Tudo foi feito como meu pai determinara na véspera. Caio, um dos que dividiam comigo o apartamento na capital, ainda ligou para meu celular. Quis confirmar o que papai dissera a ele. Era de noite e já estávamos na cama; ele percebeu o que eu falava com o outro ao telefone. Deixou-me conversar; ouviu-me responder as perguntas, desviar delas com dificuldade para escamotear o que ocorria. Caio estranhava que eu abandonasse tudo assim; não compreendia e eu me angustiava de não poder ser sincero com ele. Papai perdeu a paciência e tomou o aparelho da minha mão.
- Olha aqui, rapaz, eu já conversei contigo tudo o que era para conversar. Não enche o saco. O Mateus não volta. Tu fica com a grana que eu vou depositar na tua conta e resolve tudo aí. E tudo que é dele tu joga fora, para desocupar o quarto e vocês arranjarem outro pra substituir ele.
Caio falou alguma coisa. Papai bufou.
- Ô, meu camarada, eu sei lá de que porra de documento, que porra de caso sério é esse que tu tá falando. O que tiver de documento, o que for importante, você põe num envelope e guarda aí que um dia eu passo e pego. Ele não volta; deu pra entender? E não enche mais o saco. O Mateus é meu filho, não é teu. Ele é meu – e desligou na cara de Caio.
Fiquei um pouco assustado quando o ouvi repetir “caso sério”. Não sabia o que Caio havia dito a ele; se eu teria que tomar alguma providência, apagar um incêndio. Mas, pelo menos, havia me livrado daquela situação na qual eu estava me enrolando todo. Ía acabar falando o que não devia, ou deixando Caio desconfiado. No fim, tinha sido melhor. Um dia, talvez, eu pudesse explicar a Caio tudo o que ocorria.
Talvez eu devesse me revoltar quando ele fazia essas coisas. Mas eu me admirava com ele; derretia-me vendo aquele jeito decidido, de quem não estava nem aí porque confiava no próprio taco. Ele era tudo o que eu queria ser e que sabia que jamais seria. Mas, diferentemente de quando deixara essa casa, eu sinceramente me conformava com isso: não era somente mais filho, mas totalmente dele – como acabara de ouvir de sua própria voz, revelando ao telefone o que Caio nem poderia supor o que significava. Eu perdia o futuro que havia traçado para mim, os amigos, a faculdade, a profissão, minha independência. Mas ganhava o que mais queria: a atenção dele.
Acariciei seu braço, para acalmá-lo. Estávamos nus, nos refazendo da foda habitual de antes de dormirmos. Mas a insistência de Caio tirara nosso sono. Não era ainda tão tarde.
- Mas que cara mais chato... Pentelho. Esse porra é viado também?
Eu fiz que não.
- Por que ele ligou? Por que ficou tão interessado em saber das coisas?
- É meu amigo, pai. Ele só quis ter certeza da minha decisão. Estranhou.
- Ele andou te comendo?
Não respondi; apenas fiz uma careta, simulando enfado.
- Não faz essa cara. Você já era bem aberto quando chegou aqui.
- Não era não, pai.
Ele me pegou pelas axilas e me deitou sobre suas coxas, arrumando minha bunda para que ficasse empinada. Afastou minhas pernas como pôde.
- Vamos ver como está isso aqui.
Mergulhou logo três dedos dentro de mim, ajudado pelo esperma que assentara ali, meia hora antes. Tirou devagar, pôs de volta um fiozinho da porra que vazara. Entrou de novo, agora com mais cuidado e com quatro dedos, esticados e emparelhados.
- Olha só, garoto... Olha só... – deu um suspiro. – Que buceta...
- Eu não tenho buceta, pai. Eu sou homem.
- Sei – respondeu, com desdém.
Movimentava vagarosamente os dedos pra frente e pra trás, deslizando.
- Te fiz uma buceta... Caralho!
Ficamos em silêncio, sem que ele cessasse aquele movimento suave.
- Acho que agora corrigi meu erro – disse, num tom pensativo.
- Que erro?
- Você. Tu foi um erro; te fazer com um pinto pendurado foi um erro. Te fiz um pau por engano – disse, inacreditavelmente sério, para logo depois complementar, amaciando a voz: - Mas agora corrigi, te fazendo uma buceta, e das mais gostosas.
Ele riu. Acabei rindo também, de tanta besteira.
- Teu verdadeiro órgão sexual é isso aqui. Esse é teu sexo; não o que está na frente.
Ele tirou vagarosamente os dedos. Disse que temia me assar e que voltaria a pôr só três. Retomou então aquele movimento terno. Eu me esforçava para escutá-lo. Estava inebriado com o que aquela mão mágica fazia em mim.
- Eu tenho pau, pai. Tenho pau e tenho cu. Não tenho buceta.
- Pau que só serve pra mijar, né? – sorriu. – Mas eu tenho um por nós dois.
Com a outra mão, ele me fazia um cafuné. Soltei um gemido. Seus movimentos fizeram com que o cheiro de porra resvalasse de dentro de mim e tomasse todo o quarto. Era meio depravado, mas era gostoso.
- Você não sente falta de usar?
Fiz que não. Ele disse que sentia saudade de uma buceta de verdade; que estava satisfeito comigo, mas que sentia falta. Claro que não gostei de ouvir aquilo, mas permaneci calado.
- Você nunca comeu nem buceta?
- Você sabe que não.
- Você tem que experimentar. Pelo menos, pra ver como é. Sentir o cheiro, roçar os dedos com o suco delas.
Ficou algum tempo em silêncio; não muito.
- Se quiser, posso te ajudar nisso. Sou teu pai. Pra tu matar a curiosidade.
- Não tenho essa curiosidade, pai. Sou só passivo; te disse.
- Passivo com macho. Mas podia ter comido buceta alguma vez, para experimentar. Tem muito viado que fez isso. Só que não gostaram. Não entendo muito bem como, mas não gostaram e ficaram no caralho mesmo. Não conseguem ver outra coisa; vira mania. Ficam doidos com meu caralho, igual a você.
Permaneci mudo, tentando repetir mentalmente a frase que ele acabara de dizer. Ele continuou a acariciar minhas entranhas.
- O que foi que você disse, pai?
- Que provam buceta mas mesmo assim ficam com caralho. Não tem jeito; ficam doidos, igual você.
- Não... – fiz menção de levantar-me, mas ele pressionou firme minhas costas, me impedindo, sem parar a lenta penetração com os dedos. – Você não disse só isso.
- Foi o que eu disse.
- Você disse que ficaram doidos com você.
Dessa vez, ele deixou que eu me levantasse. Lamentei que os dedos saíssem de mim, mas eu precisava esclarecer aquilo. Pus-me ao seu lado, olhando para seu rosto. Ele não pareceu nem um pouco perturbado.
- Você já tinha estado com um gay antes?
- Com alguns.
Por aquela eu não esperava.
- Antes de conhecer a mamãe?
- Não. Depois. Já casado.
- Você está falando sério, pai?
- Lógico. Tu acha que alguém nasce sabendo? Como é que tu acha que eu soube tão bem como fazer contigo? Tenho aprendido mais com você do que com qualquer outro; nem sabia que vocês gozavam desse jeito. Mas se você não notou que teu macho já tinha experiência é porque tu é um tapado mesmo.
Eu estava embasbacado.
- Você não me contou nada disso.
- Você não perguntou.
- Pai, eu não acredito... Não acredito que esse tempo todo...
- Qual o cara que não comeu um viado na vida, Mateus?
Ele parecia realmente surpreso com a minha reação.
– Quem é que entende de viadagem aqui? Sou eu agora, por acaso? Ah, faça-me o favor... – e cruzou os braços.
Eu deveria rir daquela reação dele: já tinha tido relações homossexuais e falava disso com toda a naturalidade, como o absurdo da situação fosse eu estar surpreso.
- Você disse que foram alguns, não um.
- Sim, alguns. Cinco, seis, dez, sei lá.
Baixei a cabeça.
- Eu sempre achei que você era fiel à mamãe.
- E claro que fui.
Olhei para ele, incrédulo mais uma vez.
- Isso não tem nada a ver com fidelidade. Uma coisa é tua mãe, outra coisa é pegar um viadinho. Eu curto; eles curtiam. Que que tem? Sempre curti. Não sempre, mas de vez em quando. Dar uma variada; ver um cara revirando os oinhos com a minha pica. Além do mais, sua mãe não ia gostar de fazer o que eu faço com vocês. Não gostaria mesmo.
- Sabe lá, se você nem tentou.
Ele me deu um tapa na cara. Não foi forte, mas foi a sério.
- Você respeite sua mãe! Esse sangue de safado que você tem vem de mim, não dela. Respeite sua mãe!
- Pai, não tem desrespeito nenhum, é só uma ques...
Interrompi a frase. De nada adiantaria argumentar. Ele tinha aquelas posições ridículas, mas no fundo eu gostava: esse perfil de machão do século passado tinha um certo charme. Ou, falando mais francamente: me dava um tesão inexplicável. Pus-me de novo em seu colo. Ele cuspiu nos dedos, para dissolver o esperma que já perdia o visgo, e os encaixou novamente.
Eu não queria pensar em mais nada e que ele nunca mais parasse. Mas ele veio com nova surpresa:
- Vou te levar a um proctologista. Não sei se aqui na cidade tem, mas vou ver.
Eu levantei a cabeça, alarmado.
- Por que? Notou alguma coisa errada aí???
- Não. Tu é uma delícia.
- Pai, então o que eu vou fazer num proctologista?
- Ué, o que toda mulher faz.
Eu ensaiei um pulo, mas ele me segurou firme, sem deixar os dedos escaparem.
- Que foi???
- Eu não sou mulher para ir a ginecologista, pai!
Ele pareceu não me ouvir. Falava com muita serenidade:
- Teu cu está muito deformado... Eu gosto, mas não sei se isso pode te fazer algum mal; se tu pode ter algum problema por causa disso. Pode estar todo rasgado por dentro e daqui a pouco isso vira um... Vou te levar, converso com o doutor. É melhor.
Arregalei os olhos.
- Você pretende me levar?Ir junto comigo? – finalmente perguntei, depois de passado o susto.
- Claro. Não quero me sentir culpado pelo que fiz em você.
- Pai, isso não tem cabimento.
- Eu vou ver isso direito. Não dá pra sair por aí pedindo a qualquer um o nome de um proctologista. Deixa comigo.
- Pai...
- Mateus, mulher não vai ao ginecologista? Não fica fazendo exame toda hora pra ver se está tudo no lugar? Tu não é mulher, mas é penetrado também. Então, no teu caso é a mesma coisa.
- Pai, olha...
- Você não é um viado jogado, Mateus. Tem quem cuide de você.
Não sabia se me enternecia com as intenções dele, se ria da situação ou se me irritava por tamanho absurdo. Preferi fingir que me irritava um pouquinho:
- E por acaso alguma vez você foi com a mamãe ao ginecologista?
- Eu não era pai da tua mãe; era marido. De você, além de marido eu sou pai. Então, vou te levar sim, porque é minha obrigação cuidar de você. E pára de reclamar quando eu só estou querendo o teu bem.
Aquilo não podia ser sério. Como ele iria entrar comigo e conversar com um proctologista? Iria apresentar-se como pai e explicar que o filho tinha aquela dilatação toda porque há quase três meses me comia pelo menos duas vezes por dia? Que entravam três dedos na maior facilidade porque o pau dele era grosso e ele não segurava o tesão na hora de meter no filho?
Respirei fundo, esquecendo tanta bobagem, e voltei a curtir o carinho dentro de mim. Ele continuou mais um pouco, vendo como eu me deleitava, até que falou em dormir. Deu uma sacudida na minha bunda, para que eu levantasse.
Peguei sua mão e lambi os dedos que ele usara dentro do meu canal, saboreando a camadinha fina de porra que ainda havia. Fiquei mirando seus olhos, enquanto fazia isso. Ele não resistiria a iniciar um segundo round. Mas não quis: era melhor dormirmos, porque tinha de acordar cedo.
- Tu amanhã resolve tudo o que tem que resolver aqui em casa. Vai começar na obra depois de amanhã – e apagou a luz do abajur.
De madrugada, poucas horas depois, fui despertado com ele me puxando e subindo em mim. Não aguentou: estava me cavalgando mais uma vez.
[continua]