Hoje sem delongas pessoal, deixarei para fazer isso no próximo capítulo. Esse capítulo de hoje é mais leve, vocês vão conhecer Tico e Teco e conhecer a namorada de Guilherme. Boa leitura.
Agradeço aos votos e comentários.
Obs: Os comentários responderei quando postar outro capítulo.
Coração Ferido - Capítulo X
Depois do banho decidi ficar um pouco mais no quarto, eu estava envergonhado demais e por enquanto não estava afim de encarar ninguém, nem sobre pena de morte.
- Filho, nós podemos entrar? – Perguntou meu pai sendo seguido pela minha mãe.
- Já entraram... – terminei de pentear meu cabelo e coloquei meus óculos.
Meu pai me encarou pelo espelho, por mais que eu tivesse perdoado ele há tempos ainda me pegava pensando no que ele me fez e as vezes ficava com raiva, magoado e então procurava seguir em frente.
- Senta aqui com a gente filho, tua mãe e eu queremos conversar contigo... – bateu na cama ao seu lado, ele estava calmo, calmo até demais. Me virei encarei eles.
- Olha pai, se foi sobre o tapete de lhama argentina eu te compro outro, te dou outra garrafa de vinho branco e hoje mesmo se quiser eu volto para BH e .... – Ele me interrompeu.
- Calma! – Ele exclamou – que tipo de pai tua acha que eu sou? – Será que ele quer mesmo que eu fale.
- Meu filho, nós queremos saber se você está bem? – Minha mãe veio para o meu lado e me abraçou, meu pai apenas me encarava com os olhos tristes.
- Estou mãe, só estou envergonhado...só isso – tentei sorrir, mas não deu.
- Você acha que eu estou ligando para o tapete ou o vinho, barbaridade! – Exclamou ele – eu estou preocupado com o meu filho...dane-se o resto – meu pai ficou nervoso alterando um pouco a voz, sua respiração ofegante, seu olhar de decepção, fiquei sem graça.
- Não á para tanto Rafael... – minha mãe olhou de cara feia para ele - o guri já tá confuso e envergonhado, portanto baixa a voz para falar com o meu filho... – ela me abraçou, meu pai me olhou triste.
- Não mãe, o pai está certo, eu exagerei, envergonhei vocês transando na sala e ainda mais com o Luciano... – botei as mãos no rosto de vergonha.
- Ai meu filho... - ela balançou a cabeça rindo – nós deixamos vocês sozinhos por uma noite e vocês aprontam, primeiro o Luciano e você lá na sala, eu só espero que o Guilherme não tenha me engravidado ninguém... – ela riu e nós também.
- Desculpa pai... – toquei em seu braço.
- Olha para mim Fabrício... – meu pai pediu bastante envergonhado, mas firme – que tipo de pai tu acha que eu sou? Me responde com sinceridade – Perguntou receoso, ele se aproximou e então o peso do constrangimento e arrependimento me atingiram, ele sentou, me olhou triste e então passei a mão no seu rosto, na sua barba, acariciando ela, seus olhos vermelhos, ele ia chorar.
- Um que tem um filho vadio e safado que fode no meio da sala... – então as lágrimas vieram, chorei de vergonha, mas chorei por que eu tinha feito uma péssima escolha e pela segunda vez.
- Não chora filho... – meu pai chegou perto de mim e me abraçou, ele fungava, minha mãe fez o mesmo, meu pai me olhava consternado – tu não fez nada de errado, o Luciano é um rapaz bom, trabalhador, de boa família... – ele se calou.
- Eu que sou errado pai... – ele negou e me fez encara-lo.
- Capaz! – Exclamou minha mãe - ainda bem que foi um conhecido e não um qualquer um da rua, quem iria imaginar, o Luciano gosta... – ela se calou com olhar que eu e meu pai demos a ela.
- Tu, tua mãe e teu irmão são as pessoas mais importantes da minha vida filho, entendeu? – Ele me apertou os braços - o que eu fiz contigo foi errado, muito errado, vou me arrepender pelo resto da vida, demorei para enxergar o ótimo filho que tu é e quase te perdi por pura intolerância e ignorância minha, tu pode ser tudo, menos errado e vadio... – ele me encarou com súplica e me abraçou de novo.
- Vocês homens Scopel, só tem tamanho e pelos, são muito emotivos, graças a Deus não tenho só sangue italiano... – disse ela nos olhando satisfeita com o momento pai e filho.
- Eu estou com raiva dele, nós não estamos nos falando... – ele olhou para minha mãe e então ela se levantou.
- Por que ele não foi bonzinho contigo no sexo? – Meu pai me perguntou fazendo com que eu revirasse os olhos e risse.
- Não pai, eu disse a vocês que foi por que ele foi um pau no cu comigo – ele pareceu se lembrar.
- Barbaridade, como é que vocês transaram então? – Perguntou ele franzindo a testa.
- Ai pai...foi na hora... – tentei explicar mas me embolei.
- Bom...então vamos botar a culpa na bebida mesmo... – disse minha mãe de maneira engraçada.
- É vamos sim... – disse meu pai tentando me convencer, agradeci eles por isso.
- Eu sou um veado safado isso sim... – agora eu chorava com o rosto enterrado no pescoço do meu pai, ele apenas me abraçou mais forte e apoiou seu queixo em meu ombro.
- Não é não! Exclamou ele, nunca mais diga isso – me repreendeu – é só um homem que gosta de outros homens e que ninguém tem nada a ver com isso – disse de maneira calma acariciando meu cabelo – nem mesmo eu e sua mãe temos o direito de opinar em sua vida – ele sorriu para mim.
- Fica com ele aqui que eu vou buscar o café – disse minha mãe me olhando preocupada – o Luciano está lá na cozinha envergonhado também, vamos evitar constrangimentos a mais – ela saiu porta a fora.
- Filho, tu quer ficar comigo hoje, deixa teu irmão ir jogar bola, você vem comigo e o Valmir, nós vamos encontrar o Henrique e jogar bocha lá em Veranópolis, tu pode ficar olhando quietinho, eu fico de olho em você também, a gente come um salame colonial, uma fortaia...um lambari frito – seria legal, mas eu tinha compromisso, me levantei e olhei para ele, seria estranho ser cuidado pelo meu pai já tendo 26 anos.
- Não pai, obrigado, mas eu tenho que ir com o Guilherme, eu prometi ajudar ele a escolher umas roupas novas, não posso deixa-lo na mão – ele sorriu e concordou, ele então me fez deitar com a cabeça apoiada em seu colo no qual fiquei até minha mãe voltar com o café.
O caminho até o campo onde iam jogar foi feito em silêncio, pelo menos da minha parte pois meu irmão e Luciano, sim ele mesmo que de última hora foi convidado para jogar como substituto, pareciam duas lavadeiras de beira de rio pois falavam até demais, eu apenas lia um livro pelo meu ipad para não participar da conversa e tentava remoer e ideia de que ele ia junto comprar roupas também.
- Será que foi uma boa ideia eu vim mesmo? – Perguntou Luciano com receio ao meu irmão, mas eu tinha certeza que era para mim que ele estava pedindo pois de relance olhava ele me observar pelo retrovisor – você sabe que eu me afastei de todos sem motivo, seria cara de pau voltar assim – suspirou.
- Sim, os caras querem te ver.…deixa de fazer cu doce e vem...ninguém aqui vai te fechar a cara – disse encorajando ele, meu irmão e Luciano entraram no campo, ao longe eu conseguia ver a galera do futebol e entre eles tico e teco que quando viram quem estava junto com meu irmão se levantaram depressa.
Luciano assim como Guilherme estava de calção preto, camisa de uniforme verde e branca, meiões verdes e chuteira laranja, meu irmão estava igual, só que de chuteiras azuis e ambos estavam bonitos, Luciano estava com seus óculos de grau e meu irmão não, a meu ver qualquer mulher se atiraria em cima deles.
- Estarei na arquibancada... – dei as costas, mas sou puxado por um braço.
- Tu vai comigo... – disse meu irmão fazendo o papel de mais velho – deixa de ser mal educado, eles querem te ver – disse ele me empurrando como se eu fosse uma criancinha.
- Mas eu não, eles não eram legais comigo...nunca foram... – ele parou e suspirou, mentira não era.
- Vai na frente Luciano.... – Ele apenas nos observou.
- Beleza – ele deu as costas.
- Bah Fabrício, todo mundo mudou, dá uma chance para eles, desde a última vez que tu veio para cá que eles querem te pedir desculpas, tu não dá chance cara... – meu irmão desabafou, fez aquela cara de raiva que me dava ódio, será que agora eu que era o culpado?
- Ok, mas se eles me zoarem eu pego e volto para casa e não falo contigo por que vai ser culpa tua, está me entendendo? – Ele engoliu em seco, mas concordou.
- Por que tu não gosta deles? – Perguntou meu irmão.
- Por que será – respondi com raiva – eles só me enchiam o saco, eu não tinha paz com aqueles dois lá em casa, o único que parecia gostar de mim era o Luciano, fora o fato de quando eu me assumi, lembra o que eles fizeram comigo... – meu irmão riu me deixando puto.
- Tu tem raiva deles até hoje por causa daquilo – meu irmão começou a rir alto, se eu queria passar despercebido já era.
- Daquilo! Como se tentar me arranjar namorado fosse supernormal, lembra o que eles fizeram com os guris da rua? – Cruzei os braços.
Logo quando voltei para casa após perdoar meu pai eu comecei a ter um contato maior com meu irmão, ele marcava em cima, sempre me protegia, acho que ele entendeu que tinha uma irmã, mas enfim...os dois bocós amigos dele quiseram me arranjar um namorado achando que assim iriam ser desculpados pelo que fizeram comigo, que praticamente foi me zoar, e uma vez até me chamarem de “veadinho pau no cu”, acho que Júlio ainda tem a cicatriz no lábio do soco que dei em sua cara, enfim eles começaram a enquadrar todos os moleques da rua...isso não prestou pois dois quiseram me conhecer, fiquei envergonhado e eles acabaram tomando uma bronca do pai deles e dos meus e meu irmão também. No fim fiquei com raiva e exposto e eles com raiva de mim por que eu fui mal-agradecido com eles que só queriam me arranjar um namorado.
Júlio e Arthur Pizolatto Stein, irmãos 30 e 31 anos. Júlio era o mais novo, branco, adepto a academia era um tipo de bear sarado, 1,82m, uns 100kg ou mais, olhos azuis e cabelos castanho-claros, barba clara graças a descendência alemã da mãe deles, mas com as feições italianas do pai, era agrônomo assim como meu irmão e trabalhava na mesma empresa que ele, Júlio tinha ares misteriosos até abrir a boca, ele era um brutamontes atrapalhado e muito fiel aos amigos, lembro de ele e meu irmão terem se metido em algumas brigas juntos.
Arthur era o mais velho, tinha a mesma altura do irmão, pesava um pouco mais, tipo uns 115kg, mas lutava greco-romana, então era sarado também, usava óculos, olhos mais escuros e cabelos também, mais puxado para o lado italiano do pai. Júlio era professor de ensino fundamental, adorava crianças e na maioria das vezes se comportava feito uma, lembro que da última vez que vi ele foi engraçado, ele todo grande com crianças de 7 e 8 anos atravessando a rua de mão dada e em fila indiana, parecia um papai urso com seus filhotinhos.
A história deles era meio triste, dona Suzana mãe deles morreu um ano depois que Júlio nasceu e então Henrique o pai deles entrou em desespero, com duas crianças pequenas e sem a mulher ele não ia dar conta. Foi minha mãe, Carmem e a avó materna deles que ajudaram a criar eles, tanto é que meus pais o tratam como filhos, seu Henrique agradece até hoje, pai e filhos são muito unidos e preocupados um com o outro.
- Barbaridade, não é que tu voltou mesmo... – disse Arthur se aproximando de Luciano.
- É, eu voltei – Luciano disse ainda meio arredio.
- Que bom – disse Arthur sem graça – ainda somos amigos, quer dizer...eu nuca deixei de ser o seu, só não entendi por que você se afastou... – disse ele meio bobão, realmente ele era professor, que tipo de instrução as crianças ganhavam.
- Foi uma época difícil, fiquei assustado, confuso e envergonhado, preferi me fechar apara o mundo, mas agora um motivo maior me fez voltar... – ele me olhou de relance.
- Esse motivo foi você mano...- cochichou meu irmão no meu ouvido como se tivéssemos 5 anos, me arrepiei pois sabia que era verdade.
- Que bom, bem-vindo ao lar – Arthur sorriu e Luciano também logo um estendendo a mão para o outro.
- Capaz que tu tá aqui – Júlio deu um tapão nas costas de Luciano que eu senti em mim, mas Luciano não fez expressão de dor então credito que não tenha doido tanto – barbaridade, quem é vivo sempre aparece... – ele se calou.
- É, estava na hora né... – o comentário de Luciano me fez ver um Luciano que a muito tempo eu não via, um Luciano sorridente, nas origens e com seus amigos, tudo estava se ajeitando.
- Mas o bom é que tu voltou...amigos? – Perguntou Júlio de mão estendida para Luciano que sorriu e apertou.
- Com certeza... – eles sorriram, quase vi uma lágrima sair dos olhos de Júlio.
Meu irmão então me puxou junto com ele e nos aproximamos.
- Dá um sorriso e não me envergonhe ai... – dei um cutucão nele.
- Olha quem está aqui também... – Arthur me deu uma analisada – como é que tu tá pia – revirei os olhos e dei as costas, mas meu irmão me fez voltar.
- Até agora pouco estava ótimo – disse com deboche.
- Mas olha, o gurizinho aprendeu a responder, fico grandinho... – ele riu fazendo os outros rirem também, apenas Luciano permaneceu sério.
- E você tá cresceu também, mas pelo jeito o cérebro não, aliás, tu aprendeu a lavar teus pés direito, se bem me lembro quando tu dormia lá em casa suas meias eram uma arma química... – ele ficou envergonhado pois os risos explodiram, até Luciano riu.
- Ainda são.... – Disse Júlio estendendo a mão educadamente – não liga para o Arthur, essa é a maneira torta de ele dizer que gosta de você... – ele apertou minha mão e sorriu – e também de pedir desculpas já que éramos dois babacas... – meu irmão interrompeu.
- Ainda são, não tenta se fazer para o meu irmão por que tu não mudou nada...só passou a usar óculos e ganhou uns quilos a mais... – Arthur interrompeu.
- Tu não fica chateado comigo... – ele fez uma cara estranha – todos sentiram tua falta, é verdade, te juro... – olhei meio de lado tentando acreditar, mas um coisa que eles não faziam era mentir.
- Desculpa a gente Fabrício... – os dois vieram me abraçando e me fazendo cócegas, não consegui ficar sério, comecei a gargalhar, olhei Luciano e ele nos olhava com uma cara nada boa.
- Seus toscos, parem de me fazer cócegas – disse tentando me livrar deles.
- Nós vamos jogar ou vamos ficar de bobeira aqui? – Perguntou ele de braço cruzado cortando o clima, só olhei para ele e dei as costas.
- Vou ficar na arquibancada, bom jogo para vocês... – Luciano ainda me encarou, dei as costas e segui para arquibancada onde tinha umas 30 pessoas para assistir ao jogo. Quando estava entrando no acesso passei por um dos jogadores do time adversário e por educação o cumprimentei, ele me deu uma encarada chegando um pouco perto demais, sorriu para mim e estendeu a mão.
- Oi, você é o irmão do Guilherme né? – Perguntou com um sorriso estranho e ares de sedutor, coitado.
- Sou – disse com educação.
- Prazer, Michel Schultz – ele estendeu a mão e eu gentilmente retribui o cumprimento.
Michel Schultz, não conheço nem de vista e nem de nome, deve ser mais um dos tantos colegas de trabalho do meu irmão, vai saber. Michel é um cara branco, louro dos olhos azuis, um sonho, só que não para mim, seu corpo era bem definido, não devia pesar mais que 90 kg, barba feita, cabelos em corte social e mais ou menos 1,85m era todo depilado e me encarou como se tirasse icom certeza um metrossexual, para mim tinha cara de Ken, o marido da Barbie.
- Fabrício Scopel, mas isso você já sabe... – ele deu um risinho sedutor, jogou seu cabelo louro de lado e deu de ombros.
- Sim e faz muito tempo que quero conhece-lo – disse o homem à minha frente.
- Legal... espero que tenha um bom jogo – disse tentando me livrar dele.
- Espero poder vê-lo depois do jogo – eu não, pensei com um sorrisinho discreto enquanto ele me encarava nos olhos, sério isso?
- Barbaridade Michel, tu não podia falar com o meu irmão outra hora? – Perguntou Guilherme que veio correndo até a gente, olhei para trás e Luciano, Júlio e Arthur estavam nos observando, todos de braços cruzados e cara fechada, meus heróis, revirei os olhos – depois tu paquera ele, vamos jogar agora – Guilherme estava meio nervoso.
- Tchau, depois nos falamos – disse ele piscando e correndo para onde o time estava cumprimentando todo mundo menos Luciano, eles apenas se deram uma encarada que achei que ia ter fight.
- Fabrício, não de trela para ele, Michel é do tipo que não pode ver uma carinha assim, mais cheinho e de barba com cara de nerd que quer meter vara e... – Interrompi ele.
- Você não acha que eu ia cair na lábia dele né? Por favor... – Perguntei de braços cruzados, ele coçou a cabeça em dúvida.
- Não sei mano, tu parecia bem entrosado com ele... – meu irmão ia apanhar.
- Barbaridade Gui, não gosto de louros de olhos azuis, na verdade nem todo gay gosta, se fosse com olhos verdes escuros, pretos ou castanhos, tivesse barba pelos e uma cara de mal tipo capo de máfia italiana até daria em cima dele, mas o cara parece o Ken – ri do que disse.
- Ken, o que é isso? – Perguntou.
- Sério mesmo Guilherme... – ele me olhou sem saber, sério que meu irmão era tapado a esse ponto, será que ele tinha só tamanho mesmo? – O Ken é o marido da Barbie, aquele que ou está de sunga ou de roupa que nem um gay com muito mal gosto usaria... – fitei ele.
- Não, nunca vi – ele pensou e pensou.
- Então pede para o Júlio te mostrar, pois ele como profe deve saber já que toda menina e até alguns meninos tem um em casa – ele riu, mas se calou.
Guilherme me encarou e riu com malícia.
- Tu então gosta de homens parrudos e peludos com cara de mal é? – Ele me deu um cutucão – está explicado por que você e o Lucia... – só meu olhar fez ele se calar.
- Se tu fica de gracinha eu conto para tua namorada que tu toma leite com toddy no café da manhã e que ainda tem que ser preparado pela mãe – ele se calou, melhor assim.
- Tá bom esquentadinho...agora vai para lá e tenta não levar cantadas enquanto isso – olhei para trás mas Guilherme já tinha corrido para sua turma, enquanto subia pude sentir Luciano me encarando e isso me causou arrepios.
O jogo estava disputado, já tinham se passado 15 minutos. Deixei meu ipad de lado, o jogo estava emocionante, acirrado, eu estava torcendo, pulando feito um louco assim como outros ali perto. Por duas vezes usei palavrões e fui repreendido pelo meu irmão que veio até próximo a arquibancada. Júlio marcou o primeiro gol, Luciano marcava em cima, pelo seu tamanho e corpo ele era de grande ajuda no time, claro como artilheiro. Guilherme olhava toda hora para arquibancada como se tivesse se certificando que eu estava bem., Luciano fazia a mesma coisa, ele e o louro estavam de marcação um com o outro. Arthur caiu, mas logo se levantou o foi para cima do adversário que lhe deu o carrinho, Júlio como sendo o mais velho foi também, por 5 minutos o jogo foi cancelado.
- Capaz... – comentei com um senhor do meu lado.
- Tu é parente de algum deles? – Perguntou o senhorzinho.
- Meu irmão é aquele grandão que toda hora olha para cá e que já veio me chamar a atenção duas vezes... – ele riu – e o outro maior ainda, aquele novato é o amigo dele... – Me referi a Luciano.
- Tu é Filho do Rafael? – Perguntou surpreso.
- Sim... – confirmei.
- Leonardo Boff, prazer – disse me estendendo a mão - sou colega de trabalho do teu pai – o nome me veio à cabeça e lembrei, meu pai odiava esse cara, ele por telefone um dia me contou que esse tal Leonardo indicou um agrotóxico errado e duvidoso para uma família de associados e quase perderam sua plantação de uva...evidentemente é alguém que faz por dinheiro e não por amor pela profissão como meu pai mesmo disse.
- Há sim, meu pai já comentou sobre o senhor... me chamo Fabrício Scopel – fui educado, nos cumprimentamos e voltamos a assistir ao jogo, meu irmão viu de longe quem era e começou a me fazer sinal, sutilmente me levantei e fui tomar água e comprar uma pipoca para comer.
Quando voltei o senhor já não estava mais no lugar e sim alguns degraus acima conversando com um grupo de pessoas, achei melhor e então me sentei com minha água e pipoca. O jogo continuou normalmente, já se passavam dos 25 minutos de jogo.
- Tem alguém sentado aqui? – Minha atenção é tirada por uma mulher de óculos e bengala uns 5 minutos depois.
- Não, fique à vontade – me ajeitei para ela sentar – você quer ajuda? – Perguntei educado e prestativo.
- Não, obrigada – disse ela com um lindo sorriso.
A mulher era muito bonita, branca, seu corpo era bonito não era sarada de academia, mas era bem cuidado, curvas, sinuosas curvas, peitos e bunda na medida e pelo jeito durinhos, seu cabelo castanho claro estava preso em um rabo de cavalo que valorizava seu rosto afinado, lábios vermelhos e nariz reto davam harmonia ao rosto, ela usava óculo escuros, calça jeans e uma blusa de manga com um decote quase indecente, não precisava ser um gênio para notar que era cega o que ao meu ponto de vista era mero detalhe, pois ela era muito bonita.
- Faz tempo que começou? – Perguntou ela puxando papo.
- Tem uns 20 minutos... – ela sorriu e voltou a olhar para o campo – tu aceita pipoca? – Perguntei, ela gentilmente recusou.
- Tu tá torcendo para qual time? – Perguntou ela puxando assunto.
- Para o Nova Vicenza e você? – Perguntei com medo que ela estivesse ali para torcer para o Nova Teutônia.
- Também – ela sorriu – ainda bem que não sentei do lado de um adversário – brincou ela.
- Mas como você consegue...quer dizer, me desculpe – que fora que eu dei.
- Não por favor... – ela me tranquilizou – eu tenho 20 % de visão, então consigo ver alguma coisa, alguns vultos, a bengala me ajuda pois tem coisas que passam despercebidas e posso me machucar e os óculos protegem meus olhos – ela sorriu e tirou os óculos me mostrando seu rosto por inteiro.
- Uau, são lindos, parecem duas esmeraldas... – disse a ela. Olhos verdes muito bonitos.
- Obrigada – ela agradeceu um pouco sem graça.
- Tu tem parente jogando? – Perguntei.
- Meu namorado e você? – Ela devolveu a pergunta.
- Meu irmão... – olhei e ele notou alguém diferente comigo.
- Quem é, conheço todos do Nova Vicenza – disse curiosa e sorridente.
- É o Guilherme Scopel... – ela abriu um sorrisão.
- Tu é o Fabrício! – Ela me abraçou.
- Sim... – disse retraído – você é a namorada dele! – Exclamei.
- Eu mesma, prazer Bartira Falabretti – ela então me deu um abraço.
- O prazer é meu – retribui o abraço, então lembrei da conversa que eu e ele tivemos onde ele me pedia para eu ser discreto ao conhece-la.
- Até que enfim te conheci, fico tão feliz... – disse ela se aproximando – será que posso ver como você é? – Perguntou ela com um certo receio.
- Pode sim... – então ela gentilmente passou a mão pelo meu rosto, suas mãos eram macias e as unhas bem cuidadas.
- Você é parecido com ele – disse sorrindo.
- Pior que sou – brinquei com ela.
Guilherme que até então estava jogando nos viu, ele observou de longe ela interagir comigo e sorriu fazendo um sinal de jóia para mim, retribui com um sorriso e ele assentiu como agradecimento.
- Tu gosta de bolacha pintada? – Perguntou ela tirando um pote de dentro da bolsa – fui eu que fiz, experimenta uma, teu irmão gosta de comer quando sai do campo, ele e o time todo – disse ela me oferecendo e rindo – não se preocupa, cada uma ganha uma, depois eu faço mais e trago no encontro de quarta à noite – insistiu.
- Obrigado – peguei uma e experimentei, não é que estava bom, aliás, ótimo – delicioso, tu sempre faz bolacha, ou é só para ele? – Perguntei.
- Sabe a panificadora de frente para a praça central em Bento Gonçalves? – Perguntou ela como se eu ainda morasse ali.
- Bah, não sei – ela riu.
- Que burra que eu sou, claro que tu não conhece - nós dois rimos – minha mãe é a dona, eu sou confeiteira e das boas viu – ela não era modesta e nem precisava.
- Muito bem e como é que tu conheceu meu irmão? – Perguntei curioso pegando mais uma bolacha.
- Ele me derrubou no mercado, e me pediu se eu era cega – disse séria.
- Ele não fez isso! – Exclamei puto da vida e morto de vergonha, ela riu.
- Ele me disse que tu teria uma reação dessas... – óbvio, meu irmão e sua brutalidade - parece que estava em um dia ruim, estava estressado e descontou em mim – Guilherme me fode desse jeito e não é no bom sentido.
- Os homens da minha família costumam ser babacas mesmo... – comentei lembrando dos dois exemplos que tenho em casa... à é 3, esqueci Maxuel.
- Quando ele notou que eu era realmente cega entrou em desespero e em uma sucessão de desculpas quase compulsivas – pensei comigo se fosse na frente da minha mãe ele estava fodido – ele me ajudou a levantar, recolher minhas compras mesmo fazendo isso de maneira atrapalhada e se ofereceu para me levar em casa... – Grande Guilherme, pelo menos um pouco da educação que ambos ganhamos ele conservou.
- Meu irmão só tem tamanho... – comentei sarcástico.
- Ele é um fofo – comentou abobalhada - me ajudou a colocar as compras no armário, minha mãe que amou ele logo de cara dizendo que um homem que derruba você no mercado, grita contigo, mas depois se desculpa e guarda as compras no armário era raro hoje em dia – ela sorriu da bobagem que disse.
- Minha mãe fazia a gente guardar... – comentei com pesar, odiava isso – mas e aí? – Perguntei.
- Então se passaram alguns dias, foi engraçado, mas encontrei ele no mercado de novo, dessa vez ele não me derrubou, estava com o Arthur e o Júlio, eles iam fazer churrasco com o pessoal do futebol, todo simpático me ofereceu carona e eu não aceitei... – ela suspirou e sorriu – eu não precisava ser um gênio ou enxergar para notar que ele ficou sem graça, acabei ficando com a consciência pesada, mas fazer o que né, ele me fez passar vergonha, era a minha vez – ela deu de ombros.
- E aí? – Perguntei, nem prestar atenção no jogo eu prestava mais.
- E aí passou umas duas semanas, vira e mexe nos encontrávamos. Um dia eu sai da confeitaria à noite eu fui sozinha até a outra quadra para esperar a carona da minha irmã, mas ela atrasou e eu acabei ficando sozinha pois até então tinha movimento só que o movimento passou, dois caras passaram e começaram a mexer comigo, me assustei e no desespero sai correndo deixando minha bengala para trás, eu pedia ajuda, corri alguns metros e do nada ouço gemidos de dor, sons de socos e urro de raiva, mais gemidos e correria – ela disse um pouco nervosa – logo sinto mãos em mim e grito desesperada, mas então senti o cheiro dele e o seu perfume e me acalmei, era seu irmão que no calor do momento me puxou junto dele e me abraçou tentando me confortar e me acalmar, eu idiota chorei assustada parecendo uma guriazinha de 10 anos aliviada passando a maior vergonha, aquela noite ele me deixou em casa e ganhou de vez a simpatia da minha mãe que limpou seus machucados mesmo sobre os protestos dele, assou uma lasanha e fritou tulipas de frango só para ele, foi nesse momento que passei a nutrir um sentimento diferente por Guilherme, uma admiração e gratidão – disse ela.
- Meu irmão bateu em dois homens por sua causa? – Perguntei bobo.
- Sim, descobri que eles estavam me vigiando, eles queriam me assaltar e sabe-se lá o que mais fariam comigo, a rota que ele fazia para voltar do trabalho era por ali, ele me disse que quando reconheceu que era eu ele saiu da caminhonete com um bastão de beisebol que tu deu para ele quando viajou para Miami e que ele iria usar nos dois covardes... – ela se calou.
- Nossa, quer dizer que o mano foi seu príncipe encantado que te salvou dos malfeitores? – Ela riu.
- Sim... – ela suspirou.
- Tu achou foi um ogro encantado isso sim... – gargalhei.
- Meu ogro encantado... – ela suspirou, eu revirei os olhos, mas não no mal sentido – acabamos fazendo uma amizade forte. Começamos a sair, ele me apresentou aos amigos e eu a algumas amigas, a minha irmã. Nosso sentimento cresceu ao mesmo tempo diria eu, foi então que ele foi comigo até Porto Alegre, praticamente fez a cabeça da minha mãe que eu estaria segura com ele e que era assim e pronto. Fui consultar com um oftalmologista sobre a minha situação e acabamos dormindo lá, mesmo quarto, cama de casal... – ela mordeu o lábio.
- E a senhora deu para ele né? – Ela ficou vermelha com o linguajar.
- Foi inevitável, ele foi um cavaleiro... – estranhei.
- Estamos falando do Guilherme, meu irmão? – Zoei ele.
- Sim – ela riu – ele me levou para jantar, para sentir a brisa do Guaíba, até no teatro ele me levou, eu nunca tinha ido... – sério, Guilherme indo ao teatro.
- Capaz! – Exclamei.
- Na segunda noite de estadia então aconteceu... – ela suspirou - senti ele me abraçar, me aninhar com aquele corpo grande, aquela barba, aquele cheiro a boca quente do seu irmão no meu cangote e o vinho que tínhamos tomado no jantar... – beber e fazer merda era de família mesmo, o pior que só confirmei isso – eu fui bem comida Fabrício, transamos loucamente e dormimos de conchinha, eu não era virgem, mas foi a primeira vez que me senti amada pelo que sou... – Simpatizei com ela.
- Fico feliz – sorri – meu irmão merece ser feliz, desejo que os dois tenham muita felicidade e sorte no namoro de vocês... – ela apertou minha mão e sorriu – mas ainda não consigo acreditar em Guilherme sendo legal com uma mulher... – ela fez uma expressão de curiosidade.
- Ele teve muitas outras? – Perguntou.
- Sabe que não, Guilherme sempre foi tímido, o safado sempre fui eu... – ela gargalhou.
- Para... – me deu um tapinha.
- Guilherme sempre teve prioridades, tipo, casa, carro, poupança, já eu decidi sair e ganhar o mundo, quer dizer, ganhar Belo Horizonte... – rimos os dois.
- Gostei de você, seu irmão fala muito a seu respeito...também fala de um tal Luciano, mas sempre chateado – um alvoroço vindo do campo atraiu nossa atenção, Luciano levou uma cotovelada daquele tal de Michel e peitou ele que não se fez de rogado e mais uma vez o jogo era interrompido, o juiz deu cartão amarelo ao alemão e olhou torto para Luciano, o jogo então continuou.
- O Tal Luciano veio para cá também, mas depois deles trocarem socos e pontapés voltaram a ser amigos... – ela não entendeu, mas não perguntou.
- Tu quer tomar um café? – Perguntou tirando uma pequena térmica de dentro da bolsa e copos descartáveis.
- Quero – e então continuamos conversando até o fim do jogo.
O jogo acabou empatado em 1x1. Michel veio me galantear, ou pelo menos era isso que ele achava que estava fazendo, mas não obteve êxito, mesmo assim peguei seu telefone e ele o meu, ele não passava de um suposto hétero que gostava de ficar (foder) com gays e passivos mais gordinhos, nessa altura da minha vida não era o que eu queria. Luciano aproveitou para relembrar os velhos tempos com Júlio e Arthur decidindo ir com eles até um bar onde o pessoal se encontrava depois do jogo. Bartira almoçou com a gente e eu acabei segurando vela enquanto os dois trocavam carícias no meio da praça de alimentação. Depois de algum tempo ela se despediu prometendo nos ver a noite.
- Mano, o que tu acha dessa camisa? – Perguntou meu irmão fazendo pose depois que saiu do provador, dei uma conferida, meu irmão parecia um molecão.
- Boa, mas acho que te deixa com cara de moleque, experimenta essa aqui que eu vou ver se consigo uma camisa igual àquela da vitrine – ele fez cara feia, mas pegou a camisa.
- Tu é chato, eu gostei dessa – ele resmungou.
- Tu pediu minha ajuda, deixa de ser fresco... – devolvi o resmungo.
Guilherme tinha um gosto próprio, ele gostava de andar que nem um cowboy moderno, mas lembrei que no Sul não se tem uma cultura voltada para rodeios, então decidi dar um toque mais urbano e despojado nele usando sua rotina e cotidiano.
Depois de algumas peças de roupa chegamos a um resultado.
- Gostou? – Guilherme se olhava pelo espelho, camisa social preta, calça jeans básica azul e cinto, sim ele estava lindo e eu rezava para ele ficar satisfeito, já tínhamos rodado o shopping todo e perdido a manhã e metade da tarde andando de loja em loja.
- Muito...do campo, mas da cidade também – ele sorriu.
- Isso mesmo... – assenti – as mulheres vão pular em cima de você, tu está gato demais mano – ele sorriu ficando sem jeito.
- Eu só quero que uma mulher pule em meu colo – ele disse isso com um pesar, mas não deixei ele ficar chateado.
- Ela vai pular em você com o perfume que ela me disse gostar e que nós vamos comprar para você usar... – ele sorriu, mas ainda estava chateado – Gui, para que ela precisa olhar se ela te apalpar, não seja um babaca egoísta, a Bartira pelo que conversei com ela vive muito bem, e digamos que ele me confessou que prefere você nu – ele gargalhou.
Compramos algumas camisas sociais, gola polo, camisetas de malha, regata e suéter pois logo o frio chegaria na serra, cintos, meias, cuecas e bermudas e 4 calças jeans que meu irmão adorou e resolveu levar e ainda me fez escolher algo, mas ao declinar ele ficou chateado e então aceitei uma camisa verde escura cor que sempre gostei.
- Obrigado mano, de coração... – disse quando saímos carregados de sacola e uma vendedora feliz e sorridente despedia-se de nós, a comissão dela estava garantida.
- Imagina, não precisa me agradecer, você é meu irmão cara, fiz por que um ajuda o outro – ele sorriu e me deu um abraço de lado o que me fez dar uma careta de dor. Guilherme estava cheiroso, bem ao contrário de horas antes quando pulou em cima de mim comemorando o gol que fez, não só ele como Júlio e Arthur, resultado, passei em casa para tomar banho e trocar de roupa assim como meu irmão.
- Vocês chegaram... – minha mãe olhou surpresa para quantidade de sacolas que carregávamos – nossa, tu vai renovar o guarda roupa meu filho? – Perguntou ela mexendo nas sacolas para ver o que compramos.
- Eu ia compras mais só que o mano não deixou – Guilherme disse como se eu fosse o errado.
- Não, só disse para ele ir devagar, já tinha comprado um monte de coisa, está bom por agora – minha mãe riu.
- Ainda bem que eu não tive filha mulher, senão eu estaria perdida – Carmem apareceu e pareceu estranhar a ausência do Luciano.
- Ele está com o Júlio e o Arthur – disse a ela que assentiu.
- Será que ele volta logo? – Perguntou um pouco preocupada.
- Deixa eles tia, os guris estão matando a saudade, eles vão vim tudo para cá hoje á noite - meu irmão a tranquilizou.
- Menos mal, fiquei preocupada... – elas então saíram porta a fora.
- Mano, tu se importa se eu for dormir um pouco? To cansado e dolorido da bola – Guilherme fez uma careta pegando o máximo de sacolas que conseguiu.
- Pode ir, aliás, deixa eu te ajudar com as sacolas bebezão – Ele me olhou feio, levamos todas até seu quarto, antes de sair ele me chamou.
- Mais uma vez obrigado – disse ele se despindo na minha frente me fazendo lembrar de algo ocorrido há dois anos antes, a Guilherme, se tu não fosse meu irmão, pensei comigo mesmo.
Resolvi descansar na sala e não no quarto, estava calmo, poderia ler algo, assistir TV e relaxar a mente, ou era isso que eu imaginava pois quando me sentei e peguei meu ipad o Luciano abriu a porta e entrou todo sorridente ele ainda acenou para alguém do lado de fora, mas quando ele me viu ali parou e me encarou, desviei o olhar tentando evita-lo, mas era impossível, seu cheiro impregnou a sala, ele estava suado do jogo de horas antes, mas não estava tão fedido assim, seu cheiro se misturou com o desodorante que usava deixando agradável as narinas, pelo menos para mim. Luciano estava com a camisa no ombro, seus meiões abaixados e estava de óculos.
- Oi – disse ele se aproximando como um felino.
- Oi – respondi seco, frio, mas Luciano não se deu por vencido, se aproximou mais e parou de frente para mim.
- Não vai me cumprimentar direito? – Sua voz saiu carregada, encarei ele e seus olhos queimavam, quando ela era contrariado ou ficava com raiva seus olhos ficavam assim.
- Oi Luciano, tudo bem? – Debochei, ele deu um risinho de canto de boca.
- Assim está melhor... – debochou enquanto eu espumava.
Voltei para o meu livro, mas ele não saiu da minha frente, ficou parado, então foi andado pela sala, mas quando ia sair parou e voltou a me encarar.
- Aquele alemão lá no campo, o que parece um integrante do Nsync, ele te fez ou falou alguma coisa, hein? – Perguntou, eu sabia que ele ia me encher o saco.
- Não é da sua conta... – larguei o ipad, Luciano fechou a cara – não devo satisfações a você Luciano, que saco... – bufei.
- Não faça isso... – ele me advertiu como se fosse uma ameaça – responda a minha pergunta ou – exigiu ameaçadoramente.
- Ou vai fazer o que? – Alterei a voz – vai me dar uma bofetada por eu ser mal-educado ou vai me dar um murro que nem umas semanas atrás... – Me calei, Luciano veio para cima de mim e segurou meus pulsos.
- Eu realmente quero te dar uma lição – disse segurando meus pulsos e chegando com seu rosto próximo ao meu, pude sentir cheiro de álcool em seu hálito - mas não vai ser com violência, nós temos muito o que conversar e nós vamos fazer isso – fiquei estático, ele percebeu que fiquei assustado deu as costas e saiu.
- Babaca... – xinguei ele.
- Eu ouvi... – gritou do corredor.
Pensei que após ele sair eu ia ter paz, mas alguns minutos depois Luciano voltou para a sala, estava de regata azul escura, bermuda de tactel preta, seus óculos de grau e seu celular na mão, podia sentir o cheiro do sabonete e seu desodorante de longe, senti um frio subir na espinha.
- Posso sentar? – Ele perguntou.
- Senta - dei de ombros, não olhei para ele.
- Fabrício, encontrei e mãe e a tia Ana na rua e elas só voltam mais tarde assim como o pai e o tio, eu quero aproveitar esse tempo para conversarmos já que não tivemos a oportunidade antes.
- Não quero conversar, não temos o porquê de conversar... – ele me interrompeu.
- Temos sim! – Sua voz saiu alterada o que me fez ficar com mais raiva ainda.
- Você não tem o direito de falar alto comigo, baixa essa voz – apontei o dedo para ele.
Luciano era nervoso, esquentado, mas isso não dava o direito de ele se mal-educado comigo até por que eu não tinha sido com ele.
- Você sabe por que eu vim para Caxias? – Neguei com a cabeça, mas eu sabia, desconfiava - eu vim para te procurar, precisava resolver as coisas contigo – ele me olhou sério, mas triste.
- Olha Luciano, eu estou magoado, não quero ter conversa nenhuma contigo, é sério, vamos deixar por isso, cada um no seu canto, estamos indo bem... – Ele me interrompeu de novo.
- Não estamos bem, Fabrício, eu quero que antes de tudo você me ouça, aí depois você me xinga, ma bate, enfim, por favor, eu só peço que você me ouça – ele relaxou no sofá desligando seu celular e tomando coragem para falar comigo, seria uma longa conversa.