Adam dirigia seu BMW pela cidade até a antiga garagem abandonada na periferia, onde Tariq Shard e seu irmão, Ivan, trabalharam juntos em seu projeto até o acidente. Esta era a área decadente da cidade, onde o extenso dano causado pelo fogo e a linha de plástico amarelo de “não cruze” da polícia misturavam-se perfeitamente com os arredores pobres.
Adam aproximou-se em silêncio, evitando pisar em vidro quebrado para não assustar Dylan, que estava encostado no batente da porta olhando para a escuridão. O carro nas proximidades e o tempo chuvoso de abril refletiam como Adam sabia que Dylan estava se sentindo. Ele também se sentia assim. A última vez que viu Ivan, soube que algo estava errado. Como irmão mais velho, Ivan sempre foi o mais descontraído e paciente; o irmão que todos buscavam para orientação e aconselhamento.
Até mesmo seus pais passaram a procurá-lo, buscando sua opinião sobre negócios e assuntos pessoais. Ele foi, rapidamente, tornando-se o chefe da família, e seu pai teve o prazer de abrir mão, lentamente, de seu papel para dá-lo ao sábio e sensato filho mais velho. Mas no último dia em que Adam vira o irmão, Ivan entrara em seu escritório com o pânico estampado no rosto, carregando uma bolsa de laptop, que despejou sobre a mesa.
— Adam, preciso que você esconda o conteúdo dessa bolsa em seu cofre. Não conte a ninguém. É importante! Adam permaneceu sentado em sua cadeira giratória de couro. Geralmente, ele se sentia poderoso e seguro por trás daquela enorme escrivaninha de mogno, mas o comportamento de Ivan era perturbador. Um pouco de brincadeira deveria acalmar as coisas.
— O que está errado, Ive? Problemas com o FBI? Ivan não riu. Em vez disso, inclinou-se sobre a mesa como se estivesse se forçando a não pegar o irmão pela camisa e sacudi-lo.
— Pela primeira vez em sua vida, pode fazer o favor de atender meu pedido e colocar esse material em seu maldito cofre? Tariq e eu... bem, algo terrível aconteceu. Adam arqueou uma sobrancelha.
— Este é o projeto misterioso no qual você está trabalhando? Ivan puxou uma cadeira e caiu sobre ela.
— Sim. Tenho pavor de que isso esteja prestes a cair nas mãos de quem queira pagar mais. — De quem você está falando?
— Não sei. Os russos; o Oriente Médio. Uma vez que eles coloquem suas mãos sobre isso... você pode imaginar? Adam olhou para o irmão.
— Não, porque você não vai me dizer o que é. Se você estiver em algum tipo de problema, Ivan... talvez seja a hora de explicar o que está acontecendo. Ivan correu os dedos por seus cachos castanhos, fazendo-o parecer uma versão mais velha de Dylan.
— Tudo bem, acho que você merece uma explicação. Chame Dylan; traga-o aqui. Vou lhe contar tudo sobre o que Tariq e eu inventamos. E também, há uma empresa chamada Grafton Techs que preciso que você compre...
Dylan se juntou a eles
— e ficou igualmente surpreso ao ver seu irmão mais velho em pânico daquele jeito. Eles o ouviram, incapazes de acreditar no que Ivan estava dizendo. Poderia ser verdade? E então, naquela noite, Tariq incendiou o lugar e Ivan morreu. ****
Voltando ao presente, Adam se juntou a Dylan na entrada queimada da oficina, desejando desesperadamente que pudesse ter feito mais para evitar o desastre.
— Oi — disse Adam.
— Vi você sair. Achei que tinha vindo para cá. A expressão de Dylan era grave. — Por que não me disse que Tariq estava no escritório?
— Estava muito ocupado tentando me livrar dele. O que você esperava que eu fizesse? Pedisse a ele que sentasse para que você pudesse pegar seu taco de beisebol? Dylan olhou para o local vazio e queimado. —
Não engoli tudo isso, Adam. Por que a polícia mudou de ideia? Algo não encaixa. Primeiro, Tariq foi levado para interrogatório acusado de incêndio criminoso, e não teria direito a fiança até o julgamento. Agora ele está solto de novo, à espera de julgamento. — Você acha que há algo mais acontecendo?
— Acho que ele está jogando com a polícia. Ele é um cara inteligente; eles são corruptos. Tenho certeza que ele lhes disse algo importante. Algo sobre o caso.
— Como o quê? Dylan olhou para Adam com raiva em seus olhos castanhos.
— Sei que ele assassinou Ivan. Só preciso de uma prova. Dylan, de repente, abaixou-se como se estivesse planejando cruzar a faixa de isolamento da polícia. Adam o agarrou.
— Dylan, não! Vamos lá. Não faça isso novamente. Também sinto falta dele, mas o lugar está todo queimado e ficarmos em apuros com a polícia não vai trazer Ivan de volta. Dylan se endireitou e soltou sua ira.
— Nada vai trazê-lo de volta! Jamais pensei que algo poderia ser tão doloroso. Não posso sequer pensar em como nossos pais estão se sentindo. É como se nosso mundo tivesse sido despedaçado.
— Eu sei. Mas, pelo menos, ainda temos nossa família. Nós sempre apoiamos um ao outro, certo? Eles compartilharam um sorriso fraterno. A lembrança do funeral de Ivan atingiu Adam e ele desviou o olhar. Ele percebeu algo importante naquele dia. Quando foi cercado pela família
— todos vestidos com roupas de grife, chegando em carros caros — ocorreu-lhe que todo o dinheiro do mundo não significada nada sem... ele ousaria dizer isso... amor. Seus pais eram ricos, mas não poderiam comprar de volta seu filho morto. O extrato bancário pessoal de Adam sempre declarou orgulhosamente um total de quase infinito, mas ele não poderia usar um centavo para trazer Ivan de volta.
Ou para impressionar o belo derley. Seu corpo se aqueceu, ansiando por ele. Ele o queria. Mas Derley não era o tipo de pessoa que ele poderia comprar com presentes caros ou segurança financeira.
Derley queria o que dinheiro não podia comprar... Por que ele estava pensando sobre Derley em um momento como este? Como seus pensamentos levaram-no até Derley logo após lembrar Ivan? Ele se concentrou novamente em Dylan.
— Tariq disse que estava no escritório para pegar o que era dele. Parece que está determinado a colocar as mãos nos projetos. O humor melancólico de Dylan, de repente, mudou.
— Temos que escondê-los em outro lugar. Em algum local seguro. E o protótipo também.
— Concordo. Deixe o protótipo comigo. Vou esconder isso em algum lugar seguro. E vamos colocar as plantas no cofre do banco.
— Ok. E é melhor proteger o nosso outro ativo, certo?
— Sr. Carter?
— Precisamos manter Tariq longe. Você parece ter gostado muito dele. Adam puxou o casaco de inverno para afastar o frio.
— Não quero envolvê-lo nisso.
— Ele já está envolvido. Trabalha para Grafton Techs, que agora é praticamente nossa.
— Ainda não. Que droga esse acidente de carro de Frank. Se ele estivesse aqui, nós poderíamos ter resolvido isso rapidamente.
— Eu sei. Mas o que Ivan sempre disse? Esta é a situação e temos que lidar com isso. Cuide do Sr. Carter
— não deve ser um grande sofrimento para você. Dylan piscou, brincando. Adam se recusou a mostrar o quanto ele gostava de Derley, então, deu de ombros.
— Tariq Shard o viu, não é? — perguntou Dylan.
— Ele não é estúpido, poderia encontrá-lo facilmente.
— Eu sei. Dylan levantou uma sobrancelha sugestivamente.
— Então você vai protegê-lo? Adam chutou uma tampinha de garrafa descartada. O pensamento de outro homem em qualquer lugar perto de Derley causou-lhe um ciúme possessivo.
— Sim, eu vou. Vou levar os planos para o cofre do banco e, em seguida, farei uma visita a ele. Vou me certificar de que Tariq fique longe.
— Ótimo, Adam. Isso não é apenas pela memória do nosso irmão morto; esse dispositivo pode revolucionar a humanidade. Mas alguém como Tariq Shard quer usá-lo para seu próprio ganho financeiro. Devemos a Ivan colocar isso no mercado em nossos termos.
— Eu sei e concordo. Vou falar com o Sr. Carter em seu hotel, mais tarde. Mas primeiro, vou levar o protótipo e os modelos para um lugar seguro — bem fora do alcance de Tariq Shard.