Meus lindos, vi que o último conto teve muitas leituras, mas nem tantas avaliações, por favor, se possível, deem uma avaliada e comentem se estão gostando. Agradecido. Boa leitura!
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De todo o esquema que vi até agora, a pior parte parece que se preparava para começar, ele achou a minha fraqueza, o que muda a razão de tudo isso, e o pior é não poder fazer nada para impedi-lo, mas isso não vai ficar assim.
“Adriano, de novo? Você quer morrer, já sabemos disso, era só questão de tempo até acontecer, sua hora chegou. Não se envolva, nós falamos, mas sua surdez o impede de ouvir, essa falta de audição te consome desde que você a viu naquele mercado. Acorde, acorde, acorde!”
Era frio, senti todo o corpo sobre a placa gélida, uma mão me sacudia forte, segurava meu celular, ele viu a mensagem. Me levantei devagar, percebi que estava sem roupa, havia desmaiado ali após me deparar com as palavras, merda! Consumi mais tempo com isso. O que será que houve com a minha mãe? Merda de novo!
Me ergui daquele chão e fui correndo até o guarda roupa, ignorei o fato de Kaique estar ali ao meu lado com uma expressão horrível de quem não entendia nada e estava desesperado ao ver uma pessoa que acabou de sair de trauma pesado estar desmaiada no chão, mas ele leu a mensagem e o efeito surtiu mais rápido agora:
- Adriano, o que é essa mensagem? O que aconteceu com você? Por que ele fala da sua mãe aqui? O que ele fez? – Foram como um tiroteio, muitas coisas passando, e mais perguntas. Paralisei.
- Responde, Adriano! Me fala! – Ele parecia preocupado, mas também muito puto. Gritava comigo. Não aguentei tanta coisa, apenas chorei ainda mais. Minha mãe pode estar correndo perigo e eu aqui mostrando o que sei fazer de melhor depois de foder com a vida, chorar. Chega!
- Escuta Kaique e me escuta bem! Isso tudo, os últimos dias, as coisas que aconteceram, esse emaranhado de merdas é tudo culpa do lixo que você vê todas as manhãs e chama de irmão! Chega de segurar, sabe?! Chega! Ele fodeu com minha vida, acabou com tudo, eu estou desse jeito por causa dele! É isso. Pronto. Falei. – Suspirava forte após tanto falar, mas foi necessário, a essa altura o Kaique precisava saber o que estava se passando, não só minha família corria risco, mas a dele poderia estar também. A figura ficou paralítico, mas não tenho tempo para analisar paralisias. Catei minha calça e o sapato, coloquei a camisa e saí pela casa rumo ao portão, nem lembro se peguei minhas chaves, pois já estava na rua da igreja naquela altura. O relógio marcava 21h20, havia se passado uma hora desde o “aviso”, quando me deparei com a praça em frente à igreja, olhei para todos os lados e nada, ela não estava lá, minha mãe havia sumido e eu não fiz nada...
“Sua chamada está sendo encaminhada para caixa postal e estará sujeita a cobrança após o sinal”. Caralho! Minha respiração falhava, corria muito rápido, ouvi o telefone tocar e fui na esperança de ser o número pelo qual havia ligado 22 vezes, mas era apenas Kaique. Desliguei. Outra vez o telefone toca. Merda! Tive que atender:
- Adriano, onde você está? Me fala rápido! – Eu não tenho tempo para isso, não agora.
- Kaique, eu não posso agora, estou atrás dela, não sei o que pode ter acontecido. Eu preciso encontrar minha mãe... ela... ela não estava lá... não tinha nada... – Chorava. – Aquele desgraçado levou a minha mãe... – Tentava correr mais rápido, nem sabia o rumo em que seguia, apenas avistei o taxi e me joguei na frente, a freada foi brusca e o capô do carro parou a um palmo de distância da minha cintura. A cara do taxista era de ódio, mas a minha ganhava com tanto desespero. Entrei correndo e olhei direto nos seus olhos. Kaique voltou a falar na linha:
- Adriano, escuta! A polícia estava aqui em casa procurando pelo Thiago, disseram que receberam uma chamada anônima o denunciando sobre um monte de coisa... Adriano, ele sumiu hoje... ele sequestrou sua mãe Adriano... seu telefone... tocou enquanto eu estava tentando te reanimar... eh... eu podia reconhecer aquela voz de longe... quando perguntei quem era, ele apenas falou que se quisesse sua mãe de volta deveria ir até o galpão em Samambaia... sem ninguém... aquela voz era dele Adriano... era do Thiago! – Meu Deus, a sensação de não ter braços nem pernas voltou, respirar se fazia impossível. Thiago havia feito o que precisava.
Com o telefone desligado, olhei para o piso do carro, respirei novamente, bem fundo... virei para o taxista e pedi que seguisse para a Samambaia, iríamos procurar por um galpão, acho que poderia ser perto de um lixão, onde eles acabaram com meu resto de dignidade. Pedia que acelerasse cada vez mais, o homem dizia não poder exaltar o limite, havia monitoramento no veículo. Merda! Porra de monitoramento do caralho! O telefone vibrava muito, de minuto a minuto, com as várias chamadas de Kaique. Tive que desligar na cara dele antes, não podia perder tempo. Minha mãe estava correndo risco de vida e só Deus sabe o que pode ter acontecido com ela desde então.
Os documentos que denunciavam Thiago estavam copiados em meu computador, precisava ter aquilo em mãos, ele ia pagar por tudo. Todos aqueles dados desse esquema gigante envolvendo a Capital e enumeras cidades, códigos e contas, vendas no mercado negro, drogas. Seu fim vai chegar Thiago! As fotos do caderno e os prints também tem peso altíssimo como prova. E havia guardado todos naquele sábado antes de ir buscar Kaique no boteco.
Depois de pensar e passar mais de 15 minutos suando frio e batendo com o pé no assoalho sem parar, enfim avisto o lixão. Pedi para o taxista ir devagar, enquanto procurava por algum galpão. Estávamos numa avenida vazia, não tinha casas ali, apenas lotes baldios enormes e com muito mato. O carro andou mais um pouco até avistar um portão e um placa escrita em vermelho sangue: “Adriano, por aqui!”. Engoli seco.
Entreguei uma nota de R$50,00 para o motorista sem nem ao menos saber se o valor chegava perto disso. Ouvi gritos vindos do carro, mas já era tarde, porque eu puxava o portão de entrada. Estava frio e era tarde. Lembrei do meu celular, tratei de liga-lo e deixei no silencioso. A bateria estava em 37%, tomara que dê para alguma coisa. Guardei dentro da calça, bem escondido em um lugar terrível, mas que dificultava de algum ser que pudesse me revistar e acabar encontrando. Finalmente entrei. Mãe, estou chegando!
Observei ao fundo o enorme galpão cinza, todo coberto e tampado nas laterais. Havia uma pequena porta na extrema esquerda da parede e mais ao meio um portão de dobradiças. Sobre a porta tinha outra placa: “Sua mamãe te espera!”. Não sentia os passos que estava dando, o chão era como o espaço, sem gravidade, caminhar era automático e leve. Ao chegar de frente a porta... parei. Respirei fundo e ouvi aquela voz.
“Tripulação, decolagem autorizada! Portas em automático! Seu voo vai decolar Adriano, está na hora de sentir o que é ir para o céu... ou seria inferno?! Até agora você: Fez sexo com um cara que até então era hétero, depois de se relacionar com ele e inclusive começar algo, foi dar para o irmão do cara. Acabou caindo em uma armação e perdeu antes mesmo de tê-lo. Invadiu o quarto de um assassino e acessou todo o seu esquema de mercado negro. Foi pego por ele duas vezes. Estuprado e largado pelado e ferido no meio de uma Rodovia Interestadual. Bom, precisa de mais alguma coisa?! Acho que sim né, sua mão já está girando a fechadura. Boa sorte, boa sorte, boa sorte!”
O silêncio era tanto que a cabeça doía. Os batimentos cardíacos eram sentidos pela pele do meu tórax. Ainda estava de pé, mas não sei como... quando finalmente girei a maçaneta, escuto alguém gritar:
- Adriano, espera! – Era Kaique passando pelo portão de entrada do lote.
Continua...