- Há alguma coisa errada, oficial? - Dylan tentou não soar sarcástico.
- Quero apenas ver sua carteira de identidade.
- Se quer saber por que bati na porta daquela loja, eu só queria usar o telefone - Dylan explicou, pensando pela primeira vez para quem telefonaria, já que não tinha nenhum conhecido em Fredericksburg.
- Recebemos uma queixa.
- Ouça, eu só bati à porta. - Dylan sorriu, apaziguador.
- Isso é crime? Consciente de que deveria se manter calado, ele entregou a carteira de identidade ao policial. Passou a mão pelo queixo e tentou limpar o sangue do ferimento. O policial devolveu o documento sem alterar a expressão autoritária.
- Temos uma testemunha que viu o senhor tentando invadir uma loja.
- É mesmo? Qual loja?- Dylan apontou para seu próprio estabelecimento.
- A minha? O parceiro do oficial se aproximou, e Dylan viu com o canto dos olhos que o homem que o denunciara ficou observando de longe. Não se parecia com um velhinho assustado. Ao contrário, poderia dizer que era um modelo. Cabelos longos e escuros, do tipo que só se viam em comerciais de xampu, caíam sobre os ombros delicados. O torso elegante era ereto como o de uma bailarina. Ele usava uma calça que valorizava as curvas, estampado de azul e verde. Mesmo com pouca luz, concluiu que era o homem mais bonito que já vira. Mesmo tendo chamado a polícia.
- Boa noite, senhor - o segundo policial saudou com um sorriso.
- Ah... - Dylan desviou os olhos e sorriu. - A velha tática da dupla "mau e bonzinho"! Pelo que vejo, o senhor é o "bonzinho".
- Ele afirma ser dono daquela loja - o oficial mais jovem informou, ignorando a ironia.
- Posso ver sua identificação, senhor?
- Vocês só recebem um roteiro no treinamento? Seu parceiro já fez essa pergunta. Na última vez que verifiquei, eu estava na América, onde não é crime andar pela rua nem tentar entrar em sua própria loja. Dylan percebeu que estava sendo idiota. Lembrou-se de que fora por essa razão que havia parado de beber. O álcool o deixava estupidificado. No fundo, sabia que estava preparando uma cama pouco confortável para ele, a qual não pretendia se deitar. Suspirou, frustrado, começando a acreditar que não havia chance de recomeço em sua vida.
O "policial bonzinho" apertou os olhos, e Dylan percebeu que era quem estava no comando.
- O senhor bebeu?
- Quem? Eu?! - Dylan não conteve a risada. - O senhor quer saber se bebi esta noite, ou se já bebi algum dia na vida?
- Receio que terei de pedir para que o senhor nos acompanhe. - O oficial cruzou os braços com expressão implacável, sem achar nenhuma graça da chacota. O segundo oficial apanhou as algemas e Dylan suspirou. Tudo ficaria esclarecido se ele tivesse paciência. Talvez os policiais até o ajudassem a entrar na loja. Sem as chaves, ele não poderia ter acesso ao apartamento que ocupava no andar de cima.
- Está bem, eu vou, mas devo esclarecer que não costumo acompanhar homens que acabei de conhecer - esclareceu, sem conseguir censurar o impulso de fazer outra piada.
- Não sei o que fazer, Meg! - Mark gemeu com voz chorosa ao telefone. - Fiquei aqui, esperando que ele aparecesse até o dia amanhecer. Já falei com Tom, Nancy, Linda e todos os proprietários das lojas da vizinhança, e ninguém viu nada. Fiz alguns cartazes para Lucy distribuir quando ela chegar. Ele desapareceu completamente, e não tenho ideia de como saiu do carro! Megan, eu juro, nunca fui irresponsável desse jeito!
- Você não foi irresponsável, Mark. Cachorros se perdem. Eles fogem e depois voltam, acredite.
- Megan Rose, em sua vasta experiência como veterinária, já ouvira centenas de histórias parecidas.
- Vou colocar uma nota no quadro de avisos da clínica e telefonar para hospitais veterinários. Alguém vai encontrá-lo.
- Ele é apenas um filhotinho! - Mark apoiou os cotovelos no balcão.
- E é tão engraçadinho! Se alguém encontrá-lo, não vai querer devolver.
- Estava usando coleira? - Estava, mas não tem nenhuma placa de identificação. Ainda não escolhi um nome. Oh, como sou idiota!
- Querido, você não é idiota - Megan disse com calma. - Isso prova que eu seria péssima mãe. E se fosse um bebê?! É por isso que o destino fez com que eu nunca tivesse filhos.
- Mark, você está exagerando. Não haveria como você perder um bebê. Eles não fogem como cãezinhos curiosos.
- Qual é a diferença?- Mark argumentou, sem conter as lágrimas. - Um bebê ou um filhote, ambos são indefesos e dependem dos cuidados de alguém competente. E eu provei que não sou competente.
- A diferença é que, se você colocar um bebê deitado, ele ficará lá até que você vá pegá-lo. Filhotes são muito mais difíceis de controlar. - Talvez. - Ele suspirou, enxugando as lágrimas. - Ele estava dentro do carro. Por mais esperto que seja, o filhote não conseguiria abrir a porta. - Apertou as mãos, irritada, porém concluiu que raiva era melhor do que culpa.
- Acho que alguém o roubou. É a única explicação possível. Quem consegue resistir àquela coisinha fofa? Na certa, alguma alma caridosa ficou com pena do bichinho abandonado no carro e resolveu dar a ele uma vida mais digna.
- Mark, não seja tão dramático! Filhotes são capazes de coisas incríveis. Uma vez, vi um cachorrinho escapar de casa pela fresta da janela e pular no jardim. Ele ficou bem - Megan se apressou em tranquilizar o amigo.
- E outro tentou passar pelo vão da cerca do jardim e ficou preso. Bem, eu poderia contar centenas de histórias assim. O que quero dizer é que não me espantaria se ele tivesse escapado pela fresta da janela. A propósito, ele estava dentro de uma casinha de transporte?
- Não. - Mark voltou a chorar, sufocado pela culpa. - Não tive tempo de comprar. Eu não esperava ter um filhote tão cedo depois de perder Wimbledon. Oh, como sou estúpido!
- Vamos, pare com isso! - Megan censurou em tom maternal. - Faz muito tempo que você teve seu último filhote. E Wimbledon era muito diferente. Ele era especial.
- É verdade. Ele jamais se perderia... - Mark se obrigou a parar de chorar...
- Eu fiquei na loja até mais tarde para organizar a remessa de canetas que tinha chegado. Terminei por volta da meia-noite. Meu carro estava nos fundos da loja, e levei o filhote para lá. Achei que ele poderia ficar sozinho por cinco minutos enquanto eu trancava as portas. Então, ouvi um carro sair a toda a velocidade e vi um homem caído na calçada... Eles me distraíram. A culpa é deles!
- Do que você está falando? - Megan indagou, curiosa. Mark relatou os acontecimentos da noite anterior, sem desviar a atenção do movimento da rua.
- Os policiais levaram o bêbado, e eu me tranquei aqui e dormi no sofá do escritório - ela terminou o relato.
- A culpa é daquele marginal! Mark apoiou a cabeça nas mãos, consciente de que a culpa não era do homem. Contudo, isso não aliviou a raiva. Ele traria problemas. Quase podia sentir no ar que o bêbado com amigos delinquentes que deixavam marcas dos pneus no pavimento tinha alguma relação com o sumiço do filhote.
Mais tarde falaria com Carson, um dos policiais que atendera a seu chamado e o conhecia desde que se mudara para Fredericksburg, cinco anos antes. Na ocasião, ele era recém-casado, apaixonado e cheia de esperança... Ele balançou a cabeça. Carson lhe diria a verdade sobre o rapaz detido na noite anterior. Enquanto isso, não podia evitar pensar no pior.
- Mark, preciso desligar. - A voz da amiga no outro lado da linha a distraiu dos pensamentos. - Recebi uma chamada urgente. Telefono depois. E pare de se culpar!
Ele desligou e olhou com ansiedade para a janela, esperando pela funcionária. Lucy lhe dissera que estaria ali por volta de meio-dia para ajudar a distribuir os cartazes. Porém, mark receava que fosse tarde demais. O filhote estava desaparecido havia quase doze horas. Podia ter sido atropelado, ou atacado por cães maiores... A imagem do cãozinho agonizando em algum beco sombrio provocou uma nova torrente de lágrimas. E nem sequer havia pensado num nome para ele ainda! Fazia uma semana que estava com ele e ainda não lhe dera uma identidade!
Continua.
Voltei. Gente. Obrigado por me esperarem. Estava passando por muitas coisas em minha vida. E ainda estou passando. Mais agora voltei.
Pra deixar esse capítulo com gostinho de quero mais.
Não esqueçam de comentarem e dar seu voto. Ele faz toda diferença para mim, obrigado. E até a próxima.