João decidiu não acordar o primo. Levantou-se e resolveu voltar ao quarto.
- primo? - ele ouviu Mateus chamar.
João olhou para Mateus, que continuava de olhos fechados.
- ta com saudade da tua cama? Quer dormir aqui essa noite? - Mateus convidou quase sussurrando.
O estomago de João corroía. O menino estava ansioso por algo, mas não sabia ao certo que algo era esse.
- Diogo não vem mais hoje? - perguntou João.
- se ele vier, damos um jeito. - disse Mateus.
João aproximou-se da cama. O rapaz queria deitar ao lado do primo, mas tinha medo de ser visto como pegajoso.
- eu vou dormir primo. Tava sem sono, mas agora meus olhos estão começando a fechar.
- então deita aqui do meu lado. Também to sem sono.
Por mais que não tivesse segundas intenções no convite de Mateus, João sentiu o coração disparar.
- dia bom hoje né!? João puxou assunto ao deitar na cama.
- muito. Só não foi melhor devido o sol. Meu corpo todo dói. - Mateus disse quase num gemido.
- você não passou protetor? - perguntou João com o rosto próximo ao do primo.
- não tenho essas coisas. - respondeu Mateus.
- eu tenho. Quando você precisar é só usar.
Mateus sorriu.
- vou lembrar da próxima vez. Dói muito. Ta ardendo. - disse o primo do interior.
- você quer que eu passe um creme pra aliviar? - João se desesperou depois de ter falado isso. Sentiu vontade de desaparecer antes de ouvir um '' não '' do primo.
- quero. - Mateus falou quasse num sussurro.
João não acreditava que o primo havia aceitado assim tão fácil, agora ele poderia tocar o corpo do primo sem medo.
João levantou-se da cama, e foi em direção ao roupeiro. Deslizou a porta de correr, e tirou um pote de creme da estante de pentiar.
- esse aqui foi a mãe que me deu. - disse João com o pote de creme em mãos. - ela sempre passava em mim quando eu tava sentindo dores no corpo.
- e é bom mesmo? - perguntou Mateus.
- tiro e queda. Quer dizer, comigo sempre deu certo.
Mateus levantou-se da cama, e abaixou o short ali mesmo, ficando apenas de cueca. João ficou hipnotizado ao ver o corpo deslumbrante do primo.
Mateus deitou-se de bruco.
- começa pelas minhas costas primo? - pediu a João.
- co... costas? - gaguejou o garoto.
- é a parte que mais dói. - disse Mateus esperando a massagem.
João sentiu o suor descer por sua testa, seu coração batia mais acelerado. O menino ficou tão animado com a possibilidade de sentir o corpo do primo sem pudor, que parou no ar sem perceber.
- João? - chamou Mateus.
- oi primo? - perguntou João deixando o pote cair no chão.
- cê ta com medo de mim?
- na... não primo. - gaguejou novamente.
- ta com nojo de tocar em meu corpo? Eu tô banhado. Ou você desistiu de passar o creme em mim?
João juntou o pote do chão, e aproximou-se de Mateus.
- eu vou passar, é que eu tava pensando na aula de amanhã. Vai ter prova, e toda vez que tem prova, eu fico nervoso. - disse João.
- você quer ir estudar pra prova? - perguntou Mateus.
- já estudei tudo o que tinha pra estudar. Agora é fazer a prova, e esperar o resultado.
- vai da certo primo. Ocê é inteligente. O orgulho da família. - disse Mateus.
- '' Ara ''. Para com isso primo. Assim você me deixa sem graça.
- mas é verdade mesmo. - disse Mateus.
João sorriu envergonhado.
- eu posso ficar em cima de tu? - João perguntou parado ao lado do corpo de Mateus.
Com a cabeça afundada no travesseiro, Mateus confirmou fazendo positivo com o dedo.
João aproximou-se do corpo do primo e se sentiu como uma criança ganhando uma bala. O rapaz passou suas pernas por cima de Mateus, e sentou sobre a bunda do primo do interior. Abriu o creme, espalhou-o pelo corpo do primo, e suas mãos tremeram ao imaginar tocando aqueles músculos.
João não conseguia acreditar que estava tão próximo ao corpo quente de Mateus.
- ainda ta aí? - perguntou o primo do interior.
- oi? Tô, tô... - disse João começando a massagear o corpo do primo.
- pode apertar. - pediu Mateus.
- ta. - respondeu João.
João falava gaguejando. Sentia frio. O estômago embrulhava. Por um momento teve vontade de beijar o grande dorsal do primo.
- ta tudo certo aí? - Mateus percebeu algo estranho no primo.
- ta sim. - respondeu, João.
- to enchendo teu saco né primão? - a voz de Mateus era abafada pela almofada.
- não primo. - disse João.
João queria aproveitar o máximo possível aquele momento, e despejou mais creme no corpo do primo.
Mateus foi adormecendo aos poucos. João notou uma cicatriz nas costas do primo, e passou as mãos sobre ela.
- bartolomeu. - disse Mateus.
- o quê? - João perguntou sem entender do que o primo se referia.
- essa marca aí nas minhas costas foi uma queda que o Bartolomeu me deu.
- e quem é Bartolomeu? - João ainda fazia a massagem no primo.
- o touro mais temido la da minha cidade. Todos queriam montar o bicho, mas poucos se atreveram.
- e tu foi um dos poucos. - disse João.
- pois é primo. Ta aí o resultado.
- tu foi corajoso.
- coragem não me falta. Bartolomeu me derrubou uma vez, mas ainda vou ter uma revanche.
Mateus virou-se por baixo de João, e ficou de frente para o primo.
- vo...cê quer quer quer que eu passe creme na tua barriga? - João estava extremamente nervoso.
- quero. - Mateus foi firme. Ele não sentia-se constrangido ao ter outro homem massageando seu corpo.
O rapaz do interior levou ao mãos a nuca e ficou totalmente livre para receber aos mãos de João em seu abdômen.
João estava sem cor, seu corpo totalmente gélido. Seus olhos estavam fissurados na barriga do primo. O acadêmico de direito sentou sobre as partes do primo, e sentiu uma leve pressão por dentro da cueca de Mateus.
- você têm as mãos boas! - exclamou Mateus quase dormindo com a massagem.
- valeu. - respondeu, João um pouco tímido.
- isso ta muito bom. - disse, Mateus em êxtase.
João perdeu a noção do tempo, e não percebeu que já estava há mais de horas fazendo massagem no primo; Relaxado, Mateus acabou dormindo. João não tirava os olhos dos traços do rosto do primo: Aquelas covas por baixo da barba bruta, aqueles lábios macios, o nariz afilado, sua sobrancelha falha.
João almejava tocar naquele rosto. Sonhava em acaricia-lo. Ele queria mais que uma simples massagem.
- primo? - chamou, João.
Mateus não respondeu.
- primo? - João tentou mover seu corpo.
Após confirmar que o primo estava dormindo, João levantou-se lentamente, cobriu o corpo de Mateus e se despediu em silencio.
João entrou em seu quarto, sentiu o cheiro do corpo do primo impregnado em seu corpo, e sentiu uma enorme vontade de chorar. O rapaz sentia uma forte dor no peito, algo que já havia sentido tempos antes, mas agora era diferente. João chorou tanto que não ouviu seu celular tocar.
- Fabinho? - disse ele olhando a ligação perdida no visor do celular.
João resmungou algo, e fechou os olhos procurando dormir.
No dia seguinte, João acordou e não encontrou ninguém na mesa do café. O menino fez sua refeição, e apanhou Alex em sua casa.
João notou que Alex estava estranho, mas achou melhor não se intrometer na vida do rapaz.
- terminou o trabalho? - João perguntou enquanto dirigia o carro no rumo da faculdade.
- terminei sim, só falta imprimir. - disse Alex.
- a gente passa na gráfica. - disse João.
- a essa hora a gráfica ainda está fechada. - disse Alex.
- e o que a gente faz então?
- imprimi na xérox da faculdade.
- vai arriscar colocar teu pendrive naquelas máquinas?
- não tem outro jeito. - respondeu, Alex.
Os dois amigos foram conversando ate chegar à faculdade, quando João foi à biblioteca, e Alex imprimir o trabalho da dupla.
Na biblioteca, João comprou um capuchino enquanto dava uma olhada no acervo de direito processual penal. O rapaz se distraiu e não viu Fabinho entrar no mesmo corredor que ele.
- bom dia, João. - disse, Fabinho.
- Bom dia. - respondeu, João.
- dormiu bem?
- sim, e tu?
- muito bem. Já tomou café?
- tomei em casa. - respondeu, João.
- poxa. Pensei em ti convidar. - Fabinho sorriu.
- vai ficar pra uma próxima. Eu to indo pra dentro de sala.
- espera. - disse Fabinho segurando em seu braço.
- não Fabinho. Não faz isso. - disse João soltando-se dos braços do ex.
- mas eu quero tanto.
- agora é tarde. - disse, João antes de sair do corredor isolado. O rapaz ainda conseguiu ouvir Fabinho resmungar algo e derrubar alguns livros da prateleira.
Quando entrou em sala, Alex já estava entregando o trabalho ao professor.
- deu tudo certo? - perguntou João puxando uma cadeira e jogando sua mochila.
- deu sim, agora é só aguardar o resultado.
- vamos tirar nota máxima. Você é o cara. - João apontou o dedo para o amigo que sorriu.
- João? - alguém chamou pelo rapaz.
- fala Vinicius. - disse João virando-se para o fundo da sala.
- chega mais. - disse o rapaz o chamando.
João andou por entre as cadeiras ate o final da sala.
- fala aí. - disse ele sentando de frente para Vinicius.
- ta sabendo do seminário que vai ter la no centro jurídico?
- ouvi falar. - disse João.
- to pensando na possibilidade de a gente inscrever um projeto. O que tu acha?
- seria uma boa ideia pra ganhar experiencia. Já pensou em algum tema?
- to tendo umas ideias. Poderíamos combinar de sentar e fazer um espelho. Pode ser?
- por mim, sem problemas. Podemos chamar o Alex também, ele é fera.
- infelizmente a equipe já ta completa. Só pode ser inscrito cinco.
- a é? E quem ta tanto?
- eu, tu, o Marquinhos, a Emanuele e o Edgar.
- quem é Edgar?
- Do quinto período.
- não conheço, mas de boa.
- então posso contar contigo?
- pode sim. - disse João cumprimentando o Vinicius, e retornando para o seu lugar.
- o que ele queria? - perguntou Alex.
- ta pensando em inscrever um projeto naquele evento que vai acontecer la no centro jurídico.
- projeto de que? - Alex ficou curioso.
- não entendi muito bem. - João tentou desconversar. Não tinha coragem de falar ao amigo que ele não estaria dentro do projeto.
Ao término da aula, João e Alex resolveram almoçar na praça de alimentação.
João fez seu prato e sentou ao lado de Alex, que já comia uma macarronada.
- ai. - João gemeu ao sentar.
- o que foi mano? Machucou?
- joelho. - disse João fazendo careta.
- o que tem teu joelho?
- ta machucado. algumas vezes sinto uma fisgada.
- tem que tomar cuidado.
- eu tomo, mas não da pra evitar.
- mudando de assunto. - disse Alex sugando um macarrão. - sei que você não quer falar sobre isso, mas...
- vai tentar novamente me convencer a voltar com o Fábio? - disse João limpando a boca no guardanapo.
- aquele cara te ama.
- foda-se o amor dele e ele.
- você ta sendo muito injusto, João.
- por que injusto? - João encarou o amigo.
- o cara errou e ta pedindo desculpas. Ele errou uma única vez, e será que não merece uma chance? Já ouviu falar que o erro ensina?
- quem garante que foi só uma vez que ele aprontou comigo? E quem garante que não vai mais se repetir? E você sabe que não tem como eu segurar o Fabinho, na hora que o tesao bater, ele vai correr atrás do primeiro cara que tiver disponível... falando em cara disponível, o ambiente ficou meio pesado né!? - disse João fechando a cara.
- que? Por que? - disse Alex olhando para trás. - foi ele? - Alex apontou com o olho para Alan.
João confirmou com a cabeça.
- não acredito que tu vai deixar uma bicha pão com ovo dessas te roubar o Fabinho.
- por mim ele pode fazer bom proveito.
O rapaz que havia ficado com Fabinho no banheiro, deu uma encarada em João e depois adentrou o restaurante da faculdade para fazer seu prato.
- opa. To morto de fome. - disse Fabinho chegando e sentando ao lado de João.
- da licença. A fome passou. Te espero no estacionamento, Alex. - disse João levantando sem comer quase nada.
- o que eu fiz? - perguntou Fabinho.
Alex apontou para dentro do restaurante e Fabinho entendeu o recado.
- puta que pariu. Esse inferno vai me perseguir ate quando? - o rapaz bufou de raiva.
Enquanto caminhava ate o estacionamento, João ligou para Mateus e combinou de apanha-lo para fazerem a inscrição no curso de eletricista. Em seguida, desligou o celular e o guardou dentro do bolso.
- desculpa te incomodar fera, mas você poderia me ajudar? - João sentiu alguém tocar em seu ombro, quando já ia entrando em seu carro.
- diz. - ele foi um pouco grosseiro secando as lágrimas.
- é que roubaram o pneu do meu carro, e eu queria saber se você não tem um extra pra me emprestar... Que mundo pequeno brother. - o cara sorriu.
- pequeno porque? - João perguntou sem entender.
- você não ta lembrando de mim?
- sinceramente? não. - disse João.
- eu sou o dono do carrocho, que te deu um pequeno susto.
O rapaz sorriu sem graça.
- pequeno susto? Teu cachorro quase me assassinou velho.
- também não é pra tanto. Ele só queria brincar. - disse o rapaz sorrindo.
- brincar de comer meu hot dog né!? - João sorriu.
- mais ou menos isso.
- to ligado.
- mas e aí, como é que tu ta?
- ainda um pouco machucado com a queda, mas nada que vá me deixar paralisado.
- menos mal não é?
- claro, mas diga lá, tu quer minha ajuda pra que mesmo?
- queria saber se você não tem um pneu extra pra me arrumar. Roubaram o meu.
- só faltava essa cara. Tem ladrão de pneu aqui na faculdade agora?
- deve ser os caras de fora.
- ta foda hen!? Eu acho que eu tenho um aqui sim. Vou dar uma olhada.
- faz esse favor pro teu brother. - disse o cara cheio das intimidades.
João abriu o bagageiro do carro e confirmou que havia um pneu extra.
- ta com sorte, chegado. Só não tenho macaco. - disse João apontando para o pneu.
- o macaco eu tenho. Posso pegar a roda?
- vá em frente. - disse, João, ainda com o bagageiro aberto.
O rapaz retirou a roda, e a rolou ate o seu carro; João o acompanhou.
- só lamento fera, mas o sol ta bem legalzinho pra trocar o pneu. - João sorriu.
- né isso!? - disse o rapaz limpando o suor da testa. - não tinha dia melhor pra me roubarem esse pneu não. - o rapaz riu enquanto suspendia o carro.
O rapaz terminou de trocar o pneu, e Alex ainda não tinha chegado no estacionamento.
- você me livrou de uma boa cara, como eu faço pra te devolver esse pneu?
- to sempre por aqui pela faculdade.
- então fica fácil brother. Faz qual curso?
- direito.
- brincadeira! Sério?
- juro.
- mais uma coincidência, eu também faço direito. Ta em qual período?
- to no segundo ainda, e tu?
- eu to no quinto. Prazer fera, Edgar. - disse o rapaz erguendo o braço.
- João. - disse ele o cumprimentando.
João gemeu ao ter a mão apertada por Edgar.
- que foi? Te machuquei?
- minha mão ta com uma ferida aberta. Foi da queda no barranco.
- deixa eu ver. - disse Edgar alisando a palma da mão de João. - ta feio hen!? Isso aqui pode infeccionar.
- solta ele. - disse Fabinho chegando junto de Alex.
- é o que? - disse Edgar o encarando.
- mandei você soltar meu namorado. - disse Fabinho aumentando o tom da voz.
Continua...