Paulo: Rafael, tu sabe que odeio quando mentem para mim! Tu sabe que isso me magoa e muito.
Rafa: Pai! Eu não queria mentir! Mas eu não estava seguro em contar isso. Eu tinha medo. Não é algo fácil de abir. É a minha vida, são sentimentos meus. Quando eu estivesse pronto eu iria falar.
Paulo: Rafa, tu precisa confiar no teu pai!
Rafa: Pai, eu confio, mas tem coisas que são pessoais e eu tenho direito de querer preservar algumas coisas para mim. Isso diz respeito a mim.
Paulo: Quanto tempo faz que vocês estão vivendo isso?
Rafa: Faz quase um ano. Foi depois que voltamos do passeio.
Paulo: Faz bastante tempo. Filho, quero que você se afaste dele.
Rafa: Pai, não! Isso não vai acontecer. Tu não pode me pedir isso!
Paulo: Rafael, ele é menor de idade, tu já pensou nisso? E os pais dele? Eles sabem?
Rafa: Não, os pais dele não sabem!
Paulo: Rafa, ele é menor. Os pais dele podem te acusar de estupro!! Tu não está medindo as consequências!!
Rafa: Mas pai, nós nos amamos!
Paulo: Rafa, por favor, pense um pouco! Pense na desgraça que pode te acontecer! Te afasta dele!
Rafa: Não dá pai. Isso não vai acontecer! Eu amo ele demais.
Paulo: Só por favor não me diga que vocês já....
Rafa: Já o que?
Paulo: Já transaram!!
Rafa: Não, pai, não transamos.
Paulo: Menos mal. De hoje em diante tu está proibido de continuar esse relacionamento! Não quero mais isso!
Rafa: Tu não tem direito de fazer isso, pai!! Não, por favor!!
Paulo: Minha casa, minhas regras!! Enquanto viver sob meu teto, eu dito as regras. E se ele continuar vindo aqui, eu vou mandar ele para casa.
Rafa: Então, se a casa é sua, e são as suas regras, eu vou embora!
Paulo: E vai para onde? Com o que tu ganha, mal consegue se alimentar! Quero ver sustentar uma casa, os estudos e tudo mais que hoje sou eu quem paga.
Rafa: Eu dou um jeito! Mas viver aqui e assim, não dá. Se essa é a tua palavra final, eu vou embora!
Regina: Filho, não! O que vocês estão fazendo? Parem com essa discussão. Filho meu não será posto para fora de casa!
Rafa: Mãe!
Paulo: Regina, por favor! Ele não vai sair! E eu não estou colocando ele para fora de casa! Esse menino é que está rebelde. Acha que fugir de casa será solução!
Rafa: Eu rebelde? Eu só estou defendendo aquilo que eu amo.
Regina: Parem! Parem já! O que deu em vocês dois para discutirem essa hora da madrugada?
Paulo: Eu peguei ele e o Natan se beijando no quarto!
Regina: E precisam fazer todo esse alvoroço? E daí se eles se amam? Isso é o importante, eles se amam, se respeitam!
Paulo: Mas Regina! Isso é errado! Eu não criei um filho para ser viado! como tu pode aceitar isso?
Regina: Ele é o que ele precisa ser e isso basta. Eu já sabia deles. Eu só preferi não me intrometer nesse assunto. Se eles estão felizes assim, para mim é suficiente. O errado aqui é tu. Tu deverias apoiar o teu filho, e não marginalizá-lo!
Rafa: Sabia?
Regina: Sim, eu sabia! Eu sou tua mãe! Vocês se olhavam com muito amor para ser apenas uma amizade. A forma como tu se preocupa com ele e ele contigo. Como vocês ficam felizes quando estão juntos. O carinho que vocês se tratam... Filho, tu pode ter conseguido esconder do seu pai, mas de mim tu não consegue esconder. Pare com essa bobagem de sair de casa. Fugir dos problemas não os resolvem apenas adia a solução.
Paulo: Regina, tu é louca? Quer apoiar ele a ficar com um menino que é menor de idade? E os pais dele? Eles podem acusar o nosso filho de estupro! E aí? O que será dele?
Regina: A mãe do Natan sabe dele, apenas o Natan não sabe disso. Ela já conversou comigo. Ela apoia. E ela contou que o pai dele também sabe e que ele aceita por ser o nosso filho. O único aqui que está sendo ridículo em não aceitar é tu. Tu deveria apoiar teu filho e não fazer o que está fazendo.
Paulo: O pai dele é um frouxo! Onde já se viu aceitar isso!!
Regina: Não vou mais discutir isso! Agora vamos nos acalmar! E filho, se você o ama verdadeiramente continue com ele, ninguém aqui vai proibir o amor de vocês. Entendeu, Paulo?
Paulo: Eu não admito!
Regina: Mas vai admitir! Meu filho vai permanecer nessa casa e o Natan será sempre muito bem vindo! Agora vamos descansar! Essa noite já deu o que tinha de dar!
Todos foram para seus quartos. Rafael estava muito nervoso, agora que não estava na frente de seu pai desandou a chorar. Toda a sua raiva, todo os seus sentimentos vieram à tona. Seu corpo tremia descontroladamente. Lembrava cada palavra de seu pai e chorava muito. Deitou-se chorando. O sono já estava perdido. Seus pensamentos se dirigiram para o futuro. Como seria agora a relação com Natan? Poderá ainda vê-lo? Poderá viver esse amor? O que mudará? Seus pensamentos fluiam rapidamente e não o deixavam dormir. Ficou assim e viu que o amanhecer já estava acontecendo. Levantou-se e foi para a cozinha beber água. Não teve mais vontade de voltar para o quarto. Abriu a porta da rua e ficou parado no pátio olhando para o mundo. Estava viajando em seus pensamentos quando sente um abraço por trás.
Regina: Já acordado, filho?
Rafa: Não consegui dormir!
Regina: Filho, é bom você dormir. Vais ter de trabalhar essa noite!
Rafa: O sono não vem. Tem muita coisa na minha cabeça!
Regina: Eu entendo!
Rafa: Mas mãe, e os pais do Natan? Por que não falaram nada para ele?
Regina: Porque eles estão esperando que ele esteja pronto para falar. E você não deve falar a ele sobre isso. Deixe ele ter o tempo que ele precisa.
Rafa: E por que tu não me contou que tu sabia?
Regina: Pelos mesmos motivos dos pais do Natan. Estava esperando o teu tempo!
Rafa: Não entendo porque meu pai reagiu assim!
Regina: Seu pai é mais conservador! Com o tempo ele vai entender! Ele está nervoso, ele precisa de tempo. O tempo cura todas as feridas. Mas tu podia ter facilitado um pouco. Não deveria ter mentido para ele. Ele fica muito mais irritado quando ele pensa que estão enganando ele!
Rafa: Eu estava apavorado! Ele me pegou de surpresa! Eu não estava preparado para conversar sobre isso.
Regina: Entendeu porque não deverás contar ao Natan sobre os pais dele saberem?
Rafa: Entendi.
Regina: Vai, filho, vai se deitar, tente dormir um pouco!
Rafael voltou para seu quarto. Essa conversa o deixou um pouco mais calmo. Deitou-se e apagou no sono. Foi acordado perto do horário do almoço. Levantou-se e foi para a sala. Comeu um pouco, comer algo salgado após acordar não era algo que apreciasse. Seu pai ficou calado o almoço todo e Rafael também. Só havia o barulho da TV ligada e dos talheres batendo nos pratos. Rafael voltou para o quarto. Ligou o PC e tentou encontrar Natan para dizer que não seria bom que ele fosse hoje em sua casa. Ia marcar algum outro lugar para se encontrarem, algum lugar longe da vista de todos. Para sua tristeza ele estava offline. Pegou seu telefone para ligar.
Natan: Posso saber para quem você está ligando?
Rafa: NATAN????? O que está fazendo aqui??
Natan: Ué pensou que era quem? Estava esperando outra pessoa? kkkkk
Rafa: Não, não! O que está fazendo aqui?
Natan: Vim te ver! Mas porque está com essa cara de espanto? Parece que viu um fantasma! Não me quer aqui?
Rafa: Não, não é isso! É que eu discuti feio com meu pai.
Natan: É por isso que ele está de cara feia na sala!! Nem sequer me cumprimentou. Virou a cara! Discutiram sobre o que?
Rafa: Sobre nós!
Natan: Como é?
Rafa: Ele descobriu sobre nós!
Natan: Meu Deus! Mas como?
Rafa: Ontem quando estávamos nos beijando aqui no quarto pouco antes de tu ir embora, ele nos viu. Ele tinha vindo até a porta do quarto para me chamar e acabou nos vendo!
Natan: Caramba! E foi feia a briga?
Rafa: Eu quase fui embora! Minha mãe interferiu! Se ela não tivesse se colocado entre nós dois, eu não sei se tu iria me encontrar aqui hoje.
Natan: Fugir não é remédio! Tu ia me deixar para trás?
Rafa: Eu estava desesperado!
Natan: Mas por que ele brigou tanto? Teu pai sempre me pareceu ser um cara tão legal!
Rafa: Ele tem medo por tu ser menor!
Natan: Só mais 1 ano e depois já não tem esse problema! Agora estou com medo da reação dos meus pais quando eles descobrirem.
Rafa: É, mas acho que o problema se torna menor quando eles não descobrem, quando se conta para eles.
Natan: Eu não pretendo contar tão cedo!
Rafa: Bom isso, já é contigo. Por enquanto eu deixo isso nas tuas mãos!
Natan: Mas e a tua mãe?
Rafa: Minha mãe disse que já sabia. Mas estava esperando que eu contasse. Ela aceitou muito bem. O problema é só meu pai. Ele e muito estressado.
Natan: Acho melhor não provocarmos ele por enquanto. Melhor deixar ele esfriar a cabeça. Acho melhor eu ir para casa.
Rafa: Me dói pensar isso, mas também acho. Entra no skype quando chegar. Combinamos algum lugar para nos encontrarmos antes de eu ir trabalhar.
Natan: Tudo bem! Pode ser!
Natan deu um selinho rápido em Rafael e ambos foram para fora. Rafael decidiu acompanhar Natan a pé até perto de casa e assim poder conversar mais e quem sabe trocar alguns beijos. Chegou perto do destino e despediu-se. Voltou para casa. Ao entrar, seu pai estava de cara fechada e só o acompanhava com os olhos. Rafael estava com medo de encará-lo. Mas via que ele estava muito nervoso. Estava além do normal dele. Pensava quanto tempo ele demoraria para se acalmar e voltar a ser como era antes. Um pai que lhe dava atenção, que dava carinho, que o defendia, que o aconselhava, que era companheiro. Entrou em seu quarto e foi para o PC. Natan já estava online. Ficaram conversando no skype e combinaram de se encontrarem no fim do dia próximo da escola onde tem pouco movimento no domingo. Estava terminando de combinar com Natan quando sua mãe entra correndo em seu quarto.
Regina: Rafael, vem logo, teu pai está passando mal!
Rafa: Como assim, mãe?
Regina: Ele está reclamando que está com muita dor no peito! Vem, filho, vem me ajudar.
Rafael levantou rapidamente da cadeira deixando Natan falando sozinho no skype. Foi correndo para a sala e seu pai estava pressionando o peito dizendo que estava doendo demais. Rafael vai até ele.
Rafa: Paiiii!! Paiii!! O que houve?
Paulo: EStá doendo muito meu peito! Está doendo demais!!
Rafa: Calma, pai! Mãe onde está o telefone?
Regina: Está aqui. O que vai fazer?
Rafa: Chamar uma ambulância! Pode ser um infarto!
Rafael liga para a ambulância. Antes que fosse atendido seu pai apaga. Rafael fica desesperado. Repara que ele parou de respirar, colocou a mão sobre o peito dele e não sentia o coração batendo. Tentou sentir a pulsação no pulso e estava muito fraca. Atenderam o telefone.
Rafa: Socorro!! Meu pai!!! Acho que ele está tendo um infarto!! Ele estava reclamando de dor no peito, agora ele apagou, não está mais respirando, e não sinto o coração dele. Por favor me ajudem!!
O atendente deu orientações para que Rafael tentasse a ressuscitação. Começou a fazer massagem cardíaca. Estava fazendo e seu pai reanimou. Abriu os olhos, olhou para Rafael.
Paulo: Filho, eu te amo, lembre-se disso! Eu só quero o teu bem. Eu te amo meu fi...
Rafa: Pai, não fale. Descanse! A ambulância já está chegando!
Paulo: Fil......
Paulo fechou os olhos novamente e apagou! Rafael voltou a fazer a massagem cardíaca. Regina estava desesperada. Não sabia o que fazer. Estava chorando muito. Rafael queria consolá-la, mas não podia parar a massagem.
Rafa: Mãe! Vai até a rua. Abra o portão. Fique esperando a ambulância. Faz sinal para eles quando eles estiverem chegando. Vai lá mãe. Eu vou tentar mantê-lo!
Rafael já estava fazendo a massagem por 20 minutos quando a ambulância finalmente chegou. Perguntaram por quanto tempo ele estava fazendo a massagem e ao saberem do tempo, Rafael viu no rosto deles que não haveria mais chances. O paramédico continuou a fazer a massagem enquanto outro preparava a máquina de choque. Colocaram no corpo de seu pai os eletrodos e mandaram todos se afastarem, deram o choque, mas não obtiveram reação. Aumentaram a potência e fizeram nova tentativa. Novamente não teve reação. O paramédico se levanta.
Paramédico: Lamento! Ele está em óbito! Tudo o que podíamos fazer foi feito, mas ele não reagiu!
Regina: Meu Deus!! Não!!! Não pode ser!!! Meu marido!! Meu amor!!! Não!!!!
Paramédico: Senhora, sinto muito! Ele teve um infarto fulminante. Não haveria nada que alguém pudesse ter feito! Você é o filho?
Rafa: Sim!
Paramédico: Sinto muito! Eu sei que deve ser difícil, ainda mais nesse momento, mas eu preciso passar algumas orientações e que você assine a Ordem de Socorro.
Rafa: Tudo bem!
Rafael deixou sua mãe chorando se despedindo de seu pai. Acompanhou o paramédico até a ambulância. Recebeu as orientações e assinou a documentação que necessitava.
Rafa: Para qual hospital o levarão?
Paramédico: Nós não vamos levá-lo. Ele já está em óbito não há porque levar para o hospital. Você precisa ligar para a funerária para que eles venham buscar o corpo. Garoto, você precisará ser forte agora. Acompanhe sua mãe. Ligue para alguém vir dar apoio. Tudo o que tu poderia fazer tu fez.
Rafael voltou para junto de sua mãe. Explicou tudo o que lhe tinham explicado. Ligou para a funerária e esperou que eles chegassem. Rafael não conseguia chorar. Ele tomou a frente de tudo. Assumiu toda a responsabilidade. Ligou para sua cunhada para que ela avisasse seu irmão. Estava sem coragem de falar com ele. Foi até seu quarto e no skype avisou Natan. Apenas deixou recado avisando que seu pai havia morrido. Ligou para a empresa e avisou também. A funerária chegou e levaram o corpo de seu pai. Rafael conduziu a mãe para o carro e seguiu o carro da funerária até seu destinoOs acontecimentos do final da parte 8 e a parte 9, são baseados em fatos reais da vida do narrador.
Continua....