Continuando...
Diretor: Estou ciente do que você me contou ontem. Porém o seu reitor contou outra história hoje na reunião. Entende a encruzilhada em que estou?
Eu: Sim, diretor, eu entendo. E eu sabia que seria assim... Mas não entendo que história ele teria para contar...
Diretor: É sobre isso que quero conversar contigo. Tu me contou sobre ele e o Joel. Ele me contou sobre você e o Thiago. Eu poderia muito bem chamar aqui o Joel e o Thiago para conversar e saber o que eles teriam a falar. Mas certamente o Thiago te defenderia e o Joel defenderia ao reitor e eu continuaria nessa mesma encruzilhada. Poderia colocar os quatro no mesmo lugar mas sei que nesse caso provavelmente uma injustiça poderia acontecer. Afinal, o Thiago poderia ficar com receio de peitar o reitor dele da mesma forma como tu tem feito. Entende como eu estou? Entende por que eu não optei pela tua expulsão? Mas eu preciso saber qual é a verdade, quem está falando a verdade e quem está mentindo. Eu quero isso de você, eu quero a verdade.
Eu: Sim eu entendo tudo isso. Mas quero saber que história é essa entre eu e o Thiago!
Diretor: Resumindo o que ele falou, ele disse que tu e o Thiago estariam tendo um relacionamento. Que vocês estariam transando, esse tipo de coisa! Eu quero saber se isso é verdade!
Eu: Mas que tipo de provas ele tem sobre isso? De onde ele tirou isso? O Thiago, eu considero como um irmão! Nos afeiçoamos assim que nos conhecemos. Apenas nos identificamos um com o outro mais do que nos identificamos com os outros.
Diretor: Bom, essa questão de provas é que está gerando esse problema todo. Tu não tem provas a apresentar contra o reitor. Ele por sua vez teria o Joel, que eu já descartei por causa do que tu já contou, e ele diz que já viu vocês se emprestando cuecas e escova de dentes. O que ele considera isso como algo íntimo demais para se emprestar um ao outro.
Eu: Ah! Então as provas dele seria uma suposta troca de cuecas e escova de dentes? É nisso que ele se baseia para me acusar?
Diretor: Pois é...
Eu: Bom vou explicar essas duas coisas para que não haja dúvidas e inclusive posso provar materialmente o que estou falando. 1 - Cueca: Teve uma semana que a máquina de lavar estragou. Naquela semana nenhuma roupa foi lavada. O Thiago acabou ficando sem cuecas limpas. O que eu xinguei ele por sequer ter passado pela cabeça dele de lavar as suas próprias cuecas. Além de eu lavar as minhas cuecas, eu tinha dois pacotes de cuecas novas, desses pacotes que vem com três cuecas juntas que se comprar nesses mercados grandes. Como nós temos quase o mesmo tipo de corpo, as minhas serviriam para ele. Eu então dei uma para ele. Se quiser poderá ver que ainda tenho os dois pacotes e em um deles está faltando uma, e essa uma que está faltando, está com ele. Não pensei que seria proibido dar uma cueca a quem precisasse. E muito menos para quem eu considero como irmão.
2 - Escova de dentes: Se for verificar nas minhas coisas, eu tenho lá guardadas 4 escovas de dentes que meu dentista me deu. São aquelas escovas de dentes de propaganda de consultório dentário. Ele me deu 5 escovas quando eu fui fazer a revisão na ocasião que fui para casa fazer a manutenção do aparelho. Eu dei uma para o Thiago. Uma vermelha. Se for olhar a escova dele, ela tem a propaganda do meu dentista, que é a mesma propaganda que tem nas outras quatro.
Diretor: Ok. Não vou olhar as tuas coisas, não tem necessidade. Mas isso já acaba com os argumentos dele. E então eu volto a ter a tua palavra contra a dele. Duas histórias parecidas, mas com personagens diferentes. Tu sabe que a tua acusação é mais grave que a dele, sabe disso né?
Eu: Sim eu sei. Ele é padre, eu sou um seminarista, sou um capacho na hierarquia como ele disse.
Diretor: Jamais pense que seja uma capacho. Jamais! Tu tem tanta voz quanto ele tem. Comigo, nessas situações, não existe nível hierárquico. Vocês dois estão no mesmo nível. O que difere nesse caso, são os compromissos. Tu não tem os mesmos compromissos que ele. E é isso que torna a tua acusação mais grave. Pois se ele falhou, a falha dele é grave. Ele deveria ser um exemplo, um modelo. Tu não tem esse compromisso. Entendeu?
Eu: Entendi! Mas e agora? Serei expulso? O que acontecerá comigo? O que acontecerá com ele? Sabe que não vai ser possível a nossa convivência, tanto com ele, como com o Joel...
Diretor: como com o Thiago!
Eu: Como assim? Então eu estou expulso?
Diretor: Não, Fernando, não está expulso. Mas muita coisa vai ter de mudar naquela casa. Tu vai ter que se relacionar mais com todos, não se fechar apenas tu e o Thiago. A convivência com o reitor e o Joel, é algo que tu vai ter de se trabalhar. Eu não posso, nesse momento, tirar nenhum dos quatro da casa. Não posso tirar o cargo do reitor assim. Eu terei de consultar os conselheiros da nossa casa geral em Roma e seguir as orientações deles. Enquanto eu não receber uma resposta deles, tu terá de aprender a conviver com todos, queira ou não.
Eu: Ai meu Deus, mas então essa semana se define tudo?
Diretor: Não, não é assim que funciona. Existe burocracia. Eu terei de enviar um e-mail relatando o que está acontecendo. Aguardar que o conselho se reúna e tome uma posição. Só então eu posso tomar uma atitude!
Eu: Não!! Não pode ser assim! Vai demorar demais!!!
Diretor: O que está te afligindo dessa forma? O que está acontecendo??
Eu: Nada!!
Diretor: Conte, pode confiar em mim! O que está acontecendo? Por que está com tanto medo?
Eu: Antes de eu vir conversar com o senhor, o reitor me chamou. Ele disse que não tinha conseguido minha expulsão. Mas que ele ia fazer de tudo para que eu desista. Que ele vai fazer da minha vida um inferno até que eu desista.
Diretor: Eu vou falar com ele! Isso é um absurdo!
Eu: Não, por favor não! Ele já me falou que se eu te falasse algo eu iria comer o pão que o diabo amassou! Por favor, não fale nada. Eu vou resistir.
Diretor: Que é isso? Não!! Eu vou falar com ele, sim. É absurdo isso!
Eu: Eu aguento, eu resisto, não faça ele piorar. Não fale nada disso com ele.
Diretor: Certo! Não vou falar! Mas estarei de olho no que ele fará. Eu vou tentar te proteger de alguma forma. Mas você precisa me contar tudo o que estiver acontecendo. Eu verei o que posso fazer
Eu: Ok, mas tem certeza que isso dará certo?
Diretor: Certeza não tenho, mas é que de momento consigo fazer. Agora volte para a casa. Não te meta em encrenca. Confie em mim. Me obedeça. Tudo estará bem se você comportar. Agora vai!
Eu voltei para a casa. Estava um pouco tranquilo quanto a minha permanência na casa. Estava apavorado com o que estaria para acontecer comigo nos próximos dias. Cheguei na casa e fui para a minha cama. Me deitei. Apaguei. Acordei com um solavanco da minha cama. Acordei assustado. Olhei para a frente e o reitor estava de pé em frente à minha cama.
Reitor: Qual foi a regra que eu disse hoje de manhã dos horários? Não falei que 18h precisava estar lá embaixo na sala? Que horas são agora? Já são 18:10 e tu está aqui na cama! Não está na sala! Continue assim! Continue!! Melhor tu desistir, estou te avisando! Por causa do teu atraso, amanhã terá o seu castigo! Ou já foi expulso e amanhã vai embora? O diretor se convenceu a te expulsar? Foi fazer fofoquinha?
Eu: Não vou desistir!! Não vou mesmo!!! Não, não fui expulso, e não fiz fofoquinha não! Mas tenha certeza de que não vou te dar esse gostinho de me fazer desistir!
Reitor: Ah garoto, tu vai desistir. É melhor desistir logo. Tu não imagina o que te espera amanhã!
Eu: Seja o que for, eu não vou desistir até ver a tua cara quebrada!
Reitor: Está querendo ameaçar o teu reitor? É isso? Tu não tem força para me dar um soco, quem dirá quebrar minha cara! Vamos, desista!
Eu: Eu não vou desistir, já falei!
Reitor: Certo! Tu é quem sabe! Se quer sofrer, então vai sofrer. Agora desce! Daqui a pouco é a hora da janta. Te alimente bem essa noite e amanhã de manhã. O dia vai exigir muito esforço teu. Tu vai suar muito, fedelho!
Continua....