Passei o resto daquela noite remoendo aquilo, sentada na cama, abraçada a um travesseiro. Ricardo chegou duas horas da manhã, quandoh entrou no quarto e notou que ainda estava acordada, já preparou sua melhor desculpa.
-Ainda acordada?
-Sim.
-Sem sono?
-Sim.
-Hum.
Ele pegou o pijama e foi para o banheiro. Voltou algum tempo depois, sentou ao meu lado, olhou pra mim como quem procurava algo. Acho que ele esperava pelas perguntas que eu tinha que fazer, mas só pensava em mim naquele momento. Foi aí que as palavras surgiram.
-Vou procurar emprego amanhã.
-Por que?
-Quero trabalhar. Ter dinheiro.
-Mas eu te dou dinheiro.
-Não é disso que estou falando.
-E o que é então?
-Não to me sentindo bem aqui dentro dessa casa. Vou procurar algo para me ocupar.
-Por que não vai pra academia?
-O problema não é o meu peso.
-Não quero você trabalhando. Mulher minha não trabalha.
-Ótimo, amanhã você pode dar entrada no divórcio então.
-O que?
-É o que ouviu. Eu vou trabalhar, você querendo ou não.
-Pra mim isso é desculpa pra você ficar batendo perna na rua.
-Pense o que quiser.-Me deitei e apaguei a luz do abajur.-Boa noite.
Ele deitou virado pro lado dele. Enfim, estava caminhando para longe do abismo.
Na manhã seguinte, mal nos falamos. Tomamos café e saímos praticamente juntos. Eu tinha uma pasta cheia de currículos, parei em frente a banca, comprei um jornal e fui marcando minhas opções.
Queria algo bem baixo, que envergonhasse meu marido quando alguém perguntasse com o que eu trabalhava. Ricardo era advogado, trabalhava como sócio em uma firma própria. E o que me impressionava, era que a mulher do sócio dele ostentava jóias e roupas caras, dadas pelo marido. E o meu? Vez ou outra me levava para jantar fora. E por falar em jantar fora e jóias, vou adiantar meu relato para outro incidente que aconteceu em meu casamento.
Com a mudança de comportamento, me permiti não ficar mais em casa, enquanto Ricardo estava na rua com seus “sócios” em “jantares de negócios” e “reuniões”. Encontrava amigas em bares, saía para jantar sozinha. Ia ao cinema, assistia o que queria. E foi em uma noite dessas, que resolvi parar em um restaurante diferente. O manobrista levou meu carro, entrei. O lugar era luxuoso. Ricardo me levou ali, uma vez, no começo do nosso casamento. Entrei e a moça da recepção me deu um sorriso simpático.
-Mesa pra um.
-Tem reserva?
-Não.-Já estava me preparando para levar um não, quando ela sorriu.
-Tenho uma mesa disponível senhora. Mas é no canto.
-Não há problema.
-Por aqui, eu a acompanho.
E lá fui eu me esconder nos fundos. Ao menos poderia jantar em paz, sem ser notada.
E me enganei quando pensei em não ser notada. Um homem bonito começou a me encarar, grisalho, devia ter uns quarenta e cinco ou cinqüenta anos. Tinha um cavanhaque bem desenhado, tinha porte, estava de terno, provavelmente, jantar de negócios. Estava na companhia de mais dois senhores.
Comecei a ficar nervosa. Há tanto tempo eu não flertava. E quem disse que eu podia? Era casada.Tinha que respeitar meu marido. Pedi uma taça de vinho tinto e me atei ao cardápio. O homem veio até mim.
-Com licença, posso sentar-me um instante?
-Sim.-Deixei o cardápio de lado.
-Não pude deixar de reparar na senhora aqui sozinha e gostaria de convidá-la a sentar-se conosco.
-Obrigada pelo convite, mas é minha intenção, ficar sozinha essa noite.
-Entendo.-Ele sorriu.-Talvez eu possa acompanhá-la em um café mais tarde.
-Talvez.-Estava com o coração batendo nas alturas.-Acho que seus companheiros o estão aguardando para começar.
-Certo.-Ele sorriu.-Me juntarei a senhora mais tarde então.
-Tudo bem.
Abri novamente o cardápio. Enquanto escolhia, um casal entrou. Algo me chamou atenção neles, quando reparei, era Ricardo. A mulher eu não conhecia, mas o sangue me ferveu assim mesmo. Como estava no canto, ele não me notou ali. Fiquei quieta, talvez fosse alguma cliente. Fiz o pedido e fiquei os observando.
Era o que eu temia. Cadeiras próximas, mãos grudadas, conversa com rosto colado.
Aquilo estragou meu jantar. Quando colocaram o prato a minha frente, não senti vontade alguma de tocar na comida. Notei que Ricardo entregou uma caixa à mulher, não, aquilo não poderia... aquilo era uma jóia.
Bom, eu não entendia de jóias, mas brilhava bastante e a caixa, era uma caixa bonita.
Pedi a conta, me esquecendo completamente do estranho bonito. Quando o garçom veio com a conta, Ricardo estava beijando a mulher. Olhei para eles e para o garçom.
-Está vendo aquele senhor ali?
-Sim senhora.
-Leve isso para ele. E diga: Com os cumprimentos de sua esposa, que está ali no canto.
Ele foi. Se aproximou do casal. Ricardo estranhou, não havia pedido a conta. E quando o garçom falou o que mandei, ele pareceu suar frio. A mulher que estava com ele, ficou desconcertada. Ele olhou para aonde eu estava e ficou pálido. Claro, ele tinha uma desculpa. Me levantei e peguei a bolsa. Estava saindo quando ele me alcançou na recepção.
-Julia, o que está fazendo aqui?
-Me distraindo.-Falei fria.-Mas não deixe sua... amiga esperando. Deve ter pagado caro naquela jóia, o mínimo que ela pode fazer por você, é acompanhá-lo até o motel mais próximo.
-Julia, eu posso explicar.
-Em casa você explica.
Saí e ele voltou para dentro. Se ao menos fosse um homem honrado, iria me acompanhar até em casa.
Enquanto esperava meu carro, senti uma mão forte em meu ombro. Me virei a ponto de explodir e notei que era o estranho.
-Olá moça. Percebi que houve algum inconveniente.-Meu carro chegou.-Mas não queria perder a oportunidade de tomar um café com você.
-É casado?
-Viúvo.
-O que acha de irmos tomar um café em outro lugar?
-Tudo bem, mas se a senhora me permitir.-Ele ergueu a mão.-Eu dirijo.
Dei as chaves na mão dele. E também, estava nervosa, havia bebido. Era melhor assim.
Ele dirigiu até uma cafeteria mais afastada daquele restaurante. Arranquei a aliança do dedo e joguei dentro da bolsa. Ele abriu a porta pra mim, entramos no lugar e ele me levou para uma mesa na área descoberta, estava uma noite agradável, nem fria, nem quente.
-O que vai querer?
-Um café preto, com pouco açúcar.-Esperava estar com uma cara boa, porque eu me sentia péssima por dentro.-Ainda não me disse seu nome.
-Carlos.-Ele ergueu a mão e quando pousei a minha sobre a dele, ele a beijou.
-Julia.-Falei me sentindo uma menina tola.
-Fiquei encantado quando a vi.-Ele sorriu, era puro charme.-Mas percebi que seu jantar não foi muito bem aproveitado.
-Não estava com fome.-Suspirei.-Você deixou seus amigos sozinhos...
-Eles vão entender.-Ele olhou para minha mão e suspirou.-Pensei que fosse casada.
-Era.-Falei, cheia de prepotência.-O que faz da vida?
-Sou dono de uma rede de lojas.
Aquele era o cara. Na verdade, ele virou meu chefe em poucos dias. Conversamos profundamente aquela noite, mas não estava com cabeça para sexo. Cheguei a contar para ele, alguns pontos negros do meu casamento. Apesar de saber me comportar diante da situação, ainda me sentia péssima por presenciar a traição.
Cheguei em casa de madrugada. O carro dele estava na entrada. Pela primeira vez, invertemos os papéis. Subi e o encontrei no quarto, assistindo jornal da madrugada.
-Onde estava?
-Por aí.-Joguei a bolsa sobre a cama e fui tirar os brincos e as bijuterias.-A noite foi boa?
-Liguei pro seu celular e só dava desligado.
-Porque não queria ninguém me incomodando.
-Com quem foi que saiu? O manobrista disse que você saiu com um cara.
-Não é da sua conta.-Me virei pra ele e sorri.-A partir de hoje, nada é da sua conta.
-Claro que é, você ainda é minha mulher.
-E aquela do restaurante é o que?-Comecei a debochar e ele ficou irritado.-Ah sim, ela é a amante. Mas pode avisar a ela, que estou saindo do caminho.
-Julia vem aqui.
Não fui, me enfiei no banheiro e fui tomar um banho morno. Me tranquei lá dentro com o rádio ligado e chorei por um longo tempo embaixo do chuveiro. Claro, eu sou mulher, não sou de ferro. Ser traída dói. Ser o segundo plano, quando eu devia ter sido o primeiro. Mas agora seria diferente. Eu me livraria daquele estorvo e seguiria minha vida em paz. Encontraria um dia, um homem que me merecesse. Mas agora, eu precisava de mim. E só eu me bastava.
Três meses depois, eu já estava bem instalada em um apartamento pequeno e trabalhando na perfumaria do Carlos. A maior loja, em um shopping. Ele me ajudou bastante nos meses que se seguiram. Me arrumou um advogado a altura de Ricardo, ambos brigaram feito leões, ele não queria o divórcio. Tentei evitar ao máximo vê-lo.
E como minha amizade com Carlos ia bem encaminhada, acabei saindo com ele mais vezes. Jantares, bares, até mesmo boates.
Até que uma noite, bebemos de mais e fomos parar em um motel. Logo na entrada do quarto, ele já me puxou pra um beijo cheio de língua e chupadas.
Ele me encostou na parede e começou a abrir minha blusa. Terminou de desabotoar, puxando e arrancando os últimos botões. Havíamos saído para beber logo depois de fechar a loja, eu ainda estava com o uniforme da perfumaria.
Ele me levou mais pra dentro, me abraçou por trás e subiu as mãos até meus seios. Deitei a cabeça no ombro dele quando senti as mãos me tocando.
-Você é linda.-Ele sussurrou em meu ouvido.-Estou louco por você há muito tempo.
-Tá esperando o que então?-Falei com a voz mais manhosa possível.-Estou aqui só pra você.
O homem realmente era um gentleman. Me deu preferência em tudo. Cuidou de mim, me acariciou em todos os pontos em que eu precisava ser acariciada. Tomamos um banho rápido de chuveiro e caímos na cama, enroscados entre braços e pernas.
Ele começou a sugar meus seios olhando em meus olhos. Eu era tarada por carinho nos seios. Sou até hoje. E ele sugava de uma forma que me fazia gemer, como uma gata no cio. Eu precisava de ação, precisava sentir algo entre minhas pernas, estava quase pedindo, quando ele desceu os beijos até lá. Suspirei chateada, afinal, eu não gostava muito de sexo oral.
Ricardo só sabia lamber e me babava inteira. Eu achava muito nojento. Não estava preparada para o que ele tinha pra mim.
Carlos afastou as dobras da minha vagina com os dedos e começou a acariciar em volta do clitóris. Senti uma sensação estranha, era como se estivesse sentindo pequenos choques que vinham das pontas dos dedos e faziam meu corpo ter espasmos. Não suportei e gemi. Abri bem as pernas para sentir mais daquilo e ele continuou me sugando. Gemi alto pedindo mais e rebolando na cara dele. Era impressionante, todos os movimentos dele faziam meu corpo criar vida. Gritei e gozei na boca dele. Aparentemente não foi um problema, porque ele seguiu me lambendo, sem encostar diretamente no clitóris.
Ele levantou sorrindo, eu estava acabada e nem havíamos começado ainda. Me ajoelhei a sua frente e peguei seu pau. Não era lá grandes coisas, mas lhe dei uma atençãozinha especial. Engolindo e lambendo a cabeça. Ele me segurou pelos cabelos e grunhiu, me afastando.
-Agora não. Deita, eu quero te comer direito.
Deitei de pernas abertas. Ele enfiou o cacete em uma camisinha e veio pra cima. Ergueu um pouco minha perna esquerda e a abriu, enterrando-se devagar dentro de mim. Eu achei aquilo maravilhoso. Minha vagina estava inteira sensível. Parecia outra. Rebolei devagar sentindo ele se acomodar. E o homem me segurou pelos cabelos, puxando minha cabeça para trás, fazendo meus peitos empinarem rente ao seu rosto e começou a meter com força. Eu rebolava como podia. Meus dedos afundavam no lençol que estava sobre a cama. Eu gritava e rebolava, pedindo mais forte, mais fundo.
Ele largou meus cabelos, me segurou pela cintura e começou a estocar com força, me fazendo gozar e chupar o pau dele com a boceta. Com um movimento rápido, ele saiu de dentro de mim, arrancou a camisinha e gozou encima do meu corpo. Suspirei satisfeita e me acomodei melhor a cama. Ele deitou ao meu lado. Ficamos alguns instantes calados, nos olhando através do espelho do teto. Eu não sabia o que ele pensava. E ele não sabia que eu só pensava em tomar um banho e tirar aquela gosma de cima de mim.
Voltei o rosto pra ele, nos beijamos. Me afastei devagar e levantei, tomando o rumo do banheiro.
Enquanto tomava um banho, ele se aproximou e entrou no Box comigo. Nos lavamos e tiramos o suor e outros fluídos. Voltamos para o quarto e deitamos alguns instantes aninhados um nos braços do outro.
-Julia?-Ele estava abraçado a mim, acariciava meu braço, enquanto eu suspirava com os olhos pesados.-Você quer passar a noite, ou prefere ir embora?
-Prefiro ir embora. Amanhã é sexta ainda. Preciso descansar para voltar ao trabalho.
-Pode tirar o dia de folga.-Ele enfiou os dedos entre meus cabelos, acariciando minha nuca.
-E dar motivos para o pessoal especular sobre o acontecido essa noite? Prefiro não me arriscar.
-Ninguém vai falar nada. Quem sabe que saímos juntos?
-Todos que nos viram fechando a loja juntos e saindo no seu carro.-Voltei a realidade e levantei com um impulso.-Você foi incrível Carlos. Me fez sentir coisas que nunca senti, mas é melhor voltarmos para nossa realidade.
-Continuarmos nos tratando como chefe e empregada?
-Isso.
-Não concordo.-Ele me observava de uma forma enigmática, como se me admirasse, pelo simples fato de me vestir.-Estou louco por você. E depois dessa noite, não vou poder olhar pra você sem querer arrastá-la para uma cama novamente.
-Isso quer dizer que estou demitida?-Falei enquanto prendia os cabelos em um rabo de cavalo.
-Não.-Ele também se levantou. Parecia intimidador, mesmo nu. Me puxou pela cintura, me beijou daquele jeito que deixa as pernas moles.-Você é terrível Julia.
-Por que?-Fiquei frustrada, tanta coisa que ele podia ter dito e disse aquilo?!
-Estou apaixonado por você.-Ele me puxou pro peito.-E não quero essa única vez. Se você me permitir, quero tê-la sempre que quiser.
-Sinto muito Carlos, mas não sou um brinquedo.-Me afastei dele sem entender nadinha.-E você sabe que detesto jogos.
-Estou te pedindo em namoro e acha que estou jogando?
-Ah.-Ele sorriu quando fiquei vermelha.-Bom, é... acho que foi a hora errada pra isso.
-Está certo.-Ele se afastou e começou a se vestir também.-Mas pense um pouco. E pode tirar pelo menos a manhã de folga, para descansar.
Fui pra casa aquela noite pensando que ele podia ser o homem perfeito. Apesar de não me ver atraída por ele sem a ajuda de um drinque. Agora que eu sabia o que ele sabia fazer na cama, pareceu mais fácil desejá-lo.
Lembrei sem querer do Ricardo. Aquele maldito pilantra, com certeza devia estar enchendo a casa de prostitutas e fazendo mil e uma coisas sobre meus lençóis caros.
Fechei os olhos e dormi com o coração doendo. Imaginar o quanto amei meu marido e o quanto o desprezava aquele momento, me fez querer dar uma chance a Carlos.
Continua...
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