POR AM❤R - Último Capítulo - Parte 01

Um conto erótico de Vitor Gabriel ☑
Categoria: Homossexual
Contém 10387 palavras
Data: 12/06/2017 19:13:05

✔ NÃO DEIXE DE DAR O SEU VOTO! ELE É MUITO IMPORTANTE.

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Olha quem voltou! Isso mesmo, euzinho aqui.

Sim, eu sei que vocês estão querendo me colocar na forca pelo fato de passar mais de seis meses sem dar as caras por aqui, mas antes tarde do que nunca, não é? A primeira vista, eu iria explicar os inúmeros motivos de me fazer postar quase meio ano depois, que incluem doença, problemas na família, faculdade, trabalho e, não esquecendo, a famosa ressaca literária que os autores sempre tem. Sendo assim, felizmente, não vou fazer aquele textão detalhando cada passo da minha vida durante esse meu sumiço, explicando o que aconteceu e o que deixou de aconteceu nesse tempo, porque deve ser chato para vocês, eu sei que me entendem e sabem que não estou mentindo, e graças a Deus, tudo está entrando nos eixos, exceto a parte da faculdade, só Jesus para me proteger, porque o negócio tá puxado, hein? Em vez de melhorar, piora.

Era para eu ter postado aqui desde Sexta-feira, dia 02 de Junho, mas por conta de problemas na minha internet, só pude postar hoje aqui na Casa dos Contos. Bom, finalizando, quero agradecer a cada leitor pela força, por cada elogio, por sempre está me acompanhando, entrando na onda, votando, me ajudando, me fazendo rir, chorar, fazendo críticas positivas e não desistindo de mim. O capítulo está gigantesco, tanto é que o dividi em DUAS PARTES para não ficar mais cansativo do que já está, peço MAIS UMA VEZ que me perdoem pela demora, eu sei que alguns leitores estão muito chateados, mas eu creio que este capítulo vai valer a pena por ter demorado tanto, e vou fazer de tudo para a SEGUNDA e ÚLTIMA parte do DESFECHO de Por Amor ser postada o mais breve possível.

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COLONIA PENAL FEMININA DO RECIFE

O instituto Bom Pastor, localizado na Zona Oeste da capital Pernambucana, tem capacidade para abrigar 200 detentas, sendo que hoje, abriga 691 presas, de acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários de Pernambuco (Sindasp-PE).

Já era tarde da noite na colônia, e ao contrário do que imaginávamos, havia uma festa regada a álcool e drogas realizada pelas presidiárias da cadeia. Uma presa filmava tudo que estava acontecendo através da câmera de um celular de última geração. Nas primeiras imagens, o vídeo mostra uma detenta falando ao celular, no meio do corredor da unidade. Outras presas estão em volta. Em seguida, a câmera focaliza uma das celas vazia, mas logo foca em outra cena, esta que estava com várias mulheres dentro, o espaço está ornamentado com panos e tem paredes pintadas em várias cores.

— Aqui é o bonde do prato! – Gargalhava — Cuidado com esse prato, mulé.

Dizia enquanto filmava algumas mulheres cheirando algo que se assemelha à cocaína.

— É massa!

Declara outra presidiária enquanto exibia cigarros de maconha. Depois das imagens captadas na cela, a câmera focaliza, de novo, a festa no corredor da unidade. O som alto, de uma música brega, vem de um pequeno aparelho e anima as mulheres. Elas dançam, bebem e tiram fotos.

— Cadê a Madre Tereza de Calcutá?

A câmera trêmula filmava uma das presas mais respeitada, Dadá, como era chamada, perguntando para outra detenta o paradeiro de Severina.

— Ela quis ficar quieta na cela dela, vamo deixar ela...

— Vamos deixar ela é o caralho! – Interrompeu se levantando furiosa — Eu disse que era para todo mundo comemorar o meu aniversário nesta merda. Já é a terceira vez que ela me afronta, mas agora vai ser a última, eu vou acabar com ela.

— Deixa disso Dadá! – A câmera focava no rosto da traficante.

— Está todo mundo se divertindo, deixa isso para lá – Gritou.

A presa, que tinha cabelos curtos e raspados nas laterais, usava bermuda e camisa masculinas, andou apressadamente em direção a cela onde Severina ficava presa, sendo seguida pela "cinegrafista", que filmava toda a festa, e posteriormente o vídeo iria acabar sendo viralizado na internet. Chegando ao local, as duas presas estranharam não ver a ex-empregada na sua cama, como era de costume, mas ao olharem a grade da minúscula janela do banheiro, viram nela um pedaço de fio de energia amarrado, neste momento ouvia-se um "Não" da mulher que filmava, seguido por uma tremedeira, Dadá correu em direção ao banheiro, e ao chegar próximo, colocou as duas mãos na boca e olhou para a câmera que tinha ficado no começo da cela.

— Vem ver isso, Lana! – Disse a chamando.

A câmera tremeu mais ainda.

— Eu... Eu acho que eu não quero ver isso – Murmurou. — Ela... Ela tá morta?

Dadá não falou mais nada e saiu em silêncio. Lana deu um suspiro significativo e se aproximou da cena, a cena que ficaria marcada na mente pelo resto da sua vida, por mais que ela já tenha presenciado coisas piores. A câmera, que tremia mais que você quando está apresentando seminário, começou a se aproximar lentamente do banheiro e logo captou uma cena muito triste.

— Minha nossa! – Lana colocou a mão esquerda na boca totalmente espantada.

A lente da filmadora do celular mostrou um corpo flutuando a poucos centímetros do chão, as duas mãos seguravam o fio de energia enrolado no pescoço num ato de desespero, e os olhos, já sem vida, totalmente abertos. Sim, era o corpo da Severina.

(•••)

— CremDeuspai!

O jovem acorda ensopado de suor de mais um pesadelo aterrorizante. Dessa vez Lucas tinha sonhado que estava dentro de um carro em chamas, diferente dos outros pesadelos, Max estava presente nitidamente e sorria para o ex-namorado enquanto seu corpo ardia nas chamas, fazendo arrepiar-se dos pés a cabeça.

— Eu não aguento mais esses pesadelos. O que eles querem me dizer, meu Deus?

Lucas não aguentava rolar de um lado para o outro na cama e resolve ir até a cozinha beber água. Chegando lá, o caçula da Dona Josefa pega um copo do tipo alumínio, o preferido do jovem, abre a geladeira e de lá tira uma garrafa de vidro azul Frutti, daquelas bem antigas da marca Cisper, enche até a borda, entornando o recipiente em seguida.

— Filho?

Dona Josefa aparece na cozinha como um fantasma, fazendo o filho pular de susto.

— Ai que susto, mãe?! – Disse com a mão no peito.

— Misericórdia, menino! Tas devendo? – Sorriu.

— Não, né? A senhora que aparece feito um "malassombro" – Disse terminando de beber o resto da água.

— Perdeu o sono, foi? – Indagou enquanto enchia o seu copo de água.

— Aqueles pesadelos de novo. – Suspirou.

— Ave maria, menino! Acho que vou fazer uma promessa a Nossa Senhora da Conceição para você parar com esses pesadelos, tadinho – Sorriu — Sabe o que é isso? Você inventa de comer cuscuz antes de dormir, como ontem, lembra? Eu já disse mais de mil vezes que não é para comer nada pesado antes de ir para cama.

— Ai mãe, isso é superstição. O máximo que pode acontecer comigo é uma indigestão. – Falou — Eu ainda estou meio chocado com a morte da Kelly lá da empresa, deve ser isso também, fui dormir com isso na cabeça. – Disse a verdade.

— Não fique assim, Lucas! Infelizmente chegou a hora dela, por mais que seja trágico ela morrer carbonizada, mas nós nunca devemos questionar a vontade de Deus. Com certeza ela está melhor que a gente aqui – Sorriu.

— Ou não – Pensou alto.

— Oi? – Dona Josefa não tinha escutado.

— Nada! – Lucas desconversou.

— Eu vou preparar um leite gelado para você dormir – Disse indo em direção ao armário — mas com pouco açúcar para não dar mais energia e você não dormir – Riu.

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• Narrado por Lucas:

— Tchau, mãe! Já vou indo

Me despedia enquanto via minha genitora cortando a galinha, mesmo fazendo apenas algumas horas que o dia amanheceu. Curioso, me aproximei e vi minha mãe jogando colorau em algumas partes da ave.

— Você vai sair sem tomar café, meu filho? – Questionou.

— Eu acordei em cima da hora eu como alguma coisa por lá mesmo – Disse.

— Não vai comer besteira, hein? Fica comendo essas porcarias por aí e depois tá doente.

— A senhora vai fazer o que para o almoço, mainha? – Mudei de assunto olhando para a galinha.

— Galinha guisada – Sorriu — O prato de favorito do Hugo.

O quê?

— Hu-Hugo vem aqui? – Inquiri.

— Sim! Na verdade, ele vem para consertar aquelas telhas lá de trás – Se referia a área de serviço da casa.

As borboletas do meu estômago começaram a se agitar quando imaginei Hugo, com aquele porte, aquele peitoral, aquelas tatuagens, molhado de suor, de bermuda com parte da cueca aparecendo e depois me pegando de quatro e me fo...

— Então aproveitei para fazer o prato favorito dele, não é? – Dizia enquanto ligava o fogão.

Voltei à realidade.

— E o meu também, Dona Josefa! – Lembrei com resquício de ciúmes em minhas palavras.

— Deixa de ciúmes, menino! Eu vou guardar alguns pedaços para você no jantar.

— Acho bom! – Falei com aquele famoso bico.

— Aproveitei e também chamei a Dona Vilma e a Rose, pelo menos eu não almoço sozinha. – Sorriu.

Senti meu coração apertar com a indireta dela.

— Ai mãe! Não fala assim que eu fico arrasado – Disse fazendo mais drama ainda — A senhora sabe que se eu pudesse, largaria tudo para vir almoçar com a senhora – Falei a verdade — Mas infelizmente eu não posso.

— Eu sei meu filho, eu não estou reclamando disso, pelo amor de Deus! – Me abraçou.

— Está certo, mãe! – Retribuí o abraço — Agora vou embora, se não eu perco o bendito ônibus.

— Vai, meu filho! – Me beijou no rosto — Vai com Deus!

Me despedi da minha mãe ali no portão de ferro antigo e fui descendo o morro em direção a parada do ônibus que me levaria ao meu compromisso diário, que seria o meu estágio. Descia a pequena ladeira do Morro da Conceição, quando me deparo com Juninho na frente da casa dele conversando com um dos seus amigos, o Ricardo, que, aliás, nunca gostei deste, e também acredito que o desgosto não é só da minha parte.

— Olha ele aí - Disse o amigo com cara de deboche direcionada a mim.

O que me fez estranhar, foi que um dos meus melhores amigos também me olhou com deboche, O que me fez estranhar este fato, mas não foi motivo de deixar de falar com o meu amigo.

— Bom dia! - Cumprimentei os dois.

— E aí, Lucas! - Ricardo tocou no meu ombro — Dando muito essa bunda? Bem que eu já desconfiava.

Gargalhou maliciosamente.

— Por que a pergunta, Ricardo? - Questionei com ironia — Quer dar a sua para mim?

Não sei porque, mas desde que passei a aceitar ainda mais a minha sexualidade, passei a abominar esse tipo de brincadeira, ainda mais vindo de pessoas que não tinha o mínimo de liberdade comigo. Eu sei que não deveria revidar e ficar na minha, mas não consegui, eu tive que responder.

— Como é?

Gargalhei sentindo a raiva aumentar dentro de mim, sentindo a minha boca até tremer de tamanha irritação. Após eu ver o rosto da pessoa que estava na minha frente ficar bastante vermelho, ao ponto de partir para cima de mim, entretanto, Junior o segurou para não cometer nenhuma besteira, senti minha raiva aumentar ainda mais com essa atitude no mínimo nojenta vindo da parte daquele ser deplorável.

— Para com isso, Ricardo! – Juninho se irritou — Vai querer brigar aqui?

A todo momento, o meu amigo sequer olhava para mim.

— Esse viado... - Disse apontando o dedo indicador para mim — está merecendo levar uma coça para tomar jeito de homem.

Confesso que fiquei muito chateado pela raiva que sentia vindo do Ricardo. Eu nunca fiz nada que prejudicasse ele, ou melhor, eu mal direcionava uma palavra sequer ao rapaz e ele praticamente me odeia com todas as forças, aliás, praticamente não, ele me odeia com todas as forças.

— Lucas, o que você veio fazer aqui? - Perguntou Junior notoriamente irritado.

O que eu vim fazer aqui? Junior, o que diz ser meu amigo me faz esse tipo de pergunta, era como se eu fosse um estorvo, como se eu fosse indesejado ali, então simplesmente me virei e segui o meu rumo, até que Ricardo falou em alto e bom som, fazendo-me parar na hora.

— Com certeza ele está atrás de macho, Juninho! – Riu debochado — Que nem aquele que nós vimos no carro, mas aqui ninguém é bicha – Gargalhou.

Coragem. Essa palavra não existia no meu vocabulário no momento que ele revelou isso. Em vez de me virar, questionar o que ele viu, ou até tentar reverter a situação, eu fiz justamente ao contrário, continuei andando. Ele estava dizendo a verdade, o que eu iria mais fazer? Eles me viram beijando o Max.

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• Narrado pelo AUTOR:

Um pouco longe dali...

— Alô?

Max atende com uma voz um tanto sonolenta.

— Quem?

— Moreira? – O empresário bufou — O que ele quer?

O milionário escuta a funcionária falar do outro lado da linha com uma cara nada agradável.

— Eu ainda nem saí da cama – Falou — Ele que me espere, diga que estou a caminho.

Finalizou e desligou a ligação sem ouvir a resposta do outro lado.

— O que aconteceu, gostosão?

A voz fina de uma pessoa com a mesma cor e provavelmente a mesma idade do protagonista da história se destacou no quarto, era Jonas, um garoto de programa que o Max tinha contratado na noite anterior.

— Não é da sua conta! – Bradou se levantando totalmente pelado da cama.

— Você parece tenso – Comentou se levantando também — Quer que eu faça uma massagem?

— Eu quero que você pegue suas coisas e suma daqui! – Disse direto.

O garoto parece não ter gostado muito do que ouviu.

— Mesmo depois de tudo que você me fez ontem? Eu não mereço um carinho?

Max fitou o rosto do mais novo e se aproximou.

— Jonas, deixa eu te lembrar de alguns detalhes – Disse acariciando o pequeno ferimento no canto direito da boca do parceiro — Você está sendo pago para isso - Disse pressionando levemente o lugar — Eu te chamei e você veio – Pressionou ainda mais arrancando um uivo de dor do prostituto — Você é um garoto de programa e se submete a esses tipos de coisas.

Os olhos do acompanhante se encheram de lágrimas.

— Ma-Max...

— Garoto, você é pago apenas para eu dar vazão a todo meu estresse, ou seja, lhe foder até eu tiver vontade. E não, não importa se eu te beijei, não importa se eu falei "Eu te amo" ou outras palavras de carinho, nada muda, com toda certeza eu te digo que não é para você aquelas palavras. Eu estou te pagando e você está oferecendo os seus serviços. Nada a mais que isso!

O michê fechava os olhos a cada palavra que o atual presidente da Emmiah disparava contra ele, o fazendo lembrar de cada estocada, dos vários puxões de cabelo enquanto estava de quatro, das várias palavras carinhosas e ao mesmo tempo devassas e, por fim, das marcas dolorosas deixadas por ele em seu rosto, naquela noite.

— Vai, anda logo! Eu que tenho muita coisa para fazer hoje, já vi que o dia vai ser longo – Disse.

Quando o jovem "garoto de aluguel" terminou de vestir sua blusa, sentiu um misto de sensações, e nenhuma delas eram boas. Após limpar a primeira gota de lágrimas que insistia em descer, escutou a voz do Max:

— O dinheiro está em cima do sofá. – Ouvia a voz abafada de dentro do banheiro — Incluindo um extra pelos tapas que dei em você. Obrigado e fecha a porta da sala quando sair, qualquer coisa eu ligo para você. Valeu pela foda! – Falou.

Ouvindo tudo aquilo, Jonas seguiu até a sala da luxuosa cobertura e viu uma quantia farta em cima do móvel, tudo em dólares, mas o garoto estava com a cabeça fora dali, repensando em várias coisas.

— Você me paga, Max! Pode até demorar, mas ainda vou assistir sua derrota de camarote.

Disse ao fechar a porta.

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• Narrado por LUCAS

Um pouco distante dali...

O que será que vai acontecer dali por diante? Se Juninho tinha alguma dúvida em relação a minha sexualidade, agora ele não tem mais. Pelo que eu ouvi, os dois, ele e o Ricardo, presenciaram o beijo que o Max roubou de mim naquele carro, será que ele vai contar para todo mundo no morro? Eu fico até arrepiado em pensar nessa possibilidade, ou pior, eu tremo na base se o assunto vai parar nos ouvidos da minha mãe. Pensava nisso tudo em quanto via as pessoas, os carros, edifícios e inúmeros empreendimentos passarem diante dos meus olhos através da janela do ônibus pouco confortável.

— Olha póca salgadidoce, pastilha e chocolate da nestrê – Gritava um vendedor dentro do ônibus.

— Será que o Juninho vai deixar de falar comigo? – Me questionei.

— Vai querer, bença? – Perguntou o moreno que usava um boné bem surrado.

— Não, obrigado!

Agradeci simpaticamente enquanto os pensamentos fervilhavam na minha mente, pensamentos que me deixavam bastante incomodado.

— Droga!

Como um ninja, dei um salto da cadeira que estava sentado, esbarrando numa mulher que sentava ao meu lado com uma enorme sacola que tomava quase o espaço todo, aliás, onde diabos essa criatura iria com esse trambolho? Enfim, puxei a cordinha a tempo de descer na parada e fui andando tranquilamente em direção ao enorme empresarial, quando uma senhora, que não devia ter mais que sessenta anos, me aborda segurando forte o meu braço, ela olhou nos meus olhos e segurou o meu rosto com uma das suas delicadas mãos.

— Não se abata, filho! Não fique triste. Principalmente pelo que virá.

Falou me deixando totalmente arrepiado.

— Você ficará arrasado pela partida, irá se revoltar pelas circunstâncias da morte, mas tem que seguir a sua vida. Infelizmente o destino desta pessoa já está traçado. Ore muito!

— Eu não sei o que a senhora...

— Deixa-me ver a sua mão

Interrompeu, segurando a minha mão direta com firmeza, mesmo contra a minha vontade.

— Eu estou atra...

— Hum... Linha da vida firme, porém... – Suspirou — Aperta mais a sua mão, filho. Só para ter certeza.

Apertei.

— Isso! Cruz... – Disse olhando para a minha mão de escrever.

— Cru-Cruz? – Indaguei sentindo a minha voz desaparecer.

— Sim, várias cruzes na sua mão.

Falava enquanto mostrava algumas pequenas linhas discretas que realmente se pareciam com uma cruz.

— Eu... Eu vou mo-morrer?

A mulher ficou em silêncio.

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• Narrado pelo AUTOR

Enquanto isso...

Max terminava de vestir sua calça social ao mesmo tempo que olhava sua imagem num enorme espelho.

— Ah, Lucas! – Suspirou — Queria tanto ter você aqui comigo.

Falava enquanto via seu reflexo passar as duas mãos pelo corpo bem trabalhado.

— Você vai ser meu, Lucas! Custe o que custar.

Foi quando lembrou da noite com o garoto de programa. O empresário assistia as imagens do coito da noite anterior através do espelho, onde ele o pegava de quatro, socava fundo, violento, ao mesmo chamava o nome do amor da sua vida, no qual era perdidamente apaixonado, Lucas. Tudo piorou quando ele começou a ver o rosto do amado no lugar do prostituto, foi quando começou a beija-lo e, por fim, despejou rios de espermas na camisinha.

— Olha como você me deixa, Luquinhas! – Disse falando para o seu reflexo no espelho.

— Que tesão, caralho!

Disse apalpando o volume na calça social que pendia para o lado esquerdo.

— Você me deixa louco!

Max não aguentou e abriu o zíper da calça que vestia, deitou-se na cama, abriu as pernas e começou a se masturbar violentamente, assistindo as imagens que se faziam na sua mente. Quando a sua verga começou a dar sinais que chegaria ao clímax, o bonitão se levantou imediatamente com o membro apontado para cima, deixando um fio pré-ejaculatório teimoso atingir o chão.

— Cadê você? – Dizia enquanto procurava alguma coisa no guarda-roupas — Aqui está você!

Logo se viu uma substância duvidosa, um pó na cor branca, espalhada em cima de um móvel. Com ajuda de um cartão de crédito, o empresário começou a juntar a "farinha", como ele mesmo a chama, formando duas "carreirinhas", como é dito no linguajar popular. Após tudo isso, ele pega uma nota de dinheiro, a enrola, formando uma espécie de canudinho, aproxima do seu nariz e em seguida inala tudo.

— Ahhhhhhh! – Suspira — Isso! – Geme esfregando o seu nariz com uma das suas mãos.

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• Narrado por LUCAS

Longe dali...

— Hein? Eu vou mo...

— Tome cuidado com as pessoas a sua volta, Lucas! – Disse me interrompendo.

— Cuidado com...

— Essas pessoas podem machucar você – Me interrompeu novamente.

— Mas...

— Na verdade – De olhos fechados, ela apertou a minha mão direita mais forte ainda — é uma única pessoa que pode te fazer muito mal, mas muito mal mesmo – Ela abriu os olhos e me encarou — Você passará por muitos sofrimentos, cuidado com a sua saúde física, mental e espiritual.

Eu estava simplesmente impactado com todas essas revelações.

— Linha do coração!

Com seu dedo indicador, a estranha acompanhou uma linha abaixo do dedo mindinho que iria até um pouco depois do dedo médio. Uma linha bastante forte. O que ela iria falar?

— Quanto mais longa, mais emotiva é a pessoa, ou seja, você deve ser bastante sentimental.

Que mentira, gente!

— É uma linha bifurcada, ou seja, terá dois casamentos ou dois amores.

Misericórdia!

— Estou vendo algumas bolinhas também - Disse.

— Bolinhas? – Estranhei.

— Isso - Sorriu para mim — Você está vendo? - Me mostrou — São essas bolinhas.

Realmente, tinham duas bolas na linha, não perfeitamente, mas tinham.

— Você está bastante triste em relação ao amor, a sua alma gêmea - Falou.

Agora é oficial, eu estou com medo.

— Err... Eu... Eu preciso ir – Sorri totalmente sem graça — Estou tão atrasado.

A velha sorriu para mim.

— Eu agradeço pela sua gentileza, a senhora é bastante sábia.

— São apenas 50 reais, filho! – Disse estendendo a mão.

— O quê? – Disse um pouco exasperado vendo a mulher gargalhar.

— Eu estou brincando, Lucas! – Sorriu mais ainda — Vá na paz, filho!

— Tcha-tchau – Me despedi.

Me distanciei um pouco da mulher, até que ela grita.

— Lucas?

Me virei para olha-la.

— Perdoe! – Sorriu amigavelmente — Perdoar faz bem para a nossa alma, deixa ela mais leve.

A louca disse isso e se virou. Eu hein?

— É cada uma que me aparece, só falta eu me virar e ela desaparecer que nem nos filmes.

Dito e feito.

— Mentira, né? Cadê as câmeras filmando a pegadinha? – Falei olhando para todos os lugares.

Quando vi que não era uma pegadinha, senti um arrepio da ponta dos dedos do meu pé até o meu último fio de cabelo, e claro, uma agonia no meu peito, espero que seja um infarto mesmo.

— Deus é pai! Pai nosso que estás no céu...

(•••)

Ainda se ouvia todo o burburinho da morte da Kelly logo quando cheguei no Hall social do empresarial, mas é compreensível, já que fazia pouco tempo que estávamos sabendo do fatídico acontecimento, mais precisamente na tarde de ontem, possivelmente hoje seria o enterro da técnica administrativa.

— Bom dia!

Cumprimentei o segurança que estava ao lado de uma das catracas, este que me olhou atravessado por estar um pouco atrasado, mas não dei bola. Assim que saí do elevador no andar onde eu estagiava, dei de cara com Izabel, que foi logo gritando.

— Menino, hoje só vai ter meio expediente, acredita? – Comemorou — Amém, senhor!

— Sério? – Perguntei enquanto caminhava pelos corredores com ela a tiracolo.

— Sim, menino! Por causa do babado de Kelly, aí parece que o enterro vai ser de tarde, então o Luan comunicou que hoje teremos apenas meio expediente – Disse jogando seus cabelos loiros para o lado.

— Izabel, pelo amor de Deus, né? Tá certo que ela não era muito flor que se cheire, mas imagina que horrível a pessoa se acabar num acidente desses? Logo ela que era tão jovem, bonita e ainda tinha toda a vida pela frente, daí isso tudo acaba em menos de 24 horas? Eu ainda estou impressionado com tudo isso.

Disse a verdade.

— Que Deus me perdoe! – Se benzeu duas vezes — Apesar de eu detestar aquela va... Kelly, eu também ainda estou meio chocada com a rapidez de tudo que aconteceu. Bom, que Deus a tenha, não é?

— Pois é, que Deus a tenha – Falei mais para mim mesmo.

— Ou o Diabo, se ela estiver num plano não tão superior.

Quando Izabel acabou de dizer isso, as luzes do corredor se apagaram e acenderam rapidamente.

— UI! Está repreendido em nome de Jesus, amém – Izabel gritou apressando os passos me fazendo rirAssim que entrei na pequena sala onde eu trabalhava, não sei se foi impressão minha, mas notei um clima pesado, quer dizer, o ambiente já não tinha aquele ar leve, mas agora quando pisei naquele departamento, senti meus pelos se ouriçarem, me fazendo estranhar o fato.

— É estranho, não é? – Leonardo se direcionou para mim. — Ver a mesa dela assim vazia.

Apenas olhei para ele e fui em direção a mesa que eu costumava ficar.

— Eu pensei que você fosse mais evoluído – Continuou a falar — Vai continuar assim, nem ao menos vai me dar um bom dia? – Disse em tom de deboche — Tá certo que eu fui rude com você...

— Rude? – Gargalhei interrompendo — Você praticamente quase me mandou ir a forca aqui na empresa.

— Também não exagere – Disse — Você faria a mesma coisa se tivesse no meu lugar,

— Olha aí, mais uma concepção errada sobre a minha pessoa. Não sou igual a você, cara! Até mesmo depois de comprovado que definitivamente eu não tinha roubado o seu celular, você ainda continuou soltando gracinhas para o meu lado, me julgou por morar numa comunidade humilde, me julgou por ser estagiário e ainda falou inverdades ao meu respeito, aliás, acho que eu já repeti isso várias vezes.

— Ai, Lucas! – Disse coçando a cabeça — Você leva as coisas muito para o lado pessoal.

Foi quando lembrei da velha louca me aconselhando, parece até que estou ouvindo a voz dela.

"Perdoe! Perdoar faz bem para a nossa alma, deixa ela mais leve. "

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• Narrado pelo AUTOR

Poucos metros dali...

— Bom dia, delegado! – Max o cumprimentou assim que chegou — Faz tempo que chegaram? – Perguntou com deboche nas palavras — Vim o mais rápido que pude, mas o trânsito infernal do Recife não deixa.

— Podemos conversar? – Moreira ignorou e apontou para a porta com a cabeça.

— Ah sim, claro! – Max abriu a porta para o delegado e mais dois policiais passarem.

— Vocês podem esperar aqui fora mesmo, não tem problema.

Disse para os dois policiais que o acompanhara.

— Então, delegado Moreira? Algum problema que eu possa ajudar?

— Eu vou direto ao assunto, até porque tenho muita coisa para resolver hoje – Bufou — Uma funcionária sua morreu num acidente automobilístico na madrugada do dia anterior. O defunto atende por Kelly, Gleicy Kelly, trabalhou bastante tempo aqui e um passarinho verde me contou que vossa senhoria já manteve um relacionamento com ela, certo?

— Passarinho verde – Max riu com deboche — Onde você quer chegar com isso... Delegado?

— Além de acidente, também estamos trabalhando com a hipótese de homicídio, porque achamos este isqueiro no local do crime – Disse mostrando um saco plástico transparente com a evidência dentro

Max não demonstrava reação alguma.

— Aí estávamos olhando algumas imagens da câmera de uma madeireira próximo ao local do acidente, quando ela flagrou o carro da vítima passando, segundos depois passou um carro todo apagado atrás. Infelizmente não conseguimos mais imagens, até porque, por ironia do destino – Debochou — a via que aconteceu o desastre ainda está em obras e não existe vigilância alguma. Não é engraçado? – Riu — Mas para você como são as coisas, nós pegamos essa imagem do carro que provavelmente a perseguia, aproximamos e através de um tratamento na foto, tivemos uma surpresa por se tratar de um carro seu.

Max a todo momento demonstrava frieza.

— E claro, você veio o mais rápido que a luz para me prender, não é? – Perguntou.

— Eu só estou fazendo o meu trabalho, Max! – Disse o encarando.

— Seu trabalho... – O milionário sorriu — Eu sei que isso é bem mais que um trabalho para você, na verdade isso mais pessoal do que profissional, acertei? Você guarda muito rancor de mim. Eu já te falei e sempre vou dizer isso a você, eu não tive culpa alguma com o que aconteceu com seu filho, delegado Moreira.

— Não tente levar a nossa conversa para esse lado, Max! Você sabe o que eu penso de tudo isso, eu tenho certeza que você contribuiu e muito para a desgraça cair em nossas cabeças – Falou.

— Eu não o matei! – Max foi categórico — Eu amava muito o seu filho.

— Você matou sim! Desde que você apareceu na vida dele, foi matando o meu filho aos poucos, até acontecer o que aconteceu. Eu deveria ter acabado com você na mesma hora que ele começou a aparecer com aqueles machucados. – Disse já descontrolado — Eu deveria ter mandado você para o quinto dos infernos quando apareceu em nossas vidas, meu filho era feliz sem saber que você existia, maldito seja o dia que você o notou, eu tenho certeza que ele não estaria a sete palmos.

Max ficou um pouco desconfortável.

— Você sabe muito bem que eu não tive nada a ver com aqueles machucados, ele mesmo se auto agredia para chamar minha atenção. Antes de acontecer... de ele... do Enzo vir a falecer, o nosso relacionamento vinha se desgastando. Ele explodia por qualquer coisa, tinha crises de ciúme e começou a fazer isso. Até exame de corpo de delito ele se recusava a fazer, porque certamente encontrariam vestígios de uma autoagressão.

— O Enzo se recusava porque ele tinha medo de você, Max! – O delegado rebateu. — Você o ameaçava.

— Você está completamente errado. Nunca levantei uma mão sequer para o seu filho. Eu amava o Enzo!

— Eu nunca fui um pai muito presente, até nessas horas eu fui omisso – Disse o ignorando.

— Isso de pai presente, realmente eu tenho que concordar, até porque...

Max falava com sarcasmo quando o delegado interrompeu.

— Chega! – O delegado interrompeu — Você não vai me fazer fugir do real motivo de eu estar aqui. Anda, está convidado de vir comigo até a delegacia para esclarecer algumas coisas – Falou — Me acompanhe, por favor.

— Eu não vou arredar o pé daqui! Você está encontrando um jeito para me punir, você quer me incriminar por uma coisa que eu não cometi. Se a morte da minha funcionária foi ou não foi um acidente, eu não tenho nada a ver com isso. Ela tinha a vida dela, tinha os namorados, amigos e inimigos, porque só eu seria suspeito?

O delegado iria retrucar, mas quando iria falar, Max se levanta da sua cadeira e vai em direção a um pequeno armário que ficava em um canto da sala, de lá ele tira um grande envelope amarelo.

— Sim, aquele carro que você viu na câmera era o meu – Falou jogando o envelope em seu colo.

— Que merda é essa? – Indagou olhando para o mesmo envelope.

— Abra! – Max ordenou.

A autoridade, ainda com um resquício de raiva no seu rosto, com um pouco de grosseria, rasga o envelope.

— Um B.O? – O delegado perguntou sem acreditar.

— Exatamente! Logo quando eu fui roubado, claro que eu procurei a delegacia mais próxima.

— Roubaram o seu carro? – Questionou — Justo nesse dia?

— Você queria que me roubassem quando, senhor delegado? – Foi sarcástico.

O delegado continuou a analisar o documento de cabo a rabo.

— Pode investigar o quanto quiser, delegado. O documento é legítimo, como você pode ver. Além desse boletim de ocorrência, ainda tenho um álibi. Eu estava com um conhecido meu, busquei ele na faculdade, jantamos e ainda o levei para a sua casa, depois que eu fui embora que aconteceu o assalto.

— Quem me garante que você está falando a verdade, Max? Você poderia muito bem ter deixado o seu amigo lá e fazer o que tinha que ser feito. Isso não te isenta em absolutamente nada.

— Bom, aí é com você! Eu tenho provas de que eu sou inocente, no entanto você não tem prova alguma que eu cometi o crime. Você está procurando fios de cabelos em ovo. Por acaso apareceu o meu rosto na filmagem do carro? – Inquiriu — Assaltos acontecem todos os dias, ninguém tá livre disso.

— Quem é esse seu álibi? – Investigou — Quero vê-lo.

— Com todo prazer – Disse levando o telefone sem fio em direção ao seu ouvido.

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• Narrado por LUCAS

Ainda no edifício...

— Tá bom, Léo! – Suspirei pesado — Eu vou procurar virar essa página para o bem do nosso convívio.

— Agora sim eu vi firmeza – Sorriu — Pensei que a gente iria ficar assim até um de nós lavrar daqui.

Que seja você, infeliz!

— A propósito, deixa eu te perguntar uma coisa que ficou encucado na minha cabeça.

Suspirei dramaticamente.

— O quê?

Leonardo saiu da sua mesa e se aproximou de mim sussurrando.

— Só entre a gente – Garantiu — É verdade mesmo que você tem... tem um caso com o Max?

Bufei.

— Você acabou de propor um ambiente mais saudável aqui dentro, eu topei e faria um esforço para dar certo, daí agora me faz uma pergunta dessas? Como você é impertinente. Eu desisto!

— O que foi? – Perguntou — Eu só fiz uma pergunta sem intensão de te ofender, amigo. Só por curiosidade mesmo, porque é o assunto que mais rola por aqui – Falou num tom mais baixo — Qual é, Lucas? Só queria saber, porque bem que poderia convencê-lo a dar um aumento para a gente – Riu.

Revirei meus olhos.

— Definitivamente eu não ouvi isso. É muita cara de pau sua! – Arquejei.

— Falando nele, quando eu cheguei tinha uns policiais na sala dele esperando – Comentou.

— Po-Policiais? – Gaguejei estranhando.

— Pois é! Chegaram bem cedinho, estou doidinho para saber o que aconteceu – Murmurou.

— Pode ser algo a ver com o acidente da Kelly – Falei sem a total certeza.

— Será? – Leonardo me olhou.

— Não sei, isso não é da nossa conta – Falei já sem muita paciência.

De repente o telefone, que estava em cima da mesa do Luan, começa a tocar. Como o meu irmão não se encontrava na sua pequena sala, Leonardo logo correu para atender, quando eu digo correu, é porque ele correu mesmo. Estou começando a achar que perdoar é uma boa mesmo, porque com certeza ele não é bom das ideias, deve ter algum distúrbio, sei lá.

— DP? – Atendeu.

— Oi seu Max, sou eu Leonardo, como o senhor está?

— Ah... Err... desculpe, vou passar para ele.

Me segurei para não rir depois que vi a cara dele.

— Toma – Me entregou o aparelho contragosto — Esse triste nem ao menos um bom dia me deu.

Disse sussurrando.

— Pronto?

— Estou indo, Max! – Expirei — Chego num minuto – Garanti me levantando.

Espero que não seja mais uma armação dele — Pensei.

— Ei! – Leonardo chamou minha atenção.

— Não esquece de pensar no que eu te falei.

— Por você falar muita, mas muita besteira, acho que acabei esquecendo.

— A parada do aumento – Falou sem a menor vergonha — Faz isso por nós.

Perdi a paciência.

— Se ele tivesse me comendo – Ditei essas palavras sujas mesmo — A primeira coisa que iria pedir a ele certamente era a demissão de todos vocês – Rosnei — E eu estou falando sério.

Despejei e fechei a porta com força. Eu quero é que aquela bruxa velha se foda!

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• Narrado pelo AUTOR

Assim que Lucas entrou na pequena recepção, se deparou com dois policiais, que o encarava e olhavam o jovem de baixo para cima, deixando o mancebo um pouco sem graça.

— Pode entrar, Lucas! – Regina proferiu — Eles estão te esperando lá dentro.

Me esperando? — O jovem pensou.

Após Lucas abrir a porta, o delegado Moreira se surpreendeu a dar de cara com o estagiário. Ele estava imóvel ao notar a semelhança com o seu filho.

— Lucas, esse é o delegado Moreira, delegado este é o Lucas, o estagiário que eu te falei.

— Pra-Prazer, Lucas! – Apertou a mão do rapaz.

— Bom, vamos direto ao ponto – Max articulou — Lucas, o delegado está fazendo algumas investigações a respeito da morte da Kelly – Disse enquanto o delegado olhava para o estagiário abismado — Então ele veio aqui na empresa para colher alguns depoimentos, para esclarecer alguns pontos.

Lucas ouvia o seu ex-namorado atentamente.

— Conte para o delegado com quem você estava ontem.

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• Narrado pelo AUTOR

Em um outro extremo da cidade...

Tinha acabado de chover na região central do Recife, as folhas que caíam das dezenas de árvores do cemitério se misturavam com algumas poças que se formavam no piso de cimento degastado da necrópole.

— Ai, Kelly! – Soluçava — Se você soubesse como eu estou devastada.

Debruçada sob o caixão de madeira, dona Gleide, mãe da técnica administrativa do Grupo Emmiah, chorava incondicionalmente pela morte da sua filha.

— Por que isso está acontecendo comigo, meu Deus? – Perguntou olhando para cima.

A genitora se debruça novamente sob o caixão e começa a alisa-lo.

— Ai minha filha! Como isso foi acontecer? – Choramingou — Agora você está aí neste maldito caixão – Disse esmurrando a urna — Sem eu poder ver seu rosto pela última vez.

— Que dor, meu Deus! QUE DOR! – Gritou.

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• Narrado por LUCAS

— E foi isso, seu... seu delegado!

Eu não estava entendendo o que estava acontecendo direito. Eu tremia mais que tudo e me sentia constrangido pelos olhares do delegado direcionados a mim, não eram olhares libidinosos, longe disso, mas era como se estivesse vendo um fantasma, chegando a quase não piscar sem tirar o olho de mim.

— Mais alguma coisa, delegado Moreira? – Max perguntou ao homem.

Max tinha me chamado para, estranhamente, que eu contasse o que tinha acontecido há umas duas noites atrás. Então contei desde a hora que ele foi me buscar na faculdade até a hora que ele me deixou em casa, claro, ocultando os mínimos detalhes, que é totalmente desnecessário.

— Tudo bem – Ele pareceu acordar — Está tudo bem com você, não é? – Perguntou me fazendo estranhar.

— Si-Sim – Respondi meio que desconfiado — Obrigado.

— Pode voltar ao seu trabalho, garoto – Ele pareceu um pouco desnorteado ainda.

— Obrigado – Agradeci mais uma vez.

— Valeu, Lucas! – Max piscou o olho direito para mim — Depois eu falo com você.

Balancei a cabeça concordando e abri a porta para sair.

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• Narrado pelo AUTOR

— Você está tendo um caso com esse garoto, Max? – Moreira perguntou assim que o jovem estagiário saiu.

— Se eu estou tendo ou não um caso com ele, isso se limita apenas a mim e a ele. Você não é pago para saber da vida dos outros, seu trabalho se resume apenas a solucionar crimes – Respondeu na lata.

— Ele é muito parecido com o Enzo – Pensou alto — Até alguns trejeitos.

— O que isso tem a ver? – Max indagou.

— Você vai fazer o mesmo que fez com o meu filho – Disse — E eu não vou deixar isso acontecer.

Max levantou furioso e rapidamente se aproximou do delegado.

— Eu vou te dizer pela última vez – Bufou aproximando seu rosto do delegado.

Este que também não se intimidava.

— Olha como você fala comigo – O delegado se levantou também ficando rente a ele.

— Me deixa em paz, cara! Eu não te devo nada, eu não tive culpa alguma com o que aconteceu. Agora você sim, deve se sentir muito culpado pelas vezes que menosprezou o seu próprio filho. Só veio aceitar, e olhe lá, já perto de ele fazer o que fez. Quem sabe que um dos motivos venha do próprio pai? – Jogou na cara.

— Cale a sua boca! – Disse rangendo os dentes — Eu admito que errei muito com o Enzo, mas antes de ele morrer, eu procurei ele, eu tentei me aproximar – Falou.

— Mas ele não quis! Sabe porque ele não quis? Pelo fato de você destruir todas as esperanças dele.

— CALA A SUA BOCA! – Disse pausadamente — Você não devia nem tocar no nome do meu filho.

Max sorriu debochado.

— Eu vou embora – Admitiu vendo Max rir mais ainda — Mas saiba que isso não me convenceu de maneira alguma, meu faro aponta para muito além disso – Falou.

— É mesmo, delegado?

— Tem muita podridão de baixo desse tapete, mas tenha em mente uma coisa, eu vou investigar, cascaviar, ir ao mais fundo do que eu puder, nem que isso seja a última coisa que eu faça, Maximiliano.

O empresário continuava a sorrir.

— Eu vou tirar esse sorriso debochado da sua cara, Max! Não, não vou descansar enquanto não ver você na cadeia, você vai ver. Quem ri por último... – Fez uma pausa — ri melhor.

Disse se levantando e indo embora.

— Isso é o que nós vamos ver, delegadozinho – Sorriu olhando para a porta.

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• Narrado por LUCAS

— Que susto!

Me assustei de verdade ao sentir uma presença atrás de mim enquanto bebia água.

— Desculpa, eu não queria te assustar – O delegado revelou com um sorriso amarelo.

— Nada! – Sorri sem graça — Eu que sou assustado mesmo.

Ele riu.

— Lucas, não é? – Perguntou.

— Isso – Confirmei.

Acho que eu não comentei o porte físico do delegado. Ele parecia beirar os 40 anos de idade, mas estava com tudo em cima. Seus músculos eram bastante evidenciados por conta do volume que fazia na sua camisa social escura, ou seja, era um atrativo e tanto para mulheres e homens que curtem. Ele parecia muito com o ator que fazia um coronel no filme Tropa de Elite que assisti, eu não me recordava do nome do personagem e muito menos do ator, mas era um que lançou o bordão "Quer me foder, me beija, caralho".

— Eu queria te pedir desculpas, Lucas! Acho que você percebeu que eu fiquei meio abobalhado olhando para você – Sorriu — Acho que você até estranhou, não foi? – Gargalhou.

Engoli em seco.

— Foi impressão sua, eu nem percebi – Disse sem jeito, meio que olhando de lado.

— Não se preocupe – Sorriu mais uma vez — Eu não estava te paquerando – Riu mais ainda.

Claro que fiquei vermelho que nem um tomate.

— Na verdade, você se parece muito com o meu filho – Falou.

— É mesmo? – Perguntei curioso.

— Se parecem muito, por isso me assustei quando você entrou naquela sala – Exprimiu.

Então ele abriu a carteira e de lá tirou uma foto um pouco amassada, e realmente, o dito cujo era muito, mas muito parecido comigo mesmo, sendo que ele era um pouco mais claro que eu.

— Nossa, e não é que eu me pareço com ele mesmo? – Sorri.

— Eu te falei – Ele ficou triste de repente — Ele... Ele faleceu alguns anos atrás.

Nossa, que situação.

— Eu.... Eu sinto muito, seu dele...

— Pode me chamar de Moreira mesmo – Interrompeu — Vamos deixar as formalidades de lado, não é?

Eu sorri concordando.

— Bom, eu preciso ir! – Suspirou — Eu tenho um monte de casos para investigar ainda – Sorriu.

Nós ficamos em silêncio, mas quando ele se preparava para dar as costas a mim, criei coragem e decidi perguntar o que tanto martelava na minha cabeça. Eu precisava saber, eu precisava matar essa curiosidade.

— Seu dele... Moreira – Chamei com insegurança, o fazendo me olhar rapidamente.

— Sobre o acidente da Kelly... Pode não ter sido um... acidente?

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• Narrado pelo AUTOR

— Duarte? DUARTE?

— Alô? Está me escutando?

— Puta que pariu! Onde é que você está para estar essa algazarra toda? Dá um jeito de sair.

Max deu um longo suspiro enquanto caminhava pela sua enorme sala e ao mesmo tempo olhava, através de uma enorme janela de vidro, os prédios e o Rio Capibaribe, que cortava toda a cidade do Recife, formando uma das paisagens mais bela da capital pernambucana.

— Pronto? Olha só...

— Cala a boca! Eu sei que você cumpriu tudo à risca no último plano, você já me disse, agora veja só, me escute com atenção – Ordenou — Aquele filho da puta daquele delegadozinho está enchendo meu saco demais, e olhe que ele é grande. Sabe o que aconteceu? Ele veio até aqui na empresa para me ameaçar, acredita? Fez perguntas capciosas demais para o meu gosto, mas eu coloquei ele no seu devido lugar. Ainda por cima queria melar meu rolo com o Lucas.

— Cala a boca! Eu não pedi opinião sua – Se irritou — Agora me escute...

— Você não vai dar susto algum nele – interrompeu o subordinado — Eu quero que você mate ele!

— Dar sustinho só vai alimentar a sede por justiça e vingança dele – Falou mais para si mesmo.

Max pareceu ouvir atentamente o que Duarte falava.

— Eu não quero saber! Se é difícil derrubar ele, encontre um jeito e LOGO – Vociferou.

Max encerrou a ligação e em seguida suspirou pesadamente enquanto procurava algo na galeria de imagens do seu iPhone. Os olhos do milionário brilharam ao encontrar a foto de um Lucas sorridente na galeria.

— Meu Luquinhas... se um dia der uma merda, com certeza você é o único que eu levarei comigo.

Disse alisando a tela do aparelho.

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• Narrado por LUCAS

— Lucas, como delegado, eu tenho que trabalhar com todas as hipóteses possíveis, desde um legítimo acidente ou até um suicídio e, por fim, um homicídio. Não podemos descartar absolutamente nada.

— Er... Desculpa, eu estou sendo bastante intrometido, não é? – Perguntei sem graça.

— Só um pouquinho – Gargalhou me fazendo ruborizar — Mas é normal, esquenta com isso não.

Dei um sorriso falso.

— Eu preciso ir, daqui a pouco vai dar a minha hora de largar e não terminei o que tinha para fazer.

— Você já vai largar? – Moreira estranhou.

— É que hoje é meio expediente por conta do enterro da Kelly – Falei entristecido.

— Ah – Entendeu — Você vai? – Perguntou como se não quisesse nada.

— Pra falar a verdade, não. Eu não me dou muito bem com enterros, prefiro rezar em casa.

— Somos dois – Gargalhou — Às vezes eu vou porque sou obrigado.

— É, infelizmente tem momentos que não dá para correr, mas enfim, vou aproveitar o horário livre a tarde para estudar – Disse na maior naturalidade possível — Tenho prova já na semana que vem – Lamentei.

— Muito bem, Lucas! – Disse feliz — Mas se eu fosse o seu pai, não deixaria sequer pisar aqui.

Oi?

— Quer dizer – O delegado consertou — Se você fosse meu filho, você iria se preocupar apenas em estudar.

— Ah, entendi. Infelizmente eu tenho que trabalhar para entrar comida lá em casa, porque a pensão que a minha mãe ganha, infelizmente não dá para muita coisa, aí o dinheiro que recebo aqui já ajuda bastante.

Não sei porque, mas percebi os olhos do homem brilhando mais que o normal, será que eram lágrimas?

— Desculpa, delegado! – Ele me olhou — Quer dizer, seu Moreira, estou tomando o seu tempo.

— Que isso, rapaz! Você é muito inteligente e esforçado, eu gostei de falar com você – Riu.

Ele se aproximou de mim e estendeu a minha mão, e claro, apertei imediatamente.

— Nos vemos por aí – Piscou para mim — Ah, qualquer coisa toma aqui meu cartão.

Peguei o cartão da mão dele e agradeci a sua cordialidade, em seguida ele deu dois tapinhas no meu ombro direito e logo virou as costas para mim. Fiquei olhando para o seu cartão e logo o perdi de vista.

— Delegado Moreira – Falei sozinho olhando para o cartão.

— SÓ NOS CONTATINHOS, NÉ? – Izabel gritou no meu ouvido me fazendo saltar de susto.

— Que susto, sua demônia! – Disse com a mão no lado esquerdo do peito.

— Eu também te amo, amore. – Sorriu descaradamente — Vai, me conta, de quem é esse cartão que te fez esquecer o Max, estou curiosíssima para saber, quero conhecer o bofe de ouro – Gargalhou.

— Para com isso, Bel! Deixa de ser inconveniente – Bufei — Não é ninguém e pare de ficar falando que eu tenho coisa com o nosso patrão, porque eu não tenho e se ele souber, bota a gente no olho da rua.

— Tá bom, lindo! Me engana que eu gosto – Disse com deboche — Vai embora agora?

— Ainda não deu a hora, anta! – Zombei.

— Anta é as suas pregas, seu desgraçado. Não posso fazer nada se MEU supervisor me liberou.

Disse dando dois beijinhos no ombro.

— Não sei que milagre! – Fiquei admirado — Fausto estava de bom humor hoje?

— Quando que aquela gay tem bom humor, Lucas? Só se comerem ela direito. Aí ele fica nas nuvens.

— Poxa, eu tenho umas coisas para fazer, mas eu deixo para amanhã, nem é tão urgente assim.

— Vai lá pegar sua bolsa, viado! Eu vou te esperar aqui e... AI LÁ VEM AQUELE DADDY.

— Pai em inglês? – Zombei.

— Vai tomar no... OI ANDREY! QUANTO TEMPO, AMORE.

Deixei aquela louca falando com o "Daddy" dela e fui diretamente para a minha sala.

(•••)

Alguns minutos depois...

— Está entregue! – Luan falou estacionando na frente de casa.

— Ué, não vai descer? – Perguntei. — Não vai nem querer saber se a sua própria mãe está viva?

— Cla-Claro que sim, né Lucas? – Disse tirando o cinto e saindo do carro junto comigo.

— Relaxa, encosta aí no carro que eu vou lá dentro chamar ela – Falei.

Assim que abri a portão e em seguida a porta com a chave, notei o silêncio da casa.

— Mãe? – Sorri — A senhora está? Luan tá lá fora.

Procurei em todos os lugares da casa a chamando pelo nome, mas só ouvia o silêncio.

— Outra hora eu venho ver ela, Lucas! – Luan falou encostado no seu carro e me olhando.

— Dona Josefa está bem enfurnada na casa dos outros fofocando – Sorri.

— Bem a cara dela mesmo – Luan gargalhou comigo.

— Quer entrar, Luan? Daqui a pouco acho que ela está voltando.

— Não, eu vou embora, tenho que correr para o cemitério para pegar pelo menos o enterro – Justificou.

— Então vai lá...

— Ah! – Me interrompeu — Eu vou mandar a Denise – Se referia a mulher — fazer um jantar bem especial e convidar vocês, já está mais que na hora da Laurinha conhecer a avó – Disse com empolgação.

— Muita calma nessa hora, temos que ter cuidado com o coração da dona Josefa – Disse sério.

— Relaxa, vai dar tudo certo! – Disse — Eu só não quero mais adiar isso, eu quero vocês juntos de mim.

Confesso que me segurei bastante para não cair no choro ali mesmo.

— Fico muito feliz, Luan! Não só por mim, mas pela minha mãe também – Falei com a voz embargada.

Quando acabei de falar, Luan me abraça com muita força e sussurra no meu ouvido

"Eu te amo".

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• Narrado pelo AUTOR

No cemitério central, os olhares estavam atentos ao caixão de madeira que desaparecia a cada vez que uma pá de terra era jogada na urna, provocando um barulho bastante desagradável. Ao lado da sepultura, Matheus enxugava as lágrimas que caíam uma atrás da outra.

— Vá em paz, mamãe! – Fungava — Eu espero que você esteja num lugar bem melhor que esse inferno.

As primeiras gostas de chuva começaram a cair, espantando algumas pessoas que estavam ali.

— Você vai ficar bem, Matheus? – Uma senhora acariciou um dos ombros do rapaz.

— Vou sim, dona Hermínia! – Limpou o nariz — Obrigado pela força!

E assim mais pessoas foram se despedindo do único filho da falecida Severina.

— Isso não vai ficar assim, mãe! – Rosnou.

O coveiro colocava a última pá de terra sob o túmulo.

— Eu vou provar que a senhora não é uma criminosa, nem que seja a última coisa que eu faço.

Dizia enquanto olhava para a sepultura recém fechada com duas coroas de flores em cima.

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• Narrado por LUCAS

Morro da Conceição

— Vai na paz!

Acenei vendo o carro do primogênito desaparecer. O meu celular tocava pela 10ª vez, ao ver no visor de quem se tratava, colocava de volta no bolso. Hoje não!

— Ai, meu Deus, são muitas emoções para um dia só – Falei só. — Mas olha quem está aí...

Peguei um vaso de barro que eu tinha procurando alguns dias atrás, e só agora que eu vi que estava num canto escondido perto do canteiro de plantas que a minha mãe cuidava.

— Acho que ele vai servir – Falei.

Assim que entrei na sala, me deparei com uma figura masculina na porta do meu quarto, me fazendo tomar um tremendo de um susto. Incrível que hoje as pessoas tiraram o dia para me matar de susto.

— AHHHH!

Soltei o vaso que se partiu em vários pedaços no chão, a sorte que nem um deles pegou no meu pé.

— Lucas!

— Hugo?

— Merda! – Praguejei sentindo minhas mãos tremerem — Só porque eu queria esse vaso – Sorri.

— Foi culpa minha, desculpa!

Hugo se apressou em correr, agachou-se e apanhou os cacos junto comigo, fazendo as nossas mãos se tocarem, ocasionando uma troca de olhares que me fez ficar totalmente congelado.

— Er...

Rapidamente, Hugo ficou em pé e levantou um dos braços para coçar a cabeça, deixando os pelos molhados de uma das axilas visíveis, imitei os mesmos movimentos do meu amigo e me levantei.

— Deixa que eu apanho, quem fez a merda fui eu mesmo, desculpa pelo susto – Falou.

— Sem problemas! – Sorri sem graça — Acontece.

— Eu estava lá no telhado consertando, quando eu ouvi um barulho estranho e resolvi descer...

Ele continuou falando enquanto eu observava seu torso desnudo. Agora está explicado o porquê do seu corpo, este bem trabalhado, estava ensopado de suor, o que tirou a minha total concentração do que acontecia ao redor. Sabem aqueles modelos que colocam um quilo de óleo no corpo, nos deixando quase subindo pelas paredes? Pronto, Hugo estava desta mesma maneira, só que de suor.

— Lucas? – Hugo me chamou atenção, me deixando envergonhado. — Está me ouvindo?

— Sim, Hugo! – Fiquei sem jeito — Desculpa.

— Você chegou mais cedo – Me olhou estranho — Aconteceu alguma coisa?

— Não, hoje foi só meio expediente por conta da morte de uma funcionária da empresa.

Ele não parava de olhar para mim.

— Hum... Err... – Tremi na base — E a dona Josefa? Posso saber para onde ela foi?

Disse me agachando novamente

— Ela disse que iria na casa de não sei quem – Falou — E voltava rápido.

Hugo voltou a se agachar do meu lado para me ajudar.

— Dona Josefa e sua mania de ir bater perna por aí – Gargalhei todo sem jeito.

Nossas mãos mais uma vez se tocaram, mas dessa vez Hugo a segurou.

— Vo-Você já almoçou, Hugo? – Me levantei de supetão com a sacola cheia de cacos na mão.

— Ainda não – Fui em direção ao quintal para jogar a sacola plástica fora.

— Eu vou esquentar para a gente comer – Falei enquanto jogava os cacos numa lata de lixo.

Por não ter percebido que Hugo vinha logo atrás de mim, me seguindo, me virei de repente e esbarrei acidentalmente no seu tronco banhado em suor. Eu não sabia definir o tão falado "cheiro de macho" que as pessoas tanto falam, mas ali eu já estava começando a entender o porquê de tanta gente ter fetiche por homens suados. Eu vi uma vez na internet que tanto mulheres como homens, muitos deles tendem a se aproximar daqueles com aroma de homem, principalmente com níveis altos de testosterona. Agora eu estava ali, com as minhas mãos coladas no seu peitoral quente, sob o seu olhar penetrante.

— Desculpa! Eu não tinha te visto atrás de mim – Gargalhei desconcertado — Vou esquentar.

Eu nunca tinha sentido um calor tão grande como eu estava naquele momento. Era um calor típico que deixa você com vontade de tirar toda a sua roupa e andar pelado pela casa. Não, não era um calor normal.

— Faz tempo que mainha saiu?

Indaguei colocando um copo pequeno de água no molho para engrossa-lo.

— Não muito – Respondeu se aproximando das minhas costas.

Eu gelei quando senti a presença quente do corpo do meu amigo a poucos centímetros das minhas costas.

— Desde aquele dia que nos desentendemos, não paro de pensar no quanto eu fui estúpido com você, Lucas! Eu nunca quis te ofender, eu não queria ter dito aquilo, eu não queria ter te magoado.

— Hugo, vamos deixar o que passou lá no passado, acabou.

Respondi mexendo o guisado com uma colher de pau e em seguida o colocando em fogo baixo.

— Sinto raiva de mim mesmo quando lembro daquele dia – Falou.

— Não vamos mais voltar para esse assunto. Eu te peço, por favor.

Sentindo minhas pernas tremerem, me virei e encontrei sua boca a milímetros da minha.

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• Narrado pelo AUTOR

Longe dali...

Max tinha acabado de sair da sua Ranger Rover com o celular na mão. Já era décima ligação que ele fazia para o filho da dona Josefa e nada de ele atender, deixando o empresário bastante irritado.

— Atende, Lucas! – Ligava insistentemente.

Com o aparelho no ouvido, o milionário entrava na cidade dos pés juntos calmamente. Enquanto isso, as poucas pessoas que estavam presentes no velório da ex-funcionária do ricaço, prestavam condolências a uma mãe inconformada com a morte da filha.

— Eu não devia ter deixado você sair de casa surtada daquele jeito – Lamentava aos prantos.

Dois coveiros, vestidos com uma farda na cor verde, se aproxima da dona Gleide, que alisava a urna de madeira, informando que chegara a hora do sepultamento. A genitora logo se abraça com o caixão.

— NINGUÉM VAI LEVAR A MINHA FILHA! – Berrou.

A poucos metros dali, Max caminhava tranquilamente em meio as inúmeras catacumbas desgastadas do cemitério público da área central do Recife. No entanto, a calmaria estava em contagem regressiva quando Maximiliano sentiu alguém o agarrar com força e aplicar um mata leão, deixando o presidente do Grupo Emmiah sufocado.

— Mas que porra...

— CALA A BOCA, SEU FILHO DA PUTA! – Matheus gritou — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? VEIO CONFERIR SE O SERVIÇO FOI COMPLETADO COM SUCESSO?

Berrou no ouvido de Max.

— Calma, cara! – Falava com dificuldade — Vamos conversar civilizadamente.

— CIVILIZADAMENTE É O CARALHO! – Apertou ainda mais.

— Hoje tu não sai vivo desse cemitério – Sussurrou no ouvido do desafeto.

O empresário ficava cada vez mais vermelho.

(•••)

No mesmo momento...

• Narrado por Lucas

Sentindo a sua respiração quente no meu rosto, ficamos parados um de frente ao outro.

— Eu... Eu vou trocar de roupa, você fica de olho na panela para mim?

Pedi desviando meu corpo do seu.

— Você está fugindo de mim, Lucas! – Hugo disse na lata.

— Fugindo de você? – Respondi do quarto procurando alguma coisa na gaveta.

— Sim!

Suspirou enquanto eu ainda procurava alguma coisa que nem mesmo sabia.

— Eu não estou fugindo de você – Disse ainda sem olha-lo. — É impressão sua.

Ele agarrou o meu braço e puxou para si.

— Então olha para mim, caralho! – Exprimiu num tom de voz raivoso.

— Eu estou olhando – Exasperei o encarando.

Nós ficamos em silêncio nos encarando, um sentindo a respiração quente do outro.

— Aquele cara... – Falou.

Continuei olhando nos seus olhos.

— Aquele bonitão lá... que apareceu naquele dia que a gente se desentendeu.

Eu sabia de quem ele estava falando.

— O... – Respirei fundo — O Max?

— Você ainda... – Não completou e olhou para o lado.

— Você e ele ainda estão fi-ficando? – Perguntou com o seu rosto bem próximo.

— E o que isso importa para você? – Questionei estranhando a pergunta.

— Dependendo da resposta – Diminuiu a pressão que fazia no meu braço — me interessa muito.

Arquejei sentindo o que estava por vir.

— Não... – Suspirei — Faz um tempo que não estamos mais juntos – Falei.

— Não gostei nem um pouco daquele cara. Eu confesso que a minha raiva aumentou ainda mais em saber que você pertencia a ele. Claro que não é motivo para reagir daquela forma tão... tão imbecil, assumo, mas na verdade, eu queria que você ficasse comigo e não com ele

Revelou me deixando inquieto.

— Eu não pertenço a ninguém. Eu não consigo entender, uma hora você diz que tudo foi um erro, que a culpa foi minha pelo beijo, me ignorou e só faltou você me mandar sumir do mapa, daí agora você diz que queria ficar comigo. Vem cá, você está achando que eu sou palhaço?

— Você tem que entender que eu fiquei confuso com tudo aquilo, Lucas. Deu um nó na minha cabeça quando aconteceu tudo aquilo, eu te beijei, eu tomei a inciativa e me assustei. Eu nunca senti tesão por homem algum. Isso tudo é novo para mim, mas agora eu sei o que eu quero – Disse se aproximando ainda mais e direcionou os seus braços para a minha cintura — Muita coisa mudou.

Paralisei.

— Hugo...

— Eu queria ter feito diferente naquele dia – Me interrompeu confessando baixinho.

— Eu acho que a galinha está cheirando – Disse tentando mudar de foco — Deixa eu ir lá.

Tentei me desvencilhar do seu corpo, mas Hugo conseguiu prender ainda mais.

— Deixa a porra daquela galinha lá e presta atenção em mim! – Enfureceu.

Sentindo meu corpo todo estremecer, eu questionei tudo que estava na minha cabeça.

— Eu te quero tanto, Lucas! – Sussurrou no meu ouvido.

O primo da Rosemary ficou cheirando meu pescoço.

— Você é tão cheiroso! – Sua respiração quente no meu pescoço me fez ir nas alturas.

— Hugo, e se você mais uma vez agir como agiu naquele dia? E se você me acusar que eu ultrapassei o limite da nossa amizade? – Lembrei do que ele tinha dito — Eu não quero ter mais dor de cabeça.

— Lucas... – Seu corpo colou no meu — Sabe onde é o meu limite agora?

Fiquei em silencio.

— Você quer que eu diga onde é? – Perguntou encostando o seu nariz no lado esquerdo do meu pescoço.

Como se fosse em câmera lenta, Hugo pegou delicadamente uma das minhas mãos e a direcionou com todo o cuidado pelo seu corpo, do peitoral ainda suado, passando pelo seu abdômen sarado, até a parte frontal da sua bermuda, esta que estava completamente estufada e quente.

— O que me diz se a gente ultrapassasse esse limite, hein? – Inquiriu.

— Eu...

Ele me interrompeu mais uma vez.

— Eu quero tanto quanto você – Falou bem próximo do meu rosto — Eu sei que você me quer.

Engoli em seco.

Sua boca começou a se aproximar da minha.

Aproximou ainda mais.

Ele iria me beijar.

Eu iria sentir seu gosto por completo.

— Eu deixo você fazer o que quiser com o meu corpo – Sussurrou bem perto do meu ouvido.

Meu coração dizia para eu me jogar nos seus braços, mas a minha razão....

— Hugo, acho melhor a gente... – Gemi sentindo seus lábios no meu pescoço — a gente parar, porque...

— Sabe qual é o seu problema, Lucas? – Disse segurando na minha mão de novo.

— O teu problema é que você fala demais!

Terminou de dizer e me jogou com um pouco de brutalidade contra a lateral do meu velho guarda-roupa de madeira e me tascou um beijo, um beijo molhado, um beijo de língua, um beijo dos meus sonhos. Então eu resolvi ouvir o meu coração e me entreguei no calor dos seus braços.

"E na hora que eu te beijei, foi melhor do que eu imaginei..."

Continua...

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

E aí, pessoal? Gostaram do capítulo? Enorme, não foi? Ah, será que finalmente vai rolar?

Bom, pessoal! Também reservei esse finalzinho para contar uma SUPER NOVIDADE para vocês. Lembram da minha primeira história que postei aqui na Casa dos Contos? Inclusive a mesma fez um tremendo sucesso aqui e depois tive que tira-la, já que iria postar na plataforma WATTPAD, pois bem, eu estou dando uma reformulada nos capítulos e repostando, então atendendo a pedidos, eu irei reposta-la aqui na CDC também.

O nome dela é [O PACTO].

Estarei postando o PRIMEIRO CAPÍTULO a partir de amanhã aqui no site, então fiquem ligados.

Até amanhã, pessoal! Amo vocês.

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Comentários

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Muito bom adorei.......não demora a postar

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