Amor de verão -Demitri (03)

Um conto erótico de Demitri
Categoria: Homossexual
Contém 928 palavras
Data: 30/10/2017 12:52:51
Assuntos: Gay, Homossexual

Com meia hora de leitura, Gabriel ficou perturbado, desconfortável e totalmente arrebatado. Teria ficado zangado com o autor por fazê-lo perder tempo, se não estivesse tão compenetrado virando página após página.

Ele colocara um homem comum numa situação extraordinária, e fizera isso com tamanha habilidade, que Gabriel já estava se familiarizando com o professor que, de repente, se encontrara numa pequena cidade envolto num obscuro segredo.

A narrativa fluía e os diálogos eram tão naturais que ele podia até mesmo ouvir as vozes.

Ele preencheu a cidade com tantos detalhes reconhecíveis que ele podia jurar que já tinha estado lá. Sabia que a história lhe proporcionaria mais do que um momento de desconforto na escuridão da noite, mas tinha de

continuar. Esta era a magia de um grande contador de histórias.

Ele continuou a ler, xingando-o, entretanto, tão tenso que quando o telefone tocou ao lado, o

livro caiu-lhe das mãos.

Gabriel praguejou uma vez mais consigo mesmo e atendeu.

Sua irritação por ter sido perturbado não durou muito.

Pegou imediatamente um lápis e começou a escrever no bloco de notas ao lado do telefone. Com a língua presa nos dentes, baixou o lápis e sorriu. Ele devia um

enorme favor ao seu contato de Nova York, mas retribuiria assim que pudesse, como sempre fazia.

Mas agora, pensou Gabriel, passando a mão por sobre o livro de Hunter, tinha de se preparar para participar de um pequeno congresso de escritores em Flagstaff, Arizona.

Tinha de admitir que o país era impressionante. Como de hábito, Gabriel passou todo o tempo de voo de Los Angeles até Phoenix trabalhando, mas assim

que entrou no pequeno avião que a levaria até Flagstaff, seu trabalho foi esquecido.

Voou através de tênues nuvens por sobre uma vastidão quase

impossível de imaginar após os arranha-céus e o trânsito de Los Angeles.

Observou os picos, as inclinações e as rochas em formato de castelo do Oak Creek Canyon, sentindo uma retumbante excitação que era rara num homem que não se impressionava com muita facilidade. Se tivesse mais tempo...

Gabriel suspirou ao descer do avião. Jamais haveria tempo suficiente.

O pequeno aeroporto dispunha de um único lobby com uma máquina de venda de refrigerantes e chocolates. Nenhum alto-falante anunciava chegadas ou partidas de voos.

Nenhum carregador chegou afobado para livrá-lo do peso da

bagagem. Não havia uma fila de táxis do lado de fora competindo pelos passageiros que haviam desembarcado. Com sua mochila no ombro, franziu o

cenho para aquela inconveniência.

Paciência não era uma de suas virtudes. Cansado, com fome e, internamente, um pouco em frangalhos pelas sacudidas do pequeno avião, foi até um dos balcões.

— Preciso de um carro para me levar até a cidade.

O homem em mangas de camisa e gravata afrouxada parou de apertar botões no computador.

Seu primeiro olhar educado ficou mais aguçado quando viu o rosto dele. Ele o lembrava de um camafeu que sua avó usava no pescoço em ocasiões especiais.

Endireitou os ombros automaticamente.

— O senhor deseja alugar um carro? Gabriel pensou na possibilidade, mas desistiu. Não tinha ido até lá para turismo,

o que fazia com que um carro fosse totalmente dispensável.

— Não, gostaria apenas de um transporte para Flagstaff. — Mudou a mochila de posição e forneceu ao homem o nome do hotel.

— Eles têm algum serviço de

transporte para os hóspedes?

— Com certeza. Vá até aquele telefone ali na parede. O número está na lista. É só ligar que eles mandam alguém.

— Obrigado.

Ele o observou caminhar até o telefone e pensou que ele é que deveria ter dito obrigado.

Gabriel sentiu cheiro de cachorro-quente ao cruzar o saguão. Como recusara a estranha refeição oferecida no avião, o cheiro colocou seus sucos gástricos em

polvorosa. Com rapidez e eficiência, ligou para o hotel, deu seu nome e prontamente lhe garantiram que um carro chegaria em vinte minutos.

Contente, comprou um cachorro-quente e sentou-se numa das cadeiras pretas para esperar.

Conseguiria realizar seu objetivo ali, disse para si mesmo, impetuoso, ao avistar as montanhas distantes.

O tempo não seria desperdiçado. Após três meses de frustração, finalmente conseguiria ver Hunter Brown pela primeira

vez.

Foi necessária uma boa dose de habilidade e determinação para persuadir sua chefe a bancar a viagem, mas valeria a pena. Tinha de valer a pena.

Recostou-se e relembrou as perguntas que faria a Hunter Brown assim que o

encontrasse. Tudo o que necessitava, pensou Gabriel, era de uma hora com ele:

60 minutos. Neste tempo, poderia arrancar informação suficiente para um artigo conciso e absolutamente exclusivo.

Fizera exatamente o mesmo com o vencedor do Oscar deste ano, apesar da relutância dele, e também com um candidato à presidência, apesar da hostilidade deste último. Hunter Brown,

provavelmente, teria ambas as atitudes, imaginou ele, com um meio sorriso.

Apenas adicionaria um pouco de tempero. Se fosse do seu interesse uma vida amena e simples, teria se submetido à pressão e casado com Jonathan. Neste

exato momento, estaria planejando sua próxima festa, em vez de estar calculando a melhor maneira de emboscar um escritor premiado.

Gabriel quase riu alto. Festas, jogos e o Iate Clube. Talvez tudo isso tivesse sido perfeito para sua família, mas els queria mais. Mais o quê?, perguntava sua mãe,

e Gabriel apenas respondia, simplesmente mais.

Olhou para o relógio, deixou a bagagem bem empilhada na cadeira e rumou para o toalete. A porta estava quase se fechando atrás dele quando o objeto de

todo o seu planejamento adentrou o saguão.

Ele não realizava boas ações com muita frequência e, quando fazia, era somente para pessoas pelas quais tivesse muita afeição....

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