Sem Vergonha II

Um conto erótico de Oberlin
Categoria: Homossexual
Contém 2515 palavras
Data: 24/06/2017 22:28:15

Nunca fui do tipo que aguarda demais. Desde pequeno tudo que eu faço é prático, rápido e funcional. Mas naquela situação do qual me encontrava, uma nuvem de incertezas se condensava acima da minha cabeça cheia de cachos negros e grossos.

Ele havia chego ao prédio fazia dois minutos, no que eu fiquei na sala de estar aguardando sentado ao sofá. Era realmente uma tortura. Mariana, a minha amiga asiática, estava sentada na poltrona à minha frente, olhando para mim com a mesma feição acolhedora de sempre. Estava usando um vestido amarelo liso e os cabelos pesadamente negros estavam presos com palitos orientais.

A campainha do apartamento tocou, no que ambos ainda permanecemos sentados, olhando para um para o outro. Mariana olhou para a porta e ergueu a sobrancelha direita, enquanto voltava a olhar para mim.

—Eu já te avisei, se você não for atendê-lo, vai parecer que não está com vontade de vê-lo — Mariana suavemente disse, enquanto se levantava e andava até entrada do corredor que dava para a porta de entrada, ao lado da cozinha.

Eu fiquei ali sentado. E então, levantei-me. Não estava com medo, obviamente não. Mas a questão era bem mais profunda que essa. Aquele garoto que estava do outro lado da porta era a minha principal chance de reerguer minha imagem na mídia. Ele podia ser minha salvação.

Segui o corredor passando por Mariana. Enquanto andava, pude perceber nas paredes, que dividiam espaço com a escuridão, as fotos de quando eu era menor. Eu era uma criança linda, com sorriso sincero. Não havia foto dos meus pais, apenas minha e de Mariana. Eu não sentia falta deles, de qualquer forma.

As luzes do corredor se acenderam, e eu senti um frio na barriga quando cheguei a apenas três palmos à frente da porta. Coloquei a mão nas chaves e a destranquei, girei a maçaneta e durante um tempo pude ouvir a respiração compassada dele do outro lado da porta. A abri, no que sua imagem se revelou parcialmente.

Ele usava um casaco marrom escuro, com uma toca coberta nas bordas com pelos lisos e brancos. Aquilo impossibilitava de ver seu rosto por completo, as únicas coisas visíveis naquela primeira vista foram os lábios vermelhos e a pele lisa. Não havia nenhum pelo ali, nem de barba nem de bigode. Era liso e branco feito papel.

Alguns segundos perdidos se passaram até que algo fosse feito naquela cena misteriosa e crítica de afinidade. Ele estava olhando para baixo com certa atitude reservada.

Então tirou o gorro, no que aquela imagem me causou um bem estar imenso. Seus cabelos lisos e castanhos tinham um corte bonito. Ele usava uma franja que lhe cobria a testa até um pouco acima da sobrancelha. Seus olhos castanhos escuro olhavam fixamente para o chão.

Ele deu uma espiada, olhou para meu rosto e depois rapidamente voltou a olhar para o chão.

—Eu sou Isaac— eu disse erguendo minha mão para que ele a apertasse.

—Sou Lucca.

Aquelas foram as únicas palavras que pudemos trocar, Mariana apareceu atrás de mim sorrindo e gritando:

—E meu nome é Mariana, muito prazer!

Enquanto abraçava o garoto que permanecia estático e o puxava pela gola da jaqueta para dentro do apartamento. Fui obrigado a pegar sua mala e trazer para dentro, porque se eu não fizesse provavelmente ela permaneceria ali.

Andei atrás deles, no que vi a silhueta de ambos andando juntos pelo corredor à minha frente.

—Você vai amar morar aqui— murmurou Mariana para o garoto — tem aquecedor, tv a cabo e uma comida muito boa! — ela se aproximou do garoto e sussurrou tão alto que até eu pude ouvir — Mas é porque o Isaac não sabe cozinhar e manda fazer lá no restaurante do prédio.

A verdade é que só trouxe esse garoto com pinta de europeu para minha casa no intuito de regredir minha imagem para uma coisa boa. Desculpem o palavreado, mas eu estava cagando e andando sobre como ele se sentiria na minha casa, desde que ele falasse para os jornalistas que estava sendo os melhores anos da vida dele.

Mariana o levou para todos os cômodos, apresentando a casa como se não houvesse lugar proibido para ele andar.

—Olha, quando você precisar é só me chamar, se bem que não será muito fácil, pois trabalho em um hospital, sou médica, e às vezes faço plantão até tarde, mas os dias que estiver em casa e você precisar de uma ajuda para qualquer coisa é só me ligar.

O garoto fez que sim com a cabeça, no instante em que ela falava isso e apresentava-lhe o ultimo cômodo, que seria o quarto dele.

Eu ficava os seguindo com os braços cruzados. Sabia que não deveria confiar demasiadamente nesse garoto, algo me dizia isso.

Então chegamos á sala de novo, no que ele ficou observando um móvel bem peculiar na minha casa. Uma estante que ficava presa na parede na altura da cabeça, nela estava guardado várias garrafas de whiskies, vodcas, cachaças e etc... Mariana disse, querendo explicar aquele arsenal de bebidas alcoólicas:

—O Isaac já foi viciado em álcool, mas parou ultimamente. Ele tem tanto controle nesse antigo vício que quis colocar uma prateleira cheia de álcool aqui, como troféu pelo seu triunfo.

Lucca não disse nada. Apenas permaneceu a olhar para o pequeno armário de madeira e vidro.

—Acho melhor nós irmos jantar, porque já está ficando tarde — eu disse, no que peguei as chaves do carro sob a mesinha de centro.

**

O céu de São Paulo se desnudava lentamente nos espaços entre os prédios. O restaurante não era muito longe do meu apartamento, mas pude sentir que enquanto dirigia, o céu parecia carregar consigo uma escuridão maior que nas noites passadas.

Os postes riscavam a paisagem feito canetas sob papel negro. Eu dirigia pela avenida Paulista olhando as pessoas passarem rapidamente por nós, todas totalmente diferentes umas das outras, e por instantes imaginei o que eu poderia aprender com elas. Cada pessoa tem algo para ensinar.

Olhei pelo retrovisor e vi Lucca com o rosto encostado na janela. Seu cabelo castanho escuro, quase negro, grudava no vidro e seus olhos curiosos observavam tudo lá fora. Provavelmente ele nunca havia andado em um carro tão bonito quanto o meu.

Era fato que eu não sabia quem era digno de andar no meu carro, de andar ao meu lado pelas ruas de São Paulo, até porque da última vez que dei carona para uma pessoa que não conhecia as coisas não deram muito certo. Mas agora eu tinha que confiar nele, não só dentro do meu carro, mas fora também.

A viagem foi toda bastante silenciosa, apenas ouvi Mariana comentando sobre como era bom viver no centro, como era pertinho de tudo.

Descemos já na entrada do local. O manobrista ficou algum segundo olhando para mim, enquanto eu dava as chaves em sua mão.

— Você é Isaac Alberto, escritor do meu livro preferido “A Última Morada de César”! — disse como se houvesse descoberto a América.

Dei um sorrisinho no canto da boca, e tentei seguir meu caminho, mas ele me parou colocando um bloco de notas com folhas amarelas na minha frente.

— Você pode me dar um autógrafo?

Isso era uma das coisas que eu não gostava em ser uma celebridade. Apenas sorri e perguntei se ele tinha caneta. Ele tirou uma pequena do bolso e me deu. Assinei rapidamente alguns garranchos que eu repetia toda vez que alguém me pedia.

—Obrigado! Sou muito seu fã.

Finalmente pude seguir subindo as escadas, e na recepção pedi para o senhor me arranjar uma mesa. Ele olhou para mim, surpreso, mas provavelmente por causa de seu cargo na empresa, não falou nada. Pediu para que eu, Mariana e Lucca o seguisse.

— Você poderia deixar eu fazer essas coisas, não é Isaac? — disse Mariana atrás de mim — para evitar de perder tanto tempo com autógrafos.

Podemos parecer um pouco maus com nossas observações, mas não é fácil dar autógrafos e perder 5 minutos de cada 30 em que saíamos na rua. Nos primeiros dias de fama isso é incrivelmente estimulante, mas depois de 2 semanas dando tanta atenção para os fãs, nada era tão divertido assim. O pior era quando eles ficavam fazendo perguntas sobre uso de drogas. Eu odiava esses que lembravam daquele incidente horrendo.

Como de costume, o rapaz nos deu a melhor mesa no segundo andar, com uma vista estonteante para a rua, e se olhássemos mais atentamente podíamos ver as torres da Av. Paulista piscando ao fundo. Esse era um dos poucos privilégios que eu gostava em ser famoso.

O rapaz deu-nos os cardápios. Lucca ficou observando o dele por mais tempo. Quando eu e Mariana já havíamos decidido, ele ainda estava ali.

— Já escolheu o seu, Lucca?

— Eu não estou com fome — ele disse olhando para os talheres sob a mesa.

— Não minta, você não comeu antes de sair de casa. Pode escolher logo, se não eu vou escolher para você — Eu disse. Tentei ser gentil, mas saiu parecendo mais uma ameaça.

Ele engoliu a seco, e pediu um X-Burguer.

Que tipo de pessoa pedia X-Burguer em um restaurante cinco estrelas?

— Bom, X-Burguer é uma ótima entrada para um adolescente — Mariana disse — Agora se eu começar comendo X-Burguer, em uma semana eu engordo seis quilos — soltou uma gargalhada enquanto jogava a cabeça para trás.

Fiz um gesto para o garçom, e ele veio rapidamente. Esse parecia não me reconhecer, o que me causou alívio. Perguntou o que queríamos, e eu disse tudo.

—Não vão querer alguma bebida alcoólica?

—Não, não. Obrigado — eu disse dando mais um sorriso.

Ele anotou em algo que parecia um celular, e depois saiu em busca dos pedidos.

Mariana olhou para mim com a sobrancelha esquerda levantada e os lábios franzidos.

—Que orgulho de você! Recusou uma bebida alcoólica numa boa.

—Eu sei o que aquela merda faz comigo!

—O que?— Perguntou Lucca.

Olhei para ele, mas ele ficou indiferente, apenas observando o ar no meio da mesa. Não pude saber se era ironia ou se era realidade.

—Ele foi pego por uma blitz a um tempo atrás. Você não ouviu falar não? Saiu em todos os jornais. Ele foi parado e examinado, e estava com uma acompanhante. Infelizmente a safada tinha guardado na bolsa drogas do tipo maconha e Cocaína, e ele foi preso. Foi o maior alarde — Mariana parou de falar, enquanto olhava para a janela. Sussurrou bem baixinho:

—Tem uns paparazzi ali atrás daquele carro, nesta rua.

Olhei tentando disfarçar. No fundo eu havia sugerido que saíssemos só para estrear Lucca e meu bom ato de recolhe-lo. Mariana tomou um gole do suco e disse:

—Vamos rir, porque essa é a oportunidade de que nos vejam com Lucca.

E então ela começou a fazer piadinhas sobre tudo que estava ali dentro, em instantes todos começamos a rir. E Lucca também ria. Olhei para ele, e meu Deus, nada se comparava a aquilo.

Ele não havia mostrado quase nenhuma emoção, nós apenas havíamos o visto sério, sem nenhuma expressão que pudéssemos diferenciar entre feliz ou triste. Era um mistério em si, quando ele entrou no apartamento e enquanto estávamos no carro, ninguém além dele podia dizer o que ele sentia. Mas agora o vendo sorrir, algo dentro de mim derreteu e eu fiquei alguns minutos ali, olhando para ele sorrindo por causa da Mariana e suas piadas sobre o casal ao lado.

Seu cabelo castanho dava de moldura para seu rosto. Ele havia passado a mão nos fios da franja e os jogou para esquerda. Seus dentes alinhados se mostravam por entre o vermelho de seus lábios franzidos e hidratados. Olhou para mim, enquanto sorria. Olhou para minha alma, com aqueles olhos castanhos e misteriosos, que agora não passavam de uma piscina cheia de emoção identificável. E dessa vez foi eu quem desviei o olhar.

Eu queria ser aquele fotografo que se espreitava atrás do banco achando que ninguém havia o visto, só para manter comigo uma foto daquele momento em que Lucca sorria.

Um mal-estar tomou conta de mim, apesar de eu não saber muito bem o porquê. Passei o jantar inteiro forçando o riso por entre as fotos que eu sabia que estavam sendo tiradas. E quando voltamos para o carro, foi o momento em que pude tirar aquele sorriso do rosto e voltar a ser quem eu era.

Passei a viajem olhando mais vezes pelo retrovisor, só para poder vê-lo um pouco mais. O belo garotão me agradava os olhos. E ele ficava ali, com seu rosto estático olhando o movimento da rua.

Deixei Mariana na casa dela, e fui direto para o apartamento.

Ao entrar, pouca coisa fiz além de tirar o sapato e me trancar no quarto. Fiquei um tempo olhando para o vácuo enquanto estava deitado na cama, ainda com a roupa que cheguei. Estava tenso sem saber muito bem o por que. Seria horrível para minha imagem pública se ele decidisse contar qualquer coisa sobre mim para a mídia.

Convenci-me de que estava tudo bem, que se ele “ficasse na dele”, eu “ficaria na minha”, e mesmo que ele não o fizesse, eu não iria ceder. Eu apenas era um observador da vida dele, mas por quanto tempo eu conseguiria aguentar?

Tomei uma ducha gelada e andei até a sala. Ele estava ainda com as mesmas roupas, o que foi incrível. Não consegui me perdoar por ter deixado ele ali sem ninguém, apenas olhando para a TV desligada.

— Você sabe onde vai dormir? — Perguntei parecendo metade do meu corpo na sala de estar, a outra metade se escondia no corredor. Ele fez que não com a cabeça.

Pedi para ele me seguir, e fui andando até o quarto dele. Abri a porta e a estiquei até o final. Ouvi o som da mala dele seguindo o corredor, e ele apareceu logo após. Entrou no quarto e fechou a porta. Eu aproveitei e fiz um leite com nescau na cozinha, e fui em direção ao quarto dele para me desculpar.

Que ideia era aquela? Por mais que ele fosse bonito e aparentemente irresistível, eu não precisava o odiar por conta disso, afinal, minha vida não seria destruída porque entre mim e ele nada aconteceria! Então eu bati na porta, e depois tomei um gole do gelado líquido que desceu pela minha garganta, enquanto esperava ele aparecer.

O garoto abriu uma parte da porta, ele usava um pijama leve de calor, no que eu pude ver seus braços levemente fortes saindo das mangas. Ele tinha braços realmente muito bonitos. Ficou ali me olhando, esperando que eu dissesse algo.

— Só vim dar boa noite.

Ele sorriu, abriu o restante da porta e beijou minha boca. Sim, ele beijou minha boca, em um selinho macio. Senti seu cheiro quando sua cabeça voltou. Fiquei ali, com os olhos esbugalhados olhando para ele.

— Boa noite — sorriu.

Passei o resto da noite me masturbando pensando naqueles lábios, e tive que me segurar muito para não acabar batendo naquela porta e pedido para ele me ajudar. Afinal, aquele seria realmente meu fim.

( O que acharam? Continuo postando?)

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