- espera aí. - Junior falou antes que eu me distanciasse.
- oi? - perguntei.
- não conta pra ninguém desse nosso acordo viu!? E nem que eu vim te deixar em casa. Combinado? - disse ele.
Apenas balancei a cabeça que sim.
- perfeito. - disse ele.
Junior levantou os vidros do carro e saiu cantando pneus.
A lágrima, que estava presa, escorreu pelo meu rosto e molhou meus lábios.
- antes eu tivesse aceitado o dinheiro. - pensei comigo mesmo.
Não bastante passar por tudo aquilo, ao entrar em casa encontrei minha mãe me esperando para uma conversa.
- antes que a senhora brigue comigo, eu quero explicar que não foi por mal. Mexi no cofre por um motivo bastante importante.
- que motivo foi esse? - ela me olhava com o rosto sério sentada no sofá da pequena sala.
- o celular não despertou, mãe. De ônibus não daria tempo de eu chegar no colégio, e a senhora sabe que eu não posso perder essa bolsa.
- isso não justifica, Eduardo. O que você fez foi roubo meu filho.
- claro que não mãe. - Tirei a mochila das costas e sentei ao lado de minha mãe.
- mudou de nome então?
- foi uma necessidade. Eu ia explicar tudo, assim como estou fazendo agora.
- eu não aceito. Não aceito Eduardo. Por que não me ligou?
- eu tava sem crédito, e mesmo que tivesse não dava tempo pra tentar explicar por telefone. Tenta entender mãe, eu vou devolver tudo antes do natal.
- a questão não é essa meu filho. O problema é que quem faz isso uma vez quer fazer várias outras.
- mas eu não sou assim. Jamais passaria a mão em algo que não é meu. É triste saber que a senhora ta me vendo como um ladrão.
- eu não falei isso, Eduardo. Entenda que eu só não quero que isso se torne rotineiro.
- não vai se tornar mãe. Pode ficar tranquila.
Minha mãe sorriu aliviada.
- ok! Va tomar uma banho pra almoçar.
- o que tem hoje?
- fritei umas asinhas de frango.
- hummm. Beleza!
Peguei minha mochila e fui para o quarto que dividia com outros dois irmãos menores, Kauan de 14 e Kaue de 10. Os dois dormiam em suas respectivas camas. Provavelmente haviam chegado da aula, almoçaram e já estavam tirando o sono da tarde.
- vida mansa. - Pensei enquanto tirava minha roupa.
Peguei uma toalha, enrolei na cintura e fui ao banheiro da cozinha, era o único que tínhamos em casa.
Após o banho, almocei e tentei deitar um pouco para descansar, mas não conseguia. A chantagem do Junior não saia da minha cabeça. Não era preguiça de ajudá-lo a fazer o trabalho nem nada, mas eu tinha medo que ele continuasse me chantageando ate o final do ano letivo, ou pior, que ele não cumprisse o acordo e me entregasse pra direção.
- como aquele bicho descobriu que eu pulei o muro? - pensei enquanto tentava dormir.
O calor tava grande e eu achei melhor me levantar. Tirei meu short e me joguei no sofa da sala apenas de cueca.
- mãe? - chamei.
- mãe? - continuei a chama-la e não obtive resposta.
Procurei pela casa e só então me dei conta de que estava sozinho. Provavelmente meus irmãos estavam na aula de educação física e minha mãe havia ido fazer faxina na casa de algum riquinho.
Tranquei a porta da sala, tirei a cueca, coloquei um filme porno antigo no dvd, deitei no sofá e comecei a alisar meu pau.
Não demorou muito e eu estava com o abdômen todo melado de gala. Gastei um rolo de papel higiênico quase todo para poder me limpar. Em seguida limpei toda a casa, tomei outro banho e enfim consegui dormir um pouco.
No dia seguinte acordei a tempo de apanhar o ônibus para ir ao colégio e chegar a tempo.
- bom dia sr Luiz. - falei na entrada da escola.
- bom dia meu filho. Hoje deu tudo certo.
- foi óh! - Sorri.
Tomei uma água no bebedouro que tinha próximo ao banheiro masculino, e em seguida me virei para ir pra sala. Um carinha do terceiro ano b'' se esparrou comigo, e por muito pouco não fomos ao chão.
- foi mal cara. - falei me desculpando.
- que isso. Ta tranquilo. Te machuquei?
- não, não. E tu? Machucou?
- não! To de boa.
- beleza! - falei me despedindo e tentando continuar meu trajeto ate a sala.
- espera um pouco. - disse o rapaz me encarando e fazendo com que eu olhasse para trás na direção dele.
- fala. - disse eu.
- tu que é o Eduardo do terceiro C''?
- sou sim.
- coincidência da porra. - disse ele sorrindo.
- coincidência porque? - Perguntei.
- falaram que tu é fera em português. - disse ele abrindo a mochila da Nike que estava em suas costas. - Tenho um negócio aqui pra ti fazer pra mim.
Logo me veio a mente a imagem do Junior do dia anterior.
- que negócio? - perguntei já suspeitando do que se tratava.
O cara tirou uma apostila de dentro da mochila e me entregou.
- pra que isso?
- é só um trabalhinho que eu preciso entregar ainda hoje. Você não vai se importar de fazer pra mim né!?
Aquilo era coisa do Junior. O cara estava disposto a me chantagear e usar por muito tempo.
- o que é pra fazer? - perguntei com o rosto fechado.
- páginas 42 ate a 45. - disse ele.
- porra! Mas é muita coisa. - falei folheando a apostila de português.
- faz uma forcinha que da.
- é impossível, cara. Eu levaria umas duas horas pra terminar isso tudo.
- então velho. Tu começa agora e me entrega após o intervalo.
- mas agora eu tenho aula.
- você vai dar um jeito eu sei que vai. - disse ele virando as costas e entrando no banheiro.
O cara estava convencido de que eu iria usar o meus dois primeiros tempos de aula para fazer o trabalho dele. Provavelmente era mais um que sabia o que havia acontecido no dia anterior.
Respirei fundo, coloquei a apostila na mochila e fui para dentro de sala.
- bom dia né!? - disse Ana.
- bom dia Ana. - falei dando um abraço nela.
- não precisou pular o muro do colégio hoje? - perguntou, Pádua.
- não. - fingi sorrir.
Estava tão nervoso que não conseguia quase falar com meus amigos. Em algum momento a direção da escola saberia que eu havia pulado o muro e com certeza eu seria penalizado.
- ta tudo bem amigo? - perguntou, Ana passando a mão sobre o meu ombro.
- ta sim. - falei.
Tirei a apostila de dentro da mochila e comecei a resolver o trabalho do carinha que eu nem ao menos sabia o nome.
- o que é isso? - perguntou Pádua.
- que? - fiquei assustando pensando que ele tivesse descoberto o que estava acontecendo.
- ta focado pro enem né!? - disse Pádua apontando para a apostila.
- ha! - falei aliviado. - sim cara. Vou lutar por medicina.
- é isso aí amigo. Nos encontraremos nos corredores da federal. - disse Ana sorrindo.
- ces vão fazer alguma coisa hoje a noite? - Pádua perguntou enquanto escrevia o conteúdo do quadro.
- eu nada amigo. Sou toda sua essa noite! - respondeu Ana enquanto também copiava.
Eu era o único esquisito da roda. Se a professora me pegasse fazendo outra coisa que não fosse as atividades do quadro, eu estaria fodido com toda certeza. Coloquei o caderno por cima da apostila e tentei reversar entre o conteúdo da aula e o trabalho do filho da puta do 3° B''.
- vamos tomar umas la em casa hoje?
- hoje amigo? - perguntou, Ana.
- é! Amanhã é sábado amiga, dia que não temos hora pra acordar. - disse Pádua.
- pra quem? Pra vocês? Por que é o dia que eu sou mais escravizado.
- lere, lere, lere, lere, lere. - brincou Pádua.
- deixa de ser reclamao Dudu. Vamos aproveitar que a vida é uma só. - disse Ana.
- eu não to reclamando, mas essa é minha realidade.
- então a gente bebe la em casa e amanhã vamos te ajudar nos teus afazeres domésticos. - disse Pádua.
- eu não garanto ajudar, mas prometo ir la da um incentivo moral. - disse Ana.
- esse incentivo tu enfia no teu ''priquito''. - disse Pádua.
- eu vou enfiar meu dedo nesse teu cu. - disse Ana.
Eu ri da contenda deles dois.
- e aí. Bora Edu? - convidou Pádua.
Sem pensar duas vezes, acabei aceitando. Afinal, como a Ana disse a vida realmente é uma só.
Chegou o horário do intervalo e eu ainda não havia terminado o trabalho.
- vamos de que hoje? - Ana se referia ao lanche.
- hoje não vai da pra eu acompanhar vocês. Vou ler essa apostila ao menos ate a pagina 50. - menti.
- menino, tu ler isso em casa.
- da não Ana. A noite eu vou la pra casa do Pádua e amanhã tenho que ajudar minha mãe em casa.
- e domingo? - perguntou Ana.
- domingo tenho que revisar todo conteúdo da semana.
- esse meu amigo é só o oco. - brincou, Ana. - quer que eu traga alguma coisa?
- não amiga. To de boa. - falei sorrindo.
- sei! Mas vou trazer assim mesmo. Só por precaução.
Ana saiu junto com Pádua e eu acabei ficando sozinho dentro de sala. Devido ter dois condicionadores de ar ligados, a sala ficava toda fechada.
Não demorou muito tempo e apareceu alguém pra me fazer companhia.
- até que enfim te encontrei. Não foi pro intervalo por que? - era o Júnior.
- to ocupado. - foi só o que consegui responder.
- tó. - disse me entregando uma embalagem.
- que isso? - perguntei apanhando o produto.
- pra você comer.
Abri a embalagem e tinha um sanduíche e um copo plastico com suco de laranja.
- não precisava.
- claro que precisava. Você ta me ajudando, é o mínimo que posso fazer. - disse ele.
O Junior só podia ser bipolar. O cara me esculachou no dia anterior, e agora estava pagando lanche pra mim?
- Na saída é pra me esperar viu!?
- pra que? - falei dando uma mordida no sanduda.
- vamos la pra casa hoje fazer o trabalho.
- hoje não da não. Já tenho compromisso com minha mãe.
- então desmarca. - disse ele me entregando o celular.
- não posso! Já tinha combinado de ajudar ela. - falei devolvendo o aparelho.
- da seu jeito. - disse ele me virando as costas.
- hey! - falei antes que ele saísse da sala. - To falando sério, não vou poder ir.
- te vira. O trabalho é pra entregar segunda e o único tempo que vou ter é essa tarde. Na saída me espera la nos fundos da escola. - disse ele saindo.
Deu uma vontade de chorar. Um misto de raiva com desespero. Talvez se eu não tivesse pulado o muro na manhã do dia anterior, nada disso estaria acontecendo.
Finalizei o trabalho do carinha e fui entregar.
- aqui não, me espera la dentro do banheiro. - disse ele próximo ao pátio da escola.
- por que aqui não?
- la no banheiro. Já falei. - disse ele.
Esses caras eram engraçados. Precisavam de mim, e tinham vergonha de falar comigo em público. Antes, eu pensava que essas coisas só aconteciam em filmes.
Deixei a apostila do cara em um lugar visível dentro do banheiro, lavei meu rosto, e voltei pra minha sala. Não ia ficar esperando por ele a vida toda.
Sentei em minha cadeira, e aguardei meus amigos chegarem. O sinal tocou e aos poucos a sala foi enchendo. O último a entrar foi Junior com sua turma. O cara me lançou um olhar enigmático.
- onde tu tava? Vim aqui deixar teu lanche e não te vi. - perguntou Ana.
- tinha ido até à biblioteca. - menti.
- que doce é esse que tem na biblioteca que eu também quero provar? Agora é tu e o Pádua com essa putaria.
- a senhora me respeite! Puta é a velha da sua vó. - disse Pádua me arrancando um sorriso.
A aula terminou e eu chamei a Ana num canto da escola pra fazer uma pergunta que estava entalada na minha garganta.
- Ana, deixa eu te perguntar uma coisa. - falei em uma área isolada do colégio.
- pergunta amigo. - disse ela.
- tu comentou com mais alguém sobre eu ter pulado o muro da escola?
- claro que não. Por que?
- por nada. - falei.
- alguém mais ta sabendo? - perguntou ela.
- não... Acho que não! - menti. - não comenta com ninguém ta, só por precaução.
- pode confiar amigo. Eu não faria isso contigo. - disse ela.
- eu confio. - sorri.
Naquele final de aula eu não vi o Pádua, despedi-me da minha amiga, liguei pra minha mãe explicando que não iria pra casa aquela tarde, e fui encontrar com o Júnior no local combinado.
O cara não demorou muito e estacionou o carro na parte de trás do colégio.
- tem alguém olhando? - perguntou abaixando o vidro do seu Civic preto.
- não. Ta tudo limpo. - falei.
- então entra rapidão. - disse ele.
Eu não entendia porque o Junior tinha tanta vergonha de alguém ver eu entrando no carro dele. Durante o percurso ele não conversou comigo, ligou o som do carro e foi o tempo todo calado.
A vida é interessante: Quando ele precisou me convencer de fazer o trabalho com ele, foi todo caridoso e amigável. Agora que já tinha conseguido o que queria, não me tratava mais com afeto. coloquei o cinto e, pela vidraça do carro, fiquei admirando a paisagem. Também não iria fazer questão da amizade dele. Aquilo seria só negócios, e depois ele me deixaria em paz. Eu torcia pra que isso acontecesse.
Entramos em um condomínio de luxo, onde Júnior abaixou parte do vidro do carro para se identificar.
- ok! - disse um cara fardado por trás do vidro de uma casinha.
Um portão foi aberto, Junior levantou o vidro do carro novamente e entrou. Eu fiquei encantado com o local. Fiquei admirado mesmo, eu parecia aqueles caras do interior quando vão ao shopping pela primeira vez. Era tudo muito lindo: a rua toda em pedras coladas ao chão, as mansões - sem cercados algum - com grandes jardins. Parecia cena de filme americano.
Junior estacionou o carro em frente a uma enorme casa amarela. Ele saiu por uma porta, e eu desci pela outra.
- o que foi? - disse ele ao me ver com cara de besta parado em frente a fonte que tinha na entrada de sua casa.
- isso aqui é lindo cara.
- achou mesmo? Nossa casa é uma das mais simples aqui da vizinhança. - disse ele já acostumado com aquele lugar.
O cara foi andando e eu o acompanhei. Ao chegar na entrada principal, Junior passou pela porta e eu parei na calçada pra tirar meus tênis.
- que tu ta fazendo? - disse ele me encarando de cima pra baixo.
- vou tirar meu tênis pra não sujar a casa.
Junior não se aguentou em risos.
- cara, tu ta doido? Coloca isso daí e me segue.
Eu coloquei os pés dentro do tênis de qualquer jeito e continuei seguindo Junior.
- Alexandre? - disse uma mulher parada na sala.
- Oi Bá. - disse o rapaz.
- seus pais ligaram pra você?
- sim. Foram pra Angra né!?
- isso. Você vai precisar de alguma coisa?
- não, não Bá. O almoço ta pronto?
- sim. A hora que você quiser, é só falar que eu dou ordens para servir.
- você quer almoçar agora? - Junior perguntou.
- não! - falei tímido.
Minha barriga estava colada nas costas, mas eu fiquei com vergonha de aceitar o almoço.
- beleza Bá. Daqui a pouco eu te aviso. - disse o menino continuando a subir as escadas.
A senhorinha branca de cabelos grisalhos me olhou e me cumprimentou com um sorriso.
- amiguinho do Alexandre? - perguntou com simpatia no olhar.
- sim senhora. - falei voluntarioso. Eu nem era amigo daquele cara sem escrúpulos, mas como eu iria explicar isso àquela doce senhora?
- fique a vontade. - disse ela.
- obrigado, senhora. - falei.
Que mulher gentil. O Junior ou Alexandre, como ela o chamava poderia ter herdado a simpatia dela.
Após subirmos as escadas, Junior abriu a porta do que eu supus ser um quarto. O cara entrou e eu fiquei parado no corredor.
- o que ta esperando? Que eu te carregue no colo? Entra aí. - disse ele.
Era difícil entender se Junior era irônico, ignorante ou se aquela forma de tratar os outros fazia parte de sua cultura.
- da licença. - falei entrando no quarto.
- fecha a porta. - disse ele.
Como aquele quarto era grande. Medindo com os olhos, dava pra perceber que ele era aproximadamente umas duas vezes maior que o meu. A parede toda pintada de azul com marfim, teto de gesso com um lustre no meio, uma porta de vidro que dava acesso a uma varanda.
- Porra! O cara tinha uma varanda dentro do quarto. - pensei.
- o computador ta no ponto. - disse Junior apontando para a mesinha que ficava próximo a sua cama.
- beleza! - falei tirando meu caderno de dentro da minha mochila, e a jogando em cima de um tapete que ficava ao lado da cama de Junior.
Sentei na cadeira giratória que ficava na mesinha do computador e abri o word. Pelo monitor eu vi o reflexo do Junior tirando a roupa.
- meu Deus. Ele ta ficando pelado. - pensei.
Aquilo era tão natural. Tenho certeza que Junior não tinha maldade em tirar a roupa na minha frente.
- ta precisando de alguma coisa? Um suco, água, café... - disse ele parando em minha frente apenas de cueca.
- não! - respondi nervoso.
Junior estava apenas de cueca. Uma box alvinha que deixava marcado seu material. Ele tinha alguns pelinhos caminhando até a entrada da parte da frente da cueca. O perfume dele... que perfume era aquele? Tão bom que me deixava sedado.
- quer colocar uma roupa mais confortável?
- quero sim.
- da uma olhada aí, ver se tem alguma coisa que sirva pra ti. - disse ele apontando para o roupeiro.
- beleza! - respondi saindo da cadeira e indo em direção as gavetas.
- vou tomar um banho rápido, quando eu terminar a gente desce pra almoçar.
- ta bom! - enfatizei com a cabeça.
Abri as gavetas de uma por uma. A primeira logo de cara era a gaveta onde ficava as cuecas. Era tudo extremamente organizado. As cuecas eram divididas por cores em fileiras pares.
Na segunda gaveta ficavam as meias e os cintos. Mais uma gaveta com a organização impecável. Abri a terceira, a quarta e apenas na quinta gaveta fui encontrar shorts. Procurei algo que se adequasse em mim, e encontrei um short branco do Corinthians. Tentei puxa-lo, mas senti que estava preso em alguma coisa. Tirei vários shorts para poder então pegar o meu escolhido e o motivo de ter ficado emperrado eram algumas revistas.
- caralho! Que isso? - falei curioso.
Por baixo dos shorts tinham várias revistas pornográficas, a maioria apenas de mulheres peladas. Tentei folheá-las rapidamente e encontrei algumas páginas bastante surradas e ate coladas.
- punheteiro. - pensei sorrindo.
O chuveiro foi desligado, e eu tratei de arrumar tudo o mais rápido possível. Quando Junior saiu do banho, eu já estava vestido com seu short e sentado na mesinha do computador trabalhando tranquilamente.
- quer ir la almoçar agora? - disse ele secando o cabelo com a toalha.
- quero. - respondi! Minha barriga roncava e não dava mais pra enganar a fome.
Descemos a escada e caminhamos ate a cozinha.
- Bá? - Junior procurava pela senhorinha simpática.
- A Bá teve que dar uma saída. - disse uma senhora lavando louça na cozinha.
- a comida ta quente, Irene? - perguntou Junior parando atras de um balcão americano.
- ta sim. - disse ela.
- serve dois pratos pra gente, por favor. - pediu o rapaz.
- sirvo sim. Vão querer suco ou refrigerante?
- quer beber o que, Eduardo? - perguntou Junior me fitando.
- pode ser suco? - perguntei.
Junior sorriu.
- não sei cara. Tu que sabe. - disse ele tirando onda.
- pode sim, pode ser suco. - falei sorrindo.
- então dois sucos, Irene. - disse o rapaz.
- ta bom. Espera só um pouquinho que eu já sirvo vocês.
- a senhora quer ajuda? - ofereci-me na mais pura inocência.
Junior, mais uma vez, riu de mim.
- bora la pra sala. - disse ele me puxando.
- obrigado. - agradeceu a moça.
- por nada. Se precisar eu vou ta la na sala.
Junior me levou ate um local onde a família dele comia. Tinha uma mesa bastante grande cor de tabaco com várias cadeiras acolchoadas, alguns quadros na parede, e um lustre quase do tamanho da própria mesa pendurado no teto espelhado. Mais uma vez fiquei impressionado.
Junior sentou numa ponta da mesa, e eu, na outra extremidade.
- senta aqui pô. - disse ele apontando para uma cadeira que ficava do seu lado. - pra que sentar tão longe se só estamos nós dois? Tu é todo estranho. - ele sorriu.
Junior machucava com as palavras. Não sei se era intencional ou se ele falava aquelas coisas sem medir as consequências.
Levantei da minha cadeira e fui para o lado do dono da casa. Não demorou muito e a dona Irene chegou com dois pratos, uma jarra de suco e duas taças com gelo.
Ela nos serviu e depois retornou aos seus afazeres.
Junior comia sem fazer barulho nenhum no prato. Eu não ouvia sequer o som de seus dentes triturando o alimento. Eu tentava imita-lo, mas não levava muito jeito. Nunca havia comido em casa de gente rica, e tava me sentindo um pouco inseguro. Em um certo momento, um pedaço do meu bife espirrou e voou no peito nú do Junior. O cara engoliu sua comida a seco, pegou um guardanapo, limpou o peitoral e depois me encarou. Esperei pelo grito, mas ao inves disso ele riu... Rio muito. Eu não estava entendendo nada.
- porra velho, tu me cagou todinho. - disse ele se levantando.
- desculpa cara, foi sem querer.
- não é assim que se corta um bife. - disse ele parando por trás de mim.
Junior estava sem camisa, usando apenas uma bermuda jeans rasgada.
- me ''daqui'' tua mão. - O abdômen do Junior roçava em meu braço.
O cara usava o mesmo método que os professores usavam para alfabetizar as crianças do jardim de infância. Ele segurou minhas duas mãos e foi me dando alguns toques da forma correta de comer.
- agora tenta sozinho.
- acho que não vou conseguir. - falei envergonhado. - sou acostumado a cortar a carne com os dentes.
- assim? - perguntou ele pegando a carne com a mão e a colocando direto na boca.
- é. - falei sorrindo.
- isso não é ruim, mas é bom você aprender a usar o talher. Em algumas ocasiões você vai precisar.
Eu apenas confirmei.
- bom, coma aí do jeito que você achar melhor. - disse ele levantando-se mais uma vez. - vou te esperar la no quarto.
- ta bom.
Após terminar meu almoço, eu retirei a louça da mesa e levei ate a pia.
- deixa eu te ajudar meu filho. - disse a empregada tirando tudo das minhas mãos.
- eu posso lavar minhas mãos aqui? - falei parado em frente à pia da cozinha.
- pode sim. Fique a vontade. - disse ela.
Terminando de me lavar, Irene me ofereceu um pano de prato limpo. Sequei minhas mão e retornei ao quarto.
Junior estava terminando de se trocar. O cara colocou uma bermuda, um tênis da Nike e uma regata.
- cara, surgiu um contratempo, tu não vai se importar de terminar nosso trabalho né!? - disse ele colocando um relógio prata no pulso.
No fundo eu me importava sim. Achava injusto ter que fazer tudo sozinho, mas fazer o que né!?
- Não. Tudo bem! - fingo concordar em fazer tudo só.
- eu não vou demorar. Você fica a vontade, se precisar de qualquer coisa pode falar com a Irene.
- ta bom. - falei.
- falou. - disse ele saindo pela porta do quarto.
Olhei para aquela enorme cama toda coberta de algodão, e não resisti, pulei em cima.
- que caralho macio. - falei sorrindo.
E era macio mesmo. Abracei-me com uma almofada e fiz planos pra um dia quando eu fosse rico ter uma daquelas. Bruscamente a porta se abriu e Junior entrou apressado. Levantei rapidamente, mesmo depois de ele já ter me visto.
- esqueci as chaves do carro. - disse ele.
Junior olhou pra mim e riu.
- pode dormir pô. Aqui tudo é nosso. - disse sorrindo e saindo novamente do quarto.
Eu senti tanta vergonha que fiquei com vontade de me jogar da janela. Arrumei a bagunça que eu havia deixado na cama, e foquei no trabalho de matemática.
As horas foram passando e nada do Junior aparecer. Quando deu 4 horas em ponto no relógio do computador, dona Irene entrou com uma bandeja repleta de ''gostosisses''.
- você deve ta faminto né!? - disse ela.
- to um pouco. - sorri.
- trouxe um lanchinho pra você. - Disse ela colocando a bandeja sobre o criado mudo.
- não precisava se incomodar não dona Irene.
- não é incomodo nenhum meu filho. Qualquer coisa to na cozinha.
- ta bom. - falei. - O Junior disse que horas voltava?
- se eu ti falar que não vi nem a hora que ele saiu.
- ta certo! - sorri.
A moça saiu do quarto, e eu fiz uma pausa para o lanche. Terminando de comer, voltei a me concentrar no trabalho. Recebi uma ligação do Pádua, e marquei na casa dele as 20 horas.
O dia começou a ficar escuro e nada do Junior voltar. Já era umas 18 horas quando ele foi aparecer.
- to quase terminando Junior. - falei.
- beleza! Depois tu finaliza, agora o Olavo quer falar contigo. - disse Junior
Só então reparei que ele estava acompanhado de outro cara.
Levantei da cadeira, e fui ate próximo deles.
- tu é um cagão né!? - o cara me insultou do nada.
- que? De que tu ta falando?
- tu me ferrou seu merdinha.
- hey brow. Abaixa a voz po, e fala direito com o cara. - Junior interviu.
- como é que tu quer que eu fale direito com esse filho da puta, depois do que ele fez?
- eu sei, mas tenta relevar. Você disse que ia só conversar.
- o que eu fiz que não to sabendo? Do que vocês tão falando?
- não precisa mentir pra nós não. - disse Junior. - E agora o que a gente faz contigo? - ele me encarou.
- me explica primeiro o que ta acontecendo, que eu não to entendendo nada.
- tu é muito zé ruela mermo. - disse Olavo.
O cara do terceiro B'' tentou me dar um murro, mas Junior o segurou pela cintura.
- agora não. - disse Junior.
- Como assim agora não? E depois? Depois sim? - pensei.
- por que você fez isso com o cara? - Junior me perguntou calmamente.
- fiz o que Junior? Eu to boiando aqui sem entender nada.
- eu vou dar umas porradas nele. - disse Olavo sem paciência.
- Eduardo, a gente não quer te bater, só queremos uma explicação.
- podemos conversar só nós dois, Junior? Esse cara ta me assustando.
Junior olhou para o amigo e pediu que ele aguardasse um pouco fora do quarto. - Olavo não concordou.
- espera um pouco la. Eu já te chamo. - disse Junior.
Olavo saiu jurando que iria me matar. Alguma coisa muito séria estava acontecendo.
- eu não fiz nada Junior. Juro por Deus que não sei do que vocês estão falando. - disse assim que fiquei sozinho com Junior.
- me responde uma coisa: De quem era aquela apostila que tu tinha na hora do intervalo?
- era desse cara aí. - falei.
- o que tu tava fazendo com a apostila dele?
- um trabalho que ele pediu.
- tu sabia que esse trabalho era pra hoje não sabia?
- sabia. Por isso mesmo eu fiz ele na hora do meu horário de intervalo.
- e tu entregou pra quem?
- eu deixei la dentro do banheiro. - falei.
- era só isso que queria saber.
- o que? O que foi cara?
- você jogou a apostila do Olavo no vaso sanitário. Agora os pais dele foram chamados no colégio e ele pegou suspensão por tua culpa.
- não! Eu não fiz isso não.
- claro que fez seu cuzão. Você vacilou com a gente. Cagou tudo.
- eu não fiz cara. Ele pediu pra eu esperar ele dentro do banheiro, e daí como ele tava demorando, eu resolvi deixar em cima do lavatório.
- era pra ter esperado o cara. Por tua culpa agora ele ta ferrado.
- mas não foi por mal, só que eu tinha que voltar pra dentro de sala.
- foda-se! Você fez merda e agora vai ter que pagar.
Junior tava irado.
O cara me virou as costas, e abriu a porta para que Olavo entrasse.
- e aí. - disse Olavo um tanto alterado. - Posso acabar com ele?
- aqui não. Leva ele la pra garagem.
- eu vou embora. Falei apanhando minha mochila do chão.
- não vai a lugar nenhum. - disse Olavo chutando minha mochila com todo o material.
- tu vai embora sim, mas num vai ser pra casa não. - disse Junior me encarando.
Continua...
Pessoal, seguinte. Eu não vou mudar o rumo da historia. O roteiro é esse e vou seguir ate o final. Não curto escrever conto que no primeiro ou segundo capitulo os protagonistas já estão se comendo. Pra quem acompanha minhas historias sabe que curto colocar vilão como protagonista. O enredo da narrativa vai tratar sobre Junior e Eduardo, e esses dois vão mudar muito até o final da historia. Quem não gostar, pode deixar de acompanhar galera, tem rolo não. Só não fiquem acompanhando e me criticando a cada capítulo, porque isso é muito desestimulante. Abraços!