Leopold respirou fundo, sentindo a indignação crescer dentro de si. Ele sabia que, naquele momento, sua família precisava de apoio, e não dos velhos preconceitos de sua mãe. Kiran e Kiara, ainda confusos com a situação, olharam para os pais em busca de respostas.
— Mãe — começou Leopold, com firmeza na voz —, o Guilherme está lutando contra uma doença grave, e tudo o que ele precisa agora é do apoio da família.
Dorothy, no entanto, não se abalou. — Eu sempre soube que ele traria vergonha para essa casa. E agora... casamento? Isso não é certo!
Anastácia, segurando a mão de Kiara, encarou Dorothy com coragem. — Guilherme é um homem incrível, corajoso e honesto, e nós estamos muito orgulhosos dele. Ele merece ser feliz, assim como qualquer outra pessoa.
Dorothy bufou, mas antes que pudesse responder, Kiran tomou coragem e disse, com a voz trêmula: — O Guilherme é nosso irmão, e nós o amamos do jeito que ele é.
Dorothy ficou em silêncio por um momento, surpresa com a firmeza dos netos. Leopold, então, colocou a mão no ombro de Dorothy e olhou fundo em seus olhos.
— Mãe, você pode ter suas opiniões, mas aqui nós escolhemos o amor.
— Amor? — perguntou a idosa. — Vocês estão ficando louco. Eu nunca vou aceitar! Nunca! — saindo da casa de Leopold, deixando todos assustados.
Sim, a mãe de Leopold estava irada com a ideia de dois homens se casarem sem sua família. Mas o pai de Guilherme continuaria a apoiar o filho, não importava mais nada.
***
Naquela tarde ensolarada, Felipe e Dylan entraram na loja de alfaiataria com um sentimento de leveza que ambos raramente experimentavam ultimamente. O quase ex-namorado de Kaity agora seria o padrinho de Felipe, algo que eles próprios jamais haviam previsto. Entre tantos encontros e desencontros, ali estavam, ambos prontos para o próximo passo de uma amizade improvável.
— Obrigado por me convidar — disse Dylan, com um sorriso discreto, sentindo-se genuinamente grato. Desde que se mudara para Londres, jamais imaginara que ganharia um grande amigo.
— Para com isso. Tirando o Guilherme... tipo... você é o meu melhor amigo aqui nessa cidade. Sei que a gente não fica conversando toda hora igual as meninas, mas tenho muita consideração por você — respondeu Felipe, com um ar despretensioso, mas honesto.
— Obrigado, Felipe. — Dylan repetiu, sem saber bem como expressar o quanto aquela amizade significava. — Isso é muito importante pra mim.
Por alguns instantes, o silêncio confortável pairou entre os dois, enquanto Felipe, com um brilho curioso nos olhos, voltou a puxar assunto.
— E me conta... como foi essa confusão com a Kaity e a Rebecca?
Dylan suspirou e se sentou para tirar os sapatos, como se o peso da situação se manifestasse fisicamente.
— Cara, eu não sei o que pensar. Peguei as duas brigando... a Kaity não é de confusão, mas acabou batendo numa mulher grávida — desabafou, ainda confuso com o que presenciara.
Felipe ergueu as sobrancelhas, incrédulo.
— A Kaity fez isso?
— Fez. E eu tive que ficar do lado da Rebecca... afinal... — a voz de Dylan hesitou.
— Ela é a mãe do seu filho — completou Felipe, compreendendo a delicadeza da situação. Ele parecia prestes a oferecer ajuda. — Se você quiser... eu posso conversar com a Kaity e...
Dylan balançou a cabeça de forma firme.
— Não, Felipe. Você já tem seus próprios problemas. Não quero acabar com o pouco tempo que você tem ao lado do Guilherme.
Felipe respirou fundo, grato pelo apoio do amigo, ainda que sua expressão revelasse uma leve preocupação. Era raro para ele abrir mão de ajudar alguém que considerava próximo, mas sabia que Dylan também respeitava suas prioridades.
Antes que pudessem continuar, foram interrompidos por uma voz carregada de um sotaque francês:
— Mas que homens lindos! — O dono da loja, Jean, um homem de bigode extravagante e personalidade excêntrica, se aproximava, já avaliando os clientes. — Quem é o noivo?
Felipe levantou a mão com um sorriso, divertido com a presença de Jean, que preenchia o ambiente com um toque de leveza.
— Venha, fique aqui — instruiu Jean, apontando para um tablado no centro da loja, preparado especialmente para a ocasião. — Vamos tirar suas medidas — anunciou, já pegando a fita métrica. Com um olhar de aprovação para Dylan, completou com um tom bem-humorado. — E você, bonitão, é o próximo.
Felipe tirou o casaco e subiu no tablado, se sentindo estranhamente à vontade sob o olhar atento de Jean, que media cada centímetro com a precisão de um artista. Dylan observava a cena, relaxado, e não conteve um sorriso ao ver Felipe rindo enquanto Jean conferia o caimento do paletó.
Jean o cercava com o zelo de um artista orgulhoso de sua obra, sem perder a oportunidade de lançar olhares afiados e elogios improvisados. Felipe se via cada vez mais imerso naquele momento de preparação, com Dylan ao seu lado, garantindo que ele aproveitasse cada segundo.
Ao final, enquanto Jean ajustava os últimos detalhes e prometia que ambos sairiam da loja "como verdadeiros príncipes", Felipe olhou para Dylan com gratidão renovada. Em meio a uma série de complicações e escolhas difíceis, havia algo de inegavelmente especial naquele momento. Afinal, estava cercado por amigos que se importavam com ele.
Depois de tirarem as medidas, Felipe e Dylan deixaram a alfaiataria e seguiram para o hospital. Dylan havia decidido visitar Guilherme, que também tinha acabado de receber uma visita de alguém da equipe de Jean para ajustar o fraque para o casamento. Enquanto isso, Anastácia, a mãe de Guilherme, tomava as rédeas dos preparativos para o grande dia, que aconteceria em uma das propriedades da família, à beira-mar.
— Acho que devemos ter apenas frutos do mar — sugeriu Anastácia, concentrada enquanto fazia anotações em seu tablet.
— E os convidados que forem alérgicos? — questionou Paris, a melhor amiga de Guilherme, que estava dedicando toda sua energia para ajudar nos preparativos.
— Bem pensado, querida. Vamos ter frutos do mar e carne — respondeu Anastácia, atualizando rapidamente sua lista.
Paris, sempre criativa, continuou:
— Como vai ser na praia, imaginei que a gente podia ter uma decoração meio floral, sabe? Algo bem havaiano. O que acha, Guilherme?
Ele estava distraído, perdido em seus próprios pensamentos.
— Bem... eu queria algo mais simples. Nada muito chamativo.
— Mas é o teu sonho. A gente só quer torná-lo realidade — insistiu Paris, tentando animá-lo. Mas, apesar de suas palavras, o entusiasmo de Guilherme parecia distante.
Antes que a conversa continuasse, o clima mudou quando Felipe e Dylan apareceram na porta do quarto. Guilherme abriu um sorriso ao vê-los.
— Tudo bem. — Paris olhou para o relógio. — Eu preciso encontrar a Kaity. — Ela se levantou rapidamente, despedindo-se de forma apressada.
— Mãe, eu queria um suco. — Guilherme pediu, um pouco enjoado.
— Eu vosu pegar. Olá, meninos. Como foi a prova do terno? — perguntou Anastácia enquanto pegava a bolsa.
— Ele anotou minhas medidas — respondeu Felipe, casualmente.
— Gente, eu vejo vocês depois. Tchau! — Paris saiu correndo, deixando todos confusos.
— Nossa, o que deu nela? — perguntou Dylan, perplexo com a saída repentina.
— É a mesma Paris de sempre — disse Anastácia, minimizando a situação antes de sair do quarto em busca do suco para Guilherme.
Assim que ficaram a sós, Felipe sentou ao lado do namorado.
— Ei, Guilherme. Sabe de uma coisa que descobri hoje?
Dylan, que estava acomodado em uma poltrona, imediatamente ficou alerta.
— Felipe, não! — Ele arregalou os olhos, visivelmente desconfortável.
— O quê? — perguntou Guilherme, curioso.
— Nada não — tentou desconversar Dylan, mas o sorriso travesso de Felipe denunciava algo mais.
— Agora fiquei curioso. O que você descobriu, amor? — insistiu Guilherme, estreitando os olhos em direção a Felipe. — Vão esconder segredos de um moribundo?
Felipe sorriu, aproveitando o momento:
— Que a bunda do Dylan é 20 centímetros maior que a minha.
Guilherme explodiu em gargalhadas, se esquecendo, por um momento, de sua condição.
— Isso foi o que o Jean disse! — Dylan se defendeu, completamente vermelho. — Eu não acredito nisso. Eu nem tenho bunda!
— Quem não tem bunda aqui sou eu. Depois dessa humilhação, hein. — Felipe riu,se inclinando para beijar Guilherme, enquanto Dylan escondia o rosto, rindo sem querer admitir.
O quarto estava repleto de risos e leveza, um raro alívio em meio aos desafios que enfrentavam. Por alguns minutos, a alegria parecia contagiar a todos, iluminando o que poderia ser mais um dia difícil.
Paris se encontrou com Nariko e Kaity na Escola de Intercâmbio, um ponto de encontro habitual para discutirem suas vidas, dramas e, naquela ocasião, um plano ousado para desmascarar Rebecca. Contudo, o clima de conspiração logo foi suavizado quando o assunto mudou para algo mais glamoroso: os vestidos e preparativos para o casamento de Felipe e Guilherme.
— Eu estou pálida — lamentou Paris, sentando em um banco e cruzando as pernas com um gesto teatral. — Acho que vou em um salão, sabe, daqueles que fazem bronzeado artificial.
— Podemos ir todas — sugeriu Nariko, animada. — O que vocês acham?
Kaity, que parecia um pouco abatida, tentou sorrir.
— Eu estou dentro. Na Rússia, nunca fiz um bronzeado.
Paris bateu palmas, empolgada com a ideia.
— Vamos fazer o bronzeamento brasileiro!
Nariko e Kaity trocaram olhares confusos.
— O que é isso? — perguntou Nariko, arqueando as sobrancelhas.
— É aquele bronzeado que deixa só uma pequena marquinha embaixo — explicou Paris, rindo das expressões surpresas das amigas.
Nariko ponderou por um momento.
— Acho que não vou ser tão radical assim. Posso assustar o Wong.
— Você quer fazer esse também? — Paris perguntou a Kaity, que parecia hesitante.
— Quero... mas deixa eu ver isso aqui no Google. — Kaity se aproximou de um computador e começou a pesquisar, arregalando os olhos ao ver os resultados.
Nariko, curiosa, levantou-se para conferir as imagens.
— Uau... isso é definitivamente... diferente.
— Vamos ficar lindíssimas! — exclamou Paris, decidida, já visualizando as três amigas com bronzeados impecáveis e prontas para arrasar no casamento.
Apesar das risadas e da leveza do momento, cada uma carregava suas preocupações internas. Kaity pensava no embate com Rebecca, Nariko refletia sobre o impacto de seus planos na relação com Wong, e Paris, mesmo confiante, sentia o peso de equilibrar as expectativas para o casamento de Guilherme com a distância da família. Mas, juntas, elas encontravam forças para enfrentar qualquer coisa — e para se divertir no processo.
Dorothy estava em sua luxuosa sala de estar, com janelas altas que deixavam entrar a luz do entardecer. Apesar do ambiente ser impecavelmente decorado, o clima era carregado de tensão. Um envelope prateado com letras douradas repousava sobre a mesa, ou o que restava dele, após Dorothy rasgá-lo em pedaços com uma expressão de puro desdém.
— Eu não vou permitir que o meu neto se case com outro homem! — exclamou, jogando os fragmentos do convite no chão como se fossem lixo.
Na porta, Vladimir, o fiel assistente da família, aguardava silenciosamente. Sua postura era sempre calma, mas os anos de serviço o haviam ensinado a reconhecer o olhar tempestuoso de Dorothy.
— A senhora mandou me chamar? — perguntou, entrando com cautela.
Dorothy olhou para ele, ajustando a gola de seu casaco de seda, ainda visivelmente irritada.
— Preciso ir a um lugar. — o mordomo sentiu a pressa na voz de Dorothy,.
— Deseja que eu avise a senhorita Malody? — Vladimir sabia que Malody, a filha mais velha de Dorothy, era frequentemente envolvida nesses planos, mesmo que relutantemente.
— Não. — Dorothy cortou a sugestão, ríspida. — Quero meu talão de cheques.
Vladimir assentiu, sem fazer perguntas.
— Vou pegá-lo, senhora.
Enquanto ele se afastava, Dorothy cruzou os braços, caminhando pela sala. Seus saltos ecoavam no piso de mármore, refletindo sua determinação. "Se Leopold acha que pode me desafiar, ele está redondamente enganado", pensou. "E Guilherme... oh, meu querido neto, você ainda não entende o que é melhor para você."
Minutos depois, Vladimir retornou, entregando-lhe o talão de cheques.
— Algo mais, senhora?
Dorothy sorriu de maneira calculada. — Não por enquanto. Apenas esteja pronto para me acompanhar. Tenho muito a resolver.
Com isso, ela pegou sua bolsa e saiu, seus passos firmes indicando que estava prestes a colocar em prática um plano para impedir o casamento — custasse o que custasse.
Na ensolarada Praça Girassol, a tranquilidade da tarde foi abruptamente interrompida quando Paris, Kaity e Nariko colocaram em prática seu plano ousado. Rebecca, alheia ao perigo iminente, caminhava calmamente perto do lago, ajustando os óculos escuros.
Paris, disfarçada em um canto, segurava o celular e mantinha contato com Kaity.
— Ela está perto do lago. Tudo pronto? — Paris sussurrou, tentando controlar a risada antecipada.
— Estou indo. — respondeu Kaity, respirando fundo.
Nariko, escondida estrategicamente atrás de um arbusto, ajeitava a câmera que Guilherme havia emprestado.
— Isso vai ser épico. — murmurou Nariko, ajustando o foco.
Rebecca parou, admirando o reflexo do sol na água, sem saber o que a esperava. Foi então que Kaity apareceu atrás dela e, com um movimento rápido e decidido, a empurrou diretamente para o lago.
Um som estrondoso de água se espalhou pela praça.
— Meu Deus, será que ela tá bem? — perguntou Kaity, dramaticamente.
Rebecca emergiu furiosa, completamente encharcada.
— O que foi isso? — gritou, apontando para Kaity. — Foi você, sua desgraçada?
Paris se aproximou, segurando o riso.
— Ei, garota, e a sua barriga? Desceu pelo vestido? — zombou, apontando para o abdômen plano de Rebecca.
Rebecca congelou, percebendo que o enchimento falso que usava para fingir a gravidez havia se deslocado no mergulho.
— Meu bebê! — disse, tentando se cobrir com as mãos.
Kaity aproveitou o momento, sua indignação transbordando.
— Para de ser ridícula, Rebecca! Não tem bebê nenhum, e você sabe disso! — gritou, agarrando o braço da rival e, sem pensar duas vezes, deu um tapa estalado no rosto dela.
A confusão chamou atenção de um rapaz que passava pela praça.
— Briga de garotas! — ele gritou, atraindo uma pequena multidão e, inevitavelmente, os guardas da praça.
Rebecca tentou revidar, mas logo foi segurada por um dos guardas.
— Me solta! — ela gritou, ainda furiosa e desorientada.
Kaity, do outro lado, também foi contida por outro guarda.
— Paris! Chama o Dylan! — pediu Kaity, enquanto era levada pelos agentes.
Paris e Nariko, que mal conseguiam conter o riso, seguiram apressadamente para informar Dylan sobre o caos. Enquanto isso, a multidão começou a murmurar, e Nariko, ainda com a câmera em mãos, capturava os últimos momentos do confronto.
O plano pode não ter saído exatamente como o trio havia imaginado, mas uma coisa era certa: Rebecca estava oficialmente desmascarada.
Na delegacia, o clima era tenso. Kaity e Rebecca estavam sentadas em cadeiras separadas, sendo constantemente vigiadas pelos guardas. Enquanto Kaity mantinha uma postura defensiva, Rebecca não parava de lançar olhares furiosos e tentava, sempre que possível, dramatizar a situação.
Depois de prestarem depoimento, as duas foram liberadas, mas a rivalidade entre elas ainda estava longe de terminar.
— Viu o que você fez, sua idiota?! — gritou, Rebecca apontando um dedo acusador para Kaity.
— Eu? — questionou Kaity com um tom de voz afetado. — A culpa é toda sua! Se tivesse sido honesta, nada disso teria acontecido!
Antes que Rebecca pudesse retrucar, Dylan apareceu no local, com o rosto carregado de decepção.
— O que está acontecendo aqui? — Dylan perguntou, cruzando os braços e olhando alternadamente para Rebecca e Kaity.
Rebecca, como de costume, correu para ele em lágrimas, o abraçando como se fosse a vítima da situação.
— Dylan, ela me atacou! — mentiu Rebecca tentando se aproximar de Dylan. — Por culpa dela... nós perdemos o nosso bebê... — disse, soluçando.
Dylan a afastou suavemente, a segurando pelos ombros, mas sua expressão mostrava que algo havia mudado.
— Rebecca... — Dylan começou, tirando o celular do bolso e mostrando a tela. — Eu vi o vídeo. Você estava usando uma barriga falsa. Como eu fui um palhaço por acreditar em você...
Rebecca arregalou os olhos, sua expressão mudando do desespero para o medo.
— Você vai voltar para os Estados Unidos hoje mesmo. Acabou, Rebecca. — anunciou Dylan, que já havia mandando o vídeo para todos os seus parentes e amigos.
— Não! Dylan, por favor, acredita em mim! Ela matou o nosso filho! — insistiu Rebecca, sua voz ganhando um tom histérico.
O guarda, percebendo a crescente tensão, se aproximou para intervir.
— Algum problema aqui?
— Não mais. — respondeu Dylan, enquanto seu celular começava a tocar. Ele atendeu e, após um breve diálogo, passou o telefone para Rebecca. — É para você.
Rebecca pegou o celular, já com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Alô? — começou, tentando parecer calma. — Pai? Não... pai, esse vídeo é uma montagem... por favor, acredita em mim...
Conforme a conversa avançava, o desespero de Rebecca aumentava.
— Não, pai! Por favor, não faz isso... Eu vou voltar... Eu prometo... Mas não quero ir para aquele lugar! Por favor! — gritou a americana, antes de devolver o telefone com as mãos trêmulas e um olhar devastado.
Paris, Nariko e Kaity, que observavam tudo de longe, trocaram olhares cheios de incredulidade e desconforto.
— Que mulher louca... — murmurou Paris.
— Uau. — soltou Nariko, colocando a mão no ombro de Kaity. — E então? Está feliz?
— Não... — respondeu a intercambista, soltando um longo suspiro.
Enquanto Dylan conduzia Rebecca para fora da delegacia, Paris e Nariko ficaram em silêncio, e Kaity, apesar de ter exposto a verdade, sentia o peso de toda a confusão que havia causado.
Felipe estava no corredor do hospital, bebendo a água fresca de um bebedouro. Ele gostava daquela água, que parecia ter o poder de acalmá-lo em meio à tensão do ambiente. No entanto, sua tranquilidade foi interrompida quando Dorothy, acompanhada de seu capanga, Vladimir, surgiu no corredor. Felipe sentiu um calafrio percorrer sua espinha, mas esforçou-se para manter a compostura enquanto a avó de seu noivo se aproximava.
— Escuta aqui, rapaz — disse Dorothy, sua voz imponente reverberando pelo espaço. — Eu tenho uma oferta para você.
De longe, Anastácia e Leopold, que haviam acabado de sair da sala de espera, notaram a cena. Anastácia estreitou os olhos ao reconhecer Dorothy, sentindo seu sangue ferver.
— O que será que aquela mulher quer agora? — sussurrou Anastácia, tocando no ombro do marido.
— Vamos ouvir — respondeu Leopold, apontando discretamente para uma máquina de café próxima ao local.
— Isso é bisbilhotar — reclamou Anastácia, mas seguiu o marido mesmo assim.
Perto do bebedouro, Felipe cruzou os braços, tentando demonstrar uma confiança que ele não sentia totalmente.
— Eu não estou entendendo — disse ele, falando em português, para surpresa de Leopold, que conseguiu ouvir a conversa.
Dorothy bufou, impaciente, olhando ao redor.
— Será que tem alguém nesta espelunca que fale espanhol? — murmurou, desgostosa.
— Eu sou brasileiro, e falo português — respondeu Felipe calmamente, mudando para o inglês.
— Não importa. Veja bem, minha família é uma das mais tradicionais da Inglaterra. Meu neto não pode se casar com você. Tudo precisa ser colocado no devido lugar — disparou Dorothy com frieza.
Felipe arqueou as sobrancelhas, intrigado, mas permaneceu calado.
— Fiz uma pesquisa. A herança do Guilherme está avaliada em três milhões de euros. Um dinheiro fácil para você. Mas e se eu dobrar essa quantia? Aceita seis milhões de euros para voltar ao Brasil? — Dorothy sorriu, como se tivesse certeza de que ele aceitaria. — Sua família ficaria muito feliz, não é? A dona Maria precisa desse dinheiro.
Felipe sentiu o peso da proposta, mas, em vez de responder imediatamente, começou a rir. Um riso amargo que ecoou pelo corredor.
— Isso é um sim? — indagou Dorothy, inclinando-se na direção dele.
— Para a senhora, tudo gira em torno de dinheiro e status, não é? — Felipe respondeu, sua voz firme. — A senhora pelo menos perguntou ao Guilherme como ele está? Ou ao senhor Leopold, que está arrasado com a ideia de perder o filho? A senhora não faz ideia do que é amor. E agora quer destruir a única coisa que está trazendo alegria ao seu neto.
Antes que Dorothy pudesse reagir, Guilherme apareceu, amparado por Celestina. Sua expressão era de exaustão, mas sua voz era firme.
— Sério, vovó? — disse ele. — Qual é o problema em eu ser gay? Isso não muda nada em quem eu sou.
Anastácia, incapaz de se conter, saiu de trás da máquina de café.
— Essa mulher ultrapassou todos os limites! — exclamou.
— Espera! — pediu Leopold, mas ela já estava avançando.
Dorothy olhou para Guilherme de cima a baixo, com desprezo.
— Você é patético. Ainda bem que vai morrer. Assim, sua aberração será esquecida mais rápido.
Antes que pudesse continuar, Anastácia ficou frente a frente com ela. Sem dizer uma palavra, deu-lhe um tapa tão forte que o som reverberou pelo corredor. Dorothy ficou sem reação, tocando a bochecha.
— Nunca mais fale assim de nenhum dos meus filhos — disparou Anastácia, com os olhos faiscando.
— Saia daqui. Agora! — ordenou Leopold, sua voz carregada de desapontamento.
Dorothy olhou ao redor, buscando apoio, mas encontrou apenas olhares de reprovação. Com um gesto, chamou Vladimir, que a amparou.
— Quer saber? Casem, se quiserem. Não duvido que esse rapaz está com Guilherme por pena. Vamos, Vladimir — disse ela, saindo com dignidade ferida.
Felipe, com os olhos marejados, tocou no rosto de Guilherme e o envolvendo em um abraço.
— Não duvide por um segundo do meu amor por você. Eu te amo, Guilherme.
— Eu sei disso. Uma pena que te fiz perder dez milhões de euros — brincou Guilherme, esboçando um sorriso fraco.
— Não preciso desse dinheiro. Eu já tenho tudo que importa aqui nos meus braços — respondeu Felipe, antes de beijá-lo.
Nos bastidores da cena, Anastácia se virou para Leopold.
— Desculpe por ter batido na sua mãe — disse, sincera.
— Não se desculpe. Você acertou em cheio! — respondeu Leopold, soltando uma gargalhada. Celestina concordou com um sorriso. Logo, todos estavam rindo, deixando o corredor menos pesado, ao menos por um momento.
Uma semana havia se passado, e os preparativos para o casamento de Guilherme e Felipe estavam em pleno vapor. Aproveitando o momento, Leopoldo decidiu ter uma conversa franca com o futuro genro. Os dois passeavam de carro pelas charmosas ruas de Londres, com a cidade vibrando ao fundo.
— Sabe de uma coisa? — começou Leopoldo, com um leve sorriso no rosto. — Eu nunca disse isso, mas fiquei muito feliz com o que você falou para a minha mãe. Juro que, se você não tivesse aceitado, eu pegaria os dez milhões. — ele riu da própria piada, um tanto desajeitado.
Felipe desviou o olhar para a janela, deixando que as paisagens de Londres passassem como um filme.
— Senhor, eu venho de uma área pobre de São Paulo — respondeu ele, com a voz firme, mas carregada de emoção. — Minha família passa por dificuldades, mas nem por isso eu sou alguém de mau caráter. Eu acredito que as coisas boas vêm com esforço, e é por isso que eu nunca aceitei atalhos. O Guilherme... — Felipe fez uma breve pausa, respirando fundo antes de continuar. — Por mais estranho que seja dizer isso para o senhor, ele é o homem da minha vida. E meu coração se parte só de pensar na possibilidade de não tê-lo ao meu lado.
As palavras de Felipe, cheias de sinceridade, tocaram Leopoldo de forma inesperada. Ele se pegou refletindo sobre valores, escolhas e os erros que havia cometido — não apenas com Guilherme, mas também com Felipe. Naquele instante, tomou uma decisão: faria de tudo para garantir que o casamento do filho fosse especial e memorável.
Pouco depois, Felipe interrompeu seus pensamentos ao notar algo incomum.
— Que hotel é esse? — perguntou, intrigado, enquanto tirava o cinto de segurança e saía do carro.
Leopoldo desceu também, com um sorriso misterioso. — Você vai ver. Vamos? — Ele apontou para a entrada do hotel, sem revelar muito. — Pensei bastante em um presente para você. Confesso que não sou muito bom com isso, mas... o que te faria feliz?
— Não sei, senhor. — Felipe respondeu, ainda mais curioso.
— Não me chame de senhor. Agora você é meu genro. Pode me chamar de Leopoldo. Ou, quem sabe, de pai... embora isso talvez seja um pouco dramático demais. — Leopoldo tentou descontrair, provocando um sorriso tímido no rosto de Felipe.
O hotel era imponente, uma mistura de luxo e tecnologia. As enormes janelas espelhadas refletiam a luz do sol, e o interior exalava elegância e modernidade. A propriedade fazia parte dos negócios da poderosa família Thompson, e cada detalhe parecia pensado para impressionar. Antes que Felipe pudesse absorver tudo, um homem de terno impecável se aproximou.
— Senhor Thompson, boa tarde. — cumprimentou o gerente do hotel, Sr. Garret, com uma voz tão cordial que deixou Felipe um pouco desconfortável.
— Está tudo pronto? — perguntou Leopoldo, direto ao ponto.
— Sim, senhor. Por aqui, por favor. — Garret fez um gesto para que o seguissem.
Conforme caminhavam por um longo corredor, Felipe sentia o coração acelerar. Algo estava acontecendo, mas ele não conseguia decifrar o que. Quando finalmente chegaram a uma grande porta dupla, Garret a abriu com discrição, revelando a surpresa.
Felipe congelou ao ver o que havia do outro lado. Sua família inteira estava ali: sua mãe, Maria, e seus irmãos, todos com sorrisos emocionados. A visão o fez perder o fôlego. Sem pensar duas vezes, ele correu até a mãe e a abraçou com força, sentindo a familiaridade de casa em seus braços.
Leopoldo, observando a cena com um brilho nos olhos, parecia finalmente entender o que era felicidade genuína. Como presente de casamento, ele havia trazido toda a família de Felipe do Brasil para Londres. Além de proporcionar o reencontro tão esperado, deu a eles a oportunidade de conhecer um novo mundo. Era um gesto que unia não apenas duas famílias, mas também dois mundos completamente diferentes, em um momento inesquecível.
Leopold havia dado a Felipe um presente inestimável: a chance de ter sua família por perto em um momento tão importante. A família de Felipe passou parte daquela tarde conhecendo Londres, guiada pelo próprio Leopold, que se mostrava surpreendentemente atencioso.
Depois de explorar os pontos turísticos, o grupo seguiu para o hospital. No quarto de Guilherme, Felipe parecia ainda incrédulo com tudo que estava acontecendo.
— Eu sabia. — Guilherme sorriu de canto, os braços cruzados em uma pose descontraída.
— Você sabia? — Felipe perguntou, sem esconder o tom de indignação. — E não me contou nada!
— A culpa foi dele. — Guilherme apontou para Leopold, que apenas deu de ombros, tentando disfarçar um sorriso satisfeito.
Anastácia, mãe de Guilherme, se aproximou com um semblante calmo.
— Felipe, decidimos que era importante que sua família estivesse aqui. Conversamos com alguns amigos e conseguimos resolver os passaportes.
Maria, a mãe de Felipe, segurou a mão de Guilherme com firmeza, emocionada.
— É uma honra para nós estarmos aqui, de verdade.
Felipe olhou para todos, incapaz de conter o sorriso. Ele sabia que aquele gesto era muito mais do que um presente; era a prova de que sua união com Guilherme era respeitada e celebrada.
Enquanto isso, outra história se desenrolava. Dylan, que finalmente havia se livrado de Rebecca, enfrentava um novo dilema: Kaity estava o evitando. Magoadíssima, a jovem parecia determinada a manter distância. Dylan, no entanto, estava decidido a consertar as coisas e usaria o ensaio do casamento como uma oportunidade para falar com ela. Mas, a cada tentativa, recebia um corte diferente.
Paris observava a cena de longe, cruzando os braços com um sorriso divertido.
— Eu gosto da perseverança dele.
Wong concordou com um aceno de cabeça.
— Também gosto.
— Kaity bem que poderia perdoá-lo, né? — opinou Nariko, suspirando. — Ele já pagou pelo que fez.
— É uma decisão dela. — disse Felipe, de forma objetiva, enquanto se aproximava do grupo.
Wallace entrou no salão naquele momento, interrompendo o assunto com sua típica energia contagiante.
— Olá!
— Oi. Está tudo pronto? — perguntou John, que já ajustava os últimos detalhes para o ensaio.
— Acho que sim. — respondeu Felipe, olhando ao redor. — Leopold foi buscar Guilherme. Devem chegar a qualquer momento.
Wallace lançou um olhar de admiração ao ambiente.
— Este lugar é incrível.
O ensaio transcorreu tranquilamente, embalado pelo pôr do sol mais belo que muitos ali já haviam visto. Maria chorou várias vezes ao longo do evento, emocionada ao ver o filho, que enfrentara tantos desafios, prestes a viver um momento de felicidade plena.
No entanto, nem tudo era serenidade. Guilherme, ao se olhar no espelho do quarto, sentiu o chão fugir debaixo de seus pés. Ele encarou seu reflexo, observando com olhos críticos sua aparência — o cabelo ralo, os traços que lhe pareciam tão diferentes — e foi tomado por um ataque de pânico.
Leopold chegou a tempo de ampará-lo, envolvendo-o num abraço protetor.
— Calma, filho.
— A vovó tinha razão, pai. — Guilherme soluçou, as palavras saindo em meio a lágrimas. — O Felipe vai casar comigo por pena. Olha pra mim... Estou feio, careca... pareço um monstro. Não posso mais fazer isso.
— Relaxa, Guilherme. — Leopoldo segurou seu rosto entre as mãos, os olhos fixos nos do filho. — O Felipe te ama. Ele te ama de verdade.
Do corredor, Felipe ouvia tudo em silêncio. Sem se anunciar, se afastou do quarto, deixando pai e filho continuarem a conversa.
Na manhã do grande dia, Guilherme acordou com uma carta de Felipe, deixada sobre a mesa de cabeceira. Ele abriu o envelope com mãos ainda trêmulas e leu:
"Meu amor,
Quero honrar as tradições do casamento. Só vou ver o meu noivo no altar. Estou muito ansioso para me tornar seu esposo. Te amo!"
Guilherme sorriu e beijou o papel, sentindo o coração aquecido. Logo depois, Celestina entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã.
— Quem diria que eu viveria para ver o meu bebê casar. — disse ela, com um sorriso carinhoso.
— Para, eu tô emotivo hoje! — Guilherme respondeu, tentando manter a compostura.
— Você fez muito bem em escolher o Felipe. — Celestina sentou ao lado de Guilherme, lhe servindo uma xícara de chá.
— O cupido mandou bem, né? Acertou a flecha com força total.
— E quem disse que cupido usa flecha? — perguntou Celestina, arqueando as sobrancelhas.
— Todo mundo.
Eles riram juntos, deixando a tensão do dia escoar em meio à leveza daquela conversa.
— E você, Guilherme, preparado para o grande dia?
— Nenhum pouco, Celestina. Só espero que dê tudo certo. — desejou Guilherme.
Na casa de Guilherme, o caos reinava absoluto. Todos haviam decidido se arrumar lá, transformando o espaço amplo em um ambiente que parecia pequeno e sufocado. O burburinho de vozes, risadas e o som ocasional de secadores de cabelo preenchiam cada canto. Pedaços de tecido, acessórios e caixas de sapatos estavam espalhados pelo chão. O aroma de perfume misturado com café fresco e flores recém-trazidas deixava o ar vibrante e levemente adocicado.
No quarto principal, Anastácia encontrou Leopold sentado na beira da cama, se inclinando para amarrar o cadarço do sapato. Ele parecia perdido em pensamentos, o semblante pesado. Sem dizer nada, a mulher se aproximou e tomou os cadarços das mãos dele, completando a tarefa com cuidado antes de sentar ao seu lado.
— Eu não consigo imaginar como isso está sendo para você. — disse ela, com a voz suave, segurando a mão do marido. — Sei que, lá no fundo, você ainda luta contra isso.
Leopold suspirou, evitando o olhar dela.
— Eu demorei, mas aprendi a minha lição. Só queria ter aproveitado mais o tempo com o Guilherme. A minha mãe...
— Não. — Anastácia interrompeu firmemente, olhando-o nos olhos. — Você não tem nada a ver com aquela mulher. Você e a Melody são boas pessoas, Leopold. — ela apertou a mão dele com carinho. — Eu te amo e admiro mais a cada dia.
Ela se inclinou e o beijou, com ternura. Leopold tentou sorrir, mas as lágrimas já começavam a escorrer.
— Obrigado. — disse ele, a voz embargada. — Eu te amo tanto.
O restante da tarde passou em um piscar de olhos. No quarto de hóspedes, Wong e Dylan estavam ocupados ajudando Guilherme a vestir o fraque. O tecido de um azul profundo, cortado sob medida, parecia perfeito nele, destacando sua figura magra, mas elegante.
— Assim está bom? — perguntou Guilherme, se virando para os dois amigos enquanto ajustava a gravata borboleta no espelho.
Dylan deu um sorriso travesso.
— Você está muito gostoso. Só eu que tô sentindo a temperatura do quarto aumentar? — questionou Dylan, que usou um papel para se abanar.
— Você é como um super ímã sensual. — acrescentou Wong, rindo.
— Calem a boca, idiotas. — respondeu Guilherme, jogando uma toalha em direção a eles.
A porta se abriu, e Leopold apareceu com uma expressão séria, mas afetuosa.
— Com licença? Posso roubar meu filho por um momento?
Sem esperar resposta, ele fez um gesto para que Guilherme o seguisse. Juntos, subiram até o último andar do prédio, cinco andares acima do local onde a cerimônia aconteceria. O espaço era silencioso, com grandes janelas que ofereciam uma vista espetacular da cidade. A luz do fim da tarde tingia tudo com um dourado suave, refletindo nas superfícies envidraçadas e criando um ambiente quase mágico.
Leopold parou próximo a uma das janelas e olhou para fora, antes de se virar para Guilherme.
— Quando você era pequeno, eu costumava te trazer aqui para você dormir. Sua mãe ficava louca quando te via nesse lugar.
Guilherme deu uma risada curta, se aproximando do pai.
— Eu sempre gostei daqui. Lembro que vinha quando o senhor estava trabalhando.
Leopold sorriu, as lembranças aquecendo seu coração.
— Verdade. Você ficava naquele canto, cercado por seus brinquedos.
Os dois riram juntos, compartilhando um momento de nostalgia. Guilherme suspirou, e sua expressão se tornou mais séria.
— Pai, obrigado. Obrigado por não desistir de mim.
Leopold olhou para o filho, pegando suas mãos com firmeza.
— Não, Guilherme. — disse ele, com a voz embargada. — Eu que te agradeço por não ter desistido de mim. Sempre te amei, mesmo quando achava que não. Você é meu filho, um dos maiores tesouros que eu tenho neste mundo.
Ele beijou a testa de Guilherme, que já não conseguia conter as lágrimas.
— Pai... — Guilherme disse, a voz falhando, antes de abraçá-lo com força.
Os dois ficaram assim por longos segundos, compartilhando um momento de redenção e amor.
— Mesmo que o meu tempo com o senhor acabe, — continuou Guilherme, ainda abraçado ao pai — o senhor ainda tem o Kiran e a Kiara. Eles vão precisar muito de você.
Leopold assentiu, passando a mão na cabeça do filho.
— Eu sei. E já estou trabalhando nisso. — garantiu o homem, que tocou no rosto de Guilherme. — E quero que saiba, filho, que eu tive sorte de você ter sido meu.
— Pai. — Guilherme soltou, antes de abraçar Leopoldo. — Eu não vou ter lágrimas para o casamento.
Guilherme recuou um pouco, enxugando as lágrimas.
— Acho que devemos ir. Estou pronto.
Ele estendeu a mão para o pai, que a segurou.
— Eu não preciso te levar até o altar, né? — perguntou Leopold, tentando aliviar o clima.
— Não, pai. — respondeu Guilherme, com uma risada.
— Mas eu iria. — disse Leopold, com um sorriso sincero.
Os dois desceram juntos, prontos para o que seria um dos dias mais importantes de suas vidas.
O grande momento finalmente havia chegado. Todos estavam impecáveis, mas ninguém chamava mais atenção do que Guilherme. O nervosismo era palpável em cada gesto dele, e Leopold permaneceu ao seu lado, como uma âncora emocional. Do outro lado, Paris e John, os mestres de cerimônia, organizavam os últimos detalhes. Paris estava especialmente animado — e um pouco tenso. Era seu primeiro evento desse porte, e ele queria que tudo fosse perfeito.
As mães dos noivos haviam caprichado na produção. Maria, com lágrimas nos olhos, conferia os detalhes finais. Já Nariko, Wong, Kaity e Dylan aguardavam o momento de entrar ao lado de Felipe. A tensão entre Dylan e Kaity ainda era perceptível.
— Fala comigo, por favor... — implorou Dylan, com a voz baixa.
Kaity suspirou, sem encará-lo. — Você me machucou muito, Dylan. Eu só quero um tempo. Respeite isso.
Paris olhou para o relógio de pulso, impaciente. — Alguém ligou para ele?
John, que mantinha a calma, respondeu sem desviar os olhos da lista que segurava. — Ele disse que está subindo. Fica tranquilo.
Paris bufou e ajeitou o paletó. — Meu primeiro evento não pode dar errado.
— Que evento? — John arqueou a sobrancelha, divertido, antes de avistar Felipe entrando. — Ele chegou. Vamos lá, pessoal! Formação!
O grupo rapidamente se organizou. Nariko, Wong, Dylan e Kaity posicionaram-se para a entrada, enquanto John foi para o outro lado preparar a música.
As notas suaves de um piano ecoaram pelo espaço, anunciando o início da cerimônia. Todos os olhares se voltaram para Felipe, que entrou visivelmente nervoso. Ele tropeçou no tapete, mas se equilibrou antes de cair, arrancando risadas discretas da plateia. Usava um boné, o que fez Paris lançar um olhar aflito para ele, gesticulando discretamente para que o tirasse.
Felipe caminhou até Guilherme, que o aguardava no altar com os olhos marejados. Assim que os olhares dos dois se encontraram, Guilherme começou a chorar. Leopold e Anastácia, sentados na primeira fileira, deram as mãos em silêncio, emocionados. Maria chorava abertamente, enquanto os irmãos de Felipe registravam tudo com os celulares.
Ao chegar ao altar, Felipe pegou a mão de Guilherme e a beijou com carinho. Paris, mais uma vez, fez sinal para que Felipe tirasse o boné. Ele respirou fundo, hesitou por um instante, e finalmente o retirou.
Houve um momento de silêncio absoluto na sala.
— Gostou? — perguntou Felipe, com um sorriso nervoso, revelando sua cabeça raspada.
Guilherme levou a mão à boca, tentando conter o riso e o choro ao mesmo tempo.
— Você está louco? — murmurou, acariciando a cabeça de Felipe.
Felipe segurou a mão dele com firmeza. — Você não é feio, Guilherme. Não deixe ninguém te dizer o contrário.
O juiz de paz, Wallace, pigarreou e começou. — Podemos prosseguir?
A cerimônia foi um espetáculo de amor e emoção. Wallace, em um tom sereno, falou sobre o amor entre dois homens com palavras que tocaram o coração de todos os presentes. Até Leopold, que tentou resistir, acabou derramando algumas lágrimas. Anastácia, já preparada, estendeu um lenço para o marido, sorrindo com ternura.
— Agora, o momento das alianças. — anunciou Wallace.
Tchubirubas, o pequeno cachorro, entrou vestindo uma roupinha sob medida, carregando as alianças em um delicado estojo preso ao dorso. A plateia suspirou encantada.
Felipe abaixou-se, retirou as alianças e, antes de colocá-las, virou para Wallace. — Antes de me casar com este pedaço de mal caminho, preciso dizer algumas coisas.
Guilherme sorriu, o rosto ruborizado.
— Claro. Pode falar. — respondeu Wallace, com um aceno de aprovação.
Felipe respirou fundo, segurando a mão de Guilherme. — Guilherme, eu te amo. Não consigo nem descrever o misto de emoções que sinto por você. Passamos por tantas coisas juntos e, sob este lindo pôr do sol, quero dizer que você é a pessoa mais importante da minha vida. Você pegou aquele menino desastrado e inseguro e o transformou em um homem. Não sei o que o futuro nos reserva, mas prometo que vou te amar até o fim.
Wallace pegou no ombro de Guilherme, que tinha os olhos brilhando de emoção.
— E você, Guilherme? Deseja dizer algo?
— Felipe... — começou ele, com a voz embargada. — Eu te amo. Nossa história começou de forma tão incomum que ainda me surpreendo. Não imagino o pouco tempo que me resta sem você ao meu lado. Você me ensinou a ser forte. Se estou enfrentando essa doença de cabeça erguida, é por sua causa. Seu sorriso é a coisa mais linda que já vi. Quero que ele seja uma das lembranças que levarei comigo. Aqui, com todos que amamos, sinto que somos poucos, mas rodeados de amor. E é isso que quero levar comigo.
Wallace, emocionado, respirou fundo antes de concluir.
— Agora, vamos à troca de alianças.
Felipe segurou a aliança e repetiu após Wallace:
— Guilherme, eu te aceito agora...
— Como meu esposo... prometo te honrar...
— Prometo te amar... ser fiel a você...
— Na pobreza e na riqueza...
— Na saúde e na doença...
— Na alegria e na tristeza...
— Até que a morte nos separe.
— Eu os declaro marido e marido. — anunciou Wallace, que sorriu e piscou para os noivos.. — Agora, o momento que todos estavam esperando... o grande beijo.
Guilherme e Felipe entrelaçaram os dedos antes de se beijarem. A plateia aplaudiu de pé, e o amor deles parecia iluminar todo o salão sob o céu alaranjado do fim de tarde.