateus dando um leve tapa nas coxas do primo. - né esse tipo de peixe não. Falo de cem pilas.
- ah! Grana? - João gargalhou. - porra primo vei, achei que fosse peixe de comer. - e sorriu mais ainda.
- não é de comer, mas ele pode ajudar. - disse Mateus sorrindo.
- e tu é bom? - perguntou, João.
- em que?
- em todas essas coisas aí que tu falou?
- sou o melhor. - disse, Mateus.
- modesto. - João sorriu.
- falo sério primo. Sou bom mesmo. Um dia vou te levar la na minha cidade, e você vai conhecer nossa cultura.
- e eu vou viu!?
- '' ara '', e eu vou levar mesmo.
João sorriu.
- teus documentos estão todos aí? - perguntou o primo da cidade.
- trouxe identidade, cpf, carteira de militar e titulo eleitoral. Tu acha que é o suficiente? - Mateus conferia se os documentos estavam ok.
- acho que sim. Tu tem algum comprovante de endereço la da onde tu mora?
- eu sei decorado.
- beleza. Qualquer coisa a gente usa o endereço la de casa.
Mateus confirmou com a cabeça.
Após realizar a inscrição no curso de elétrica, os primos resolveram almoçar juntos.
- não me leva a mal não primo, mas eu to sem grana pro almoço.
- qualé primo? Se eu to convidando eu pago.
- não sei se devo aceitar não. Vocês já estão fazendo tanto por mim, meu irmão, e meu pai.
- família é pra isso mesmo primo, relaxa.
- não consigo primo. Eu não gosto muito de ta sendo um peso pra alguém.
- e quem ta falando que tu ta sendo um peso primo? E tem mais, esse almoço não é de graça não. - João sorriu. - quando eu tiver la pela tua cidade, vai ser tudo por tua conta.
- então é um empréstimo? - Mateus arqueou as sobrancelhas.
- acertou. - João sorriu.
- acho que vou aceitar viu!?
- então fechou. - disse João cumprimentando o primo.
Os dois jovens trocaram sorrisos.
- vocês estão com problemas la no interior né!? Eu vi o pai comentando alguma coisa sobre isso.
- eu não queria falar sobre isso primo. Não me leve a mal.
- Desculpa eu tocar nesse assunto.
- ta tudo bem primo. Eu entendo que é só preocupação de tua parte. Um dia eu te conto tudo o que aconteceu com a gente.
- beleza! - João sorriu tímido.
Chegando ao restaurante, os dois foram lavar as mãos antes de servir seus pratos. João optou por sentar em uma mesa um pouco distante, o rapaz queria ficar um pouco mais intimo do primo.
- tava brocado - disse João.
O rapaz observou Mateus fazendo uma oração antes da refeição, e pensou o quanto aquele cara era perfeito. Perfeito. Perfeito e impossível pelo fato de ser hétero.
- o que dizia primo? - Perguntou, Mateus após finalizar sua oração.
- é que to com muita fome. - disse o menino sorridente.
- ah! Somos dois então primo. Também estou varado. - Mateus sorriu.
- e o Diogo?
- ficou ajudando a tia no jardim.
- velho, vou te dar um conselho: Foge da minha mãe. Ela é viciada em ficar arrumando aquele jardim.
Mateus sorriu.
- eu percebi. Mas não é incomodo não primo. Enquanto estivermos na casa de vocês, podem contar com nossa ajuda.
- mas vocês pretendem voltar pra cidade de vocês?
- sim. Temos que organizar algumas coisas por lá.
- mas e o teu curso de eletricista? Se tu for sorteado, como vai fazer?
- bom, aí nesse caso vou ter que ficar um pouco mais. O curso é por quanto tempo?
- não tenho certeza. Seis meses a um ano, talvez mais.
- acha que compensa primo?
- tenho certeza que sim. Vai ser uma opção a mais de trabalho pra você. - João queria convencer, a qualquer custo, que o primo ficasse na cidade.
- eu vou pensar nessa possibilidade. Se meu pai, e meu irmão voltarem, dificilmente eu vou ficar por aqui. Eles vão precisar muito de mim. Entende primo?
Triste, João apenas confirmou com a cabeça.
João não deixava transparecer, mas por dentro começava a bater um desespero. Ele não queria perder a companhia do primo.
- pô primo. Sinceramente eu não quero que você vá. Mas cada um sabe o que é melhor pra si né!?
- a gente perdeu tudo primo. Estamos recomeçando do zero. - Mateus mudou sua feição depois de revelar o segredo de sua família ao primo. O rapaz que antes sorria, agora estava um tanto frustrado.
- que? Como assim primo? - perguntou, João abandonando os talheres dentro do prato e limpando sua boca com um lenço de papel.
Mateus respirou fundo para não chorar.
- levamos um golpe sabe? - a voz do Mateus estava embargada - Apareceram uns caras tudo com roupas engomadas oferecendo dinheiro na nossa fazenda. Quantia gorda mermo sabe?
João ouvia tudo atentamente.
- Eles fizeram proposta na nossa fazenda com tudo que havia dentro. Ofereceram mais do que ela valia.
- e aí?
- o pai pensou em não vender. Mas quando iriamos receber outra proposta como aquela? A gente também tem sonhos sabe?
- e daí vocês venderam, e não receberam?
- pior que isso. O cara levou o pai em um cartório, fez ele assinar um monte de documentos. O pai caiu como um patinho.
- vocês passaram a fazenda pra esse cara?
Mateus afirmou com a cabeça.
- meu pai assinou todos os recibos. Mas nunca vimos nem a cor desse dinheiro.
- e cade esses caras?
- ninguém sabe. O pior é que eles já venderam nossa fazenda pra outra família.
- meus Deus cara. Como pode existir pessoas assim?
- infelizmente existe primo.
- mas olha só. Eu não posso afirmar com precisão, mas eu acho que estamos diante de um crime de estelionato. Se vocês contratarem um bom advogado, creio que tem como reverter essa situação.
- não temos dinheiro nem pra advogado, primo. Quanto mais um bom.
- mas podemos dar um jeito. Eu vou falar com o pai agora mesmo. - disse João retirando o celular do bolso.
- não primo. - disse Mateus segurando sua mão, antes que ele pudesse discar para o pai. - o tio Abdias já está sabendo de tudo. Mas o pai não quer ajuda não. Nós vamos conseguir resolver isso sozinho.
- pra que resolver sozinho primo? Nós somos uma família, e família é pra se ajudar.
- eu sei primo, e agradeço. Mas o pai decidiu assim.
- não tem nada que possamos fazer então?
- não primo. Só guarda esse segredo. Além do tio Abdias ninguém mais sabe.
- eu não concordo em querer resolver sozinho. Mas eu respeito primo, e prometo que não irei comentar esse assunto com ninguém.
- eu te agradeço. A vida é engraçada né!? - Mateus soltou um sorriso tímido.
- por que diz isso primo?
- uai! somos primos legítimos que nunca tinha se cruzado antes, e agora é como se já nos conhecêssemos há anos. Pelo menos da minha parte eu sinto isso.
João sorriu.
- é recíproco primo. Também sinto que te conheço há muito tempo.
- te considero muito primo. Sabe que pode sempre contar comigo num sabe!?
- sei sim primo. Também to a tua disposição. Beleza?
- beleza. - respondeu Mateus sorrindo.
Naturalmente a proza mudou de rumo, e quando deu por fé, João estava perguntando sobre a vida amorosa do primo.
- namorada? - Mateus estranhou.
- é pô. Tu não deixou nenhuma guria te esperando não?
Mateus não pensou muito pra responder.
- nem sei mais. - disse sorrindo.
João ficou sem entender.
- eu deixei uma mulher pra trás, mas não sei se ela ainda vai ta me esperando. - disse Mateus tomando um gole do suco de laranja.
- e por que acha isso?
- ela é muito bonita, primo, e tem muito gavião la de onde eu venho. Espero estar enganado, e que ela esteja esperando por mim.
- vai ta primo. Um cara igual você é difícil de encontrar. Qual garota resistia a você?
Só depois João se deu conta do que havia falado.
- tu me acha irresistível mermo primo? - Mateus sorriu. - é um fanfarrão. - completou em risos.
João riu meio que sem graça. O rapaz havia ficado envergonhado pela mancada.
Quando os jovens estavam comendo a sobremesa, João foi surpreendido por alguns amigos de faculdade.
- olha só quem ta enchendo a pança. - disse Vinicius, amigo de faculdade.
- nem chama hen Joãozin!? - falou Marquinhos com um prato em mãos.
- e aí. - João os cumprimentou com os olhos.
- podemos sentar? - perguntou Vini.
- claro pô. Senta aí, já estamos de saída.
- vish cara, a gente mal chegou. - disse Marquinhos puxando uma das cadeiras.
- já estamos aqui há um bom tempo. - disse João. - deixa eu apresentar vocês. Esse é meu primo, Mateus. - disse o menino apontando para o primo.
- tudo bom Mateus? - perguntou Vini.
- tudo bem, graças a Deus.
- e aí parça. - disse Marquinhos.
- beleza? - perguntou Mateus.
- beleza! - disse marquinhos cumprimentando o rapaz.
- esses são meus amigos da faculdade: Vinicius e Marquinhos. - completou João.
- satisfação- disse o sorridente Mateus.
- aproveitando que nos topamos por aqui, que confusão foi aquela na saída da faculdade? - perguntou, Vini.
- não sei. De que confusão tu ta falando?
- O Edgar me falou que apareceu um cara no estacionamento, dizendo que era...
- eu não quero falar sobre isso. - João o interrompeu.
- fica relaxado, eu não tenho nada a ver com teus rolos. Só fiquei curioso pra saber se o que aquele bicho disse era verdade mesmo.
- eu to relaxado, mas eu não quero tocar nesse assunto.
- então isso é uma confirmação de que o que o cara falou era verdade? - insistiu, Vini.
- meu irmão. Qual foi a parte que tu não entendeu que o João não quer tratar desse assunto contigo?
- fica na tua que eu não to falando com você. - disse Vinicius.
- mas eu to falando ''cum ocê'' - - Mateus levantou-se da mesa e agarrou pelo colarinho da camisa de Vinicius, fazendo este esbarrar em outras mesas.
- me solta caralho. - Vinicius gritou enquanto tentava se livrar de Mateus.
- não Mateus, violência não vei. - João correu na direção do primo, mas não conseguiu impedir que este desferisse um murro contra Vinicius.
Os seguranças e alguns clientes conseguiram apartar os dois.
- você é louco cara, me agrediu por nada. Isso não vai ficar assim não. - disse Vinicius irado.
- então vamos resolver la fora meu irmão. Levo nada pra casa não.
- vamos resolver de outra forma. - disse Vinicius limpando o sangue dos lábios - vou falar com meu pai pra ele te meter um processo.
-é um filhinho de papai mesmo, que provavelmente ainda anda com fraldas. Sabe resolver como macho não?
- Mateus, já chega cara. Ta piorando a situação. - disse João.
- ta do lado desse cara primo? - João falou um tanto indignado.
- to do lado de ninguém primo, só quero evitar mais confusão.
- pois eu num tenho medo de confusão. Nem de levar um processo do pai desse frouxo.
- segura o pittbull aí João. beleza? - disse Marquinhos tocando no ombro do amigo.
- eu preciso saber quem vai pagar meu prejuízo. - perguntou o gerente do local, após controlada a situação.
- eu é que não vou. - disse Vinicius ainda muito chateado.
- eu faço questão. Só é dizer o valor. - Mateus estava espumando.
Após o incidente os quatro partiram pra suas casas. Mateus não trocou uma palavra sequer com o primo, ele ainda estava muito chateado em o primo não ter saído em sua defesa.
João colocou o carro na garagem, e Mateus foi direito para o quarto.
- Joãozinho. - disse a empregada encontrando com João na entrada da casa.
- oi Madá.- respondeu João.
- eu to indo pro meu forró la na comunidade, vai precisar de alguma coisa?
- não. Por mim ta de boa.
- teus pais saíram com teus outros tios, só não me pergunte pra onde, que eu não sei.
- ta beleza. - João sorriu. - qualquer coisa eu ligo pra eles. - João tinha pressa em chegar ao quarto para falar com o primo.
- ah! - disse a senhora de quarenta e três anos. - eu deixei comida dentro do forno, é só esquentar.
- ta bom, Mada. Eu esquento. Mais alguma instrução?
- ate tinha, mas esqueci. Deixa eu correr se não vou perder meu ônibus. - disse a mulher com sotaque nortista.
- certo Mada, boa diversão. - disse João antes de fechar a porta da sala, e ir apresadamente ao quarto.
O rapaz subiu as escadas, e abriu a porta bruscamente. As roupas de Mateus estavam jogadas pelo caminho do banheiro. O chuveiro ligado indicava que o primo do interior estava tomando banho. João sentou na cama, e esperou por um bom tempo, até que o primo saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura.
- o que eu fiz dessa vez? - João levantou da cama e foi direto ao encontro do primo.
- eu queria ficar um pouco sozinho. - Mateus não estava mais chateado; estava nitidamente triste.
- ta com raiva de mim porque primo? O que eu ti fiz?
- ''ocê'' ta sendo insistente igual teu amiguinho foi.
- então é isso né!? Você queria que eu apoiasse tua violência?
- eu te apoio sem ti fazer criticas. Somos uma família poxa. E família tem que ser unida.
- mas somos unidos primo. Eu tentei te ajudar. O Vinicius é filho de promotor, e ele pode abrir um processo contra ti muito fácil.
- que se foda. Eu bati e bateria novamente. Mas eu to me cansando já. Segunda vez que ti defendo, e você fica contra mim. Quer saber duma coisa primo? ''Ocê'' merece as amizades que tem, afinal das contas ''ocê' é igualzinho a eles ''tudin''. - disse Mateus colocando uma cueca por baixo da toalha.
Ouvindo aquilo, João não conseguiu segurar as lágrimas.
- e você é um caipira otario. - disse João virando as costas para o primo.
- sou sim, mas pelo menos tenho orgulho das minhas raízes. E ocê será que tem orgulho de ser quem é?
- o que tu quer dizer com isso?
- ''ara'' primo. ''Ocê é bastante inteligente. ''Ocê entendeu sim, que eu sei.
- Não! Eu não entendi, e nem quero entender. Você parece um cavalo selvagem cara. - João mais uma vez virou as costas para o primo, e tentou sair do quarto.
- o que disse? - Mateus puxou pelos braços do primo antes que ele pudesse passar pela porta.
- ''ara'' ocê num é tão inteligente primo? - João tirou sarro com o sotaque de Mateus. - falei que você parece um cavalo selvagem. Pena que vocês perderam a fazenda, e agora não tem mais campo pra você correr né!?
- eu vou mostrar o que é ser cavalo. - disse Mateus segurando os dois braços de João.
- me solta porra. - resmungou, João.
- a égua ta bravinha? - disse o primo do interior. - agora vou te ensinar o que a gente faz com os bichos indomáveis la da minha cidade.
Mateus empurrou o primo contra a parede, e tascou um beijo em sua boca. João tentou resistir, mas no fundo era isso que ele queria ha muito tempo. O beijo de Mateus era bruto e violento. Sua língua se afogava na boca de João.
Continua...
