|Felipe On|
Antes de chegar em casa, avisei aos meus pais que tinha me esquecido de algo na festa, mas na verdade queria ver mesmo mais uma vez Miguel.
Voltei o caminho que já tinha feito, olhei algumas vezes para trás para o caso de meus pais estarem me vigiando e segui até dobrar a esquina. De longe avistei a casa de Miguel, fui me aproximando até ficar em frente à ela, mas ainda sem atravessar a rua. Fiquei tentando acertar qual era a janela de seu quarto, mas não consegui adivinhar, o que me salvou mesmo foi vê-lo em uma delas, ele estava meio espantado com minha presença ali e isso me fez sorrir.
|Felipe Off|
Miguel acordou cedo e enquanto seus pais se arrumavam para o trabalho, ele mesmo aprontou o café, eram bolos, biscoitos, alguns frios, leite, suco e o que não poderia faltar, o próprio café.
– Nossa! Isso sim que eu chamo de café da manhã.. – disse a mãe espantada e orgulhosa do filho.
– Verdade amor! – concordou seu pai – Agora vamos comer logo, se não iremos nos atrasar!
Enquanto degustavam o café, alguém bateu na porta. Miguel adiantou-se e correu abrir a porta sobre pequenos protestos da mãe. Para sua surpresa, Felipe estava parado na mesma e pronto para bater novamente.
|Miguel On|
– O que está fazendo aqui Felipe? – perguntou.
Ele ficou sem jeito após minha pergunta.
– Bom, eu... eu vim ver se não precisava de alguma coisa! – exclamou.
Era estranho ele estar batendo na porta da minha casa perguntando uma coisa dessas, já que nos conhecemos à pouco menos de um dia.
– Precisar de alguma coisa? Uma hora dessas? Acho que você não percebeu, mas ainda nem são 7:00 horas.
Ele ficou quieto, acho que estava pensando em uma desculpa qualquer para me dar.
|Miguel Off|
|Felipe On|
Péssima ideia ter ido na casa dele, e ainda por cima pagar um papelão desses! Quem sairia de casa antes das 7 da manhã pra ver se o outro quer algo, só eu mesmo. Preciso pensar em algo melhor para falar, pense Felipe, pense...
– E então vai ficar parado aí com essa cara de “filósofo contemporâneo”?
Putz haha agora ele pegou pesado.
– Do que você... – fui interrompido. Dona Roberta e seu Marcelo vinham em direção a porta apressados, acho que acabaram se atrasando um pouco.
– Marcelo não precisava me arrastar daquela forma da mesa, só tinha mais um pedacinho de bolo pra mim terminar...
– Se fosse apenas o bolo tudo bem Roberta, agora um copo cheio de suco e um pacote inteiro de biscoitos, aí não dá. – disse seu Marcelo.
– Tá bom, não reclamo mais! – disse a mulher, ambos ainda não tinham notado nossa presença na porta – Miguel, cuide bem da casa e... – dizia ainda de cabeça baixa procurando algo na bolsa – não esqueça de lavar a louça e recolher a roupa! – olhou na direção do filho e avistou-me – Olá Felipe, entre e se possível faça companhia ao meu filho, ele anda meio sozinho ultimamente... – piscou em minha direção e saiu. Seu Marcelo me cumprimentou também e ambos foram trabalhar.
– Seus pais são maneiros! – disse sorrindo.
– Eles são! Agora entra logo... – disse ele me dando passagem e fechando a porta atrás de mim.
Esperei e o segui, e mesmo sem ter intensão dei umas boas encaradas em seu traseiro. Fiquei sem graça com os pensamentos que me vieram à cabeça, sorri sem graça e ele acabou me pegando no flagra.
– Do que está rindo? - encarou-me.
– Uma coisa que acabei lembrando, nada que mereça ser dito... – tentei desconversar.
– Vou acreditar, mas dá próxima não fique encarando minha bunda enquanto relembra suas aventuras! – sorriu sarcástico e virou-se.
Não sabia onde enfiar a cara, então ele viu onde meus olhos pairaram! Como vou encara-lo? Acho que devo ir embora! Mas pera aí, eu não estava fazendo nada, olhar não mata e eu nem sei porque estava olhando pro traseiro dele, gosto de meninas e ponto final.
Miguel seguiu em direção a cozinha, sentou-se a mesa e apontou uma das cadeiras para mim. Sentei. Ele serviu-me um copo de suco e apontou pro restante da mesa, como dizendo “sirva-se a vontade”.
– O que realmente veio fazer aqui? – perguntou – E sem rodeios dessa vez!
Me engasguei com o suco. Tossi algumas vezes e ele esperou em silêncio pela minha resposta.
– Bom, na verdade, eu não sei... – respondi sincero.
– Como assim não sabe? – me encarou.
– Olha, nem eu sei bem o motivo de estar aqui. Talvez eu só queira te conhecer, virar seu amigo ou ter um vizinho em que eu possa contar, ou tudo junto! – disse eu dando de ombros.
– Hum... Mas quem disse que eu também queira isso? – ele me fuzilou ao invés de me encarar novamente.
– Você não disse, mas sua mãe fez referência a isso ao dizer que andas muito sozinho... – sorri, peguei-o no pulo.
– Talvez ela esteja certa, mas isso não signifique que será você a me tirar da “solidão”! – disse por fim sarcástico.
– Sendo assim, acho melhor eu ir embora... – disse fazendo menção a se levantar.
|Felipe Off|
Miguel vendo que Felipe não estava mentindo ao dizer que partiria, segurou rapidamente o braço dele.
– Também não é pra tanto, termine seu café sentado, que vou lavando o pouco de louça suja. – disse Miguel já se levantando da mesa, enquanto o outro o observava.
– Na verdade eu já tomei café antes de sair de casa... – Felipe comentou.
Miguel que estava a recolher os copos da mesa e levando-os a pia, parou e virou na direção do outro. Ambos ficaram cerca de segundos se encarando, e eles não sabiam o motivo de estarem assim.
O silêncio já estava ficando insuportável e os segundos já estavam parecendo eternos, quando Felipe decidiu pronunciar algo.
– Se você aceitar eu posso ajudar você com a louça! – sorriu.
Miguel que acabará de sair do transe, terminou de levar os copos à pia e de costas ao outro disse:
– Já que se ofereceu, eu aceito!
Felipe levantou-se novamente e terminou de levar o restante de louça suja que estava sobre a mesa para a pia. Miguel abriu um dos compartimentos da pia e de lá retirou um pano, dando à Felipe.
|Miguel On|
– Eu lavo e você seca! – ordenei.
Ele pegou o pano de minhas mãos e pela primeira vez pude sentir mesmo que pouco, o contato de seus dedos.
– Tudo bem!
Enquanto lavava a louça e Felipe secava, senti que a presença dele por perto me fazia bem, não sabia como, mas fazia.
– Você mora por aqui faz tempo? – perguntou me olhando de lado.
– Sim, desde os meus 9 anos. No início foi um pouco difícil pra se acostumar com o lugar e a vizinhança, mas hoje em dia, acho que tá tudo em ordem! – sorri – E você? – quis saber também.
– Faz mais ou menos uns dois meses que me mudei pra cá, é um lugar diferente de onde eu morava, mas até que to me acostumando rápido. Ontem foi minha primeira festa de vizinhança... – disse tudo me olhando. Que rosto bonito. Espera...
– E o que achou da festa? – perguntei curioso.
– Achei normal, não é um festão, mas da pra dançar e comer a vontade! – sorrimos – Mas é normal nessas festas rapazes se pegarem no banheiro?
Não sabia o que responder. Comecei a ficar vermelho ao lembrar do acontecido e ao ver que Felipe começara a rir, provavelmente da minha vergonha e do acontecido, comecei a rir também.
– Acho que essa foi a primeira vez que isso aconteceu! – disse sorrindo de leve.
– E não será a última haha – sorrindo, piscou para mim.
|Miguel Off|
Ao terminar com a louça, ambos seguiram para o jardim, onde encontrava-se as roupas para serem recolhidas. Como eram poucas, Felipe não sentiu necessidade de ajudar. Ele sentou-se à grama e observou o outro.
Miguel foi rápido ao recolher as roupas, e como o dia estava típico da estação (verão), ele levou o cesto até a área coberta, na sombra, e voltou-se até onde Felipe se encontrava. Sentou-se à seu lado.
|Felipe On|
– Dia bonito né? – perguntou.
Encarei-o.
– Sim... – pausa – Estava pensando, você não iria comigo até em casa jogar videogame? – perguntei. Por dentro estava afobado...
– Ainda tenho que dobrar e guardar as roupas! – disse-me.
Parei de encara-lo e olhei à frente. Ficamos em silêncio. Até...
– Eu posso te ajudar com as roupas e a gente pode ir jogar! – falei enquanto virava para vê-lo melhor.
Ele sorriu e me olhou também.
– Se for assim... – sorri mais.
|Felipe Off|
Os dois levantaram da grama e seguiram para dentro da casa. Miguel pegou o cesto de roupas, mas quando passaram pela cozinha, virão que tinham esquecido de recolher o café. O cesto foi posto ao chão novamente e os dois guardaram os alimentos que estavam sobre a mesa.
Ao terminarem, foi Felipe quem pegou o cesto, Miguel foi à frente guiando-o até seu quarto. Entraram no mesmo e as roupas foram postas na cama do garoto.
– Que quarto maneiro! – exclamou Felipe olhando ao redor.
Miguel apenas negou com a cabeça enquanto sorria.
– Nem é pra tanto, eu o acho normal! – disse sincero.
Felipe encarou-o. E foi ao encontro de uma pequena estante de livros e gibis.
– Normal? – pausou – Olha esses gibis! Faz um tempo que eu não via isso... – disse pegando um dos gibis em mãos e observando a capa.
Miguel que observava o rapaz e sua curiosa afobação, moveu-se rapidamente até o mesmo antes que ele visse o que não devia. Mas foi meio tarde.
Felipe que não prestará atenção nos movimentos do garoto, pousou seus olhos estritamente na coleção de gibis e reparou em algo diferente.
– Não acredito... – disse já puxando a revistinha – É pornô! – sorriu safado para Miguel. O garoto corou.
– E.. eu.. não sei o que ela... Não sei de onde isso apareceu! – Miguel estava nervoso.
Felipe vendo que o garoto estava envergonhado, pôs umas das mãos no ombro do mesmo.
– Relaxa! É normal isso na nossa adolescência... – sorriu.
Miguel nada disse. Voltou-se as roupas e começou a dobra-las. Felipe pôs a revista no mesmo lugar de antes e foi ajudá-lo.
Após serem dobradas, as roupas foram guardadas. E os dois saíram da casa.
|Miguel On|
“Caralho, tenho que me lembrar de me certificar se não há nenhuma outra revista junto aos gibis”, pensava enquanto fechava a porta de casa.
A rua da minha vizinhança estava bem calma, atravessamos a mesma e seguimos calados até a esquina, onde vi Felipe virando ontem a noite.
– Então, que jogo iremos jogar? – estava curioso.
Felipe me olhou.
– Ah nem sei, na hora a gente escolhe! – respondeu.
Voltou a olhar pra frente. Chato!
Quando já estávamos próximos a sua casa, percebi que a árvore á frente da mesma estava com o tronco pela metade. Como se ela tivesse um buraco. A mesma árvore que o vi dando machadas. Encarei-o discretamente.
– Não me pergunte porque fiz aquilo, nem eu mesmo sei! - disse-me. Mas percebi que estava mentindo.
Chegando perto da casa é que dava pra perceber que o buraco não era tão grande, se não, aquela árvore já tinha caído.
Andamos pela calçada do jardim e enquanto Felipe procurava as chaves, reparei sem querer em seu corpo grande e forte, e principalmente em seu bumbum. “Caralho que bunda bonita! Parece durinha e bem redondinha!”. Caraca, o que eu to pensando....
– Achei! – disse ele, já tava até suado haha
– Amém Irmão! – tirei com a cara dele.
Ele abriu a porta, mas antes de eu entrar, ele segurou em meu braço. Encarou-me e sorriu.
– Dá próxima, me ajuda com a chave em vez de ficar encarando minha bunda...
Fiquei vermelho.
– Fo.. foi sem maldade! – falei corado.
– Esquenta não! Sei que sou gostoso... – riu do que falou – E agora estamos quites! – piscou.
A casa dele não era muito diferente da minha, o quarto era normal. Felipe fechou a janela com a cortina, escurecendo o quarto, ligou a tv e o videogame e me chamou para sentar perto dele ao chão.
“Nem imaginávamos, mas a partir daí, uma grande amizade iria surgir ou mais do que isso”.
Passamos o restante da manhã jogando e só saímos do quarto para almoçar ou como nós preferimos, fazer um lanche. Nesse meio tempo, ficamos nos conhecendo melhor.
– Você não acha que já colocou muito queijo nesse sanduíche? – perguntei.
Miguel estava preparando nossos sanduíches, no balcão à sua frente, tinha dois pães fatiados típicos pro lanche, queijo, maionese, alface, tomate, presunto e o hambúrguer, esse ainda estava cru.
– Você acha? – riu – porque eu to fazendo ele para você haha
Idiota.
– Termina de montar os sandubas que vou fritar os hambúrgueres, beleza? – disse ele a me olhar.
Acenei. Fui para o outro lado do balcão, próximo a ele e continuei o que ele estava fazendo, mas diminuindo um pouco a quantidade absurda de queijo.
– Pronto! Só tá faltando o hambúrguer!
– Espera um pouco que já tá saindo! – riu.
Me aproximei dele ao fogão e verifiquei se estava indo tudo bem. Mas ao ver os hambúrgueres ainda cru, dei risada. Ele me olhou sério.
– Tá rindo do que? – ele tava emburrado.
– Pô! Você tá aqui faz um tempinho e disse que as “carnes” já estavam quase prontas, mas tão tudo cruas...
Ele ainda estava emburrado.
– Não posso fazer nada, não sei o que deu nesse fogão!
Olhei para o fogão, empurrei ele para o lado, que me olhou sem entender nada, verifiquei as bocas e percebi que o gás estava fechado.
– Você viu né? – ri.
– Viu o que? – perguntou confuso.
Apontei pro gás, ele ficou encarando o objeto e fez que não com a cabeça. Burro.
– O gás está fechado! – falei e abri a passagem pro gás.
Ao fazer isso, a boca que ele usará para fritar os hambúrgueres acendeu e o óleo começou a esquentar.
– Nem tinha percebido... – sem graça – Pensei que o fogão tinha dado pau!
– Haha dado pau!
Ele muito envergonhado fritou os hambúrgueres e os colocou aos pães. Viu se tinha alguma bebida na geladeira, e retirou um refrigerante de dentro. Pegou dois copos no armário, me entregou um e seguimos até o quarto com nosso “almoço”.