- Que exagero! Quem seria louco a ponto de trair o Reino? - Meu tio falou.
- Perdoe-me, Alteza, mas eu discordo do senhor. Nossos horários sempre são alternados, faz parte da nossa estratégia militar, só alguém que tem esse conhecimento poderia informar ao inimigo.
- Marquês, o senhor é quem deveria se certificar para que essa estratégia de fato funcionasse. Quantos anos faz que usamos a mesma? Qualquer estrangeiro deve ter aprendido sobre nossas táticas militares. - Meu tio contraditou.
- O fato é que houve uma violação de nossas fronteiras. Não podemos permitir isso, Primeiro-Ministro. - Falei. - Irei até lá verificar essa situação e tentar acalmar possíveis tensões.
- É arriscado, Alteza Real, o Senhor é o Regente, não pode sofrer nenhum dano e não pode sair do Reino.
- Não sairei da fronteira e tenho bastante treino e preparo, Duque. Irei, mas voltarei em segurança.
- Ainda acho uma imprudência. Mande o Marquês, algum dos Generais, mas o Senhor nunca passou por algo assim.
- Duque, deixe que o meu sobrinho parta. Ele vai voltar são é salvo. Ele precisa adquirir experiência.
- Alteza, o Príncipe Hugo ainda é jovem.
- Por isso mesmo. Quanto mais jovem melhor.
- Está decidido. Eu irei até o conflito. Marquês, garanta-me umas três companhias de homens.
- Sim, Alteza Real. Atenderei o seu pedido. Com licença. - Curvou-se e saiu.
- A Princesa ainda é jovem, não pode ficar no comando do Reino. Pela linha sucessória, o Príncipe François será o Regente até o seu retorno, Alteza. O Senhor está de acordo?
- Tenho meus desentendimentos com meu tio, mas reconheço-o como meu sucessor até o retorno. Cuidem bem da minha irmãzinha.
- Minha sobrinha será muito bem cuidada. Apresse-se, Hugo, o povo precisa de você.
- Irei sem minhas vestes reais. Não quero chamar atenção. Partirei em uma hora.
Saí da Sala do Trono e fui para o meu quarto.
- Johan, chame o Bernard. Preciso vê-lo.
- Sim, Alteza.
Bernard chegou ao meu quarto em poucos minutos.
- Meu Príncipe, já soube da sua decisão. É arriscado demais ir a uma zona de conflito.
- Não tenho escolha. Essa é uma situação extrema.
- Irei com você. Não o deixarei sozinho. Tenho mais experiência que você e além disso preciso proteger-te.
- Agradeço-lhe, mas seu lugar é aqui, com seus pais e sua esposa.
- Ninguém é mais importante que você. Eu vou e nada me fará mudar de opinião.
Nos aposentos do Príncipe François...
- Enquanto o Hugo estiver fora, o Trono será meu.
- Que notícia maravilhosa, meu amor. Quanto tempo ele ficará fora?
- Não importa. Como Regente, o Hugo não pode ausentar-se do Reino. Eu farei com que ele ultrapasse a fronteira sem a decisão do Parlamento. Isso causará uma crise grave e ele vai perder o direito a sucessão. Resta apenas a pequena Mily, mas eu conseguirei cuidar dela até sua maioridade.
- Você pensa em tudo, não é? Aquela área de mineração foi só um pretexto para tirar seu irmão do Trono. Nós seremos os Reis. Nosso filho herdará o Reino.
- Além do mais, com um conflito em andamento, qualquer mal pode acontecer com uma criança. A Mily é muito enérgica, e nós podemos usar isso ao nosso favor. Tudo pelo Trono. Irei até o fim.
No estábulo...
- Como está o Lírico, meu amigo?
- Está muito bem, Príncipe Hugo. Ele vai servir-lhe bem durante sua viagem.
- Isso são modos de tratar Sua Alteza Real, René?
Bernard nos surpreendeu ao chegar no estábulo.
- Perdoe-me, Alteza, mas o Príncipe pediu-me isso.
- Não precisa desculpar-se, René, meu primo é que não deveria ter falado assim.
- Eu disse-lhe que não ficaria bem falar assim com o Senhor.
- Foi um pedido seu, Hugo? Porque não me disse? Desculpe-me, René.
- Não, Alteza. Eu entendo sua estranhamento. O respeito tem que existir.
- Então, chame-me pelo meu nome também.
- Como quiser. Obrigado por entender-me.
- O meu cavalo ficou pronto?
- O Desbravador é um animal surpreendente. Seu desempenho faz jus ao nome.
- Foi um presente do meu sogro. Eu criei por ele uma afeição muito grande. - Bernard alisou seu cavalo.
- Vamos, Bernard? Precisamos partir.
- Sim, estou pronto.
- Peço que vá na frente, enquanto eu falo com o René.
- Estarei a sua espera.
Bernard montou em seu cavalo e partiu.
- Deseje-me boa sorte, amigo. Estou com medo.
- Você se sairá bem, Hugo. Eu sei o quanto você é preparado para acontecimentos como esse.
- Espero que esteja certo. Quero fazer-lhe um pedido.
- Farei o possível para que ele realize-se.
- Cuide da minha irmã, René. Proteja-a. Temo que algo de muito ruim possa acontecer com ela.
- A Princesa será vigiada constantemente. Serei o protetor da pequena Mily.
- Eu só confio em você. Agora eu preciso ir.
- Boa sorte, Alteza Real. Traga a vitória para o nosso povo. És a nossa esperança. Vida longa ao Príncipe Hugo! - René gritou enquanto eu partia.
Consegui despedir-me da Mily e fui para a fortaleza de Rulez. O caminho era longo, mas certamente chegaríamos até o anoitecer.
Segundo informações oficiais, a fortaleza tinha sido tomada por dez dúzias de homens, mas não souberam informar a quantidade exata. Conforme eu solicitei ao Marquês, tinham-me sido enviadas três companhias de homens. Cada uma com setenta homens. Somado a isso tínhamos mais trinta homens da Guarda Real, afinal de contas, duas pessoas da linha de sucessão de Austo estavam indo para uma batalha.
Fizemos duas paradas para descanso, mas ao anoitecer nós chegamos em Rulez. Próximos da fortaleza, nós encontramos um homem ferido que vinha em minha direção.
- Você é o Príncipe Hugo?
- Afaste-se, homem, ou você morrerá.
Os guardas fizeram um muro ao meu redor e do Bernard.
- Deixe-o falar.
- Obrigado, Alteza Real, mas isso é uma armadilha. Volte para o castelo. Sua vida corre perigo.
O homem mal conseguiu falar e desmaiou nos braços do guarda.
- Altezas, proteja-sem. Nós fomos avistados. É hora da batalha.
- Coloquem esse homem sobre minha proteção. Levaremo-nos para o castelo.
- Não podes fazer isso. É loucura. Ele é um estrangeiro. Não sabemos se vem em paz e nem se fala a verdade.
- Não é hora para isso. Vamos à luta! Pelo Reino e pelo Rei!
Desembainhei a espada e levantei-a. Logo avistei cavaleiros vindo em nossa direção. A hora da batalha havia chegado.
Como terminaria a batalha? Como resolveria o problema do estrangeiro com o Bernard?