Capitulo 01
Eu estava no terceiro ano do ensino médio. Época de descobertas e de pegação. Quando você pode competir com seus amigos para ver quem pega mais garotas ou discutir o tamanho do seu pênis, certo?
Não. Pelo menos não comigo.
Cá estou eu, sentado em uma mesa totalmente afastado de toda a escola. Era normal para mim. Não era feio, eu achava que não, mas por algum motivo ninguém dessa porcaria de escola queria se sentar comigo. E o que estou fazendo? Olhando para o garoto mais perfeito, educado, inteligente e totalmente hétero dessa escola. É isso mesmo que você ouviu. Eu, Theodore Zenatti, estou literalmente de quatro por alguém que nunca iria dar bola pra mim. E lá está ele, em seu grupinho de amigos e rodeado de garotas, com uma em cada braço e sussurrando coisas provavelmente obscenas em seus ouvidos. Como eu invejava-as naquele momento. Como eu desejava poder estar daquela maneira. Mas o destino é cruel e não dá. Nunca acontece essas coisas comigo.
Eu sempre fui muito gay. Não demonstrava, mas desde pequeno eu e minha família já sabíamos que eu nunca seria aquilo que meu pai queria que eu fosse. E foi justamente no dia em que eu disse com todas as letras Família, eu sou gay ele decidiu sair de casa sem nem mesmo se importar com a vida das pessoas que mais o amavam nesse mundo. Mas a minha mãe nunca se importou com isso. Se eu estava feliz, ela estava feliz. O meu avô até fazia piada com o assunto e todo o restante procurava me deixar o mais confortável possível.
Na escola ninguém sabia. Não podia contar pois não tinha amigos. Sempre tinha aqueles que pediam cola na hora das provas ou ajuda nos trabalhos. Eu sempre fazia tudo o que eles queriam, até que eu me neguei a continuar daquela maneira.
O sinal para voltarmos para a sala de aula tocou, fazendo com que a grande quantidade de alunos entrassem em suas devidas salas, então me levantei e passei a mão pelo meu cabelo castanho claro, arrumado em forma de topete e ajeitei o moletom preto em meu corpo. Minha calça jeans escura e o all star cinza gasto que adorava usar. Eu era assim.
Havia um sol tímido que queria sair de trás das nuvens e seu reflexo batia em meus olhos, fazendo com que eu devesse estreitá-los para enxergar o caminho de volta à escola. Andava apressado, por ter enrolado um pouco mais e quando ia passar pelo portal, alguém esbarrou o corpo no meu, fazendo com que eu caísse de bunda no chão. Estava desnorteado e confuso com o que acontecia ao meu redor.
Levantei meu olhar e dei de cara com a razão de meus pensamentos mais obscuros - quem vê pensa - me estendendo a mão com um olhar culpado em seu rosto. Gabriel Falcone em seus 17 anos e seus lindos olhos azuis e cabelos pretos me encarava e percebi que era por continuar sentado no chão. Segurei em sua mão e me levantei, ficando alguns centímetros mais baixo que ele e comecei a olhar para meus pés.
- O-obriga-ado. - Droga, eu gaguejei.
- Imagina. - e sorriu. Um sorriso ladino que me derreteu. Logo se virou e saiu para a sala de aula. Ainda fiquei parado, olhado para o movimento de seu bumbum, mas logo acordei e fui na mesma direção. Entrei na sala um pouco antes do professor e me sentei em minha cadeira, no fundo da sala.
Gabriel estava sentado junto de seus amigos e sorrindo. Olhei para o garoto por mais algum tempo,mas logo comecei a prestar atenção no que o professor acabava de falar. Mas meus olhos ainda se desviavam e encaravam fixamente a nuca de Gabriel e eu podia jurar que ele sabia.
E assim foi durante toda a aula. Nunca passava tempo demais olhando-o, mas era impossível controlar meus olhares para ele. Três garotas sentadas em sua cola e se insinuando para Gabriel, que respondia a todas com um sorriso matador em seu rosto.
Não tinha ideia de como ninguém suspeitava de mim. A minha cara de idiota apaixonado quando olhava para ele era mais que obvia.
A professora de Biologia entrou na sala, ainda era inicio do ano letivo e estávamos naquela de se apresentar para os alunos novos. Srta. Garcia era daquele tipo de professora que é legal com todos, mas quando é pra ser seria, sabe impor respeito.
- Bom dia, turma. Teremos um trabalho para inicio das notas e será em dupla. - todos os alunos comemoraram e eu já previa ficar sozinho, como sempre. - Mas, eu escolherei quem ficará com quem.
Murmúrios de lamento e vaias era ouvidas por toda a sala de aula e eu só esperava não ficar com aqueles garotos idiotas que sempre me jogavam bolinhas de papel. Alguns nomes foram ouvidos, muitas reclamações e xingamentos e o meu nome ainda não havia sido citado. Ouvi a professora chamar por Gabriel e toda a espécie feminina da sala se assanhou. Era obvio que gostariam de ficar com ele. Quem não gostaria? Mas o que me surpreendeu foi o meu nome ser chamado logo após. Minha ficha ainda não tinha caído e eu continuava sentado em meu lugar.
- Quem diabos é Theodore? - Christian, um amigo de Gabriel se pronunciou e algumas pessoas riram.
- Eu. - Levantei um de meus braços e continuei com cara de indiferença. Gabriel logo olhou para mim e sorriu, voltando a conversar com os amigos.