Coração Ferido - Capítulo V

Um conto erótico de William27
Categoria: Homossexual
Contém 7692 palavras
Data: 19/07/2017 03:45:59

Bom dia leitores, peço desculpas pela demora (quase dois meses) em postar um novo capítulo, mas nesses últimos tempos estava atarefado demais com um novo projeto na minha vida e tive que deixar de lado por uns tempos o conto, mas agora que tudo está resolvido e eu estou de férias acredito que poderei dar uma atenção maior a vocês. Agradeço quem está me acompanhando e fico feliz com a repercussão que este conto está gerando.

Em relação ao capítulo o leitor terá o ponto de vista de Valmir e Luciano e também esse será o início da reconciliação deles, mas não sem antes descerem ao fundo do posso. No mais boa leitura.

Obs: As respostas aos comentários estarei respondendo no próximo capítulo que deve ser postado daqui há 2 dias no máximo.

Coração Ferido – Capítulo V

Naquela manhã de sexta foi difícil acordar. De alguma maneira aquela ligação tão repentina mexeu comigo, pois fiquei até a madrugada tentando entender o porquê João se daria ao trabalho de fazer aquilo, ele nunca sequer demonstrou afeto por mim, preocupação ou simplesmente remorso, era só me foder e pronto e de repente liga para mim me chamando de meu amor, que era para espera-lo por que ele estava voltando para mim, só podia ser piada, e uma piada de muito mal gosto. Levantei, fiz minha higiene, me arrumei e fui trabalhar.

- Bom dia pessoal – cumprimentei a todos quando entrei no escritório iria ter uma conversa longa com Valmir sobre um projeto que fiquei de terminar, mas que encontrei um erro por parte de um dos fornecedores e também havia decidido continuar no emprego, eu tinha contas a pagar.

- Fabrício! – Tatiana quase caiu da cadeira quando me viu – você voltou – disse ela se levantando e vindo em minha direção me abraçar - graças a Deus, isso está de pernas para o ar sem você... – ela levantou os braços para o ar como sinal de agradecimento – ele está perdido sem você... – eu logo entendi a quem ela se referia.

- Exagero seu Tatiana, olha só quem voltou... – André apareceu do nada, parecia uma assombração esse cara – o queridinho do chefe... – debochou ele dando a entender que éramos algo mais, o com fez com que um office boy que esperava um documento ser assinado pela dona Carmem risse disfarçadamente.

- Que foi amigo, não tem nada para fazer? – Perguntei me virando para o office boy que fechou a cara e disfarçou indo ao bebedor – quanto a você André, coisa que você nunca vai ser... – Resolvi devolver o deboche - além de muito profissional eu sou mesmo o queridinho da família Cazarotto muito antes de estar aqui... – olhei de cima para ele, adorei ver sua raiva subir – já você tem que ser esse puxa saco patético para conseguir o mínimo de atenção, principalmente do filhinho do chefe, não é mesmo? Que nível... – Ele me fuzilou com os olhos.

- Rapazes... – Tatiana chamou nossa atenção – vamos nos acalmar... - interrompi ela.

- O Valmir já chegou Tatiana? – Perguntei a ela.

- Já sim – disse ela pegando o telefone com um sorriso de eu não acredito que você fez isso com ele – vou avisar a ele que está aqui – ela ia discar o número quando interrompi.

- Não precisa avisar que estou aqui, eu mesmo vou na sala dele, tenho que levar uns projetos para ele conferir... – me virei e segui pelo corredor indo em direção a gerência. No corredor conseguia ouvir os gritos vindos da sala de Luciano que ao telefone discutia com um dos nossos fornecedores, nada profissional da parte dele, ele não tinha o mesmo trato que eu que sempre lidava com eles e acabei deixando um riso escapar na mesma hora que ele abriu a porta e me encarou surpreso abrindo um sorriso, virei rápido, não fiz questão de olhar ele, mas pude notar seu olhar em mim o que me deixou incomodado.

- Não cumprimenta mais porra! – Disse ele em alto e bom som, não respondi e segui até a sala de Valmir.

A porta estava aberta. Valmir estava sentado em sua mesa revisando um projeto que havia sido enviado por um dos nossos clientes na última terça e estava tão concentrado que nem notou minha chegada, eu entrei sem mesmo me anunciar.

- Bom dia Valmir – disse querendo assustá-lo.

- Senta Fabrício – disse ele com um sorriso após o susto inicial.

- Obrigado – disse retirando meu notebook da mochila – Valmir, trouxe para você as revisões do projeto da adutora que o cliente mandou, queria que você analisasse se tem mais alguma alteração para ser feita, notei que o schedule que o fornecedor me passou está errado, não bate com as medidas no catálogo deles e queria saber contigo se eu posso enviar ao cliente desse jeito e depois mandar uma revisão? – Mostrei o projeto no software, ele sorriu.

- Que falta que você fez nesses dias rapaz – ele sorriu me deixando sem graça e voltou sua atenção ao projeto.

Passaram – se 15 minutos, tínhamos resolvido parte do problema e aguardávamos um posicionamento do projetista que ligaria ainda na parte da manhã.

- Bom dia Fabrício... – me cumprimentou Luciano entrando na sala e tentando mostrar uma indiferença que ele claramente não conseguia ter.

- Bom dia – retribui no mesmo tom.

- Vai me tratar assim mesmo? – Perguntou ele se fazendo de vítima para mim, pude notar impaciência em sua voz – que infantil... – ele riu me fazendo ficar envergonhado e com raiva.

- Eu infantil? – Perguntei com desagrado.

Valmir parou de analisar os documentos e nos observou atentamente, causando um certo incomodo em nós dois.

- Vocês ainda não estão bem? – Perguntou ele estranhando.

- Não, mas vamos ficar! – Disse Luciano tentando acabar com o assunto. Luciano estava bonito de botina de obra, calça jeans escura e camisa social azul com o nome da empresa em vermelho, fora sua barba de 2 ou 3 dias castanha contrastando com o semblante sério dele, além dos inseparáveis óculos de leitura. Valmir usava o mesmo tipo de vestimenta, já eu estava de polo da empresa e de jeans azul claro e sapa tênis, fazendo um estilo mais nerd.

- Valmir, se não precisa de mim por enquanto estarei lá na sala da Carmem – me levantei e sai da sala sem nem ao menos olhar para ele, se ele tinha vergonha de mim não tinha o por que eu ficar de sorrisos com ele. Luciano me deu uma encarada, era estranho, pude notar seu calor quando passei por ele.

- Luciano, senta aqui e confere esse projeto enquanto resolvo um problema interno, se ligarem para mim diga que depois eu retorno, não esqueça... – ouvi Valmir pedir ao filho, logo depois me alcançou – Fabrício, quero conversar com você, na verdade eu e Carmem queremos... – ele sorriu confortante para mim.

Nos encaminhamos a sala de dona Carmem que já aguardava eu e ele com a cuia de chimarrão e um pote de bala de funcho que ela trouxe de casa, coisa que me fazia ter mais saudade de casa.

- Que bom que voltou Fabrício – disse ela toda sorridente.

- Fiquei aliviado quando te vi chegando hoje e que não era para pedir demissão – disse Valmir se largando na cadeira em frente à mesa dela enquanto Carmem enchia a cuia de chimarrão para mim.

- Decidi não pedir demissão, tenho que ter maturidade o suficiente para saber separar minha vida pessoal da profissional – disse antes de tomar meu chimarrão, Valmir me olhou em cumplicidade e sorriu – e tenho contas a pagar também, problemas pessoais são normais, não será nem a primeira e nem a última vez que vou passar por isso, então paciência...– disse a eles. Dona Carmem me ouvia atentamente e sorriu.

- Eu fico feliz em ouvir isso de você Fabrício, sei que sua amizade com o meu filho está abalada, mas eu não admitiria você ter que sair daqui que é seu ganha pão e ter que procurar outro emprego nessa crise por causa de um desentendimento, desculpe, uma infantilidade dele, mas que logo deve ser consertada, amigos são amigos... – disse ele a mim. Eu sorri, pois sabia que a preocupação de Valmir era verdadeira.

- Eu também, apesar que ficaria mais se você e Luciano estivessem bem... – dona Carmem as vezes me passava a impressão de que ela queria que eu e ele fossemos bem mais que amigos – é tão ruim quando estamos brigados com o melhor amigo, não é justo, eu vejo ele perdido, olhando o celular esperando uma ligação, um WhatsApp seu, eu vejo ele triste, mas não dá o braço a torcer, parece alguém que eu conheço...né Valmir – Valmir olhou para ela fingindo raiva e ambos riram.

- Quanto a minha relação com o Luciano não se preocupem, será a mais profissional possível, não quero e nem devo me estressar com ele, eu sou empregado, ele é o filho dos patrões, tenho que reconhecer meu lugar – disse fazendo Valmir me repreender com os olhos, mas era verdade.

- Isso significa que será menos frequente sua presença em nossa casa... – disse dona Carmem com tristeza – meu Deus, aquela vagabunda conseguiu separar vocês... – ela de repente pareceu ri longe até que se deu conta que foi longe demais - quer dizer... conseguiu abalar a amizade de vocês... – ela se atrapalhou toda e tentou concertar, não entendi muito bem, mas dava a entender outra coisa.

- Tudo o que aconteceu não tem dedo da Mônica, não é de hoje que o Luciano me deixa constrangido na frente dos outros, me diminui ou até me faz passar vergonha com piadinhas e o que ele me disse no domingo não dá para esquecer, por isso enquanto eu estiver por aqui vocês não me verão mais com ele a não ser quando se tratar de assuntos profissionais... – eu me calei quando notei que ele ouvia tudo pelas minhas costas graças ao perfume que usava.

- Falando de mim Fabrício... – disse Luciano entrando na sala com André logo atrás no seu encalço – atrapalho a reuniãozinha de família ou não? – Ele perguntou de modo sarcástico e com raiva dando a entender que ali não era meu lugar.

- Deixa de ser infantil Luciano – Valmir retrucou ele.

- Não, simplesmente explicando aos seus pais o porquê dos rumos que a nossa amizade tomou, Luciano... – me virei encarando ele no olho – e não se preocupe, não é do meu feitio agir pelas costas dos outros e muito menos sair falando mal também, mas isso você sabe, não é mesmo? – Sorri para ele que me olhava com um certo incomodo.

- Será mesmo... – disse em voz baixa, mas o suficiente para mim ouvir.

- Vocês me dão licença – Valmir não me deixou sair.

- E você André, o que faz aqui? Não devia estar fazendo aquele levantamento que te pedi, o cliente está cobrando, prometi enviar antes do meio dia – disse Valmir sério deixando ele sem graça.

- Me desculpe seu Valmir, eu estava fazendo, mas eu acabei indo até a recepção e ouvi esse aí falando do meu amigo aqui e achei que ele devia saber – minha vontade era a de enfiar a mão na cara do André, ele estava fazendo isso de propósito, grande profissional ele... – não gosto quando vejo dois amigos se tratarem assim, ainda mais Luciano sendo injustiçado desse jeito... – ele merceia um prêmio pela atuação, ou como dizem aqui, ele que comprasse uma casa e fosse morar junto com Luciano.

- Você fez isso? – Valmir perguntou pasmo.

- Calma pai – Luciano interferiu - André, eu agradeço muito cara, mas isso é assunto de família e por mais que a sua atitude tenha sido com a melhor das intenções – revirei os olhos quando Luciano disse isso a ele que sorriu, já Luciano me olhou de cara fechada, o que foi engaçado – foi errado pois você está sendo pago para trabalhar e não para ficar ouvindo conversas e se metendo em assuntos que não lhe dizem respeito... – André murchou que nem uma flor sem água – que não aconteça de novo, senão serei obrigado a tomar medidas cabíveis... – André engoliu em seco e com um sorriso sem graça se virou e saiu.

- Valmir, vou para minha sala... – fiz menção de sair, Luciano me segurou levemente pelo braço, seus olhos encararam os meus, pude notar um certo receio em seu olhar.

- Fica...não faz isso, não me ignore por favor, não mereço isso... – ele disse com pesar, seu toque me arrepiou todo.

Luciano no mínimo era problemático, ele me ofendia e depois vinha querer me b

- Me solta Luciano, as pessoas podem te ver conversando com um gay e pensar besteira sobre você... – disse sem ao menos encara-lo.

- Tudo bem, mas isso não acaba aqui – ele chegou próximo a mim – nós vamos conversar, hoje à noite vou na sua casa, não mereço ser tratado assim...não por você... – ele apertou mais meu braço me deixando agoniado.

- E eu mereço né? – Perguntei indignado.

- Eu não mereço! – Exclamou ele.

- Cada um colhe o que planta meu filho... – dona Carmem disse chateada quebrando o clima. Sem nem olhar para trás sai da sala e entrei com tudo na minha, precisava me acalmar.

O que estava acontecendo, meu coração batia rápido, o cheiro de Luciano misturado com seu perfume ficou em mim, o calor de seu toque ficou em meu braço, eu não estava acreditando que me senti atraído pelo meu amigo, meu melhor amigo, meu pênis estava duro e por um momento pensei coisas bem promiscuas com ele, eu tinha que parar, afastar esse pensamento.

Antes de ir embora naquele dia pude perceber que Luciano fazia de tudo para chamar a minha atenção, passava no corredor em frente à minha sala, falava alto, ria alto, inclusive na hora do almoço quando acidentalmente ele esbarrou em mim me pedindo desculpa, mas era em vão o que deixava ele frustrado e fazia descontar sua raiva nos outros, comportamento patético e antiprofissional.

Outro fim de semana passou, no sábado fiquei em casa, liguei para o Sul e cozinhei, coisa que não fazia há dias. No domingo pela parte da tarde fui em um churrasco na casa de Tatiane onde infelizmente encontrei André e Luciano que chegaram após duas horas que eu estava lá e em determinado momento quando já estavam bêbados se tratavam como se fossem amigos de infância, isso me chateou, pois eu sabia que era comigo que Luciano se divertia antes, mas isso ficou para trás, ele estava tentando chamar a minha atenção, eu era o gay que ele tinha vergonha, então não era meu amigo de verdade e por isso mesmo não valia a pena perder tempo com ele.

- Olha quem está ali Luciano, o seu amiguinho... – disse André debochando em alto e bom som apontando para mim e atraindo a atenção de todos já que eu conversava animadamente com Junior, irmão de Tatiane, na verdade ele estava dando em cima de mim descaradamente e eu me divertindo com isso. Valmir lançou um olhar mortal na direção dele, Carmem me olhou tentando me confortar.

- O que você disse? – Peitei ele que sorriu debochado.

Luciano não sabia beber, esse era um dos defeitos dele, quando bebia não parava e acabava fazendo alguma besteira sendo que na maioria das vezes era eu quem tinha que tirar ele de alguma confusão. Era uma criança de 1,90m e 120 kg, lembro de uma vez que tive que dar banho nele, lamentável pois quem acabou tomando banho fui eu.

- Sim, éramos amigos – ele me olhou com raiva e meio arrependido do que disse – mas hoje tenho amizades melhores, com pessoas normais e seletas, não é mesmo meu parceiro... – não acredito que ele disse isso, Luciano abraçou André que sorriu vitorioso, meu ódio subiu e ao redor todos pararam para ver minha reação, mas a de Valmir era a pior, ele olhou com raiva para Luciano, mas não fez nada. Contei até 10, não ia dar barraco ali.

Dona Carmem então foi em direção ao filho e quando chegou perto dele pediu licença para André, antes de ambos entenderem alguma coisa ela deu uma bofetada forte no filho que olhou envergonhado ao redor vendo a reação dos poucos que ainda estavam ali.

- Dona Carmem... – André foi interrompido.

- A conversa é com meu filho rapaz... – ela olhou de lado e André entendeu saindo logo em seguida, ela voltou a encarar o filho - você pode ter 31 anos Luciano, mas eu ainda sou tua mãe e por isso você vai me ouvir... respeite os outros e se respeite e nunca mais está me entendendo? Nunca mais ofenda e exponha o seu melhor amigo ou qualquer outra pessoa desse jeito... – Ele não olhou para ela mas assentiu, a situação ia se complicar.

- Chega Carmem – ela me olhou quando chamei sua atenção – não foi nada, Junior, você vai me dar licença, mas eu tenho que ir embora – Junior me olhou preocupado – me desculpe – fui saindo sem graça.

- Fica, não vai embora – ele me segurou pelo braço com carinho, Luciano fuzilou ele com o olhar - se alguém tem que ir são esses dois, já que não passam de dois babacas – Junior disse em alto e bom som para eles ouvirem, André riu em deboche e Luciano encarou ele. Valmir e dona Carmem já se aproximavam e encaravam eu e ele esperando alguma reação.

- Está tudo bem – acalmei os dois – já deu minha hora mesmo... – sorri e peguei meus óculos na mesa, sai sem olhar ao redor, estava envergonhado. Fui em direção a saída da casa quando alguém me segurou pelo braço. Olhei para trás e Luciano me apertava e me olhava com raiva, seus pais logo atrás tentavam em vão faze-lo parar.

- Vai embora por que Fabrício? No melhor da festa...– ele debochou – fica, ou está indo encontrar seu macho e.... – Interrompi ele com um murro em sua cara – ficou louco - ele me olhou com raiva e no calor do momento me deu uma bofetada me fazendo cair no chão.

- Aí... – gemi, pois, ao cair ralei a mão no concreto. Era sério, Luciano me agrediu, isso não aconteceu.

- Eu vou te ensinar a me respeitar... – ele quis vim para cima de mim, mas Valmir se pôs entre a gente.

- Chega, olha seu físico para o dele – Valmir puxou ele pelo braço – covarde – disse Valmir em minha defesa.

Dona Carmem assustada com a confusão me ajudou a levantar e quando viu que minha mão sangrava se pôs na frente de Valmir.

- Temos que levar o Fabrício no hospital fazer um curativo – disse ela preocupada, ela virou para Luciano com raiva - se você tocar nele de novo não precisa voltar para casa, pois aí vou acreditar que realmente eu criei um filho marginal... – Ela olhou para mim com pena, nessa hora Luciano pareceu voltar a si e olhou para mim se desesperando quando viu que minha mão estava machucada.

- Está tudo bem Carmem... – tentei acalma-la.

- Fabrício...eu... – Me recompus e interrompi ele que tentava em vão se aproximar.

- Nunca mais ouse falar algo para mim, seu preconceituoso de merda, não ouse me tocar novamente...– ele tentou vim para o meu lado mas Valmir não deixou, eu me esquivei também - é melhor você ficar longe de mim, está me entendendo, pois, o respeito que eu tive por você até agora foi pelos seus pais, mas para mim chega – ele ouvia enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto – eu me demito Valmir, na semana passo para pegar minhas coisas no escritório e acertar contigo, Tatiane, me desculpe pela confusão...Junior, você é legal, mas eu estou cheio de problemas...você não quer fazer parte da minha vida, desculpe... – dei as costas mas senti uma mão me tocar.

- Calma Fabrício... – Dona Carmem tentava me acalmar – olha a sua mão, vamos fazer um curativo - a plateia olhava entusiasmada, alguns me olhavam com pena e comentavam, outros era nítido que estavam adorando o barraco, eu outra vez estava exposto e humilhado, dessa vez ainda envolvi meus padrinhos, coisa que não queria fazer de maneira nenhuma.

- Está tudo bem Carmem, foi só uns aranhões – tranquilizei ela.

André sorria vitorioso até que Valmir pegou ele no pulo, seu sorriso se desmanchou assim que ele notou.

- Está gostando da festa ou do que acabou de acontecer André? – Perguntou Valmir de braço cruzado.

- Sim a festa está ótima – Respondeu sem graça.

- Então voltem todos vocês para o churrasco, não tem nada para se ver aqui – Valmir sabia se impor, tinha espirito de liderança e equipe, alguns instantes depois ninguém mais estava ali a não ser nós 3.

- Deixa eu me explicar porra – disse Luciano próximo a mim, eu neguei com a cabeça.

- Boa noite – me virei e sai sem olhar para trás, eu estava livre de mais um babaca que agora acredito nunca foi meu amigo, só fui conveniente para ele. Era hora de voltar para casa.

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Valmir narrando

O resto da noite foi um inferno. Sem graça pelo ocorrido decidimos vim para casa e trouxe Luciano na marra, ele insistia em ir atrás do Fabrício pedir desculpas, não deixaria ele ir atrás dele completamente bêbado, e no calor do momento acabei desferindo um tapa em seu rosto por tudo o que ele fez com o mesmo. Ele tinha levado um da mãe, mas levou outro do pai dele. Carmem me repreendeu, nós brigamos, acabei dormindo no sofá, era a primeira vez que isso acontecia em 33 anos de casados, e também era a primeira vez que levantava a mão para o meu filho, mas meu arrependimento foi de ter deixado a situação se agravar ainda mais e chegar nesse ponto.

Durante a madrugada acabei perdendo o sono e pensando em tudo que aconteceria daqui em diante. Falhei como padrinho, como protetor, como família. Rafael não me perdoaria nunca se soubesse o que tinha acontecido com ele. Eu não teria como segura-lo no emprego, Fabrício era de maior, era cabeça dura, eu teria que aceitar sua demissão pois a situação chegou em um ponto irremediável, uma coisa era certa, quando passasse o porre do Luciano teríamos uma conversa longa e séria.

Carmem acordou cedo, mal nos falamos, mas em 20 minutos já estávamos trocando carícias após um pedido de desculpa de ambos. Luciano acordou de ressaca, mal me cumprimentou, minha mulher abraçou ele e perguntou se estava bem, era evidente que ele não estava e não me referia a bebida. Sentamos os três na mesa para tomar café.

- Você tem 10 minutos para tomar café e ir para a sala – Carmem me olhou e concordou acenando a cabeça – nós vamos ter uma longa conversa e não ouse sair o evita-la, vai ser pior...– disse a ele que concordou sem me encarar.

Carmem e eu acabamos e seguimos para a sala, ela me olhava preocupada, eu olhava ela e tentava conforta-la. Luciano entrou sentou de perna aberta, ele estava me afrontando.

- Pronto general, estou aqui... – ele me olhou fazendo pouco caso.

- Mais respeito comigo e com seu pai Luciano – disse Carmem de braço cruzado.

- Respeito... – ele murmurou algo.

Ficamos alguns minutos em silêncio, como ele não se pronunciou eu comecei.

- O que realmente aconteceu entre você e o Fabrício hein Luciano? – Perguntei. Carmem olhou me repreendendo pelo tom que usei.

Meu filho me olhou com remorso, seu gênio era difícil e por isso mesmo não tinha muitos amigos, eu sabia que algo grave havia ou estava acontecendo, Fabrício havia me contado, mas queria saber da boca do meu filho, não havia criado ele para ser ignorante e preconceituoso e nem para expor os outros ao ridículo, o que aconteceu ontem me mostrou que o problema era maior do que eu imaginava.

- Falava para nós meu filho – Carmem com seu jeito tentava conforta-lo. Luciano olhou para nós dois e então começou a falar.

- Eu encontrei ele domingo passado logo depois que vocês deixaram ele na portaria do prédio, ele estava estranho, seco e após conversarmos discutimos e no calor do momento pedi a ele para nos afastarmos... – disse sem graça, mas antes dele acabar Carmem entrou na minha frente e quis tirar satisfações.

- Como é que é? – Ela cruzou os braços – você pediu para dar um tempo na amizade de vocês? – Luciano conhecia a mãe dele, quando ela cruzava os braços é por que ficava feia a coisa.

- Olha mãe, eu realmente gosto da Monica, o que aconteceu aqui em casa no sábado à noite me magoou demais e magoou ela também, ninguém precisava daquele constrangimento, nem ele nem nós... – disse tentando se defender.

- Você ficou louco Luciano! – Ela gritou se levantando – quem começou foi a sua namoradinha, ela que ofendeu ele, e você depois para apaziguar o ofendeu mais ainda, eu não acredito – Luciano baixou a cabeça.

- Carmem, se acalma... – ela me olhou furiosa.

- Me acalmar por que Valmir? – Ela me olhou com raiva - não é de hoje que eu vejo ele fazer piadinhas com o Fabrício, mas como mãe eu relevei, achei que era brincadeira dos dois, mais sábado foi a gota d`água, é assim toda vez que ele conhecesse essas vadias de rua... – ele interrompeu a mãe.

- Ela não é vadia de rua mãe! – Ele alterou a voz para ela – respeite ela... – ele fechou a cara

- É uma vadia sim!... – Ele baixou a cabeça de novo, Luciano poderia me enfrentar, mas a Carmem não, ela é osso duro - a mulher que ofende um dos meus é até coisa pior...aquela vagabunda que você trouxe para dormir aqui em casa você não tem jeito mesmo... – ela balançou a cabeça – estou decepcionada contigo, muito decepcionada, ainda bem que teu irmão não está mais entre nós para ver ou sentir quão preconceituoso você virou – ela deu o último golpe.

- Desculpa mãe – ele pediu baixinho já começando a chorar.

- Não é a mim que você deve desculpas, é ao seu amigo que você humilhou e agrediu ontem – ela limpou uma lágrima que escorria e foi para o quarto fechando a porta logo após.

Luciano estava com os olhos marejados, assim como eu estava com os meus, falar de Adriano era dolorido.

- Pai... – ele não terminou de falar.

- Sabe o que é engraçado meu filho – ele me olhou, nesse momento eu via a criança assustada que havia nele me arrependi de ter essa conversa com ele, mas iria até o fim, Luciano tinha que ter noção do que estava acontecendo – eu não consigo entender o porquê desse seu comportamento repentino com o Fabricio, você nunca teve vergonha dele, aliás, sempre o defendeu, mas por que isso agora? – Perguntei, ele envergonhado não me encarava.

- De uns tempos para cá eu notei que sempre que estou com o Fabrício as pessoas nos olham, comentam, até insinuam coisas... – ele dizia com receio – o André mesmo já percebeu e me avisou várias vezes... – ele se calou.

- Por favor meu filho, você é melhor do que isso – repreendi ele - há quantos anos o André te conhece? – Ele pareceu pensar – me responde Luciano, quantos anos? – Reforcei a pergunta.

- Alguns meses, um ano sei lá... – me respondeu ele sem muita certeza – aonde você quer chegar com isso pai, eu não entendi – ele me encarou.

- Curiosidade – disse ironicamente.

- Por que? Não entendi... – ele me olhou confuso.

- Você lembra de quando você saiu da cadeia, quem estava comigo te esperando na portaria? Era o André? Com certeza não era – ele me olhou e baixou a cabeça, vi que as lágrimas corriam em seu rosto, falar dessa fase da vida dele era complicada.

- Isso não significa nada, não tem nada a ver com o assunto... – ele tentou argumentar.

- Com certeza não, é muito pior ser assassino do que gay...você não acha? – Ele me olhou pasmo. Doía falar isso para o meu filho, mas ele tinha que ouvir.

- Eu não sou um assassino... – ele gaguejou – eu só fiz justiça, já que aquele doente ia ser julgado como um doente, você não pode me julgar... – ele argumentou.

- E você pode julgar o Fabrício? – Perguntei, ele entendeu onde eu queria chegar – me responde Luciano, quem é você para julga-lo? – Tinha ido direto na ferida.

- Eu não quero falar disso – Ele desviou o olhar, mas ia ouvir.

- Pois é, o André não estava na portaria, quem estava comigo te esperando era o Fabrício, ele nunca te abandonou, foi ele que aguentou a barra contigo quando ninguém quis saber o seu lado da história, foi ele que te defendeu quando lhe julgavam, quando os meus familiares e o da tua mãe não queriam nem lhe ver pintado de ouro, foi ele! – Exclamei, Luciano sentou no sofá e escondeu o rosto entre as mãos - a família dele, que te recebeu, ele que te deu apoio moral quando o apontavam na rua e insinuavam coisas a seu respeito, lhe chamavam de assassino, o Fabrício em nenhum momento pareceu se incomodar em andar do seu lado, ser seu amigo... – Luciano se levantou.

- Para... – ele berrou.

- Não paro – ele negava com a cabeça, as mãos escondiam o rosto – então meu filho, seja homem o suficiente e não coloque a culpa dos seus problemas nos outros assim como não use de insinuações de terceiros para tirar, fundamentar as suas conclusões, suas opiniões, o seu irmão era gay, você tinha vergonha dele também? – Ele me olhou e negou com a cabeça

- Não, eu nunca tive vergonha... – Ele disse desesperado.

- Então por que você tem vergonha do Fabrício? Para com isso, você não sabe o que ele está passando, você como amigo dele não podia ter feito isso... – me calei, no calor do momento não me dei conta que falei demais, foi meu erro.

- O que aconteceu com ele? – Luciano fechou a cara.

- Não foi nada... – tentei desconversar – eu falei demais só isso... – sorri sem graça, Luciano me olhou desconfiado.

- Fala pai...agora fala... – ele se aproximou – o que aconteceu com o Fabrício? – Ele não ia desistir.

- Não é hora de falar disso – ele me olhou e saiu para o quarto. Alguns minutos depois ele voltava já de bermuda e camisa e chinelos, eu sabia onde ele iria.

- Se você não vai contar eu vou atrás do Fabrício... – peguei ele pelo braço.

- Eu conto, mas primeiro você tem que jurar que não vai contar nada para ele e nem para ninguém, não vai se intrometer em um assunto que já foi resolvido e principalmente, não vai tomar nenhuma medida que irá lhe prejudicar ou prejudicar o Fabrício – Luciano me olhou sem entender, mas assentiu.

- Eu lhe prometo pai, mas eu preciso saber o que aconteceu com o Fabrício, eu notei que ele não está bem... – disse com pesar. Luciano era esperto, ele notou que algo estava errado.

- Carmem, vem aqui - chamei ela que saiu do quarto com os olhos vermelhos – se eu vou contar ao Luciano eu também tenho que contar a você – ela me olhou confusa e logo sentou fazendo Luciano sentar também.

Nos sentamos no sofá e contei a eles tudo o que Fabrício me contou sobre a noite que foi violentado pelo tal de João só por que não quis chupa-lo por que o Rafael estava ligando para ele que decidiu atender. Carmem conforme eu contava deixava as lágrimas caírem, ela negava com a cabeça, eu tinha que ser firme, mas algumas lágrimas escaparam. Luciano não teve reação, ele ouvia tudo atentamente, ele estralava os dedos, franzia a testa, mas não reagia do modo como pensei.

- Ai meu Deus, de novo não... – Carmem entrou e um desespero e correu me abraçar, eu teria que reconforta-la, era um preço que eu teria que pagar.

- Calma meu amor, ele é muito forte – Disse a ela que chorava com desespero.

- Você quer me dizer que uma noite antes de todo aquele constrangimento causado aqui em casa o Fabrício foi estuprado? – Ele se alterou.

- Exatamente – afirmei – esse cara gostava de usar o Fabrício, mas parece que ele estava noivo e o Fabrício quis pular fora, você conhece ele, se soubesse que o cara era comprometido ele nunca se envolveria, o cara não aceitou e além de bater nele ainda forçou o sexo, resumidamente estuprou ele... – Luciano me olhou e pude ver nitidamente o desespero, o ódio e principalmente o arrependimento em seu olhar.

- Então ele passou por todo esse problema e não me falou, pior, eu fui lá e pedi para ele se afastar uns dois dias depois de acontecer isso com ele... – Luciano começava a cair na real – pai, eu fiz um inferno com ele ontem e não sei o que está se passando com meu melhor amigo, pior, eu preferi acreditar no André do que nele – concordei com a cabeça.

- Isso filho, no momento que o Fabrício mais precisa de você foi o momento que você feriu ele, virou as costas para ele... – Luciano negou com a cabeça, uma lágrima começava a escorrer do seu rosto – que tipo de amigo que você é? – Ele começava a reagir, a tremer e sua respiração ficou ofegante.

- Eu vou matar o desgraçado que fez isso com ele...eu vou... – Luciano deu um pulo do sofá e chutou à mesa de centro fazendo com que a mesma virasse e o vidro quebrasse, seus olhos vermelhos de ódio – eu vou matar quem machucou ele...eu volto para cadeia, mas eu mato o filho da puta que tocou nele, esse doente não vai fazer isso e sair impune, eu vou atrás dele...– Me Levantei e segurei ele pelos braços.

- Não vai! – Berrei fazendo ele prestar atenção em mim – eu não vou deixar você expor esse menino e além disso você esqueceu que não é mais réu primário – agora ele me ouvia e chorava, acabei abraçando ele – eu não vou deixar você ser preso de novo, sua mãe não me perdoaria... – ele chorou e bateu no meu peito, abracei ele – não adianta se revoltar agora, o que você não fez não será compensado com porrada e nem tiro – disse nervoso.

- Está acontecendo de novo pai, mais uma vez eu falhei, não consegui proteger alguém que precisava de mim... – ele chorava desesperado, eu sabia que contar a ele o que aconteceu com Fabrício era um ato que poderia desencadear esse comportamento, meu filho era uma bomba relógio, mas Luciano tinha que abrir os olhos, o que aconteceu com ele aconteceu muito pior com o Adriano, nunca que eu admitiria que meu filho tivesse vergonha do amigo gay, eu não seria pai se deixasse isso acontecer.

- O Fabricio me procurou um dia depois, eu sabia que ele tinha um caso ou sei lá o que com esse tal cara, eu nunca concordei com isso, sempre me preocupei com ele, sempre avisei ele, mas no fundo o meu maior medo é que acontecesse o mesmo que aconteceu com seu irmão... – Luciano se soltou do meu abraço.

- Isso não vai acontecer – ele disse com um ódio no olhar - eu vou atrás do Fabrício, ele deve estar precisando de mim...ele vai... – interrompi ele.

- Não vai não, você me prometeu que não faria nada e bem provavelmente você só pioraria a situação já que você expos ele ao ridículo, ofendeu ele e... – Ele me interrompeu.

- E o que? – Ele perguntou

- Você agrediu ele ontem Luciano ou você não lembra? – Perguntei vendo ele arregalar os olhos.

- Eu não fiz isso... – Ele berrou.

- Fez, você machucou ele, se não tivesse impedido não sei o que teria acontecido – ele me olhou em pânico.

- Eu...eu... – Ele pareceu divagar.

- Amigo que é amigo cuida, não machuca e pergunta quando está bem ou quando não está, ou então simplesmente sabe, amigo não abandona, sinto lhe informar que o que você fez foi tão grave quanto o que o tal de João fez com ele... – ele balançou a cabeça negando, as palavras eram difíceis de se ouvir.

- Eu não sou mal, eu só estou perdido, eu quero ser feliz pai... – ele justificou.

- E para ser feliz tem que ridicularizar os outros? Humilhar? – Perguntei – eu acho meu filho que eu errei muito na sua educação, infelizmente não posso fazer mais nada, você é adulto, dono do seu nariz, só te peço que você reveja seus conceitos e principalmente que isso não saia daqui, não procure o Fabrício, pelo menos não por esses dias, não exponha ele, deixe ele viver, agora vá se trocar, quero escrever uma boa carta de recomendação para ele, a situação chegou a um ponto que não posso mais segurar ele... – ele me interrompeu voltando para sala.

- O senhor não pode demiti-lo por uma burrada que eu fiz, não é justo pai, ele precisa do emprego, é o que sustenta ele aqui – meu filho fechou a cara.

- Ele se demitiu ontem à noite logo após o vexame que você arranjou, que vergonha, o filho do dono e o arquiteto caindo de bêbados e dando fiasco em um churrasco de confraternização, o pior é que foi o seu amiguinho que começou – Luciano ficou pensativo - vou demiti-lo para que ele não perca seus direitos, nunca demitiria ele por vontade própria – era difícil falar isso, em mais de 7 anos nunca tive problema com Fabrício e agora ele iria perder o emprego por causa do meu filho.

- Me demita no lugar dele, eu consigo outro emprego, não tem problema, eu sou um bom engenheiro civil pai – ele estava desesperado – o Fabrício não vai passar fome por minha causa – ele argumentava.

- Não seja ridículo Luciano – ele baixou a cabeça – somos em 2 engenheiros, eu não acompanho a obra no mesmo pique que você, não posso te demitir quando você é um dos sócios, além do mais eu darei ótimas referências para ele, não vou deixa-lo desamparado...nem passando fome... – ele pareceu se acalmar.

- Mas assim ele vai embora ou se afastar da gente... – ele disse de cabeça baixa com um certo desespero e culpa.

- Você já o afastou a muito tempo, só que era muito bom e estava muito ocupado para ver isso, você olhou demais seu próprio umbigo, seu amigo, o que não te deixou desamparado em momento nenhum, nem no pior deles, foi deixado de lado por você quando mais precisava do seu apoio – apontei o dedo, ele negou com a cabeça desesperado – acho que no fundo você nunca foi amigo dele de verdade e... – Fui interrompido.

- Mentira! – Ele berrou – o senhor não bote palavras na minha boca e muito menos insinuações, eu não admito isso, não admito... – Luciano ficou transtornado.

- Não admite por que sabe que estou certo... – foi minha vez de berrar.

- Eu vou atrás dele, eu tenho que me desculpar e eu preciso...eu não posso perder ele também, não posso, ninguém mais vai fazer mal a ele – Luciano surtou.

- Deixa ele Carmem... – tentei acalma-la, Luciano gostava de extravasar.

- É do nosso filho que estamos falando Valmir, ele vai quebrar tudo lá dentro, não podemos deixa-lo sozinho – tive que engolir meu orgulho e acompanha-la, o estrago estava feito e eu era o culpado.

- Abre filho, a mãe está aqui – ela sabia como acalma-lo – por favor, me deixa entrar, por favor... – então o barulho cessou e ele abriu a porta permitindo a nossa entrada, abracei eles dois, eu tinha sido o pai carrasco e agora meu filho precisava de mim. O dia nem se quer tinha começado direito e para mim já tinha acabado.

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Fabrício narrando

Três dias se passaram depois do ocorrido na casa da Tatiane. Acertei com Valmir na quarta – feira na parte da tarde, em poucas ocasiões vi ele tão cabisbaixo, mas nada foi tão comovente como quando fui me despedir de Carmem em sua sala. Ela não aguentou, chorou abraçada comigo durante mais de 15 minutos, me pedindo desculpas, eu não entendi o porquê, Valmir me abraçou e me pediu desculpas por tudo também, me pediu perdão e disse que sentia um orgulho de ser meu padrinho e mentor.

- Obrigado por tudo padrinho – agradeci abraçando ele. Ela nada respondeu, só me apertou mais.

Não vi Luciano aliás nem tive notícias dele nos últimos dias. Bloqueei ele em todas as redes sociais, telefone, tirei ele da minha vida. Estava saindo da minha agora ex-sala quando André passou sorrindo com deboche por mim.

- Eu disse que você não valia nada seu veado sujo – ele disse quando passei por ele – que não passava de um abusado... - minha resposta foi rápida, um murro em sua cara, reação essa que já devia ter tido a muito tempo.

- Agora sim, saio daqui feliz – debochei dele.

- Seu louco, eu vou acabar com você e... – Ele se calou quando Valmir apareceu na nossa frente – seu Valmir – ele tentou disfarçar. Valmir olhou de um para outro e encarou ele.

- Você está demitido senhor André – ele disse se virando.

- Mas por que? – Perguntou indo atrás de Valmir forçando um desespero.

- Por ofender moralmente um colega de trabalho e incitar confusão dentro do escritório que é local de trabalho – ele me olhou e sorriu - a partir de agora o senhor não precisa mais prestar serviços para a Cazarotto Empreendimentos, estarei ligando para seu superior e solicitando um novo arquiteto para nos apoiar e avisando que estarei dispensando seus serviços por justa causa... – disse entrando em sua sala.

- O senhor não pode fazer isso comigo... – ele berrou.

- Tanto posso que já fiz – ele entrou a André também.

Eu não fiquei para ver o resto, peguei minha caixinha com meus pertences que deixei cair no chão e fui em direção a saída, agradeci e me despedi de todos, pois no outro dia já iria para Caxias do Sul já que estaria de folga da faculdade até terça-feira da outra semana e pensava se realmente valia a pena voltar para Belo Horizonte.

Luciano Narrando

Fiquei três dias ausentado do escritório, nesse tempo refleti, acho que era a primeira vez que fazia isso, minha vida estava virando uma droga, a culpa era minha, exclusivamente minha, eu sentia falta da meu antigo eu, o que eu virei? Deixei terceiros interferir na minha vida, destratei, ofendi, agredi e humilhei meu melhor amigo, eu sentia falta dele, era brutal não ter o Fabrício perto de mim, era como se parte de mim não estivesse ali, nesses três dias me dei conta que eu sentia falta do meu antigo eu, era hora de me retratar e me encontrar, e para me reencontrar eu precisava dele e do que ele significava na minha vida desde que eu tinha 21 anos, era hora de trazer o antigo Luciano de volta.

Decidi começar por Monica, precisava conversar com ela, acho que a ideia de ter alguém me iludiu e o sentimento errado fez com que eu me afastasse de quem me importava. Era sempre assim, achava alguém que sorria e pronto, eu acabava apaixonado.

- Você está terminando comigo? – Ela perguntou aos berros no restaurante chamando a atenção de todos onde nos encontramos na segunda a tarde depois de muito conversar, principalmente sobre os motivos de chegar a isso.

- Sim! – Exclamei – eu não sou a pessoa certa para você, acho que nem você é a pessoa certa para mim... – ela arranjou uma choradeira.

- Por favor, eu não sou burra, só falta você me dizer que a pessoa certa para você é aquele seu amiguinho veado... – interrompi dando um tapa na mesa.

- Lava essa boca antes de falar do Fabrício, ele provavelmente tem mais dignidade que você... – ela levantou aos prantos e foi para o banheiro deixando seu celular na mesa.

Como se tudo tivesse ao meu favor notei que uma mensagem chegou em seu aparelho pois o mesmo avisou, curioso decidi abrir o aplicativo e vi a mensagem mandada por Tadeu um dos amigos dela que inclusive tinha me desejado sorte em meu namoro com ela.

“ Oi amor, quando o trouxa chorar as mágoas e te deixar em casa eu estarei aqui te esperando cheio de amor para dar” – a mensagem ainda tinha uma foto, na sacanagem respondi.

“ Não se preocupa Tadeu, o trouxa aqui vai te dar ela de prato cheio” – ele visualizou e logo após recebi a ligação dele no celular dela.

Tive que rir, Mônica estava parada na minha frente, pálida, ela sabia que eu tinha pego algo.

- Devolve meu celular – disse nervosa com a mão estendida.

- Por que amor, você não ia ao banheiro? – Fui irônico - o Tadeu pode te esperar, já que o trouxa está te dando um pé na bunda, não é mesmo? – Eu ri.

- Você é patético – cuspiu ela.

- Patética é você, dando esse showzinho e no fim me trai com seu amigo, cadê sua dignidade? Está na esquina pelo jeito, mas você tem razão, eu que sou mais patético, devia ter ouvido minha mãe e não colocado qualquer vagabunda para dentro de casa. Aqui fica com essa grana para pagar a conta... – Joguei o dinheiro nela, ela espumava de ódio, algumas pessoas riam.

- Babaca, você merece ser infeliz... – deixei ela gritando no meio do restaurante e sai de alma lavada, se tive alguma dúvida em relação e ela hoje não tinha mais.

André me procurou na terça feira, marcamos uma saída e após conversarmos eu muito educadamente falei a ele que já sabia da sua real orientação sexual e de sua intenção comigo a algum tempo e que não queria dar falsas esperanças a ele. André se fez de ofendido e após me falar um monte de barbaridades se virou e foi embora, pelo menos eu tentei, mas achei o comportamento dele no mínimo ridículo, bem provável se eu dissesse que sim essa hora estaríamos na cama.

Na quinta feira de madrugada após muito pensar decidi fazer o que meu coração e consciência mandavam. Arrumei minha mala, eu iria viajar, mas não seria para o nordeste, eu iria para o sul. Eram quase 8 horas da manhã quando estava tudo arrumado, com passagens em mãos e a mala fui para sala.

- Filho, que mala é essa? – Perguntou meu pai.

- Minha – respondia parando de frente para eles dois.

- Mas nosso voo para Maceió é só a noite – minha mãe explicou.

- Vou para Caxias do Sul – disse arrancando uma expressão de surpresas dos dois – meu voo para o Rio sai as 13:00h e de lá a conexão para Porto Alegre as 15:00h – expliquei.

- Mas como assim, você vai sozinho? – Meu pai levantou pegando a passagem da minha mão. Ele olhou para minha mãe.

- Vou com ou sem vocês – estava decidido – tenho que correr para concertar minha burrada – disse a eles, minha mãe sorriu e assentiu, meu pai também.

A manhã passou voando, estava quase saindo de casa quando ouço meu pai me chamar.

- Espera, nós vamos também – disse ele ajudando minha mãe vindo cada um com uma pequena mala – se faremos isso, faremos como família, está na hora de voltarmos para casa – disse ele me abraçando de lado.

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Comentários

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Seu conto é maravilhoso!!!!

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Aí gente ,eu chorei muito aqui eu sei sou uma manteiga derretida mais poxa velho olha a onde chegou essa situação mais, cara eu não queria ter que lê tudo só falta mais três capítulos e o William só posta uma vez por mês

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O MELHOR DOS MELHORES CAPÍTULOS SEM SOMBRA DE DÚVIDAS. NA VERDADE LUCIANO NÃO PASSA DE UMA CRIANÇA GRANDE. IMATURO, EGOCÊNTRICO. ACREDITO QUE AGORA PODE COMEÇAR A CRESCER. MAS NADA, NADA, NADA JUSTIFICA O SOFRIMENTO DE FABRÍCIO, A ABNEGAÇÃO DELE. PESSOAS ASSIM, ACREDITO NÃO EXISTIR MAIS.

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Deus, que capítulo forte! Confesso que me deixou meus olhos com lágrimas. Que intensidade de escrita, que uso de vocabulário perfeito, uau! te adoro, cara! você escreve muito bem. Quanto ao capítulo, o Luciano e o Fabrício se gostam, tenho certeza.

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espero que não demore a postar de novo, adoro seu conto

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Mdsssssssssssssssss!! Eu tô no chão viadooooooo com esse conto! Perplexo(a)!! Vou me jogar desse sofá!!!!

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Olá, William! Gosto bastante das suas histórias e devo dizer que estou curtindo mais essa que a sua anterior (apesar de ter sido boa também). Luciano está confuso, mas isso não dá o direito de machucar os amigos, o que ele fez com o Fabrício foi horrível. Quero que eles se acertem, mas no momento o que eu gostaria era do Fabrício ficar sozinho um pouco...

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Que saudades desse conto! A Carmem e Valmir são bem centrados e muito protetores, gosto do jeito que eles caminham, André mereceu muito o que aconteceu, mas sei que ele ainda vai aprontar alguma, já o Luciano merece sofrer mais um pouco, o cara não pensa no que fala e além disso é um bebê chorão! Tomara que o Fabrício encontre alguém, não precisa ser um namorado, mas um amigo de verdade, pro Luciano sentir a perda! E o João? kkkk

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Palavras mal ditas doi mais que um tapa na cara.....

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"Vida e morte estão no poder da língua" diz um Provérbio antigo. Espero que Luciano consiga ver o que realmente sente por Fabrício e que este também consiga ver o que realmente está em seu coração. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Eles chegaram mesmo no fundo do poço e beberam a água. Essa viagem vai ser bem reveladora. Nossa, essa versão de Valmir foi digna. Não vou mentir que lacrimejei em alguns momentos. Ainda bem que André ja é carta fora do baralho. E essa mensagem de João está voltando? Parece que os problemas de Fabricio ainda não acabaram. Poxa, tava com "saudades" de vc, benditas essas suas férias. Beaj

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O conto já vai acabar? Tá tudo entrando nos eixos. Só falta o João.

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Uma amigo sabe como machucar pois conhece as feridas que nos afligem como ninguém. Luciano penara para ser perdoado. William27, agora não é mais 26? Parabéns!!

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As palavras soltas ao vento doem mais que mil tiros.

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