TLK - Distopia XI

Um conto erótico de Bryan
Categoria: Homossexual
Contém 1840 palavras
Data: 09/09/2017 04:53:50
Última revisão: 09/09/2017 04:56:45

–Vai se foder– Gritei enquanto me virava para ir embora de vez. Não mataria nem morreria por Brad– Se quer assassinar alguém, faça você mesmo!

Se Brad me pedira para matar uma pessoa, quem garantiria que ele mesmo não mandara outra pessoa me empurrar da borda do navio? Uma nova rajada de vento gelado bateu no meu corpo, trazendo junto as primeiras gotículas do nevoeiro, que dançavam no ar enquanto o navio adentrava nele.

–Você não entende!– Gritou ele, correndo atrás de mim– Se você não me ajudar, vão me matar!

Meu passo congelou no convés. Eu odiava Brad e toda a violência que o arrodeava. Mas ainda assim, eu não queria me distanciar dele. Mais do que isso, eu não queria vê-lo morto. Me perguntei o que estava acontecendo ali. O que mudara no jogo para fazê-lo tentar aliar-se comigo.

Abaixei a cabeça, ciente que quanto mais adentrávamos no nevoeiro, menos a ponte conseguia observar Brad e eu. Em meio aquele cinza esponjoso da névoa, escutei as batidas dentro do meu peito e minha respiração.

–O que está acontecendo?– Sussurrei abafado pela névoa, após alguns segundos. Brad aproximou-se de mim e me puxou para a ponta da proa.

–O comandante acredita que eu sou um Resistente– Cochichou o soldado ao meu ouvido, enquanto ambos observávamos os poucos metros de mar que conseguíamos enxergar com o nevoeiro.

–Resistente?– Repeti, tenso com a presença de Brad atrás de mim. Sentia as mãos dele na minha cintura.

–É nome dado para as pessoas que estão ameaçando a segurança do navio.

–Mas até agora eles não fizeram nada. E já se passaram dias desde a partida.

A risada alta de Brad cortou a névoa no convés do navio. Avermelhei imediatamente.

–Foi enviado um bilhete anônimo no dia do seu afogamento para a ponte– Murmurou o soldado, suas mãos apertaram com mais força minha cintura. Meus pensamentos estavam divididos entre o perigo de Brad me jogar pela borda no navio em meio ao nevoeiro e a possibilidade dele não ser o culpado pelo meu afogamento. Me perguntei o que estaria escrito no bilhete, como se lesse meu pensamento, Brad respondeu– Se não voltássemos para o continente e o trabalho da Dra. Tess terminasse, seríamos afundados como você.

Concordei com a cabeça. Então por trás de toda a animosidade que se formava nos últimos dias, estava uma ameaça endereçada ao comandante dos soldados. Claramente a pessoa que me empurrou da popa, era a mesma que ameaçava a integridade do TITAN II.

–Então não foi você quem tentou me matar?– Brad me virou bruscamente, para me olhar cara a cara. Seus olhos castanhos espremiam-se confusos atrás de mais informações– Não foi acidente. Alguém me empurrou da popa.

–E porque não contou ao comandante? Dra. Tess... Até mesmo para mim!

–Era difícil ser sincero quando qualquer um poderia ser meu assassino. E, fracamente, acreditei que você havia armado para mim.

Brad balançou a cabeça, descrente no que ouvia. Ainda com o rosto vermelho de vergonha, apesar de saber que estava certo em desconfiar de todos, comecei a olhar para o chão. O soldado pegou meu maxilar e ergueu, novamente encarando-me nos olhos. Como um desvairado, Brad aproximou-se descontrolado seus lábios do meu e roubou um beijo.

Eu pude sentir o sabor de canela da boca dele, sua língua mergulhava na minha boca sedenta por me explorar. Recobrando a sensatez, ele afastou-se de mim. Mas não sem antes mordiscar meu lábio inferior, carnudo.

–Quem quer te matar?– Sussurrei me acomodando no calor do corpo dele. Seus braços passaram ao redor do meu corpo enquanto conversávamos como um casal apaixonado.

–O comandante.

Eu funguei. Era difícil o comandante não querer mata-lo depois da desobediência de Brad ao discutir com ele, minutos antes, no convés. Expliquei para o soldado que dava para ouvir a briga do laboratório.

–Caleb, um soldado que faz ronda comigo, dissera ter ouvido que o comandante estava preparando uma operação para me eliminar sem causar alardes.

–Não seria mais fácil lhe prenderem em alguma cabine do quarto andar?

–Não– Respondeu Brad, antes de escutar o som de botas caminhando em nossa direção. Apressadamente, ele completou sua frase– Não podemos pôr em risco a integridade do navio.

No exato instante que as palavras saíam apressadas da sua boca, Aaron surgia no convés, a poucos metros de nós. Ele olhava confuso para nós dois, as mãos de Brad soltavam meu corpo. Enxergava apenas a silhueta dele em meio as gotículas de água do nevoeiro, suspensas no ar. Minha respiração movimentava a névoa, criando ondulações.

Aaron nos encarou por mais dois segundos, e sem falar nada, virou-se em direção ao laboratório. Olhei uma última vez para Brad, que fitava o espaço onde a poucos minutos Aaron nos flagrou. Com um movimento de cabeça, ele acenou para eu ir.

Passei o final da tarde dentro da minha cabine, pensando nas palavras de Brad. Resistentes. Ameaças. Ele morreria se eu não o ajudasse. Continuei na minha cabine até o jantar, do lado de fora da vigia não conseguia enxergar um palmo em meio ao nevoeiro. Me perguntava se as televisões anunciavam as mudanças de rotas do TITAN II e do TITAN VI, quando batidas na porta me despertaram. Era um soldado usando exageradamente sua colônia amadeirada.

–Brad te espera na popa.

Meneei com a cabeça e voltei para a cabine, peguei uma blusa de moletom preta. Todos os passageiros estavam ocupados no salão de jantar, alguns começavam a ligar o som na balada, único momento em que era possível lembrar que estávamos num cruzeiro.

Brad realmente me esperava na ponte. Ele usava sua blusa e calça militar, junto com um par de botas pretas, típica dos soldados. Ele sorriu ao me ver. Mordi meu lábio, o nevoeiro encobria quase tudo a nossa volta. Era difícil até mesmo ver a borda do navio.

–Temi que não viesse– Murmurou ele, tão baixo que mal o escutei em meio ao abafamento causado pela névoa. Seu olhar fitava atrás de mim, como se vasculhasse o cheiro amadeirado vindo do interior do ar nebulosamente pálido.

Me recostei no guarda-corpo metálico, Brad virou-se para mim e sorriu, desafivelando do cinto sua Glock. Olhei assustado ele me oferecer sua arma, foi inevitável a indagação mental de se ele queria que eu o matasse. Por um momento, cheguei a me perguntei como seria minha vida sem ele. Não queria admitir, mas sentia algo pelo soldado.

–Pegue– Ordenou ele, autoritário. Minhas mãos deslizaram pela arma e seguraram-na com força entre os dedos– Guarde-a bem. Use apenas em caso de necessidade.

–Como posso te ajudar com seu comandante?– Perguntei, a ideia de Brad morrer ainda atormentava minha mente.

–Precisaríamos descobrir os verdadeiros Resistentes. Ou matar o comandante– Brad aproximou-se de mim, imagens da noite em que me afoguei ressaltaram-se como um alerta de perigo na minha cabeça– Mas creio que não há nada que impeça os fatos que se desenrolarão. Sendo assim, contarei toda a verdade para você.

Engoli em seco, olhei assustado para os olhos de Brad. No escuro da noite, em meio a névoa, sua íris tornava-se negra. Por um segundo, meus sentidos foram invadidos pelo cheiro de maresia e colônia amadeirada, forte. Me aproximei do soldado e o abracei, enquanto num sussurro ele me confidenciava aquilo que sabia.

–As cartas estão na mesa– Começou. Sua voz rouca no meu ouvido arrepiava meu corpo– Os doze...

O soldado calou-se. Senti seu corpo apertar-me com força enquanto suas pernas cediam em direção ao chão. Olhei para os lados, sem entender o que acontecia. Minhas mãos, que o abraçavam, agora estavam banhadas em vermelho-vivo. Brad escorria pelo meu corpo, não conseguia segurá-lo. Ele caiu no chão, eu me agachei ao seu lado.

Sangue manchava meus braços e o deque abaixo do corpo dele, lembrando-me do quão mortal todos nós somos. Minha garganta fechou-se. Sim, haviam atirado silenciosamente em Brad. E eu não tinha forças para salvá-lo, pois sabia que o tiro seria fatal. Lágrimas escorriam pela minha face e pingava no rosto do soldado. Ele arfava tentando respirar, mas o ar parecia não chegar aos seus pulmões.

–Cuidado– Ele murmurou, juntando as últimas forças que tinha. Eu quis gritar, bater contra ele e pedir para que ficasse. Nesse instante, ele já não era o homem violento que jogava comigo. Ele era o soldado tentando me salvar.

Concordei com a cabeça, a Glock que ele me dera estava na minha cintura, dentro da minha calça. Minhas mãos banhadas em sangue acariciavam a face ainda quente do soldado. Queria prender a vida nos seus pulmões e não ficar vendo atônico, ela se perder a cada respiração dele.

–Não morra– Implorei, lágrimas salgavam meus lábios. O vermelho do sangue já cobria metade do deque da popa, indo em direção a borda do navio– NÃO MORRA!

Brad lançou um último sorriso torto de canto de lábio.

–Te... Amei.

Sabia que meu coração continuaria e eu conseguiria seguir em frente. Mas não importava, pois uma parte de mim estava sentindo com toda intensidade a partida do soldado. E suas últimas palavras silenciavam-se no ar, esvaindo como um segredo que apenas eu levaria.

Gritei alto e doloroso.

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Achei dramático demais esse capítulo. Não gostei desse sentimento que Christian nutria por Brad, ainda mais com a paixão que tem por Aaron. Nunca fui do tipo que se apaixona por 2 ou gosta de dois. Christian é muito fodido, acho que acabei passando nessa cena o sentimento que tive por um cara que eu tinha um relacionamento confuso e morreu. Mas apesar de super dramático, é interessante elevar a história para algo mais perigoso. O grito que Christian deu no final do capítulo não foi apenas pela morte de Brad, como pode parecer, mas sim por toda a dor que ele tem guardado desde pequeno. A morte súbita foi apenas um estopim para essa dor sair e ele relembrar de outras pessoas que morreram em sua vida.

Talvez tenha parecido um pouco confuso a súbita morte de Brad, sem o som da arma(que tinha silenciador além de ser abafada pela névoa), mas eu não conseguia imagina o som do tiro.

Do nada Brad começou a cair e Chris viu sangue em seus braços que tentavam segurar o soldado, essa confusão ao descrever a cena faz parte da confusão que o personagem sente no momento. Eu não poderia descrever tudo detalhadamente porque Chris estava surpreso demais para analisar ao seu redor. Falando em abalar, acho que depois de todo o calculismo de Christian no começo do "cruzeiro", o afogamento dele o abalou ao ponto de fragilizar seu emocional e sentimental.

Obrigado pelos comentários do último capítulo, tenho medo de explicar o nome TLK e acabar dando spoiler, mas já aviso que é uma pegadinha(tem duplo significado) com o nome da doutora. Aliás, no capítulo anterior até falei o nome dela completo despercebidamente:

"Encontrava Aaron apenas nesse momento, já que ele era encarregado de vigiar e proteger Dra. Tess Lirian Kathreen"

Desculpem esse texto longa no fim do capítulo, mas gosto de conversar com vocês :)

Com amor,

B.

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Comentários

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Agora fiquei confuso,sera q a Doutora é a "resistente" ou Aaron 😟

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