- eu vou mostrar o que é ser cavalo. - disse Mateus segurando os dois braços de João.
- me solta porra. - resmungou, João.
- a égua ta bravinha? - disse o primo do interior. - agora vou te ensinar o que a gente faz com os bichos indomáveis la da minha cidade.
Mateus empurrou o primo contra a parede, e tascou um beijo em sua boca. João tentou resistir, mas no fundo era isso que ele queria ha muito tempo. O beijo de Mateus era bruto e violento. Sua língua se afogava na boca de João.
João adorou sentir o doce sabor da boca do primo. O menino nunca beijara uma boca tão macia como aquela. Mateus soltou os braços de João, e agarrou sua nuca, trazendo a boca de João para mais próximo.
João esqueceu a briga que havia tido a pouco, e se envolveu nos braços de Mateus. O primo da cidade chegou a sentir as palpitações da rola do primo do interior.
- agora some da minha frente. - disse Mateus cortando todo o clima.
- que? - Perplexo, João não acreditava que depois daquele beijo, o primo estava o dispensando.
- ''ocê'' me decepcionou João.
- mas Mateus eu não fiz por mal cara. Eu só queria evitar que tu fizesse um mal maior ao Vinicius, e acabasse te prejudicando.
- to falando disso não João.
- de que tu ta falando então?
- qual foi a promessa que tu me fez hoje mais cedo?
- promessa? promessa? - João tentava puxar pela memória. - não lembro primo.
- não? Tem certeza que não lembra mermo?
- juro que não, primo.
- vou ti lembrar. - disse Mateus olhando no fundo dos olhos de João. - eu ti falei dos meus problemas, falei da minha vida, contei do perrengue que estamos enfrentando la na minha cidade, e a única coisa que pedi foi pra você guardar segredo.
- e eu me comprometi a guardar, primo. Te dei minha palavra e vou cumprir.
- cumprir como? Jogando na minha cara que perdemos a fazenda?
- Ah! É isso? eu não fiz por mal. - João tentava se justificar - desculpa primo... Eu tava chateado e quis falar algo pra te ofender.
- ta piorando João. Se você foi capaz disso pra me ofender, o que mais eu posso esperar de você?
- eu não sou assim. Juro que não sou. Desculpa primo. - João implorava.
Mateus distanciou-se do primo.
- não. - disse Mateus. - gosto muito de você cara, mas isso eu não perdoo. Você tocou na minha ferida.
- eu não fiz por mal primo. Que droga cara, custa me perdoar? Saiu sem querer. - João soluçava.
- melhor não insistir não. Sei que o quarto é teu, mas me deixa sozinho... Ou então eu mesmo saiu. - Mateus estava decidido.
Se pudesse voltar ao tempo, João jamais teria ofendido o primo daquela maneira. Agora ele estava arrependido em ter desperdiçado, talvez, a maior chance de ficar com Mateus.
João ainda pediu desculpas pela ultima vez antes de sair do quarto.
Mateus, apenas de cueca, deitou na cama e passou as mãos na cabeça. Arrependeu-se em ter tratado o primo daquela forma, mas seu orgulho era grande demais pra perdoar a foma como João zombou de seus problemas.
Ao entrar em seu quarto, João foi direto para o banheiro. Enquanto a água corria pelo seu corpo, ele passava as mãos na boca. O rapaz sentiu uma leve fisgada no lábio inferior, se olhou no espelho e viu uma mordida que Mateus havia lhe deixado. Fechou seus olhos, e tentou imaginar o primo ali na sua frente.
- como foi bom. - pensou João com lágrimas nos olhos.
Após o banho, João colocou uma cueca e deitou na cama. Seu celular tocava desesperadamente. O menino olhou o visor, e tinham algumas chamadas perdidas, e mensagens no whatsapp.
Trocou algumas conversas com Alex, e ignorou a chamada de Vinicius. Era o mínimo que ele podia fazer pelo primo que havia o defendido.
Enquanto conversava com outros amigos, ainda, pelo whatsapp, João notou que o grupo da faculdade estava bombando. Visualizou as mais de 300 mensagens e descobriu que tratava-se do arraial que aconteceria no campus dali há uma semana. Notou também que havia sido feito uma distribuição e que a turma de direito ficaria na barraca das bebidas.
Concordou em ajudar com o necessário, colocou o celular no silencioso, e pensando muito no primo, caiu no sono.
No dia seguinte, cedo da manhã, João levantou-se, escovou os dentes e desceu para tomar café.
- bom dia Madá. - disse ele chegando na cozinha.
- bom dia. To fazendo vitamina de abacate, tu quer?
- quero sim. - disse ele sentando à mesa. - cade todo mundo? - João usou o termo todo mundo para saber notícias do primo.
- teus pais foram trabalhar, e o Diogo saiu com o pai dele. Parece que foi procurar emprego. - disse Madá partindo um abacate ao meio.
- meu tio teve por aqui? - João passava geleia em uma fatia de torrada.
- chegou aqui cedo. - disse Madá.
- e o Mateus não foi com eles?
- esse daí nem saiu do quarto ainda. Ô menino preguiçoso viu!? - disse Madá enquanto servia da vitamina a João.
- interessante! - João ficou pensativo.
- interessante o que? Ele ser preguiçoso? Eu hen!? - disse a emprega saindo da cozinha, e indo ate área de serviço.
João acompanhou e notou que a moça estava entretida enchendo a máquina de lavar roupas. O menino voltou à cozinha e rapidamente montou uma bandeja de café. subiu as escadas apressadamente e entrou sem fazer barulho no quarto do primo. Viu que Mateus ainda estava deitado, apoiou a bandeja com o café no criado mudo, e sentou na beirada da cama.
João respirou fundo antes de tentar novamente se desculpar com o primo. Mateus estava embrulhado, mas não parecia estar em um sono pesado.
- primo... Eu.. Eu te trouxe café na cama. Sei que parece algo besta, e até é... Concordo. - João estava claramente nervoso. O ar ligado em 16°C não era o suficiente para impedir que suas mãos suassem.
Mateus se mexia por baixo das cobertas como se tivesse se espreguiçando.
João ficou mais nervoso ainda ao ver que o primo estava despertando.
- O tio veio aqui hoje cedo, e saiu com teu irmão. Parece que vieram procurar emprego.
Mateus nada respondia, e João ficava cada vez mais apreensivo.
- eu faltei aula hoje. - o menino sorriu pensando na traquinagem que havia cometido perdendo aula. Lembrou do tempo de criança. - se tu quiser a gente pode dar uma volta pela cidade. Podemos ver se tem algum rally que possamos te inscrever. O que tu me diz? - João tentava de tudo para amansar o primo.
- rally? - disse o primo saindo de baixo das cobertas. - Me amarro em rally.
Grande susto João levou ao notar que não tratava-se de Mateus, mas sim Diogo.
- e tu trouxe café pra mim foi? Porra primo, você é demais cara. - disse Diogo caindo matando na bandeja.
No pensamento, João xingou a Madá e todos os seus descendentes e ascendentes, por ela ter confundido os irmãos.
- onde fica esse rally? Que horas podemos ir lá? - perguntou Diogo tomando um copo da vitamina.
Diogo era parecido com o irmão apenas fisicamente. Mateus era matuto, cavalo raçudo, tímido e humilde. Diogo não. Este já tinha o perfil da cidade grande. Lembrava muito aqueles brasileiros com sangue americano.
- então primo. Que horas nos vamos? - perguntou, Diogo tirando João de seus desvaneio.
- pra onde?
- pra esse tal de rally. - Diogo sorriu - ah, que saudade de uma boa adrenalina. - disse o rapaz do interior aquecendo as mãos.
Diogo saiu debaixo das cobertas. O menino estava apenas com um short folgado.
- vamos combinar. - disse João tentando adiar.
- porra primo, bora hoje. Agora você me deixou animado.
Diogo trocou de roupa na frente do primo. Os dois irmãos do interior não tinham problema em ficar despidos na frente de terceiros.
João não teve como inventar uma desculpa, talvez se ele adiasse o passeio, Diogo perceberia que o café e o convite seria para o outro irmão.
- beleza! - João sorriu. - Te arruma aí, e quando tu tiver pronto a gente vai.
- vou só terminar de comer, tomar um banho e to pronto já.
- certo! Vou me arrumar também. - disse João deixando o quarto um tanto quanto frustrado.
Ao passar pela porta, João respirou aliviado. Só o fato de Diogo não ter estranhado o café nem o convite, já era motivo para comemoração.
Os dois jovens saíram de casa quase dez da manhã, e Mateus ainda não havia retornado. João estava ansioso para tentar se desculpar com o primo.
- Vamos de caminhonete é? - perguntou Diogo.
- é. - respondeu João.
- posso ir dirigindo? Meu sonho é dirigir uma bichona dessas. - Ofereceu-se Diogo.
- claro. - respondeu João.
- aonde vamos? - perguntou Diogo dando partida no carro.
- vai querer ir de rally mesmo? - perguntou João colocando o cinto.
- isso aí. - Diogo sorriu.
João retribuiu o sorriso e ligou o gps.
- vou pegar um cochilo. - disse João.
- beleza! Esse bichão aqui vai me guiar né!?
- isso. Qualquer problema, tu me chama.
Diogo concordou. João acabou dormindo, e o primo foi aproveitando todo o trajeto. Diogo não acreditava que estava dirigindo a 4x4 do tio.
Aparentando cansaço, Diogo resolveu parar em uma pensão na beira da estrada. Chamou por João que estava num sono profundo. João despertou e reconheceu o local. Ele já havia parado ali inúmeras vezes.
- To com vontade mesmo de ir ao banheiro. - disse João se espreguiçando e descendo do veículo.
João foi usar o banheiro externo, enquanto Diogo adentrou o estabelecimento e pediu um refrigerante no balcão.
Uma bela moça parou ao seu lado. O rapaz estufou o peito, e por um pequeno momento resolveu fingir ser quem não era.
- ô rapaz! - Diogo chamou pelo atendente.
- pois não senhor. - disse o jovem.
- você sabe aonde posso encontrar uma fazenda que esteja a venda? - perguntou Diogo dando uma golada na garrafa de refrigerante.
A bela moça que estava no balcão, ouvia toda a conversa atentamente.
- o senhor tem preferencia de local?
- que seja um local visível, e uma fazenda grande que caiba todas as minhas cabeças de gado.
- meu tio tem uma, mas não sei se o tamanho seria do seu gosto.
- quantos hectares?
- não sei não senhor. - respondeu o rapaz simples.
- desculpa! - a bela moça entrou na conversa.
- pois não?
- não pude deixar de ouvir sua conversa. Es de onde mesmo? - perguntou a loura enquanto retocava a maquiagem de frente para um pequeno espelho que havia tirado da bolsa.
- Lucas do Rio verde. - respondeu o rapaz.
- jura? - a mulher pareceu ficar eufórica. - minha família é de la. - Disse ela guardando o estojo de maquiagem dentro da bolsa.
- ah é? E quem são?
- os Juranas. Conhece?
- Já ouvi falar. - disse o rapaz mentindo. - mas o que a moça faz aqui na capital?
- fazia. - a moça fechou o semblante.
- não entendi o que quis dizer com esse ''fazia'' - falou Diogo.
- vim tentar emprego, mas as coisas não deram muito certo. Então to retornando. - disse a moça lamentando-se.
- nossa! Sinto muito. - disse Diogo. - Eu poderia fazer algo?
- só em você me dar um pouco da sua atenção, já é muita coisa. - sorriu.
- queria poder fazer mais. Que tal se almoçarmos juntos? Quem sabe não possamos encontrar uma solução? - disse o rapaz gentil.
- eu aceito com uma condição. - disse ela.
- qual? - perguntou Diogo.
- que cada um pague sua parte.
- que isso linda. Eu estou convidando, eu faço questão de pagar. - disse Diogo galanteador.
- só aceito com minha condição. - a moça disse firme, mas ao mesmo tempo com um sorriso no canto da boca.
- certo. Você venceu. - Por dentro, Diogo vibrou. Fazia tempo que o rapaz não encontrava uma mulher tão bonita.
- Me chamo Aline. - disse a moça ficando de pé e cumprimentando Diogo.
- Sou Diogo. Mas pode me chamar de Patrãozinho. É o apelido que recebi dos meus funcionários. - disse o rapaz piscando os olhos.
Sem entender a piada, Aline riu sem graça.
Diogo lembrou que o primo havia ido ao banheiro, e achou melhor procura-lo para que este não desmentisse sua historia.
- você pode me dar um minutinho? Não lembro se travei minha caminhonete. - Diogo fez questão de deixar a chave do carro em evidencia.
- eu espero. - disse, Aline.
- amigo. - disse Diogo chamando, mais uma vez, pelo atendente.
- pois não senhor? - disse o rapaz atrás do balcão.
- providencie uma mesa e o cardápio para a moça, por favor. - Diogo tinha certeza que seu plano estava dando certo.
- é pra já. - disse o balconista limpando as mãos no avental.
Diogo saiu do local, e avistou João atrepado em uma árvore.
- que isso primo? O que ta fazendo aí em cima? - perguntou Diogo colocando a mão em frente a visão para proteger-se do sol.
- to tentando ver se consigo sinal. O Alex me ligou, e eu queria retornar pra ele. - disse João levantando o celular em todas posições.
- usa o meu. - disse Diogo sacando o celular do bolso.
- passa aí. - falou João.
- vish primo! To sem sinal também.
- porra. Agora só quando a gente chegar lá. - disse João descendo da árvore.
- é sobre isso que eu queria falar primo. Tem como a gente levar mais um tempinho aqui?
- tem sim primo, mas por que?
Sorrindo, Diogo contou toda a mentira que havia inventado para tentar agarrar Aline.
João não se segurou, e caiu na risada.
- Ta certo primo. Eu não vou estragar teus planos não. - disse João sorrindo.
- eu sabia que você entenderia primo. Obrigado! - Diogo agarrou e beijou a bochecha de João.
João achou estranho. Na cidade grande, aquele tipo de afeto não era comum.
- Eu vou te esperar la no carro. Beleza? - disse João.
- tu não quer almoçar logo por aqui? Já ta quase na hora do almoço mesmo. - perguntou Diogo.
- não, não primo. La onde nós vamos tem um almoço ''bão'' demais. - disse João.
- ta certo. Eu vou tentar passar ela o mais rápido possível. - disse Diogo.
João entendeu o significado de passar.
- só toma cuidado. E não vai se meter com nenhuma de menor, primo. Vê la hen!?
- relaxa primo. Essa daí de menor só tem a perseguida. - disse Diogo retorno para o restaurante.
Naquela manha o restaurante não estava muito movimentado. Poucas pessoas haviam passado por ali, desde que os primos estacionaram o carro.
João entrou no carro, tirou a camisa, ligou o som, o ar e afastou o banco para trás. O rapaz deitou e fechou os olhos. Não demorou muito tempo, e João já estava dormindo.
Diogo e Aline não terminaram o almoço. Ambos procuraram privacidade na parte de trás do restaurante. Os dois se afastaram das pessoas, e Aline seduziu Diogo totalmente. A mulher colocou Diogo de joelhos, e esfregou sua buceta no rosto do rapaz. O menino urrava de tesão. Diogo foi surpreendido por algo pontudo tocando em sua cabeça. O irmão do Mateus olhou para trás, e deparou-se com uma terceira pessoa apontando uma arma para ele.
- levanta. - disse uma voz grosa.
- você vai nos levar ate o carro. - disse Aline.
- e se tomar qualquer atitude suspeita, eu estouro teus miolos.
João acordou ouvindo batidas na porta do veículo. O menino olhou pelo vidro, e viu um estranho com uma arma apontada para a cabeça do Diogo. Sem opção, o menino do campo levantou-se e levou Aline e seu comparsa ate a caminhonete do sr Abdias.
- Abre! - o homem gritou.
O coração de João acelerou. Imediatamente, o primo do interior destravou as portas.
- agora entra aí. - disse o homem jogando Diogo no banco de trás.
Uma moça alta, loura entrou no banco do motorista.
- pra onde doster? - a mulher perguntou.
- segue reto. - disse o malandro apontando a arma para os dois primos.
João e a mulher estavam no banco da frente, Diogo e o estranho, atrás.
- o que você ta querendo cara? É o carro? Leva o carro e deixa a gente.
- fácil assim não. - disse o homem.
- desculpa primo. - disse Diogo começando a chorar.
- relaxa primo. Vai da tudo certo.
O estranho riu.
- não vou fazer mal a nenhum dos dois. Mas tem que colaborar comigo. - disse o homem.
- vamos colaborar. - disse João.
- cadê os documentos do carro? - perguntou.
João abriu o porta luvas e tirou os documentos, entregando-os ao assaltante.
- deixa eu ver. - disse ele.
O rapaz verificou o documento, e certificou-se que estava tudo correto.
- ok! Entra no ramal do boi, Carla.
- Carla? Não era Aline? - resmungou Diogo.
- ramal do boi? Pra que ramal do boi pô? - João começou a ficar desesperado. O rapaz nunca imaginou uma situação daquela.
- é mais seguro pra nós. - disse o homem.
- não precisa ser no ramal do ,boi cara. Deixa a gente aqui. - João estava visivelmente nervoso. O rapaz via, pelo retrovisor, uma arma marcando seu cérebro.
- se continuar insistindo, irei repensar se vou deixar os dois playboys vivos. - disse o homem.
- e aí doster? Entro no ramal do boi ou não? - perguntou Carla.
- faz o que to mandando. - disse o tal '' doster ''.
Carla deu de ombros e obedeceu o comparsa. João e Diogo rezavam para sairem vivos.
- ta bom! Para aí. - ordenou doster.
João pensou ter chegado ao fim, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Medo, nervoso... Era uma sensação inexplicável.
- e depois da morte? Era o que o primo da cidade pensava.
O carro parou... Um silencio imperou ate doster dar outra ordem.
- saindo do carro. Bora la rapidão. Bora, bora, bora. - Doster estava impaciente.
João desceu do carro, e Diogo saiu em seguida.
- Carla, faz o limpa. Quero relógio, celular. Tudo que for de valor - disse ele apontando para os dois rapazes.
Carla obedeceu, e retirou os pertences dos primos.
- esse tênis é de marca ou é replica? - disse ele mirando para os pés de João.
- é ré... ré... réplica. - disse João. O nervosismo estava deixando o rapaz gago.
- ta mentindo pra mim não né!? - perguntou doster.
- não. - disse João.
- tem certeza? - disse doster coçando o queixo com o cano da arma.
- sim. Ele é replica. - João mentiu. Ele acreditava que desta forma conseguiria impedir que doster levasse seu tenis.
O malandro ficou um tempo pensativo, mas resolveu que não roubaria o calçado de João.
- tem mais alguma coisa de valor? - Carla perguntou após tirar tudo dos rapazes.
- por que você mentiu pra mim? Por que fez isso? - Diogo olhava nos olhos de Carla.
- você acha mesmo que eu caí no papo do fazendeiro? - disse rindo.
Diogo ficou completamente envergonhado.
- já aí Carla?
- já sim Doster.
- podemos ir então né!? Acho que em dois dias vocês chegam na cidade. - Doster satirizou a situação dos rapazes.
João viu dois estranhos entrando na caminhonete de seu pai e partindo.
- o que foi que eu fiz meu Deus? Em que merda eu te meti primo? - Diogo gritou tanto que criou ecos.
O primo do interior lamentava-se profundamente por ter colocado o primo naquela encrenca.
- estamos vivos cara, e isso que importa. - João tentava acalmar o primo.
- eu sei que estamos vivos, primo. Mas se eu não tivesse inventado aquela gracinha, estaríamos vivos e com a caminhonete do tio. O pai vai me matar.
- claro que não primo. O que temos que fazer agora é encontrar alguém que tenha celular e ligar pra policia, e depois pro meu pai.
- impossível encontrar alguém nesse fim de mundo primo. Eu não faço ideia que lugar é esse.
- eu sei bem que lugar é esse. Sei como vamos sair, mas não chegaremos na estrada principal antes do anoitecer. Vamos dar uma boa pernada.
- o mínimo que posso fazer é te levar no braço. Por culpa minha estamos aqui.
João sorriu.
- para de se culpar velho. O que podemos fazer por hora é isso que falei. Temos que conseguir um celular que pegue linha, antes que esses caras saiam do Estado com a caminhonete.
- aguenta correr primo? - perguntou Diogo.
- rapaz primo. Acho que consigo. - respondeu João.
- então vamos nessa. - Diogo chamou.
Os dois bem que tentaram, mas não conseguiram correr muito. Logo o cansaço apareceu.
João fazia muita força para respirar.
- ta tudo certo primo? - perguntou Diogo esfregando uma das mãos nas costas do primo.
- preciso descansar. - disse João andando por cima da folhagem e sentando em uma pedra.
- que hora será essa? - perguntou Diogo sentando ao lado de João.
- umas duas horas talvez? - disse João.
- talvez mais hen!? O sol já ta mudando de cor. - Diogo recolheu algumas pedras do chão e começou a jogar para o alto e apará-las. Os primos, por um pequeno momento, esqueceram o terror que haviam passado.
- bora continuar? - chamou, João.
- bora sim. Você se importa de eu acender um cigarro?
- eu não sabia que você fumava.
- segredo nosso hen!? O pai e o Mateus não gostam que eu fume. - disse o rapaz tirando um isqueiro e uma carteira de cigarro do bolso.
- não concordo com quem fuma, mas também não sou cagueta. - disse o acadêmico de direito.
João levantou-se e estendeu a mão para que o primo se apoiasse nele. Os dois seguiram a estrada andando. Mais uma vez tiveram que parar, pois o cansaço não os dava sossego.
João e Diogo tornaram a sentar. Sem relógio, não tinha como precisar as horas, porém o sol já havia dado lugar à lua.
- to com fome, primo. - disse, João sentando no tronco de uma árvore.
- também to primo vei. Ainda ta longe?
- sinceramente não sei. Tô tão cansado; com tanta fome, que não to conseguindo pensar direito.
João foi desfalecendo-se sobre o tronco, até ficar totalmente deitado. O menino se tremia com o vento provocado pelas árvores.
- cadê tua camiseta? - perguntou, Diogo.
- ficou no carro. - respondeu João com os olhos fechados.
- você ta com frio num ta? - perguntou, Diogo.
- to primo. Ta começando a ficar gelado. - disse o menino ainda tremendo muito.
- pega. Fica com a minha camisa. - disse Diogo tirando sua roupa e entregando para o João.
- quero não primo. Que adianta eu me esquentar, e tu ficar com frio?
- é bom pra eu aprender. Eu sou culpado disso tudo.
- já pedi pra tu parar de se culpar primo. Tu faz ideia de quantas pessoas são roubadas por dia? Poderia acontecer com qualquer um. - disse João.
- eu sei primo, mas... - Repentinamente Diogo ficou mudo.
- o que tu ia dizer primo? - perguntou João.
- tive uma ideia primo.
- que ideia?
- porra! Nós estamos no meio de um ramal. O que mais tem aqui é galho seco.
- isso primo. Vamos fazer uma fogueira. - João completou os pensamentos do primo.
Os dois sem muita demora, fizeram uma fogueira e ficaram ao redor do fogo.
- só faltava agora uma lagartixa no espeto né!? - Brincou, João.
Diogo sorriu.
- se você quiser, eu posso ir atrás de algum bicho.
- não primo. Relaxa! Vamos ver se a gente consegue dormir alguma coisa. - disse João aquecendo sua mão próximo a fogueira.
- ainda ta com frio?
- pouco... Mas ainda to. - João admirava a fogueira... Diogo admirava o primo.
- vem aqui. - chamou, Diogo.
- que? - espantou-se João com o convite do primo.
- não vou te morder não primo. Vou só te aquecer.
Diogo aproximou-se do primo, e encaixou suas pernas na cintura deste.
Mesmo estranhando, João deixou se envolver pelo abraço quente do primo.
João tentou falar algo, mas foi impedido por Diogo.
- xiiiii. - disse Diogo. - dorme. Vou ficar aqui de vigia. - disse ele.
Vencido pelo cansaço, João afundou o rosto no peitoral do primo... Dessa vez não foi o Mateus, e sim o Diogo.
Continua...
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