Eu tinha seis anos quando o-vi pela primeira vez, ele estava parado no meio daquele aglomerado de pessoas que passavam ao redor dele com se ele fosse transparente, ninguém esbarrava nele. Eu parei no meio da rua para olhar o que havia de espacial naquele jovem que me encarava de longe. A movimentação era tanta ao redor dele, que aos poucos ele foi sumindo da minha vista e se perdendo entre as pessoas.
Dois anos se passaram e a segunda vez que eu o-vi, estava sentado no centro do tapete felpudo do meu quarto, costumava brincar no mesmo lugar quando voltava da escola.
Naquele dia, eu sentir uma presença atrás de mim como da primeira vez que eu o-vi, me virei e ele estava lá, dentro do meu quarto sentado na minha poltrona, ele estava me olhando curiosamente.
Os olhos dele eram cintilantes e cinzas, a pele era pálida e combinava com o tom dos cabelos brancos e desgrenhados que ele possuía. Ele ficou me encarando por alguns segundos como se não entendesse o porque dos meus olhos sobre ele, olhou ao redor e parecia está procurando algo além de nós dentro do cômodo. Ele me olhou novamente e inclinou o rosto de lado.
Eu não consegui sentir medo, ele era bonito e luminoso, eu estava fascinado por ele.
Depois ele parecia tenso, abriu os lábios e perguntou se eu estava vendo ele. Eu disse que sim.
Ele se levantou depressa e parecia meio desesperado, desconcertado talvez, meus olhos o acompanhavam ele andando de um lado para o outro no vão do quarto. Ele dizia que era impossível que eu não poderia está vendo ele, mais eu estava.
A roupa que ele usava era preta e moldava o corpo esguio e comprido que ele possuía, ele não era magro e nem acima do peso, aparentava ter uns vinte anos de idade.
Ele me pediu para levantar do tapete e eu fiquei de pé diante dele, ele se curvou apoiando as mãos nos próprios joelhos e me encarando. Falando claramente que eu deveria esquecer tudo que havia visto aquele dia e ele era fascinante de perto, ele pediu para que eu fechasse os olhos e só abrisse quando ele fizesse a contagem de um até três. Eu o fiz e fechei os olhos, ele começou a contar dando uma pausa constante entre os números, a voz dele era de um som grave roucamente leve, eu sentia ele se afastando, mais antes de ouvir o som do número três soar pelos lábios del, eu abri os olhos e o vi voando pela minha janela.
Meus olhos desviaram do papel em minhas mãos para encarar a classe de mais ou menos vinte e cinco alunos na minha frente, alguns me olhavam curiosos e atentos, já outros pareciam não ter dado a mínima importância para o meu relato, os únicos que me olhavam incrédulos era Louis e Molly, sentados lado a lado na primeira fileira.
-Muito bem Steve, ótimo relato fictício. Por um momento achei que tivesse sido...real.
Gleyce, a professora de literatura e Português comentou e sorriu.
-Estou feliz com seu empenho, Parabéns.
Olhei para ela com desdém, era como os outros, ninguém acreditava na minha história.
Obrigado...Murmurei de cabeça baixa encarando as palavras no papel, já arrependido de ter contado minha história.
-Coloque sua redação sobre a mesa e pode voltar ao seu lugar, em seguida é a vez de Louis Robert.
Coloquei a redação em cima da mesa e segui para minha cadeira ao lado de Molly, que balançou a cabeça negativamente para mim.
-Vocês não entendem nada...Murmurei aflito.
Fingi dá atenção para o que Louis relatava na frente da turma. Sobre o primeiro natal que ele havia passado com os pais quando eles ainda não tinham se divorciado, e foi meio sentimental ouvir isso.
A aula havia terminado e os alunos se agitavam na sala prontos para seguirem seus caminhos, eu arrumava meus pertences quando Louis parou em frente a minha mesa, Ergui meus olhos para o jovem de dezenove anos, olhos verdes claros dele circulavam pelo meu rosto.
-Porque você escolheu se mudar para Seattle?...Ele perguntou e passou as mãos pelos cabelos castanho escuro, deixando-os embaralhados.
-Aqui tem tantas faculdades legais e você escolheu se mudar.
Molly surge parando ao lado dele, também me encarando com os olhos azuis piscina, ela cruza os braços acima do peito.
-Isso mesmo, precisamos de uma explicação sua.
-Pra que querem saber?...Pergunto recolhendo minha mochila e ajeitando em minhas costas.
-Porquê somos melhores amigos á três anos...Louis diz, como se me lembrando algo que eu esqueci.
-Eu sei disso.
-Então vai ter que arrumar uma boa desculpa, pra justificar o motivo da sua partida.
-Seattle tem ótimas faculdades também, ótimas oportunidades e eu preciso de um tempo com meus avós. Sinto saudade deles.
Louis e Molly se entre olham, ela descruza os braços e soa ríspida ao falar.
-não acreditamos em você.
-O que importa? Isso não é novidade, vocês nunca acreditam em mim.
Perai!...Isso é uma indireta porque não acreditamos na sua historinha sobre o garoto de cabelo platinado, que invadiu seu quarto a...a um trilhão de anos atrás?...O tom dela é de deboche, Louis esboça um sorriso de canto.
-As vezes quero acreditar que você é normal Steve, mais você não colabora.
Reviro os olhos e dou de ombros.
-Isso não é historinha, aconteceu de verdade e eu o-vi não foi a um trilhão de anos atrás, foi a...
-Dez anos atrás...Louis completa e me encara com os olhos estreitos.
Você era só uma criança e crianças adoram criar fantasias, o bicho papão, o boi da cara preta. Você já tem quase dezoito anos Steve, devia esquece essa loucura, sabia que quando as crianças crescem elas tendem a esquecer boa parte do que viveram na infância?
-Isso é verdade...Molly concorda.
-Eu não vou nunca esquecer dele.
Então é essa a historia que vai contar para os seus futuros amigos da faculdade?...Louis pergunta e encaro o olhar sério dos dois
-Porque se for, eles vão acabar te chamando de louco lunático.
-É assim que vocês me chamam?..Pergunto, Molly nega e Louis respira profundamente, como se eu fosse um grave problema.
-Escolhi Seattle pra mudar de vida, quero voltar aos dias calmos que vivi lá e também...Deixar Nova Orleans para trás, isso inclui tudo nela, inclusive...Olho de um para o outro. -Vocês.
Eles se olham e me encaram incrédulos em seguida, alguns segundos de clima tenso pairam no ar e sem me despedir, dou costas para eles.
Admito que as vezes acho que eles tem razão, esperei por aquele jovem durante semanas, meses e anos. Ele nunca mais apareceu, mas o rosto dele, os olhos nos meus, a voz ainda são características nítidas na minha mente. Ele era muito fascinante.
caminho pela calçada, o clima está úmido e chuvoso fazendo com que poucas pessoas circulem pelas ruas e aumenta o fluxo de carros nas rodovias. Puxo o casado no corpo para me aquece mais do frio que sopra, e a chuva fina que cai do céu não ajuda em nada. Começo a achar que fui um pouco grosso com meu únicos amigos, mas é por isso que vou embora, quero esquecer um pouco Nova Orleans, voltar pro lugar onde nasci e reviver os bons momentos, sinto que lá reencontrarei o caminho certo...