Era hora de acordar, 10 hrs da manhã, um sábado ensolarado, típica manhã de verão.
Tomei meu café, e fui correr em volta do lago, atualmente moro em um pequeno chalé há alguns quilômetros de Curitiba.
Após a corrida, tinha que ir ao escritório buscar documentos que faltaram para elaborar a defesa de alguns clientes, mas só de pensar no ambiente formal e na quantidade de pessoas que teria que ver, já me sentia angustiado.
Por volta das 13 horas chego no escritório, estava mais vazio que o normal, subo até o 29 andar, entro na minha sala, pego rapidamente os documentos necessários e resolvo parar para um almoço em um restaurante conhecido na cidade, pata negra, sem delongas escolhi um prato de penne ao molho funghi, o meu preferido, e aguardei na mesa. Antes do prato chegar, vi uma homem deixando o carro no serviço de Vallet, um sedan, preto, insufilmado, sendo quase impossível ver o interior do carro.
Ele era tamanho médio para alto, estava de social, terno alinhado, barba grande, óculos de grau, um homem de porte. Fiquei tentando imaginar a profissão dele, pois era sábado, horário de almoço e não é comum pessoa vestidas tão formais dessa maneira, em primeiro momento achei ser empresário e casado.
Logo meu prato chega, me alimento rápido, aliás, estava com muita fome e chamo o garçom com o intuito de pagar minha conta. Ao chegar na mesa o garçom pergunta - o Senhor não gostaria de tomar o vinho.
Arregalei os olhos, olhei para ele e disse – desculpa, deve ser um engano, mas eu não pedi vinho.
O mesmo em um ato de insistência diz – foi um presente do senhor da mesa ao lado da janela, de um excelente gosto por sinal, é um dos melhores vinhos da casa, senão o melhor.
Olhei para novamente e para minha surpresa era aquele homem elegante, arauto, um homem forte, mas ele não estava virado para minha mesa, estava sentado de frente para parede e do lado da janela, fui encaixando as peças e cheguei a conclusão que ele não gostava de ser observado.
Fiquei tão confuso, pois, apesar de ser homossexual, sou pouco afeminado, e não conhecia o rapaz e isso me apavorou, rapidamente repeti ao rapaz que não pedi qualquer vinho e que ele agradecesse a gentileza, passei meu cartão e sai rapidamente do restaurante.
Comecei a dirigir novamente para o chalé e fiquei tanto intrigado como assustado com a situação. Como ele podia arriscar oferecendo um vinho a um homem ? como ele tinha certeza que eu era gay ? como um homem de um charme estonteante iria olhar para mim!
Não me considero feio, mas sou alto, magro, abaixo do peso e moreno e aquele homem parecia um modelo, pai de família, ator.
Comecei a ficar meio receoso em voltar para o chalé, já que lá era afastado de tudo. Minha paranoia dizia ser perigoso, mas optei por assim fazer.
Algumas semanas se passaram, e tinha que ir novamente na cidade, em uma audiência no fórum trabalhista, que é normal na profissão que exerço, que é advocacia. O meu maior medo era encontrar ele novamente. Aliás, quando você recebe uma garrafa de vinho, significa que algum interesse a pessoa tinha em você.
Marquei com meu cliente de me encontrar no fórum 20 minutos antes da dita audiência, a fim de orientar o mesmo de como se comportar perante ao juiz, para ser mais claro, orientar no que não deve ser falado perante ao juiz, para possibilitar o êxito na causa.
Chegando no fórum, que fica em uma avenida conhecidíssima de Curitiba, não acho lugar para estacionar, estava tudo muito cheio, fiquei desesperado e deixei algumas ruas longe dali.
Peguei minha bolsa, minha pasta, e fui correndo para o fórum, com a gravata na mão, para dar o nó no banheiro. Sequer tive tempo de orientar meu cliente e entramos direto para a sala onde iria acontecer a audiência, nem a gravata tive tempo de colocar.
Eu estava perdido, mil coisas para fazer, desligar o celular, arrumar os documentos, guardar a gravata que estava na minha mão, enfim me organizar. De repente o juiz se dirigi a mim num tom ríspido
- É comum do doutor essa desorganização toda, porque se for, sugiro que o cliente troque de advogado.
Na hora levantei a cabeça com o olhar em chamas, pronto para desafiar o juiz, mas quando eu olho, era ele, de terno e barba, ambos muito bem alinhado, com aquele olhar rígido e dominador. Fiquei sem folego e me deu um frio na barrida, parei, olhei para meu cliente, para o juiz novamente e disse – excelência, perdão, o transito estava.... antes de terminar de falar ele me cortou e disse – doutor, não arrume desculpas para sua desorganização, as assuma, é mais bonito.
Fiquei sem reação novamente e pedi perdão e a audiência começou.
Foi embaraçado para mim e foi sentenciado ali mesmo, e como já imaginava pelo meu nervosismo, perdi a ação.
Sai da salas desolado, com vergonha do meu cliente e com um ódio infinito daquele juiz, toda a beleza dele tinha caído por terra pela sua arrogância, e eu só queria entender o porquê dele ter sido tão áspero comigo, e o que me despertava mais curiosidade era, de onde surgiu aquele homem. Advogo a 3 anos na área trabalhista e nunca o vi no fórum e como ele teve a coragem de me humilhar na frente do meu próprio cliente. Por óbvio que ele percebeu que pela minha idade, 24 anos, eu não tinha tanta experiência e provável que ele sabia da minha sexualidade por já ter me visto no fórum, e deveria saber mais informações minha pela inscrição na OAB.
Pelos próximos dias, não parei de pensar naquele homem, meu desempenho caiu, meus superiores começaram a achar que era mais saudável para minha carreira, largar o home office e voltar para a carga horária dentro do escritório, mas eu prometia melhores resultados e para isso, só precisava parar de pensar nele, e por incrível que pareça, não sentia ódio e sim interesse.
Percebi que enquanto não tivesse um diálogo com o aquele homem, eu não iria me sentir melhor e me arrisquei em procurar o assessor dele para tentar marcar uma reunião com o mesmo.
Em primeiro telefonema, foi descartada possibilidade, o assessor disse que o juiz não despachava com ninguém, e que tudo deveria ser resolvido com o próprio assessor.
Peguei minhas coisas e fui ao fórum, no intuído de chegar ao gabinete do tão poderoso juiz, mas foi negado novamente, no entanto, insisti e pedi que ao menos me anunciasse, para ele dizer que não iria me receber, afirmei que ele prometeu despachar comigo. Depois de muita insistência consegui, marquei o horário para o dia seguinte, as 08 da manhã no fórum.
Coloquei meu melhor terno, fiz a barba e fui, cheguei com antecedência, a secretária me anunciou e pediu que eu aguardasse.
Fiquei praticamente 3 horas esperando, estava cansado em com fome, quando de repente a porta do gabinete abre e ele aparece com um semblante sério, lábios rígidos e diz com uma voz grossa e alta– entre Doutor.
Levantei, com a cabeça abaixa, agradeci a secretária e passei por ele, que segurava a porta, esperando eu entrar para fechar, minha mão suava. Eu não entendia o porquê eu tinha tanto “medo” dele, em ao menos o conhecer. O olhar dele era enigmático, de homem, e conseguia dizer muitas coisas, principalmente onde era o meu lugar.
Assim que entrei, ele fechou a porta e pediu para eu ficar à vontade, perguntou se aceitava água ou café e me neguei, agradecendo.
Em um tom de impulso perguntei – por qual motivo o senhor foi tão rude naquela audiência¿
- Doutor Maikon, eu sou o que eu quiser na audiência, e se o seu assunto é esse, já adianto que não irei discuti-lo.
- Desculpa, Doutor Juiz, o assunto é outr....
Antes de terminar a frase ele me corta e diz.
-Você pode me chamar de Senhor Juliano.
Prefiro manter a formalidade, Doutor Juliano.
Ele sorriu e começou
-Sou juiz substituto, sou de São Paulo, estou apenas por algum tempo aqui. No meu primeiro dia no fórum, te vi na porta, com outro rapaz, dando risada, fumando um cigarro, comecei a perguntar de você, até que descobri um amigo em comum nosso, que me falou rapidamente de você e me chamou bastante atenção. Descobri que você gosta de viver isolado, mas que tem bastante amigos, que gosta de algumas drogas, bebe e fuma. Logo, te encontrei em um restaurante, te ofereci um vinho e você sequer veio me agradecer. Depois tive o prazer de te encontrar novamente na sala de audiência.
Intrigado indaguei – quem é o tala migo em comum.
Ele sorriu, balançou cabeça e ficou calado.
Não aguentei e emendei outra pergunta.
- Então o doutor foi tão ríspido assim comigo, apenas por eu não ter aceitado o vinho?
- De maneira alguma, sou profissional o suficiente, eu fui ríspido por perceber o seu potencial e a sua negligência ao mesmo tempo, você é desorganizado, não cumpri horários e eu não tolero isso.
- Doutor Juliano, aquele dia o trânsito....
Ele me interrompe novamente, aparentemente furioso e lança,
-Me poupe de suas desculpas e aceite que você é um moleque. Você precisa de um homem para de disciplinar e te manter nos trilhos, você tem potencial, mas precisa de alguém para aguçar isso em você.
Fiquei sem palavras, peguei minha pasta, levantei da cadeira e me dirigi a porta.
Ele chegou antes, em passos largos, trancou a porta e tirou a chave. Ordenou que eu sentasse novamente. Estava com medo mas estatizado. Somente obedeci.
-Maikon, você nasceu para obedecer e eu nasci para ordenar. Você precisa de alguém para te mostrar o caminho correto, precisa de alguém para te ensinar a crescer na vida. Quanto te vi fumando aquele cigarro, fiquei muito nervoso e a minha vontade naquele momento, era te jogar no meu carro, te levar pro meu apartamento e te surrar, mas com força, para você aprender que não deve fazer aquilo, mas tive que me conter.
Seu olhar era sério e raivoso, estava com muito medo e só queria ir embora dali, mas não sabia o que fazer. Ficamos em silêncio e seu semblante foi melhorando e de repente o telefone toca, rapidamente ele atende.
- Diga Ana, sim sim, já estou acabando aqui, peça para ele esperar.
Ele desligou e disse - deve estar confuso, talvez assustado, mas não sou nenhum monstro, peço um única oportunidade para jantar contigo.
Disse que iria pensar e rapidamente ele responde – preciso de uma resposta agora, caso assim não faça entenderei como não e peço para que não me procure mais.
Não sabia o que fazer, porque, apesar de tudo, ele havia me excitado, mas estava com muito receio, mas pensei em conhecer ele, quem sabe realmente não seria melhor pra mim.
Olhei a boca dele, depois a barba e nos olhos, e afirmei que sim, que iria jantar com ele.
Ele me deu um papel e pediu para anotar o número meu telefone celular, assim fiz, ele deu um sorriso e esticou a mão, a segurei e senti um aperto forte e firme, ele me direcionou até a porta, sem mais nenhuma palavra, sai de cabeça abaixa, quase no elevador ouço aquela voz alta, forte, grossa e alegre
– Boa tarde Doutor Gabriel, como estão as crianças? entre e fique a vontade.
Entrei no elevador atordoado, não sabia mais meu rumo. Minha cabeça estava a mil e eu só queria entender o que aquele homem queria de mim. Tinha tantas perguntas, mas não tive coragem de faze-las. Tive oportunidade mas não coragem. Estava acelerado e aflito, com medo e ansioso, e decidi que, caso houvesse algum interesse dele em mim, não seria naquele sentido de dominador e submisso, aliás, tenho uma independência muito grande e não precisava de auxílios. Mas o “X” da questão era, quem era o tal amigo em comum.
Decidi uma fazer uma festinha no chalé, para amigos, regado a cocaína e álcool, o que geralmente era nossa diversão. Mas fui mais além, decidi convidar o “juizeco” para saber qual a reação dele, assim iria até mesmo descobrir quem era o amigo em comum.
Marquei para a quinta feira da mesma semana, um total de 20 amigos, entre homens e mulheres, seria no próprio chalé. Disse para o pessoal chegar a partir das 18 horas e assim foi feito. Todos chegaram, menos ele. Senti que havia fracassado, mas próximo as 23 horas, quando estava quase saindo dos meus sentidos, vejo um farol, corro na janela e era ele, naquele sendan, escuro, grande. Ele desce do carro de Jeans, suéter, cinto a mostra e sapato.
Corro para a porta, abro, quando ele se aproxima, começo a dizer, meio mole e me segurando – achei que o juizinho não iria vir.
Ele entrou rápido, passou por mim, chegou a sala e disse – quero que todos vão embora agora, senão serei obrigado a chamar a polícia. Está evidente o uso acerbado de cocaína, chega a ser repugnante, vários advogados se prestando a isso.
Todos os olhavam assustado e eu como sempre, sem reação. Rapidamente, foram pegando suas coisas e saindo. Eu num impulso disse – quem deve ir embora é você, pessoal, podem ficar, a noite ainda nem começou.
Ele rapidamente me respondeu de forma firme – fique calado, com você vou me acertar assim que eles saírem, e é bom já ir se preparando, porque hoje vou te ensinar algo que estava com vontade há tempos.
E sutilmente, ergueu o suéter me mostrando e segurando o cintoCONTINUA