Eu saí meio sem rumo até uma área que tinha acesso a parte externa daquele lugar. Como era bom respirar ar puro.
O sol estava forte, mas a brisa estava fresca, então fiquei alí espairecendo e relembrando tudo que acontecera até aquele momento, fiquei lembrando dos meus pais, como eu estava com saudade e o quanto queria revê-los logo, como eu também queria poder estar com o Gabriel agora, mas na verdade foi melhor assim, eu precisava aprender a sofrer sozinho.
-amor, podemos conversar? -Marcelo chega interrompendo meu sossego.
-senta aí. -digo seco, olhando para as árvores a frente.
-desculpa pelo soco. -ele senta me entregando uma compressa de gelo.
-está tudo bem, já levei tantos. O soco nem foi a questão disso tudo.
-como você sabe do Jason?
-no dia do ocorrido com o Brandon, eu fui durante a noite te procurar e acabei ouvindo a conversa entre seu pai e você. Obviamente você não iria falar sobre o Jason se eu te perguntasse, ou iria ficar me enrolando até me dizer, então procurei a pessoa que seria direta comigo sobre o assunto...
-minha mãe. -ele termina minha frase olhando agora para baixo.
-seria tão mais fácil você me dizer o motivo real para querer minha desistência, do que ficar meses sendo um idiota ríspido.
-eu não quero perder você também Charlie, eu te amo tanto que não suporto nem a idéia.
-o que você disse? -pergunto o olhando com certa surpresa.
-que não suporto nem a idéia de te perder.
-antes dessa frase.
-que eu te amo Charlie, eu te amo muito.
O meu sentimento por Marcelo vai além do que eu senti pelo Henrique, e precisou apenas de pouco tempo para perceber isso. Eu também o amava, queria tanto falar isso para ele, mas eu queria ser mais orgulhoso naquele momento.
-há, obrigado. -falei olhando para as árvores novamente.
-isso é tudo?!...obrigado? Tudo bem, acho que estamos conversados. -ele se levanta e vai saindo.
-eu também te amo. -quando viro para ver se ele ouviu, ele me envolve com os braços me dando vários selinhos do pescoço até a boca.
-eu sabia que você não iria me deixar sair assim, como é bom ouvir isso.
Não resisti e acabei me entregando, mas aos poucos fui voltando a realidade.
-espera, Marcelo espera. -fui me soltando. -nossa conversa ainda não acabou.
-não? O que mais falta?
-eu sei o quanto você sofreu pela perda do Jason, mas você não pode querer dirigir minha vida com medo de que aconteça o mesmo comigo. Eu sei dos perigos que eu possa vir a enfrentar, mas isso não depende mais só da sua proteção. O Gabriel já está sendo treinado pela Bruna, e você em vez de me apoiar apenas se agarra ao seu medo.
-eu tento amor, mas é algo mais forte que eu. -ele encosta sua cabeça em meu ombro e suspira fundo.
-eu não quero apenas que fique me protegendo, quero lutar ao seu lado, quero te proteger também.
Marcelo levanta a cabeça e por um longo tempo me olha sério.
-vem comigo, vou treinar você.
-o quê, como assim, agora? -pergunto enquanto ele me puxa.
-sim, agora.
Quando chegamos a sala de treinamento, Jack e Margoh ainda estavam lá conversando.
-cheguem para o canto que vamos treinar pesado agora. -Marcelo diz tirando novamente a camisa e se posicionando no tatame.
Me posicionei também e ficamos em posiçao de luta.
-eu te amo. -ele diz do outro lado gesticulando os lábios de forma silenciosa para eu conseguir lê-los.
-eu também te amo. -respondo da mesma forma.
Fomos então um ao encontro do outro. Marcelo dessa vez não teve piedade, os golpes dele realmente eram fortes, mas também usei bastante força para golpeá-lo. Em nenhum momento houve brincadeiras ou caricias, era murros e pontapés de ambos os dois. Levei bastante na cara e no estômago, mas também consegui o derrubar e deixá-lo com vários hematomas, mas ainda sim ele era bem mais forte do que eu. Em determinado momento Marcelo me derruba e senta em meu colo forçando meus braços para trás.
-você esta ótimo, mas precisa aprender bastante ainda.
Olhamos para os lados e não vimos mais meus sogros, provavelmente queriam dar privacidade a nossa luta. Ele então se abaixa e me beija tirando todo meu folego.
-amanhã as quatro da manha. -ele diz ainda com o rosto encostado ao meu.
Sentia sua respiração pesada e seu suor pingando em minha testa.
-sim treinador. -o viro de costas e fico por cima dele.
Ficamos alguns minutos dando alguns amassos antes de ir até a parte médica.
A noite mau nos tocamos, devido as dores apenas deitamos e dormimos, mas completamente felizes por saber que esse namoro vai mais além do que apenas paixão.
Depois de um ano e um mês desde que cheguei ao esconderijo, minha vida foi apenas de treinos e mais treinos, meu corpo já havia se acostumado à aquela rotina e eu estava bem mais forte, desde o dia da minha luta com Marcelo, ele passou a ser meu treinador.
-preparado Charlie? -Jack pergunta do outro lado do tatame enquanto Margoh e Marcelo apenas nos observava.
Apenas assenti com a cabeça em sinal de confirmação. Jack veio para cima e eu apenas ia defendendo até achar um momento para atacar, quando encontrei já lhe dei o primeiro soco. Minha concentração estava completamente em Jack, o que fiz muito errado, pois sinto um golpe nas costas, um outro agente entrara para lutar contra mim também.
-bem vindo ao clube. -Marcelo sorri baixo.
Eu não estava mais aguentando levar surra dos dois, mas eu ficava lembrando de todas as informações de Marcelo "técnica, concentração e foco", foi o que me fez conseguir ainda lutar com os dois.
Vez ou outra eu olhava para Marcelo, que apenas nos olhava de forma técnica, não demonstrando nenhuma reação.
Quando lancei Jack longe com um golpe, me foquei mais no outro agente, e aproveitei enquanto Jack se levantava para nocautear o que estava a lutar comigo, com uma sequência de golpes, o deixei desacordado no chão. Quando Jack já chegava perto, voei em seu peito deixando meu joelho firme em seu pescoço e o restante do meu corpo prendendo o seu.
Marcelo deu um sorriso de canto de boca e seguiu para a sala de tiros.
Na sala fiquei sozinho, apenas sendo observado pelos demais do outro lado da parede de vidro.
Eu tinha um campo com alguns obstáculos e alvos em pontos estratégicos e bem difíceis, algumas armas estavam espalhadas e escondidas pelo campo. Os alvos se esconderiam e me atacariam com balas falsas, mas com uma dor bem real, eu teria que ter bastante precisão e estratégia.
Quando uma sirene tocou já me escondi ao som do primeiro disparo. Mais difícil do que me livrar dos disparos, era encontrar as armas para contra-atacar, eram doze alvos e nove eu já havia derrubado, no décimo eu levei um tiro de raspão no braço, o que tirou um pouco do meu foco, então me escondi até ter uma estratégia de ataque. Quando contra-ataquei levou por volta de cinco minutos até derrubar o decimo segundo alvo. Então fiquei no meio do campo repondo o folego.
-Charlie Vieira. -eu ouvia a voz de Jack ecoar no campo através de auto falantes. -você foi iniciado.
Eu sentia um misto de alivio com adrenalina que acabou tomando conta do meu corpo, eu queria extravasar, e seria naquela hora, com meu treinador.
-parabéns amor. -Marcelo diz quando vou a encontro deles.
-cala a boca e vem comigo. -digo o puxando para o quarto.
Chegamos ao quarto, fechei a porta e abusei daquele corpo por completo.
-caralho amor, que foda foi essa?! -Marcelo escora na cama todo suado.
-vamos de novo. -vou indo passando a língua por seu pau para fazê-lo endurecer novamente.
-mas já transamos três vezes, agora você vai ter que abusar da bunda, porque o pau precisa de descanso.
-não seja por isso. -o viro de costas comendo meu namorado em todas as posições possíveis.
-nunca vi esse fogo todo em você! -ele diz se jogando na cama depois de gozar. -nem tem mais suor para escorrer.
-agora sim estou aliviado. -vou me encostando em seu peito.
Mau deitei e já fui dormindo, eu havia ficado exausto depois da quarta transa.
Minhas aulas haviam acabado, mas eu continuaria treinando sempre, Marcelo aproveitava para treinar comigo. Agora eu tinha um saco para esmurrar também, e Marcelo e eu sempre praticávamos juntos, eu já não ficava mais apenas o observando.
-confesso que fiquei observando um pouco para saber se realmente era você aí espancando esse saco. -Gabriel vinha em minha direção.
-Biel, não acredito. -vou correndo e lhe dou um abraço bem forte. -como é bom te ver, olha como você esta forte.
-forte? Olha só para você maninho, todo troncudo. -ele fica analizando meu corpo. -nem preciso perguntar o que você aprendeu né?! Seu corpo já responde por si só todo o esforço.
-mas e você, como foi lá?
-bom, pode me chamar de "o especialista" em armas. Aprendi praticamente tudo sobre armas, monitoramento e segurança. Tudo que envolve essas paradas secretas do governo. Ou seja, eu serei seus olhos quando você estiver em batalha.
-vamos tomar alguma coisa e conversar direitinho sobre isso. -passo os braços em seus ombros o acompanhando.
-eca, você esta suado. -ele diz se afastando um pouco.
-estou com suor natural de homem viril, é diferente. -vamos sorrindo até sumir da sala de treinamento.
Os dias não poderiam estar melhores, eu me sentia bem, a única coisa que me deixava muito triste era a saudade imensa da minha família. Eu falava com eles sempre, mas eles ainda achavam que eu estava no programa de proteção a testemunha, e muito bem aliás, só o motivo de estar seguro já era o suficiente para eles, mau sabiam eles no que eu fui me meter.
Era madrugada quando escuto alguém bater na porta.
-entra. -Marcelo responde meio sonolento.
-desculpe incomodar agentes, mas o Jack solicita a presença de vocês imediatamente na sala de reunião. -era Alice, meiga como sempre.
-tudo bem Alice, obrigado. -digo já me levantando. -o que será que seu pai quer a essa hora da madrugada.
-se tratando do Jack, nada me surpreende. -Marcelo levanta colocando uma bermuda.
Da mesma forma seguimos para a sala de reunião.
-no meu tempo tínhamos que nos aprontar só para nos apresentar a sala de reunião, independentemente do motivo para que fôssemos chamados. -Jack nos olha levantando a vista.
-aqui não é a ISE pai.
-sobre isso mesmo que eu preciso falar com vocês. -ele coloca os óculos de grau. -esse é um agente aqui do nosso esconderijo. -ele mostra a foto em um painel. - a Bruna descobriu que amanhã ele vai estar indo para a ISE passar informações a nosso respeito, a Bruna acha que Edward já possa saber nossa localização, não exatamente que estamos localizados abaixo do solo, mas ainda sim é perigoso.
-sim, o Tony. Sei quem é, mas você não está querendo me enviar para uma missão não é pai?! Eu não faço mais eliminações, esqueceu?!
-exatamente. -Jack abre um largo sorriso. -vocês irão eliminar o Tony antes que ele revele nossa localização precisa.
-vocês?! Não mesmo. O Charlie não foi treinado para missões e sim para a própria defesa no caso de Edward aparecer.
-o Charlie foi sim treinado para defesa pessoal, mas você tanto quanto eu, sabemos que ele precisa se virar na prática, e claro, você sendo um agente completo vai saber orienta-lo bem.
Marcelo me olha por um instante para saber minha decisão, então confirmo com a cabeça que sim.
-onde é a missão? -Marcelo se vira agora para Jack.
-ótimo, vocês irão eliminar o Tony a mais de dez mil pez de altura, em um voo dos Estados Unidos a Londres. Você vai de passageiro disfarçado Marcelo e como você nunca teve contato com o Tony, Charlie, você irá de comissário, já dei meu jeito para te colocar na tripulação do voo.
-quanta ironia. -solto um riso baixo para Marcelo.
-vocês partem as dez da manhã, e quero extremo sigilo, pois será um vôo cheio.
..
VOLTEI HAHA.