CAPÍTULO II – A HONRA DA FAMÍLIA
Rubens:
Altair chegou por volta das nove da noite. Eu ainda estava ali na sala, pensando no que fazer. Tinha que contar para a Flávia tudo aquilo, mas não sabia como.
– “Oi Pai! To todo quebrado! O Geraldo botou pra arrombar hoje”Falou Altair, referindo-se ao instrutor da academia de Muay-Thay enquanto se seguia para o banheiro.
Olhei fixamente para ele. Altair era alto para a idade, tinha puxado a minha estrutura física e a pele morena da mãe. Os músculos estavam se formando depois de um ano de treino de luta. Olhos firmes, o cabelo herdado da ascendência africana, cortado na máquina um, penugem já se formando no peito e um rosto quadrado que se não era especialmente bonito, fazia uma boa presença. Não ia mal na escola e ocupava quase todo seu tempo no treino de Muay-Thay e correndo atrás das namoradinhas.
Salvo uma briga ou outra – normal para a idade - nunca tinha me dado problemas, porém era um rapaz vaidoso, preocupado demais em se exibir para os amigos, o que me deixava preocupado.
Fazia um certo tempo que eu tinha percebido que precisava ter uma conversa mais séria com ele, mas fui adiando. Porém essa safadeza que ele tinha aprontado me mostrou que já havia passado da hora e eu não iria admitir um filho meu fazendo aquelas coisas.
– “Volte aqui! Precisamos ter uma conversa”.
Ele ia se sentando na minha frente, mas eu não deixei.
– “Fique em pé! Você sabe que o Henrique chegou em casa ontem chorando e todo machucado?”Ele me olhou assustado e eu continuei“Parece que alguém espalhou na escola que ele tinha chupado o pau de outro garoto e três marmanjos resolveram dar uma lição nele”Dei uma pequena pausa e continuei“Você sabia que bateram nele?”
Altair me olhou chocado, balançando a cabeça em negativa.
– “E você sabe quem foi o veado safado que andou espalhando essa história?” – Dessa vez ele não negou, apenas abaixou a cabeça, me dando a certeza de que realmente foi ele.
– “Por que você inventou essa história?”
– “Eh, eh, eu...”. – Altair gaguejou, mas não me respondeu.
– “DESEMBUCHA! Faz de conta que você é homem!” – Gritei, pois já havia perdido a paciência.
– “Eu não inventei, ele me chupou! Mas só ele que chupou, eu não fiz nele”Falou Altair de cabeça baixa, sem me olhar no olhos.
Respirei fundo, fingindo uma calma que eu não tinha e falei suavemente:“Ah, tah.... e como foi isso?”
– “Domingo de noite eu estava com o pessoal do Muay-Thay na pracinha e vi que ele ficava olhando pra mim. O Túlio até comentou que achava que ele estava olhando para o meio das minhas pernas.”
– “E?” – Estimulei-o a continuar.
– “Quando a turma foi embora ele continuou por ali e eu quis ver qual era a dele. Fiz sinal pra ele e fui para aquele terreno vazio do Seu Antonio e ele foi atrás”Continuei em silêncio e ele prosseguiu:
– “Daí eu arriei o meu calção e ele se abaixou e fez. Quando ele terminou eu fui embora”.
– “Hummm.... E você gozou?” - Perguntei, ainda com a voz suave.
– “Sim. Mas eu não sou viado não Pai. Eu sou homem. Nem encostei nele, juro, quando acabou eu fui embora e só”.
Fiquei ainda mais irritado quando percebi que a maior preocupação dele era continuar se mostrando o macho da história.
– “Deixa eu ver se eu entendi: você sequer encostou a mão nele. Ele é que fez você gozar e quando você acabou você foi embora” - Altair assentiu e eu continuei - “Então ele não gozou com você?” - Altair novamente negou com a cabeça.
– “E o que você falou pra ele quando terminou?” - Perguntei ainda com calma, usando os últimos resquícios da minha paciência.
– “Não falei nada. Só me virei e fui embora?”
Naquele momento eu visualizei a cena do Riquinho ajoelhado no meio do mato, assustado enquanto aquele cavalo vestido se virava e saia deixando ele sozinho e humilhado. A minha paciência acabou. Me levantei e acertei um tapa bem no meio da cara do Altair.
– “VAGABUNDO!!! Eu achei que tinha criado um homem, mas o que eu estou vendo aqui é um frouxo!”. Meu filho me olhou ainda mais assustado, passando a mao sobre a face que havia levado o tapa.
– “Você acha que isso é atitude de homem?” - respirei e continuei - “Ele te fez gozar e o que você fez? Nem foi capaz de agradecer! Pelo contrario, saiu por aí dizendo que tinha feito o viadinho te chupar”.
– “Mas, m...” - Altair tentou falar - mas não deixei.
– “CALA A BOCA, QUE QUEM FALA AQUI AGORA SOU EU!” - e continuei.
– “Uma pessoa se ajoelhou na tua frente, fez carinho até você gozar e a única atitude do machão foi sair por aí humilhando ele? Você acha que porque ele chupou um pau você é melhor do que ele?”
– “Pois fique sabendo que ele é muito mais homem do que você, porque no mínimo ele fez você gozar, coisa que você não foi capaz nem de tentar” – Altair continuava de cabeça baixa.
– “E uma mulher? Você já fez uma mulher gozar?”
Altair, envergonhado, negou com a cabeça e eu continuei – “É, realmente um grande macho! Se você continuar assim o teu futuro vai ser brilhante. Quando se casar, e isso se conseguir se casar, vai ser corno, porque a mulher vai procurar fora de casa alguém que a satisfaça, porque o marido é um otario que goza, vira pro lado e dorme!”
- “E isso se não tiver que se virar com prostituta, não é? Porque daí não vai nem precisar se preocupar se elas gozam ou não.”
Altair continuava parado, com a cabeça baixa, mas eu consegui ver as lágrimas escorrendo. Me deu pena, mas prossegui. Eu tinha sido negligente com a educação dele e essa era a chance de pelo menos tentar consertar.
- “Agora sente aí e fique quieto no canto enquanto eu chamo os seus irmãos. Eu vou resolver algumas coisas com eles e você não ouse abrir a boca, porque é conversa de homem e você não tem que se meter”.
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Voltei para a sala com Carlos e Marcelo que se sentaram no sofá. Altair continuava sentado na poltrona do canto, em silêncio.
- “Filhos, já sabem o que aconteceu, então eu vou direto ao assunto.
- “Sim senhor” - responderam ao mesmo tempo.
- “Com o seu irmão eu me resolvo. Não quero confusão entre vocês e se eu sonhar que vocês tocaram nesse assunto com ele ou fizeram algum comentário, vocês vão se entender comigo, certo?” - os gêmeos assentiram e eu continuei - “A nossa família leva a dignidade muito a sério. O Henrique é amigo de vocês, um garoto bom, filho de duas pessoas para quem nós devemos muitos favores e que não merece o que está passando. O que o seu irmão fez manchou a nossa honra e vocês é que vão ter que consertá-la”.
- “Certo Pai, e o que é que nós temos que fazer?” - Carlos perguntou e eu expliquei o que queria deles. Mandei-os dormir, juntamente com Altair e me preparei para a próxima peleja: explicar para a Flávia tudo que tinha acontecido ..... ela ia ficar arrasada.
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(continua – capítulos novos aos domingos)