Gente, desculpem. Depois de tanto tempo eu consegui voltar. Decidi postar aos poucos. Foram tantas coisas que aconteceram neste últimos anos. Primeiro, acabei meu mestrado, sou um mestre em educação. Segundo, fiquei muito absorto em trabalhar em uma faculdade, tô com várias cadeiras. Depois, quando tinha prometido voltar a postar o conto, minha mãe caiu e fraturou o fêmur, o que dificultou em muito meu processo de escrita e eu fiquei apaixonado pelas BLs Chinesas e as novels tailandesas. Mas taí, caso alguém ainda me siga, tentarei postar capítulos menores com uma maior frequência. Grande abraço a todos.
E tão rápido quanto um piscar de olhos já se passaram seis meses desde que eu havia retornado para a vida militar, e fazia os dois treinos. Eu nos primeiros dias, estranhamente, estava em paz. Sabia o que Sam sentia/sente por mim e também o que sinto por ele. Havíamos combinado algumas coisas, eu falaria com ele sempre que pudesse, mas com toda a cautela possível, não poderia deixar que soubessem que me relaciono com um homem. Se eu estou feliz com essa situação? Nenhum pouco, mas estou muito feliz com o meu namorado e a tentativa que ele faz de me apoiar.
Mas, viver aquartelado não é muito interessante, eu amo o que estou fazendo, mas eu devo sempre manter a minha guarda em alta. Rir de cada piada sem graça que contam, reaprender e o pior de tudo, usar o termo “gay” como um adjetivo pejorativo. Não concordo, não acredito nisso, o meu namorado é gay, assim como eu. Mas para poder me misturar devo mostrar certa virilidade e não me preocupar com certas coisas que, o fato de viver com um homem acabaram me colocando.
Acredito que antes de viver com Samuel tudo isso era muito normal, eu não pensava em como essas brincadeiras poderiam ferir certas pessoas. Agora, por outro lado, eu as conheço, algumas delas são minhas melhores amigas, o que faz com que, mesmo que tardiamente, eu compreenda o real peso destas palavras, como elas podem machucar os outros, e agora, a mim mesmo.
Um outro aspecto, um problema que começo a enfrentar é a minha “inexistente” vida amorosa. Homens tem suas necessidades e, principalmente, em ambientes de confinamento podem acabar se relacionando com outras pessoas (mulheres) dentro do quartel. Existiam oficiais mulheres que acabavam mantendo um relacionamento com outros, em alguns casos, até casavam. Para além de nossas colegas de farda, claro, sempre existe alguma espécie de bar nas redondezas onde poderíamos ser saciados por mulheres, que se engraçarem por um homem fardado, ou estarem interessadas no conteúdo da carteira dele. O sexo não era vedado, mas eu não estava interessado nas opções que me eram vistas. O problema real consistia em que, você deve fazer algo. Você deve atuar, desempenhar o seu papel de macho viril, pois, caso contrário, mesmo que a pessoa cumpra todas as suas funções no exército, ela será marcada. As dúvidas pairarão sobre ela, do porquê o Miller sempre está sozinho? A fidelidade a sua namorada não pode suplantar os instintos de homem.
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Eu tinha, digamos, saído do armário, embora, depois do baque inicial, minha relação com minha mãe tenha melhorado, meu pai ainda continua fingindo que Samuel não existe. Ou melhor, fingindo que ele não é meu namorado, apenas um “garoto”, ou o meu “amigo”. É horrível perceber o tom depreciativo com o qual ele fala, a raiva, o desprezo com o qual ele profere essas palavras, mais tudo bem. Isso não me atinge.
O problema é, ele não quer que as outras pessoas da família saibam sobre o meu namorado, ele quer que eu omita essa parte da minha vida, é como se eu pudesse me relacionar com quem eu quiser, mas que as pessoas a minha volta não pudessem saber, ou algo como se, as pessoas que são próximas a ele não deveriam saber para que a desonra de ter um filho se relacionando com outro homem não pudesse sujá-lo.
Confesso que, em respeito a ele, eu tentei. Eu tentei não demonstrar muito, dar pinta de com quem eu me relacionava, demonstrar meu afeto por Samuel apenas para aqueles que nos aceitavam, mas isso não era fácil. Não era um botão de liga ou desliga, eu gosto dele ele é uma das principais razões da minha felicidade e hoje, não tenho a menor vergonha ou medo de admitir, muito pelo contrário, eu tenho que dizer e demonstrar para que ele saiba e qualquer outro que o olhe saiba que eu não iria abrir mão dele fácil.
Depois de uns três/quatro meses eu tinha uma prima que iria se casar, filha da tia Christina. Ela estava muito ansiosa para esta data e, como éramos muito próximos a ela, de certa maneira, exigia a minha presença.
Minha prima, Cecilia era um espírito livre e já há algum tempo havia se mudado para Oklahoma, ela queria conhecer outros lugares dos EUA, e foi naquela cidade que acabou se encontrando e conhecendo o seu namorado e futuro marido Adrian.
No entanto estranho sua ligação quando estávamos há apenas três semanas do casamento, penso que poderia ter acontecido alguma coisa, mas ela me informa que havia falado com meu pai e ele havia dito que eu não iria.
- Grande Tim, eu não acredito que você não vai vir para o meu casamento.
- Oi Cecília? Como assim? Quem te disse uma coisa dessas? – Eu questionava.
- Seu pai. Eu bem que estranhei, mas ele disse que tinham acontecido alguns contratempos aí em Stanford e você não viria mais. – Como meu pai poderia ser tão sínico? Ele não quer que eu vá.
- Sim contratempos, por contratempo ele se refere ao meu amigo Samuel, eu te disse que iria levar um amigo, não disse.
- Sim, claro. Eu não entendi direito o motivo de você fazer tanta questão de trazê-lo, mas tudo pelo Grande Tim. Mas, você não vai querer trazer mais ninguém não?
- Como assim?
- Você está muito quieto, meu primo. Desde que terminou com a Isa, eu não soube mais das suas famosas conquistas. Não teria ninguém que você gostaria de trazer...
- Para toda a família ver, e virar o assunto geral de todas as fofocas...
- Tim, fofocas já estão circulando. Você precisa trazer alguém para calar a boca desse povo.
- Como assim?
- Esse seu amigo, Samuel, ele é muito bonito e todas as vezes que vamos falar com você, ou na grande maioria das suas fotos nas redes sociais está com este garoto, Samuel. As más línguas começam a falar. Coisas como, o Tim não dá mais no couro, e para completar, vocês ainda dividem o mesmo dormitório?
- Sim, claro.
- Você não tem medo que as outras pessoas, ou até ele possa começar a entender as coisas errado? Eu acho que, para amigos, você está dando muita atenção pra ele. Acho que é por isso que o tio não gosta dele.
- Cecília, o que você acha dele? Do meu amigo Samuel?
- O que acho? Se eu não tivesse o Adrian, e o Samuel não fosse gay, ele não iria me escapar. – Ela começa a rir no telefone, no entanto, eu não gosto do rumo desta conversa –Você sabe que o irmão adotivo do Adrian é gay. Adrian é louco por ele. Eu tinha problemas no início, mas de tanto conviver com eles e ver o quanto o Adrian se preocupa com ele, não sei, a gente acaba mudando. Não diga pra mamãe que eu disse isso, mas eu gosto do Phillip. Bem que eu poderia apresentá-lo ao Samuel?
Qual é o problema das pessoas? Elas pensam só por que tem amigos gays, todos estão solteiros, ou querer se conhecer. Eu queria falar algumas coisas para minha prima que não tentasse fazer com que Samuel saísse com esse tal Phillip, mas eu ainda não podia, eu respeitava o meu pai, não poderia abrir que estava me relacionando com outro homem. Sabem aqueles momentos em que você dá um passo para frente e dois para trás? Então, eu vivia isso no momento, embora quisesse adiantar, algumas vezes eu retrocedia.
- Não, ele tem um namorado. E eu posso te garantir que o homem é muito ciumento.
- O namorado é tão lindo como ele?
- A Isa disse que sim. – respondo me segurando para não rir. – mas não era disso que estávamos falando, voltando ao meu pai. Eu já ouvi esses rumores, mas não me importo nenhum pouco, sou maior de idade e posso me relacionar com quem eu quiser. Se isso não for um problema para você, não será para mim, eu irei. Eu até já tinha reservado um quarto de hotel.
- Hotel?! A coisa tá tão séria assim? Eu achei que você iria se hospedar aqui na minha casa, você sabe que é meu primo preferido.
- Não Cecília, não vou tirar a sua privacidade. Todos tínhamos combinado de ir para hotéis, neste dia você vai ter que ser o seu dia, você não vai poder se preocupar com as outras pessoas.
Continuamos conversando sobre os preparativos, sobre os hotéis, e de como ela queria que eu estivesse presente nesta celebração. Ela dizia que gostaria muito de conhecer o Samuel e de que ele seria muito bem-vindo da despedida de solteira, uma vez que ela acreditava que ele não iria se interessar em, provavelmente ir a algum clube de strippers, com os amigos do noivo. Voltando ao dormitório eu converso com Sam acerca do que minha prima havia me falado, de como o meu pai tentava minar minha presença em um evento familiar tão importante.
Samuel apresenta o obvio que ainda dói, meu pai não aprova o meu novo “estilo de vida” e a pessoa que eu escolhi para passar os dias da minha vida. Ainda bem que tenho Vivi, Craig e começo a perceber que minha mãe, aos poucos tem mudado em relação a ele. Meu loiro fica com receio de que sua presença possa não ser bem-vinda, de que haja alguma cena e eu tento demovê-lo de sua relutância. Meu pai era a pessoa mais difícil que eu poderia pensar que sabia de meu relacionamento, e ele já sabe. O resto das pessoas não me interessam, eles, na verdade, devem começar a me ver com Samuel para que quando a verdade vir à tona, pois ela vai vir, não quero passar o resto de minha vida preso em um armário, o meu namorado não merece isso, as pessoas já estejam habituadas a nos verem juntos.
E, em um piscar de olhos, eu estava viajando para o casamento da minha prima. Sam estava um tanto receoso, ele não iria apenas ver o meu pai, como também grande parte do Clã Miller, embora a grande maioria ainda não tivesse ciência de nosso relacionamento. Meu pai não ficou feliz em saber que eu iria com Samuel e fez questão de deixar isso bem claro.
Aconteceu de que, quando chegamos ao hotel irmos em direção ao quarto que eu havia reservado. Era um hotel, eu não precisava me esconder, na reserva especifiquei que era um quarto de casal. No entanto, quando o rapaz nos deixou dentro do quarto, para minha surpresa, era um quarto duplo (com duas camas de solteiro), desço para ter com o gerente, saber o que tinha acontecido.
- Senhor Miller, não vejo qual é o problema, o senhor mesmo ligou modificando a sua reserva. – informava o funcionário.
- O que?
- Sim, há duas semanas o senhor ligou informando que gostaria de um quarto duplo, o senhor não especificou o motivo.
- Eu nunca liguei pra fazer isso. Eu quero o meu quarto de casal, aquele que eu reservei e já paguei! – Eu exigia.
- Senhor, desculpe, mas não há nada que eu possa fazer, está aqui a modificação. – o funcionário me mostrava a solicitação.
- Meu querido, me prove que foi eu que modifiquei a reserva? Porquê diabos eu iria querer um quarto duplo? – quando eu falo isso o funcionário dá uma olhada para o Samuel, como se fosse algo autoexplicativo. Eu iria querer um quarto duplo, um quarto para dois solteiros. – Por que eu iria querer um quarto para solteiro, para dois homens solteiros?
- Senhor, desculpe. Eu não quis insinuar nada. – o funcionário dizia.
- Sim, não quis, e não há nada para ser insinuado aqui. Alguém que fez confusão nas reservas, então vamos resolver isso rápido. Eu quero...
- Ele quer o quarto duplo dele – Uma voz familiar ressoava atrás de mim. A pessoa dona da voz entrava no recinto e veio direto em minha direção, como se o grande hall do hotel estivesse vazio, então sussurrou em meu ouvido. – Fui eu quem alterou sua reserva, se você veio com essa coisinha, não pude impedi-lo, mas se alguém da família decide vir vê-lo aqui?
- Eu não os deixo, pai. Eu quero o meu quarto para estar com o meu namorado da forma como eu estou todo o dia e toda noite.
- Você está aqui para o casamento da sua prima, ou para mostrar pra família esse seu esquisito particular? Eu tinha você em mais alta estima Timothy, no que ele te transformou? – Meu pai falava com um semblante cheio de asco. Eu iria continuar respondendo, mas Samuel me puxou pelo braço, ele acreditava que não valeria a pena eu discutir, eu deveria escolher minhas batalhas e, reagir naquele momento não iria ser vantajoso. Relutantemente, eu aceito a posição de Samuel e subimos em direção ao quarto.
Entrar naquele quarto me deixa muito chateado, são duas camas de solteiro pequenas.
- Serão apenas poucos dias Timmy, serão poucos dias. – Samuel fala enquanto beija levemente meus lábios.
-Tudo bem Sam, em qual cama nós vamos dormir? Se o General Miller quer camas duplas, teremos camas duplas, vai ser muito desconfortável, mas eu não abro mão de dormir com você.
- Prefiro a próxima a janela, ou melhor não. Vai que seu pai coloque atiradores prontos para me abater e te levarem de volta?
Sei que era apenas uma brincadeira, mas eu consegui visualizar esta cena, e não foi uma imagem agradável.
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Enquanto eu estava em meu segundo treinamento, escuto Thompson ao telefone. Não consigo entender direito, mas ele informa uma coisa que eu já suspeitava, que minha conduta é muito estranha. Eu posso ser estourado, mas sempre sou muito solicito com os outros, contudo, nestes seis meses não viram eu estar me relacionando com nenhuma mulher.
- Não senhor, não creio que seja o caso – informava Thompson. – Ninguém o denunciou. Não senhor, não está comprometendo o andamento das operações, por enquanto são apenas algumas especulações entre os soldados.... Sim, claro, que estamos levando em consideração senhor.... levarei este caso na maior descrição possível em respeito a seu histórico familiar.
A don’t ask, don’t tell é uma mentira. Eu não pergunto, eu não falo, mas eles estão no meu pé. Quem este Thompson pensa que é? Eu sei que ele não gosta de mim, mas falar isso pelas minhas costas, eu estou correndo perigo de ser exposto, de ser expulso sem poder fazer nada pelo meu país? O que posso fazer? Como posso fazer com que essas suspeitas sobre mim acabem?