Quando eu falei isso, ele estava com a xícara nas mãos para tomar o café. Ele começou a tremer e o Joel em minha frente também. O Thiago ao meu lado sussurra "Fodeu!".
O reitor olha para mim branco como uma vela e diz:
Reitor: Depois da janta iremos conversar!
Eu: Pois é, não vai dar, eu já tenho compromisso e não posso faltar, vão estar me esperando!
Reitor: Eu já falei que iremos conversar!
Eu: Não posso, eu tenho compromisso, não posso faltar!
Reitor: Não interessa! Nós vamos conversar!
Eu: Bom, só se for depois que eu voltar. Aliás, com licença, estou já atrasado para ir.
Reitor: Tu não ouse sair. Nós vamos....
Eu levantei do meu lugar. Fui ao dormitório. Fiz a higiene, troquei de roupa e fui para o compromisso. No caminho, a adrenalina havia passado. Eu tremia feito vara verde pelo enfrentamento que tive. Pensava enquanto caminhava: "Fernando, tu é idiota!! Tu perdeu tudo que tinha! Tu vai ser expulso!!! Tu vai perder o Thiago!! Que merda que tu fez?? Precisava fazer isso?? Burro!! Burro!!" De repente vejo um vulto atrás de mim. Me viro.
Thiago: Tu é louco? Que tu foi fazer? Eu te avisei que era melhor ficar calado!!! O que vai acontecer agora? Tu pensou nisso? Não!!! Não pensou nisso!!! Idiota!!! Como é que eu vou ficar?? Tu pensou nisso? Não!!! Fez o que está acostumado a fazer, a não pensar nas consequências do que fala!! Hein!!! Responde, droga!!! O que vai ser de nós????
O Thiago já chorava. Eu não sabia o que responder. Eu estava cego de raiva, estava frustrado, estava indignado. O Thiago me dá um empurrão e começa a voltar para casa. Eu olho para ele indo e apenas consigo responder baixinho.
Eu: Vou ser expulso!
Continuei rumo ao lugar em que tinha compromisso. Entrei. Cumprimentei a todos. Todos perceberam que havia algo errado comigo, mas ninguém ousou perguntar. Passamos ali umas 2h. Eram 21:50 e o limite de horário de chegada de volta para casa era 22h. O pessoal com quem eu estava decidiram ir num bar tomar algo. Nunca me convidavam pois sabiam que eu tinha horário para voltar, mas dessa vez eu fui com eles sem eles convidarem. Ficamos no bar tomando cerveja e conversando mais um pouco. Decidi voltar. Já era meia noite. Minha esperança era chegar e aquela conversa ser adiada para o dia seguinte.
Ao chegar no portão, ele ainda estava aberto. Pensei: "Perceberam que eu ainda não voltei, deixaram o portão aberto, não vou escapar da conversa." Dito e feito. Ao passar do portão ele começa a fechar. Fiquei enrolando pelo pátio tentando ter coragem de entrar. De repente a porta da sala se abre e o reitor aparece na porta.
Reitor: Já passou da hora. As regras da casa não mudaram! Entra, vamos conversar!
Eu: Prefiro ficar aqui fora. Prefiro dormir no gramado a conversar contigo!
Reitor: Eu sou o teu reitor....
Eu: Era meu reitor... Se fosse reitor mesmo, daria testemunho do que fala, não seria um hipócrita...
Reitor: Me respeite rapaz! Mas já que não quer entrar, então conversaremos aqui fora mesmo... Já que quer assim...
Eu: Já falei que não quero conversar...
Reitor: O que quer ou deixa de querer não faz mais parte de ti. Agora é o que EU quero. E nós vamos conversar e vai ser agora!! O que tu viu no meu quarto?
Eu: O que eu vi? Eu preciso responder? Tem certeza? Tu sabe muito bem o que eu vi. Tu sabe muito bem o que aconteceu entre tu e o Joel. Eu vi vocês dois se beijando. Eu vi vocês dois transando naquele quarto!
Reitor: Pare de inventar coisas...
Eu: Inventar???? Quem é que essa manhã estava dando formação que o correto é Homem com Mulher e nada diferente disso é aceitável? Quem veio todo cheio de moral fazer uma pregação que relação sexual, amor, atração, afeto, deve ser apenas entre homem e mulher, e à tarde estava se deitando com outro homem na cama?
Reitor: Tu está expulso. Eu te expulso daqui. Amanhã pegue as tuas coisas e eu vou te largar na rodoviária. Tu voltará para casa ainda amanhã de manhã!!! Eu não admito....
Eu: Não admite o que?? Vai me expulsar com qual argumento? Que eu te peguei em flagrante na cama com um seminarista? Que além disso ele tem apenas 17 anos?? Será esse o teu argumento??
Reitor: Eu vou te ensinar uma coisa chamada hierarquia. Que provas tu tens? É a tua palavra contra a minha! Eu sou o REITOR, tu é apenas o capacho. Tu não tem voz, ninguém vai acreditar em ti...
Eu: Quero te lembrar que apesar de tu ser o meu reitor, tu também está abaixo de alguém. Tu se esqueceu que por mais que seja reitor, tu não tem esse poder de expulsar. Como aqui são três casas, somente o DIRETOR DA INSTITUIÇÃO tem esse poder de expulsar. E para solicitar a minha expulsão, terá de ter um bom argumento. E não te esqueça que o diretor irá conversar comigo para me expulsar. Se teus planos era me expulsar logo pela manhã, saiba desde agora que isso tu não poderá fazer.
Reitor: Como tu é insolente rapaz!
Eu: Pois é, eu sou insolente. E eu ""esqueci"" de te falar na janta, que depois de ver o que eu vi, eu tive um encontro com meu orientador espiritual, e eu narrei tudo a ele sobre o que eu vi. E ele viu que eu estava bem abalado quando cheguei lá. Ele quis conversar sobre o que estava me atormentando e eu falei tudo a ele.
Reitor: Hahahahaha... quer me chantagear? Quem é o teu orientador espiritual? Tu foi o único que até agora não revelou quem é!
Eu: Não, não quero chantagear. Só estou te explicando que aconteça o que acontecer, falar o que quiser falar, o assunto não vai morrer com a minha saída. Sobre o meu orientador espiritual, não tenho obrigação de revelar. Você mesmo falou isso quando nos disse para escolhermos um orientador espiritual. Por isso, não te falei e não vejo necessidade de falar agora.
Reitor: Garoto maldito! Amanhã eu vou me reunir com o diretor e tomaremos a decisão que eu quero. Quero você expulso daqui.
Eu: Certo! Mas não esqueça de ter um bom argumento!!
Reitor: Vai dormir! E ao acordar, já vai arrumando as tuas coisas, tu não fica mais aqui.
Eu: Boa Noite!
Continua...