Fiquei vendo o taxi dela se afastar e depois disso, ainda um bom tempo parado na calçada sem saber o que fazer a seguir. Voltar para o Shopping ou ir para casa? Eu nem lembrava mais porque tinha ido ao Shopping... ah, era para comprar um tênis e fazer um lanche. Tarefa lanche feita, tarefa tênis ainda por fazer. Voltei para o shopping para comprar um tênis para caminhada. Mas a cabeça não saía de Bárbara. Andei pelos corredores com a mente vagando em pensamentos quase obsessivos sobre o que tinha acontecido. Para começar havia o imediato arrependimento de apenas ter dado meu número e não ter pego o número dela. Queria mandar pelo menos uma mensagenzinha de whatsapp e não tinha como.
Depois, à medida que as horas foram passando a mente de cima voltou a comandar a de baixo e eu comecei a me questionar – “cara, você está ligado que a menina é transex? Ela não é realmente uma menina, sacou? Por baixo daquele vestido tem um homem! E ainda por cima é garota de programa! Em que loucura você está se metendo?”
Eu mesmo me respondia. “Ela é tão linda, tão feminina! O rosto, o corpo, a forma de andar, o jeito como pega o celular, o modo de tirar os cabelos da frente do rosto... cada detalhe dela é tão feminino! É tão sexy, tão bonita!”
A coisa não encerrava aí. Tinha outra preocupação - “Você se deu conta que se um dia ficar com ela estará numa relação gay? Que vai fazer com o pau dela na hora da cama, campeão? Como vai apresentar ela para amigos e família? Já se imaginou chegando na casa do papai com ela?”.
Eu nunca tinha tido relação homossexual. Não que tivesse preconceito, pois para mim era cada um na sua e que sejam todos felizes. Apenas eu nunca tive desejo por homem. Meu desejo era exclusivamente por mulheres, e quanto mais femininas, melhor. Sabe aquelas bem menininhas, cheias de frescurinhas e delicadezas? Eram minhas preferidas. Sabe aquelas que não saem de casa sem salto alto, maquiagem e unha feita? Essas mesmo. E agora aparecia Bárbara na minha frente. Feminina até dizer chega, mas com aquele “detalhe a mais”. Como dar conta desse “detalhe”?
Tentei deixar tudo isso de lado. “Bom, besteira ficar se preocupando. Eu nem peguei o número dela, e ela não vai ligar. O lance dela é conquistar clientes, quando viu que eu não era um desses deve ter desencanado geral. Capaz de nem lembrar mais de mim a essa hora”.
Mais tarde, já em casa, voltei a pensar nela. Lembrei dela sentada na praça de alimentação, estava tão bonita! A cena toda voltou à mente. Ela sentada mexendo no celular, o vestido vermelho, os cabelos tão loiros, o sorriso, o olhar... me arrependi novamente de não ter pego o número. Mas aí me dei conta que se ela era garota de programa deveria ter anúncio na internet. E no anúncio teria um telefone, obviamente. Nem tudo estava perdido.
Fui na mesma hora para a internet. Coloquei “Bárbara, Transex, Travesti, Programa” na busca do Google. Apareceu uma porção de resultados e eu fui clicando e vendo cada um para ver se a encontrava. Achei o anúncio dela num site chamado “Travesti com Local”. Estava na seção da minha cidade. Na capa do site já se via uma foto dela bem explícita, quase nua. Talvez mais explícita que o desejável, pensei... aos meus olhos ela de vestido vermelho era mais bonita e provocante!
Parei um tempinho com o site aberto na minha tela, pensando se deveria abrir o anúncio ou não. Dúvida estranha, né? Mas sei lá, aquela foto dela na capa me deu essa dúvida. Eu realmente queria ver as fotos que haveria ali? Tinha um pouco de medo de que talvez isso “quebrasse o feitiço”, afinal de contas eu nunca tinha tido experiências com transex ou travestis. Sabe como é, “aquela coisa” lá, entende?
Mas como dizem, a curiosidade matou o gato. Claro que abri o anúncio. E tremia por dentro enquanto a página carregava. Li toda a descrição:
“Oi, amor! Venha curtir uma linda mulher com algo a mais! Tenho 20 anos, 1,75 de altura, dote de 20 cm. Faço estilo namoradinha ou sem frescuras, como você gostar. Ativa e passiva, beijo na boca, ótima com iniciantes.”
Estava lá o telefone que eu procurava, mas junto dele encontrei um aviso bem desagradável para meus planos:
“O Whatsapp é SOMENTE para contato profissional. Desocupados que adicionam só para puxar conversa serão bloqueados.”
Percebi que apesar de ter encontrado o telefone eu não deveria utilizar para o que queria, pois cairia nessa categoria de “desocupado que só puxa conversa”. Parte de mim achou até bom, porque eu tinha dito que era para ela entrar em contato, não eu. Esse aviso reforçava essa posição. Pelo menos por enquanto.
Depois disso vinham as fotos. E eram várias fotos, de todo jeito. Começando pelas mais “comportadas”, em que ela estava completamente vestida, em casa, na rua e na praia e com diversas roupas, até as mais explícitas ao final.
A primeira era uma foto só do rosto. Um olhar cativante, misterioso, com um ar de pergunta! Maquiagem bem pronunciada nos olhos, sobrancelhas muito bem feitas, batom rosa bem forte. Os lindos cabelos caindo pelos dois lados do rosto e uma discreta marquinha de alça de biquíni visível no ombro direito.
Outra foto apresentava ela de corpo inteiro, somente de sutiã e calcinha, com as mãos nos quadris. Olhando diretamente para a câmera ela parecia até falar comigo! Suas roupas eram lindas, um biquíni de rendinhas sofisticado, rosa bebê, com lacinho nas laterais da calcinha e entre os seios. Linda. Absolutamente linda.
Além dessas havia várias fotos dela nua ou quase nua, sobre a cama ou em pé, em várias posições sensuais. Com outras lingeries, só de calcinha, com sandálias de salto. Havia uma boa porção de fotos em que ela aparecia de costas mostrando uma bundinha sensacional que quando eu a vi de vestido vermelho só podia imaginar. As fotos mostravam que a realidade superava minha fantasia!
E ao final, após essas outra todas, encontrei duas fotos com closes do “instrumento”. Confesso que fiquei um bom tempo olhando essas. O primeiro pensamento foi de que o pau dela era maior que o meu. Era grosso, longo e ligeiramente curvo para cima. Depois fiquei pensando que era tão estranho aquele corpo tão lindo e feminino com aquele membro! Parecia até falso de tão destoante do conjunto. Mas a última foto com ele escorrendo porra na mão dela mostrava que não era apenas verdadeiro, mas bem ativo. Como eu ia lidar com isso, naquele momento, não fazia ideia. Mas também não me deu nojo ou repulsa, como cheguei a pensar que teria.
Voltei para as fotos iniciais. Ela era tão linda! Salvei no celular as fotos que achei mais bonitas – as que ela estava mais feminina e menos vulgar. Fotos daquele rostinho lindo, fotos dela com a lingerie rosinha ou com a calcinha preta de renda. Fotos na praia de biquíni, e uma outra em que ela aparecia com um vestido sofisticado, sorrindo, com uma taça de champanhe na mão no que parecia uma festa. Ao final parei, pensando se salvaria as fotos explícitas também. E salvei. Sem saber bem porquê, salvei. Talvez para acostumar com a ideia.
Fiquei esperando que ela me mandasse pelo menos uma mensagem no Whatsapp nesse mesmo dia. Não mandou. Nem no dia seguinte. E nem no outro. Então aos poucos fui me dando conta que provavelmente nunca ligaria e nem entraria em contato. Para mim ela era um sonho, mas para ela eu provavelmente tinha sido apenas um qualquer sem significado algum. Ela já deveria ter me esquecido, então eu deveria esquecer ela também. Mas isso não era fácil. Vez por outra eu abria as fotos dela no celular e umas outras tantas vezes abri novamente o anúncio. Cheguei até a pensar em marcar um programa com ela, mas a ideia de ter sexo comercial, sem qualquer envolvimento, não era nem perto do que eu queria. E ainda tinha a questão daquele "algo a mais", que eu ainda não sabia o que fazer a respeito.
Com tudo isso, tempo passou e eu fui deixando ela para lá. Ela não ligou, eu não liguei, ficou tudo só no crush daquele momento. Até que umas três semanas depois aparece uma mensagem no meu Whatsapp de um número não cadastrado na minha agenda. Abri e tinha só um "oi! Tá por aí?"
Respondi "Oi! Estou! Quem é você?"
Tremi todo por dentro quando veio a resposta: "Bárbara. Lembra de mim?"