Enigmas do amor
Eu jamais poderia supor que um dia estaria presenciando uma cena daquelas. Dois machos viris e enormes como aqueles, confinados num espaço exíguo, com a testosterona a imbuí-los de desejos primais e fisiológicos, se digladiando como animais pelo direito de se apossarem do meu cuzinho, como se eu fosse uma fêmea sem dono, destinada a me submeter àquele que se saísse vencedor. No meu íntimo, naquele momento, eu sabia que seria esse o meu destino, independente de quem vencesse a luta. Essa certeza me deixou apavorado, pois dependendo do resultado, eu seria estuprado de imediato dentro daquela prisão, ou estaria devendo um grande favor, cujo preço eu teria que saldar algum dia. A segunda opção talvez me desse mais algum tempo e, certamente não seria tão violenta quanto a primeira, mas deixaria marcas profundas em mim, talvez difíceis de lidar. Enquanto os dois se engalfinhavam ferrenhamente, o arrependimento por ter me deixado levar até aquela situação me corroía a alma. Era tarde demais para isso. Vivesse eu cem anos, aquele dia jamais se apagaria da minha memória. Se eu me lembraria dele como uma mácula ou como um dos mais significativos da minha vida, seria decorrência desse resultado. Naquele momento era impossível fazer qualquer previsão.
O Mathias e eu éramos amigos desde tenra infância. Passamos quase toda a nossa vida, até então, como vizinhos no condomínio de três torres de classe média alta num dos mais efervescentes bairros de São Paulo. Nosso primeiro contato aconteceu no playground do condomínio, numa tarde quente de verão, depois que a chuva da manhã havia dado lugar a um céu límpido e muito azul. Eu ouvi a algazarra da garotada se juntando, lá embaixo, da janela da sacada do meu quarto no oitavo andar. Os apartamentos da nossa torre tinham sido os últimos a serem entregues pela construtora. Meus pais, eu e meu irmão tínhamos nos mudado a pouco mais de quatro semanas. A mudança, não só de bairro, mas de colégio, tinha me tornado repentinamente um solitário. Meus antigos amigos tinham ficado distantes e, revê-los seria, de agora em diante, um fato eventual, quando de um aniversário ou outra ocasião especial. Meu irmão era um adolescente de dezesseis anos, a quem meu pai muitas se referia como aborrecente, dadas as discussões que protagonizavam. Para ele, eu não passava de um pirralho de nove anos com quem se podia fazer todo tipo de sacanagem, o que fazia com que vivêssemos em pé de guerra. Era hora de fazer novas amizades e, assim, passei pela cozinha onde a Geralda terminava de guardar as louças do almoço, só para dizer onde eu estava indo e, enfiar a mão dentro do pote que ficava sobre uma das bancadas, aonde sempre havia um chocolate dando sopa.
- Você não acabou de almoçar garoto? Sua mãe não vai gostar de saber que você comeu quase todos os chocolates que ela colocou aí dentro ontem. – resmungou ela, sem mesmo ter se virado para me ver enfiando a mão no pote. – Não vá aprontar nada lá embaixo! E, é para ficar só no playground, nada de ficar fuçando onde não deve. – acrescentou.
- Tá bom! – rosnei aborrecido. – Como você sabe que fui eu quem pegou os chocolates? O Roberto estava com a mão cheia agora a pouco lá na sala de TV. – emendei, procurando diluir a minha culpa e creditando ao meu irmão a sua parte no desfalque.
- Eu te conheço, seu malandrinho! Não estou dizendo que seu irmão não pegou nos chocolates, mas você deu cabo da maioria. Depois não sabe por que leva bronca quando não come durante as refeições. – a Geralda estava conosco desde que eu me conhecia por gente, e podia ser tão carinhosa quanto a minha mãe, mas também, tão chata como ela.
Havia umas quinze crianças na área do playground. Eu me aproximei meio tímido, parecia que todos já se conheciam há muito tempo. O que não era verdade. A cada instante descia mais alguém e ia se juntando à trupe, depois de passar por mim e me identificar como novato no pedaço. O Mathias foi um deles.
- Oi! Eu já vi você passeando com o seu cachorro, lá da minha janela. – começou ele, apontando para a torre de apartamentos imediatamente vizinha à minha. – Sou o Mathias, qual o seu nome?
- Eduardo! – exclamei, ainda tímido, pois a expansividade dele me fazia lembrar que eu não era muito comunicativo.
- Você sabe jogar Bets? – perguntou, me encarando de cima abaixo, como que tentando adivinhar se aquele corpo esquálido desse conta de ser um rebatedor confiável.
- Sei! – respondi de pronto. – Eu jogava com os meus amigos do antigo colégio, durante o intervalo. – emendei, satisfeito por ter essa habilidade.
- O Eduardo ali e o Fernando, aquele da camiseta listrada, sempre ganham. – avisou ele. – Mas, se eu tivesse um parceiro bom rebatedor, não ia perder nenhuma partida. Quer tentar? – percebi que ele tinha por meta derrotar aqueles dois, mesmo que para isso fosse preciso testar um garoto não muito desenvolvido como eu.
- Eu topo! – estava aberta a chance para ser aceito pela molecada.
- Oi Eduardo! O nome dele também é Eduardo. E esse é o Fernando. – apresentou-nos o Mathias, enquanto tirava os tacos e demais apetrechos de uma mochila comprida.
- Vamos chama-lo de Dudu para não dar confusão e também, por que você é menor que o Eduardo. – disse o Fernando
- Tá legal! – tudo é melhor do que ser chamado de Eduzinho, como costumavam me chamar lá em casa, pensei comigo.
Estava escurecendo quando meu irmão, com aquela sutileza de um hipopótamo, veio me chamar, avisando que meus pais já estavam em casa e queriam que eu subisse. Quando era obrigado a fazer alguma coisa contra a vontade, sempre acabava sobrando para mim e, em se tratando de algo que me envolvia diretamente, a coisa piorava. O Mathias ficou decepcionado com a minha partida, pois naquela tarde não havíamos perdido nenhuma partida para dupla alguma. Ter superado seus algozes pela primeira vez, deixou-o radiante. Ao se despedir de mim, quis que eu lhe garantisse que estaria de volta na tarde do dia seguinte.
A gente deu uma sova naqueles caras, não foi? Foi bem legal você ter se mudado para cá. A gente se vê amanhã? – disse ele, com a voz ainda estafada pela sequência de partidas disputadas.
- Eu vou tentar. – afirmei, contente por ter conseguido me enturmar mais facilmente do que havia imaginado.
Na casualidade daquele “a gente se vê amanhã?” havia uma promessa, não só de amizade, mas de algo mais, uma promessa de continuidade, um reconhecimento de que aquele dia não foi uma aberração. Enquanto crescíamos, nossa amizade foi se tornando cada vez mais sólida. Tínhamos outros amigos em comum, mas aquela confiança mútua dos tempos dos jogos de Bets nunca teve paralelo com nenhum dos outros. Mesmo depois de a minha família ter se mudado, anos depois, para uma casa mais ampla do que aquele apartamento, nossa amizade não perdeu nada daquela intensidade que a convivência diária havia construído. Inclusive começamos a frequentar o mesmo cursinho preparatório para os vestibulares e, acabamos por cursar juntos, a mesma faculdade de engenharia.
Só então, um pouco mais maduro, é que passei a perceber que o Mathias também tinha uma péssima tendência a se unir com sujeitos de caráter duvidoso. Acho que isso fazia parte de sua personalidade extremamente competitiva. Daquela necessidade constante de estar provando ao mundo do que ele era capaz. De estar metido em desafios cujas consequências ele nem sempre avaliava muito bem. Por conta disso, de uns tempos para cá, ele vinha me apresentando uma galera um tanto descompromissada com os valores morais nos quais eu e ele havíamos sido criados. Era um pessoal que, a despeito de sua origem social, gostava de se envolver com uma escória reconhecidamente criminosa. Para esse pessoal, estar na companhia de burguesinhos abastados como nós, dava não apenas status entre os seus, como abria possibilidades para praticarem seus delitos sem levantar muitas suspeitas. Eu não me sentia a vontade entre essa galera, mas fingia que não me incomodava, somente para não perder a amizade do Mathias. Cheguei a verbalizar minha contrariedade com aquelas amizades que ele tinha arranjado, no entanto, ele me acusou de estar enciumado e de estar a julga-los apenas por não terem tido as mesmas oportunidades na vida do que nós. Como solução, passei a evitar qualquer programa no qual aquele pessoal também estivesse.
Outro que pensava como eu em relação a esse pessoal, era o Rogério, um cara que conhecemos assim que iniciamos a faculdade. Ele iniciou a amizade com o Mathias, ficaram logo muito chegados, mas eu desconfiei que essa aproximação tinha mais em haver comigo do que com o Mathias. Foi como se o Mathias fosse tão somente um trampolim para ele se aproximar de mim e conquistar minha confiança, uma vez que eu nem de longe tinha a mesma expansividade do Mathias. Funcionou. Em pouco tempo, eu me vi fazendo os trabalhos da faculdade com ele, estudando para as provas e revezando a carona com ele. Apesar de toda essa convivência, havia algo na maneira como ele me olhava que me perturbava um pouco. Eu não sabia explicar o que era, mas algo me dizia que havia alguma intenção oculta por detrás daquela amizade. Isso me incomodava, bem como seu jeito meio truculento de ser. Tinha-o visto arrumar uma tremenda confusão com outro motorista, numa manhã a caminho da faculdade, apenas por que o semáforo fechou e o outro sujeito quase bateu no parachoques do carro do Rogério. Encolerizado por conta de o outro motorista ter reclamado de ele ter freado quando o semáforo ainda estava no amarelo, ele desceu e foi esmurrar o vidro da janela que o outro motorista havia fechado às pressas, assustado com o porte físico do Rogério. Ao perceber que a coisa podia esquentar ainda mais e, que aquele sujeito com pouco mais de um metro e noventa, cento e tantos quilos, ombros largos e braços onde a circunferência dos bíceps era tão grossa quanto as coxas de muita gente, ele acabou engatando uma ré e passou acelerado a um triz do corpo do Rogério, furando o semáforo vermelho. Tive que apelar para o bom senso e, lembrar o Rogério de que tínhamos uma prova na primeira aula, para que ele não saísse em perseguição do sujeito. Noutra ocasião, ele protagonizou uma confusão com o atendente da cantina da faculdade. Tudo começou quando ele percebeu que o rapaz tinha passado a sua frente alguns pedidos que haviam sido feitos depois do dele. Uma resposta enviesada do rapaz foi o suficiente para ele se atirar sobre o balcão, agarrar o pobre garoto pela roupa e puxá-lo para fora por cima do balcão. Antes que um soco com aqueles punhos enormes o atingisse no rosto, o rapaz ajoelhado no chão cobriu a cabeça com os braços para se proteger e, só não sentiu o peso daquele braço por que a galera que estava em volta deu um jeito de controlar a fúria do Rogério. As duas ocasiões me deixaram chocado. Eu não concebia a violência física como solução para os problemas. No dia do último episódio, enquanto voltávamos para casa depois das aulas, eu fiz um comentário criticando a atitude dele.
- Acho que você não precisava ser tão truculento com aquele rapaz. Ele deve ter se confundido com os pedidos, não tem nada demais nisso, você não acha? – comentei
- Confundiu o caralho! Faz um tempinho que estou de olho naquele sujeito. Ele está tirando uma com a minha cara. Se não fossem aqueles caras me impedirem, eu teria dado uma lição naquele bostinha. – retrucou, enfurecido.
- Você acha que todo mundo está querendo te sacanear. Isso é paranoia, sabia? Não faria nada mal você ser mais gentil com as pessoas de vez em quando. – devolvi.
- Isso é coisa para viadinhos feito você! Imagina se vou ficar de sorrisinhos com um sujeito daqueles. – revidou.
- Você é um estúpido! Estou só fazendo um comentário na tentativa de te ajudar a ser mais sociável. O que te faz pensar que sou um viadinho? Só por tratar os outros com educação? Vá se ferrar! – retruquei, magoado. Dirigi o restante do caminho sem trocar nenhuma palavra com ele. Aumentei o som do carro e não respondi quando ele se despediu ao deixa-lo na porta de casa.
Fiquei remoendo aquela observação dele pelo resto do dia. Por que ele teria me taxado de viadinho? Eu nunca tinha namorado uma garota, é certo, mas daí a ser um viadinho. Sempre tinham implicado com a minha bunda. Aliás, meu irmão foi o primeiro a tirar uma com a minha cara por causa da bunda arrebitada e grande. No colégio não passei impune pelas gracinhas de alguns caras, mas por se tratar de verdadeiros babacas, nunca dei muita importância às observações que faziam. No entanto, a essa altura do campeonato, ser chamado de viadinho mexeu comigo. Ainda mais, por que partiu de alguém bastante próximo e, que nem se deu ao trabalho de me pedir desculpas. Naquela noite, enviei uma mensagem para o Rogério dizendo que não precisava vir me buscar para a carona até a faculdade. Dei como pretexto a necessidade de resolver uns assuntos depois das aulas, o que não era verdade, mas me poupava de dividir o espaço do carro com um sujeito que não teve o menor pudor de revelar o que pensava a meu respeito, ainda por cima, de modo grosseiro. Ele logo entendeu o recado, passamos mais de dois meses sem revezar a carona.
- Vou precisar deixar meu carro com a minha mãe, o dela precisou ir para o conserto, você poderia passar aqui amanhã de manhã? – dizia a mensagem que ele me enviou depois desse tempo todo. Na faculdade também evitei permanecer nos mesmos lugares onde ele estava e, deixava a rodinha de conversa assim que ele se aproximava.
- OK. – foi minha resposta. Tão seca e rude como ele estava acostumado a ser, uma vez que demonstrar afeto e ser educado era o mesmo que ser viadinho, pensei comigo mesmo.
No meio do terceiro ano do curso de engenharia, durante as três semanas de férias de julho, o Mathias tinha arranjado uma viagem para a Turquia. Ficou nos convencendo por algumas semanas e, como sempre, acabou conseguindo juntar um grupinho disposto a ir com ele. O Rogério e eu entre eles. Já estávamos no saguão do aeroporto de Cumbica quando vi que três carinhas, daquele pessoal que eu não tinha em boa conta, estava se aproximando de nós.
- Você não mencionou que esse pessoal ia com a gente! – exclamei, antes de eles poderem ouvir o que eu dizia.
- Não falei por que você ia deixar de curtir umas férias muito maneiras por conta dessa sua implicância. – respondeu ele.
- Não é implicância! Você bem sabe que esse pessoal é esquisito. E, me diga como é que eles conseguiram a grana para as passagens e tudo o mais? – questionei, tentando adivinhar como estavam a bancar a viagem.
- Eu é que sei? Eles toparam ir assim que falei que estava a fim de voar de balão e conhecer os lugares maneiros da Turquia. – respondeu ele. Não tive mais chance de continuar a interpela-lo, pois eles acabavam de se juntar a nós.
No voo entre São Paulo e Istambul fiquei sentado entre o Rogério e o Mathias. Tentei voltar ao assunto, mas o Mathias me dissuadiu por que os três estavam sentados na fileira logo atrás da nossa. Eu não quis parecer um resmungão estraga prazeres, mas estava tremendamente descontente com aquelas companhias. Por sorte o Mathias se tocou e, ao propor o arranjo dos quartos do hotel, nunca trouxe um deles para ficar conosco. Assim, em cada localidade que visitamos, eu sempre fiquei no mesmo quarto do Rogério e do Mathias. Em poucos dias, percebi que esse arranjo também tinha sido providencial para os três. A partir de uma observação do Miguel durante um café da manhã, antes de sairmos para as atividades do dia, eu deduzi que eles estavam tramando alguma coisa.
- Tem alguma coisa errada com esses caras. Escreve o que estou dizendo, eles estão aprontando alguma. – afirmei, enquanto eles estavam se servindo no bufê do hotel, e não podiam me ouvir.
- Deixa de ser paranoico Dudu! Relaxa cara! Dê uma chance, é um pessoal legal, você vai ver. – retrucou o Mathias, sem me convencer.
O roteiro que a agência de viagens no Brasil tinha nos sugerido e, para o qual compramos o pacote turístico de vinte e um dias, começava em Istambul, depois seguia para Mardin, Izmir, Capadócia onde devíamos curtir o auge da viagem com o sobrevoo das cavernas esculpidas nos rochedos em gigantescos e coloridos balões, Bodrum, Eskisehir, Mersin, Erzincan, Pamukkale, Alanya e, por fim, Ankara de onde partia o voo de regresso ao Brasil com uma escala em Frankfurt.
As inúmeras atividades diurnas, os passeios e, as baladas noturnas conseguiram afastar do meu pensamento minhas reservas quanto à companhia do Miguel, João e Fabrício. Não havia dúvida de que nenhum deles curtiu muito alguns dos passeios que envolviam aspectos culturais, no entanto, eram bons quando se tratava de curtir as baladas e as belíssimas praias daquele país exótico. Cheguei mesmo a me desarmar por completo em relação a eles, apesar do Fabrício, o mais folgado deles, ter começado a fazer gozações com a minha bunda toda vez que eu colocava uma sunga para curtir as praias, por exemplo, ou em Pamukkale, nas piscinas naturais incrustadas numa colina de calcário, tão branca quanto a neve. Ele chegava ao extremo da ousadia, me beliscando as nádegas e, tecendo comentários quanto a fartura de carne tenra naquela região anatômica.
- Porra, cara! Já estou de saco cheio dessas brincadeiras! Não te dei intimidade para isso. – exclamei exasperado, quando ele me deu um de seus safanões na minha bunda bem perto de um grupo de garotas que tinha se mostrado interessado em nós, não tirando os olhos e dando risadinhas em nossa direção.
- É só uma brincadeira! Aquelas garotas se divertiram com o meu lance. – retrucou ele, justificando sua ousadia.
- Que se foda, cara! Vai passar a mão na bunda delas então! – retruquei furioso. Antes de me afastar um pouco deles, empreendendo uma caminhada ao longo da faixa de areia da praia de Bitez, coalhada de espreguiçadeiras ainda quase vazias àquela hora da manhã, não pude deixar de notar a cara do Rogério. Não consegui decifrar o que aquela expressão em seu rosto significava, mas intuitivamente sabia que não era boa.
Já estávamos em Ankara, a quatro dias do nosso regresso. Eram três da madrugada quando saí debaixo do chuveiro, depois de termos nos esbaldado numa balada na Passage, uma casa noturna onde a frequência basicamente se resumia a universitários como nós, para espantar o calor e tentar dormir o restante da madrugada. Como durante toda a viagem, não me importei de desenrolar a toalha que estava na minha cintura para vestir alguma coisa, diante do Mathias e do Rogério. Eu estava diante do armário da suíte procurando uma cueca e o short para me deitar quando o Mathias passou por mim a caminho do banheiro e me acertou uma palmada na bunda nua. Eu estava me preparando para protestar antes de ser interrompido.
- É gostoso escutar o estalo que uma palmada faz nesse bundão! – exclamou ele, rindo e se preparando para dar mais uma enquanto eu me esquivava ligeiro.
- Bestalhão! Pode se preparar que vou dar o troco! – revidei sorrindo. As sacanagens do Mathias tinham a mesma inocência e intimidade que as do meu irmão. Era o tipo de gozação que acontece entre irmãos, sem nenhuma conotação obscena. No entanto, ao lançar um olhar na direção do Rogério que já estava estirado sobre a sua cama, zapeando com o controle remoto da televisão nas mãos a procura de alguma coisa na TV, me deparei com aquele mesmo olhar indecifrável. Embora naquele instante, tenha me dado conta de tê-lo visto pousado sobre mim todas as vezes que estava trocando de roupa diante dele. Mais do que depressa, o Rogério desviou o olhar disfarçando com uma frase qualquer para desviar minha atenção.
As últimas duas noites em Ankara, eu passei na companhia apenas do Rogério e do Mathias. O Fabrício, João e Miguel chegaram a ir conosco, mas os perdemos de vista no meio da balada e só os encontramos, ainda com cara de sonolentos, durante o café da manhã.
- Pelo visto a coisa rendeu, hein? Foram aquelas garotas que encontramos logo na chegada? Aquela da blusa vermelha decotada e a loira tingida tinham pinta de piranhas. A loira até chegou a esfregar a buceta nas minhas pernas insistentemente, mas aqueles dentes tortos não dava coragem de encarar. Depois ela deu em cima do Rogério, ficou alisando os muques dele como quem fica a imaginar o tamanho do que ele tinha entre as pernas. E a da blusa decotada, essa não fez cerimonia para colocar a mão do Dudu nos peitinhos dela. – comentou o Mathias, assim que eles se sentaram e começaram a comer.
- Cara! Aquela loira trepou comigo e com o Miguel até as cinco da manhã! Enfiamos o caralho na buceta e no cuzinho dela ao mesmo tempo para ver se a vadia se cansava, mas ela não estava nem aí. – respondeu o Fabrício
- Elas eram francesas. Quase não dava para entender o inglês delas, mas para uma pica dura e uma xana molhada se entenderem não precisa muito, não é? – comentou o Miguel, fazendo com que todos nós déssemos uma risadinha. A minha foi a menos entusiasmada, não via graça nenhuma em sair por aí comendo putas, mas não queria parecer o certinho.
Estávamos fechando a conta do hotel quando o Fabrício nos comunicou que eles estavam indo na frente, pois ainda queriam passar numas lojas a caminho do aeroporto.
- Dá só uns segundos! Já estamos terminando aqui, vai ser rapidinho. A van está aí em frente pronta para nos levar, para que gastar com mais um taxi? – argumentou o Mathias, mas eles tinham tomado sua decisão.
Ficamos esperando junto ao balcão da companhia aérea, antes de seguirmos para o saguão de embarque, até a última chamada do nosso voo e, nada de eles aparecerem. Tornamos a perguntar ao rapaz que conferia o check-in e despachava as bagagens se eles já não tinham seguido em direção ao saguão. Com uma cara cansada e pouco amistosa, ele assegurou que até aquele momento nenhum dos nomes que citamos tinha feito o check-in.
- Será que se perderam por aí? Ou não estão prestando atenção no horário, envolvidos nas compras. – ponderei.
- Já mandei quatro mensagens para os celulares deles, pois nenhum atende as chamadas. Só falta ter acontecido alguma coisa com aqueles malucos. – disse o Mathias, visivelmente preocupado com aquele atraso.
- Não vejo motivo para tanto nhenhenhém! Não são crianças. Aliás, ali só dá malaco! Que se fodam! Vamos andando, senão daqui a pouco somos nós que vamos perder o voo. – disse o Rogério, com aquele seu jeito indiferente aos dramas alheios.
- Pô cara, eles podem ter se metido numa encrenca, sei lá. Podem ter sofrido um acidente, vai saber. – retrucou o Mathias.
- Os três, juntos? Qual é? Eu é que não vou me abalar. – revidou o Rogério
- Típico! Um egoísta sem tamanho. – balbuciei, quase ao pé do ouvido do Mathias.
- Se você está com peninha deles, corre atrás! Quem sabe um deles não te coloque no colinho. – devolveu ele.
- Imbecil! Cara, você é o sujeito mais grosso que eu já conheci! – respondi, prestes a enfiar a mão naquela cara atrevida que não via um barbeador há pelo menos dois dias.
- Ei, ei! Não vão começar a se estranhar aqui. Não é hora nem lugar para começar uma briga. – apaziguou o Mathias.
- Esse crápula me tira do sério! Juro, tenho vontade de meter a mão nas fusas dele. – rosnei, colocando a minha bagagem de mão que estava entre as minhas pernas nos ombros, e caminhando em direção a uma fileira de poltronas. Não consegui ouvir o que o Rogério comentou com o Mathias. Preferi não ouvir para não dar um espetáculo em público, pois a raiva que me consumia certamente ia me fazer cometer um desatino.
Pelos janelões envidraçados eu contemplava as aeronaves se movimentando diante dos terminais do aeroporto. Estava me lembrando de ter lido, não sei bem onde, que só se conhece uma pessoa depois de ter feito uma viagem com ela. Essa seria, segundo o autor do escrito, a melhor maneira de esmiuçar a personalidade de alguém e, seria a ocasião onde a pessoa não consegue esconder quem realmente é, bem como se passaríamos a amar ou odiar essa pessoa depois disso. Eu estava começando a odiar o Rogério.
De repente, vi o Miguel, o João e o Fabrício vindo correndo em direção ao balcão da companhia aérea. Deviam ter se atrasado fazendo compras, pois além das enormes mochilas com as quais tinham vindo, cada um portava mais uma. O Rogério já tinha seguido para o saguão de embarque, deixando o Mathias e eu a espera deles junto ao balcão.
- Por onde vocês andaram? Já chamaram o nosso voo. Apressem aí, pois vamos tentar segurar o pessoal do portão mais um pouquinho. – questionei, antes de partir correndo atrás do Mathias que já estava perto do portão de embarque.
Mal adentramos ao saguão quando um funcionário do aeroporto, com um radiocomunicador nas mãos, berrava, em turco, o que eu supus se referir a ter nos encontrado, pois os demais passageiros já haviam embarcado na aeronave acoplada à ponte telescópica. Os três finalmente chegaram e estavam ajeitando as bagagens de mão nos alçapões acima de nossas cabeças. Um comissário de bordo fechou a porta do avião e os motores foram ligados. Havia um zunido surdo das conversas dos passageiros dentro da cabine. Eu estava sentado junto à janela, e vi quando a ponte começou a ser recolhida. Por precaução, o Mathias havia se sentado no assento entre o Rogério e eu. Não consegui me segurar e comecei a rir, imaginando o Mathias apartando uma briga minha com o Rogério. A cena seria hilária, um brutamontes daquele me esmurrando até que eu me transformasse numa espécie de geleia, uma vez que o corpo dele dava uns três ou quatro do meu, embora eu não fosse nenhum frangote, com meus cento e oitenta e cinco centímetros de altura e oitenta e cinco quilos. De qualquer forma, não era páreo para toda aquela força e músculos.
Os passageiros começavam a ficar impacientes. Havia vinte minutos que estávamos ali parados, com o ar condicionado zunindo, crianças de colo começando a chorar e, um ou outro passageiro mais inquieto começando a reclamar com os comissários. Ao notar que a ponte telescópica estava novamente se aproximando da porta do avião, imaginei que devia haver mais algum retardatário. No entanto, quando a porta do avião foi aberta, pelo menos oito agentes da polícia entraram na aeronave. O que comandava o grupo foi o primeiro a entrar e, o comissário de bordo que havia aberto a porta apontou o braço em nossa direção. Segundos depois recebíamos ordens dele para apanhar nossos pertences de mão e acompanha-los.
- What’s the matter? – perguntei ao policial que agarrou meu braço e praticamente me arrancou da poltrona. Obviamente não obtive resposta.
Os pescoços se esticavam sobre o encosto das poltronas e todos os passageiros, até os fundos da aeronave, acompanhavam o que estava acontecendo com a maior curiosidade. Cada um de nós tinha um agente praticamente colado ao corpo enquanto caminhávamos para fora do avião. Assim que o comandante passou por mim, voltei a formular a mesma pergunta. Ele havia entendido a pergunta, mas não me deu resposta. Na terceira tentativa, ele estancou diante de mim e, com uma cara de poucos amigos, me disse que era ele quem queria respostas.
Fomos conduzidos a uma sala depois de atravessarmos uma porta automática de vidro sobre a qual se lia HAVAAALANI KARAKOL, eu não fazia a menor ideia do que significavam aquelas palavras, mas quando os agentes nos perfilaram contra uma das paredes e, num canto da sala estavam empilhadas nossas bagagens, eu soube que estávamos nas mãos da polícia. O Mathias me encarava incrédulo e, ao me perguntar se eu tinha uma ideia do motivo de estarmos ali, ele foi grosseiramente advertido pelo agente que o tinha conduzido para se manter calado. Pouco depois, entrou um sujeito corpulento de meia idade, com um punhado de insígnias sobre os ombros uniformizados. O que havia comandado nossa retirada do avião se dirigiu a ele com certa deferência. O de meia idade nos encarou, deu uma ligeira coçada no queixo e se dirigiu a nós.
- A começar por você, quero que um por um separe suas bagagens daquele monte. – disse ele, apontando para o João.
Eu estranhei quando o João pegou apenas a mochila que tinha trazido do Brasil, deixando a que carregava, ao chegar ao aeroporto, no meio da pilha de bagagens. Cada um pegou seus pertences e as três mochilas, todas iguais, trazidas pelo João, Miguel e Fabrício ficaram largadas no canto.
- A quem pertencem essas outras? – perguntou o oficial, com certa impaciência. Como depois de um tempo ninguém se habilitou a pegá-las, ele deu um soco na mesa que estava ao seu lado, fazendo com que uma garrafa de água que estava sobre a mesa rolasse e caísse no chão, esparramando seu conteúdo.
- Não testem a minha paciência! De quem são aquelas bagagens? – voltou a repetir, mais encolerizado. Ninguém respondeu.
- Pois muito bem! Vamos pelo caminho mais difícil. – emendou. – abram suas mochilas sobre esta mesa. – ele pegou no braço do Rogério e tentou empurrá-lo na direção da mesa, mas não conseguiu deslocar aquele braço musculoso nem por cinco centímetros. Mesmo assim, o Rogério caminhou até a mesa e começou a abrir a mochila.
Todos, um a um, fomos colocando o conteúdo das mochilas sobre a mesa, diante do olhar coercitivo dos agentes. Eles reviraram as mochilas depois de vazias a procura de algum fundo falso, e se decepcionaram por não encontrar nada. Subitamente, tudo tomou forma na minha cabeça. A polícia procurava drogas. A origem da grana que custeou a viagem do Fabrício, João e Miguel não podia ser outra. Tudo se encaixava, cada uma das minhas dúvidas começava a ficar clara.
- Tirem as roupas! – ordenou o oficial. Encarei o Mathias e vi a expressão de pânico em seu rosto.
Hesitei antes de baixar a cueca, mas o grito do oficial diretamente no meu ouvido, me fez estremecer, e comecei a baixa-la lentamente. Imediatamente, senti meu rosto pegando fogo, todos os homens dentro daquela sala olhavam para a minha bunda exuberante, onde o contorno da sunga havia deixado uma nesga de pele lisinha e branca destacada do bronzeado das coxas. Mandaram que nos virássemos em direção à parede e elevássemos as mãos acima das cabeças. Um cassetete de borracha bateu nas minhas coxas ao mesmo tempo em que um agente devia estar me mandando abrir as pernas, naquele idioma desgraçado. Eu sentia meu corpo todo tremendo como se estivesse nu no meio da neve. Engoli em seco quando um par de mãos começou a tatear meu tronco, desceu pela cintura, e foi sorrateira e despudoradamente deslizando pelos flancos e meio das coxas. Que imbecilidade, pensei comigo mesmo, estamos nus, para que fazer uma revista nos tocando quando tudo podia ser contemplado sem o menor esforço? Coisas de polícia de terceiro mundo, concluí enojado. O agente deslizou as mãos sobre as minhas nádegas e, fugindo completamente do protocolo, as apertou com força, quase me soerguendo do chão. A oportunidade faz o ladrão. Ali estava fazendo a alegria do policial.
- Isso é um absurdo! Vocês estão violando nossos direitos! Posso acusa-los de abuso de poder! – protestei indignado e humilhado.
- Ah, é? E a quem você vai recorrer para nos acusar, seu moleque desgraçado? – berrou o oficial. – Quem vai acusa-los sou eu! E, pode ter certeza que vocês vão sentir o poder da justiça turca, bando de traficantes! – acrescentou, cuspindo saliva enquanto gritava.
Comecei a ser apossado de um medo insano. Quando ouvi a palavra justiça, pronunciada por um sujeito como aquele, tive a certeza de que o que nos esperava podia ser tudo, menos justiça. Fiz força para não deixar aquele nó que me apertava a garganta explodir num choro declarado. A tensão dentro daquela sala aumentou, bem como o calor, quando entrou outro agente e apontou para o computador que estava na mesma mesa de onde tinha caído a garrafa de água. O oficial se acomodou na cadeira giratória que estava atrás da mesa e digitou algumas teclas. Depois, virou o monitor em nossa direção e pudemos ver o João, o Miguel e o Fabrício correndo com as mochilas em direção ao check-in. Um sorriso sarcástico se estampou na face gorda e barbuda do oficial. Ele fez um gesto com a mão para um dos agentes e este pegando uma mochila por vez, atirou-as contra o corpo de cada um deles.
- Abram! – ordenou o oficial.
Entre um emaranhado de roupas que eu não tinha visto nenhum deles usar durante toda a viagem, haviam pacotes envoltos em papel aluminizado dourado. O oficial que havia comandado nossa retirada do avião empilhou todos eles na mesa e, tirando um canivete do bolso, perfurou um dos pacotes com a ponta da lâmina, girou-a algumas vezes dentro do pacote, antes de extraí-la coberta por um pó branco. Outro agente pegou uma caixa de uma das gavetas da mesa e tirou dela um tubo de ensaio contendo um líquido e algumas tiras de papel. O pó foi colocado no tubo, este agitado no ar e, uma tira introduzida no líquido. Imediatamente a tira começou a se tingir de azul. O agente mostrou a reação para o oficial de maior patente, e este devolveu um sorriso de vitória para todos os outros agentes. Os pacotes foram, em seguida, empilhados sobre uma balança e, de onde eu estava parado, pude ver os números se agitando no pequeno painel digital. Eles estagnaram formando a sequência 68,8. Ele disse algumas frases em turco para eles e, voltando-se para nós, gritou OROSPU ÇOCUGU.
Nem sei por quantas horas ficamos naquela sala, nus e respondendo um interrogatório que parecia nunca mais acabar. Depois fomos sendo retirados de lá, um a um, e colocados noutra sala. Felizmente pude me vestir novamente, mas não me livrei de mais um interrogatório interminável. Devo ter respondido as mesmas perguntas uma dezena de vezes. Eu já não fazia ideia se lá fora era dia ou noite. Apenas ansiava pelo fim daquela tortura. Ao voltarmos a ficar reunidos na primeira sala, fomos algemados nos punhos e tornozelos e, escoltados através de corredores internos do aeroporto até uma saída onde um micro-ônibus blindado nos esperava. Pelas grades de uma das minúsculas janelas do micro-ônibus, puder ver as luzes das ruas por onde passávamos. Pelo tempo que ficamos confinados naquela sala, eu soube que tínhamos passado o dia todo sob interrogatório.
Aos poucos, as luzes foram rareando, vi que estávamos deixando Ankara para trás numa estrada quase deserta. Meu peito estava tão oprimido que eu mal podia respirar. Encarávamo-nos em silêncio e, o Miguel o João e o Fabrício não conseguiam segurar o olhar quando eu os fitava com um misto de raiva e vontade de trucida-los. Chegamos a uma construção de paredes muito altas e escuras como a noite. O micro-ônibus passou por um pórtico fechado com portões de ferro que rangeram enquanto se moviam nas dobradiças. O chiado do ferro atritando no ferro parecia o grito de um desesperado. Senti um frio percorrer minha espinha. Fomos deixados numa sala de pé direito muito alto, sem janelas, onde imperava um cheiro nauseabundo de suor e urina. Foi lá que o silêncio se quebrou.
- Seus filhos da puta! – gritou o Rogério. – Vejam a merda em que nos meteram. Eu juro que vou quebrar a cara de cada um de vocês, assim que me tirarem estas algemas.
- Eu pensei que fossemos amigos. Eu confiava em vocês. Que filha da putice é essa, cara? – revoltou-se o Mathias, dirigindo-se especificamente para o Fabrício, que foi o primeiro daquele pessoal a quem ele conheceu.
- Amigo de burguesinho, bro! Você não tá falando sério. A gente tava querendo fazer essa parada, mas deu merda. Fazer o que, agora já era. – respondeu o Fabrício, que subitamente estava usando um linguajar que nunca tinha usado conosco antes.
Fiquei tão triste pelo Mathias que tive vontade de abraça-lo. Ele era um sujeito muito bonachão, tinha aquela qualidade que poucos têm; a de enxergar os outros sem se preocupar com a classe social, as origens, a cor da pele ou, seja lá o que for. Mas, isso estava lhe custando caro pela primeira vez, e sua decepção era evidente.
Quando a porta da sala se abriu, passou por ela um sujeito magro usando um terno escuro e uma gravata cujo nó, meio aberto, deixava ver que faltava um botão da camisa próximo ao colarinho. Ele tinha o rosto encovado, com um bigode farto e mal aparado, que escondia seu lábio superior, onde parecia haver uma cicatriz que fazia sua boca se contorcer estranhamente quando ele falava. Com ele, entraram mais dois policiais trajando fardas caqui, coturnos e cinto pretos e, outro homem em trajes civis, só que este mal passava pela porta de tão gordo.
- Sou o oficial Yagiz, do departamento de narcóticos da polícia estatal turca. – iniciou ele num inglês carregado de sotaque, num tom de voz tranquilo e impessoal. – Os senhores serão formalmente acusados de tráfico de drogas, por quererem deixar o país com .... – ele fez uma pausa, virou-se para o sujeito gordo que respondeu ao seu questionamento, e continuou seu discurso, que me pareceu uma ladainha à qual ele já estava acostumado. – com quase setenta quilos de cocaína. Posso lhes assegurar que vão passar uma longa estada numa prisão turca. Vocês estão me compreendendo? Nossa justiça não costuma ser tolerante com estrangeiros que vêm ao nosso país cometer crimes. – eu fiquei imaginando que justiça seria aquela, pois internacionalmente a Turquia nunca primou nesse quesito. Além do que, a droga foi obtida dentro do território turco, portanto, havia criminosos turcos soltos por aí fazendo negócios com quem estivesse disposto a pagar.
Não consegui mais controlar aquela aflição que tinha se apossado de mim, e comecei a chorar. Ia ser acusado por um crime que não cometi, num país cujas leis, não diferentemente do Brasil, eram interpretadas segundo os interesses de poderosos e endinheirados. O sujeito me encarou indiferente ao meu pranto. Já devia ter visto aquela reação centena de vezes, e estava imune a ela. O único que olhava para mim com uma docilidade, que eu jamais imaginei existir naqueles olhos, foi o Rogério. Ele parecia extremamente calmo, como se nada do que estava acontecendo tivesse haver com ele. O Mathias, ao contrário, tinha uma expressão vaga e perdida, como a de um garoto que se perdeu das mãos da mãe dentro de um shopping center. Eu nunca o tinha visto tão abalado.
- Nós vamos interroga-los individualmente e os senhores terão que assinar a confissão de culpa para que seja instaurado um inquérito judicial. Depois disso, entrego-os aos cuidados da justiça, onde uma corte vai decidir o futuro de vocês. Vocês me compreenderam? – sentenciou ele, como se ele próprio não tivesse certeza de que seu inglês era fluente o suficiente para ser compreendido.
- Temos o direito de entrar em contato com a embaixada brasileira. E, os nossos depoimentos precisam contar com a presença de um advogado. – disse o Rogério, encarando o oficial de modo desafiador.
- Sem dúvida, sem dúvida! Ninguém aqui está fazendo as coisas de forma ilegal! Os únicos a estar fora da legalidade são vocês. – devolveu o oficial, irritado com o comentário do Rogério.
Levou dois dias para que nossos depoimentos fossem completados. Permanecemos, todo esse tempo, confinados naquela sala, obrigados a pedir para usar o banheiro como se fossemos crianças do ensino maternal, sempre acompanhados de dois policiais e, tendo que fazer as refeições ali mesmo, tendo como acompanhamento aquele cheiro nauseabundo que parecia já ter se impregnado sob nossas peles. A comida, que vinha embalada em recipientes de alumínio, era um capítulo à parte. Não se conseguia distinguir do que era composta. Embora meu estômago se revolvesse e, eu precisasse ficar o tempo todo sentado, pois vinha tendo vertigens, não consegui engolir aquela gororoba. Um funcionário e um advogado da embaixada brasileira em Ankara acompanharam nossos depoimentos. Prometeram que entrariam em contato com nossos familiares no Brasil e disseram que acompanhariam o processo. Apenas parte disso se converteu em realidade.
Depois dos depoimentos concluídos, fomos transferidos para outro edifício. Meus olhos mal suportavam a luz do dia quando atravessamos um pátio enorme, ao redor do qual se erguiam edifícios com três andares. Escoltaram-nos até a portaria do que ficava exatamente em frente daquele em que estávamos. Um carcereiro veio abrir as trancas de ferro e, numa espécie de vestíbulo, tivemos novamente que despir as roupas e vestir uma calça e uma bata encardidas e puídas, que nem de longe guardavam qualquer resquício do tecido grosso outrora branco de que eram feitas. Nem é preciso dizer que nenhuma delas servia em nossos corpos. As do Rogério mal cabiam nele, as minhas ficaram curtas, as do Mathias arrastavam no chão, as dos outros três tinham a mesma aparência maltrapilha. Fomos obrigados a entrar debaixo de chuveiros de cujos crivos mal saíam alguns pingos, mesmo assim, eu me esfreguei como se estivesse com sarna, tentando tirar aquele fedor que se impregnara na minha pele.
Fomos colocados numa ala do segundo andar do edifício. Gritos, palmas, vaias, uivos ecoavam pelo corredor à medida que íamos passando. Vez ou outra, os carcereiros que nos escoltavam desciam os cassetetes nos braços que saíam das grades. Lembrei-me de cenas semelhantes que havia visto em filmes, e jamais imaginei que elas existissem de verdade. Atravessamos mais uma porta de ferro que, como as outras, rangeu ao ser aberta. Os carcereiros ficaram do lado de fora de um corredor que não tinha mais do que uns vinte metros de comprimento, ladeado por celas cujas grades estavam abertas e os presos podiam circular livremente pelo corredor. Devia haver uns cinquenta homens lá dentro. Eles nos examinaram com curiosidade, depois de silenciarem a algazarra que estavam fazendo. Quando ouvi a porta rangendo e batendo depois da nossa passagem, pensei que ia desmaiar. A vertigem voltou tão intensa que precisei me apoiar no braço do Miguel para não me estatelar no chão. Ele e o Rogério, que surgiu nem sei de onde, me sentaram no chão frio encostado nas grades de uma cela. A gritaria e as vaias dos presos recomeçaram. O Mathias se ajoelhou diante de mim e me abraçou. Chorávamos feito crianças.
Passou-se uma semana até o advogado voltar. Aquilo me pareceu uma eternidade. Não trazia boas notícias. O pedido de habeas corpus do João, Miguel e Fabrício fora sumariamente negado. O do Rogério, Mathias e meu estava sob análise. Mas, ele nos garantiu que os juízes demoravam a expedir o resultado.
- Meus pais sabem que estou preso? – perguntei.
- Sim. Pelo que me foi informado seu pai está em Ankara, tentando obter uma permissão para te fazer uma visita. – respondeu. Eu imediatamente comecei a chorar. Nunca pensei fazer meu pai vir me buscar numa prisão.
Os pais do Rogério e do Mathias também estavam na cidade. Um dia antes de completarmos quinze dias presos, a visita foi autorizada. Meu pai me pareceu velho e cansado.
- Perdão, pai! Perdão. – implorei, aos prantos, assim que o vi sentado e abatido do outro lado da vidraça do parlatório.
- Não se desculpe, filhão! Nós já tivemos acesso aos vídeos do aeroporto, solicitados pela embaixada, e fica claro que você não cometeu nenhum crime. Eu já contratei um advogado aqui na Turquia que vai cuidar do caso. Ele nos garantiu que você, o Mathias e o Rogério vão apenas responder a um processo por terem sido flagrados na companhia de traficantes.
Infelizmente nada aconteceu no tempo previsto pelo advogado. Meu pai precisou voltar ao Brasil. E, a notícia que o advogado nos deu, foi a de que a justiça turca estava emperrando propositalmente o processo por se tratar de estrangeiros. Eu acordava a noite, todo suado e mortificado, com um pesadelo que se repetia, o de nunca mais sair daquele lugar. Ficava sentado na cama esperando a luz do amanhecer levar aquele pesadelo embora, enquanto enxugava as lágrimas e continha o choro, pois os outros detentos me ameaçaram caso eu não calasse aquela choradeira.
- Está precisando de consolo, menininho mimado? – perguntou Ayaz num inglês bastante fluente, um sujeito peludo e corpulento que, já no nosso primeiro dia ali, deixou claro que era quem ditava as regras naquela ala. Não respondi sua pergunta, apenas me esquivei da mão que ele colocara no meu ombro.
Ayaz devia ter por volta de quarenta anos, tinha um físico musculoso trabalhado como marinheiro da marinha mercante, de onde também vinha seu inglês. Outros detentos logo nos preveniram de não criar confusão com ele, pois era do tipo que não se adaptava a regras e, muito menos, a pessoas com quem não simpatizava. Um dos detentos chegou a nos mostrar os dedos médio, anular e mindinho da mão esquerda, consolidados numa posição esdruxula, depois de terem sido fraturados durante um corretivo que Ayaz lhe deu. Eu senti um calafrio da primeira vez em que nossos olhares se cruzaram. A expressão com que ele me encarou tinha algo de selvagem, de cruel, de mortal. Passadas as duas primeiras semanas da nossa chegada, Ayaz começou a me rondar. Parecia que mesmo o menor movimento que eu fazia era acompanhado por aqueles olhos negros e temerários, como se fosse a câmera de um circuito de segurança. Assim que eu levantava meu olhar, lá estavam aqueles olhos sobre mim. Por isso, não fiquei tão surpreso quando ele me abordou pouco antes do amanhecer, quando eu estava sentado na cama me refazendo do pesadelo que me atormentara a noite toda.
- Não seja malcriado! Só estou querendo ajuda-lo. Eu imagino que você nunca esteve num lugar como esse, não é? – continuou, voltando a insistir com aquela mão em meu ombro.
- Não. Não precisa, obrigado! – balbuciei baixinho, temendo acordar os outros e ser censurado novamente.
- Eu sei do que você precisa. Sinto quando um garotinho lindo como você está precisando de amparo. Eu posso ser muito generoso com você. – sentenciou, tão próximo do meu rosto que eu pude sentir o cheiro de tabaco da boca dele. Senti engulhos.
- Vou voltar a me deitar, logo vai amanhecer. – devolvi, com o pretexto de fazê-lo levantar-se do meu catre.
- Vou lhe dar um tempinho para pensar. Mas, vou avisando, não sou um sujeito muito paciente. – o tom jocoso de sua voz me fez sentir um calafrio. Pouco antes de se afastar, ele passou a mão sobre a minha coxa, e moveu os lábios no que parecia um sorriso sádico.
Passei a meia hora seguinte tentando controlar o tremor que agitava meu corpo. Voltei a sentir aquela sensação de desamparo. O irônico é que eu nunca tinha sentido isso na minha vida e, desde aquele maldito dia do embarque, eu era assolado por essa sensação a todo instante.
E então aconteceu.
Havia quatro dias que chovia torrencialmente. As saídas para o banho de sol no pátio não aconteceram. O clima tenso e, a irritabilidade, entre os detentos vinha se acentuando dia-a-dia, como uma bomba prestes a explodir. A preocupação dos carcereiros podia ser vista em seus semblantes e na postura mais cautelosa. Eu tinha sentido câimbras nas panturrilhas durante a noite. Como os músculos ainda doíam um pouco, comecei a caminhar de uma ponta a outra do corredor entre as celas.
- Veja o que estes teus passos de gazela estão fazendo comigo! Acho que o seu tempo acabou. – disse a voz sussurrada do Ayaz que, de repente, estava ao meu lado exibindo lascivamente sua ereção.
Antes que eu pudesse articular a resposta ele me empurrou para dentro do espaço onde ficava o banheiro. Se é que se podia chamar de banheiro aquele cubículo isolado das vistas do corredor por uma meia parede, com alguns buracos no chão que funcionavam como latrinas, e dois canos na parede oposta, de onde saíam os filetes de água sob os quais os detentos se banhavam. Eu procurei me defender com todas as minhas forças, mas logo percebi que não tinha chances contra aquele amontoado de músculos determinado a conseguir o que queria. O cordão puído que segurava minha calça na cintura se rasgou assim que ele deu o primeiro puxão arriando a calça. Uma mão bruta e resoluta entrou pela lateral da minha cueca e agarrou a nádega carnuda. Levantei uma das pernas para dar uma joelhada entre as pernas do Ayaz, mas isso só me fez perder o equilíbrio quando ele a segurou impedindo que o golpe se completasse. Caí sobre o chão molhado próximo aos chuveiros. O rosto avermelhado dele era fruto da fúria que minha intenção causou. Ele deu dois passos na minha direção e me levantou com um único puxão. Meu corpo bateu contra o peito dele e foi como se fosse contra uma parede. Uma de suas mãos agarrou meus cabelos próximos à nuca e ele esfregou sua boca molhada na minha. Enfiei as pontas dos dedos no pescoço troncudo dele. Desejei ter garras na extremidade deles que perfurassem sua garganta até vê-lo agonizar. Ele me ergueu e, quando meus pés flutuavam no ar, eu comecei a chutá-lo. Os pontapés que o atingiram foram tão inócuos quanto tudo o que tinha feito até então. Como ele estava sem a bata, comecei a sentir o suor dele brotando entre os pelos densos de seu tronco. Meu estômago se contorcia enojado. Antes que ele pudesse colocar novamente seus lábios sobre a minha boca, eu gritei. Foi um grito tão carregado de agonia e desespero, reverberando entre aquelas paredes rabiscadas e mofas, de onde boa parte do reboco havia caído, que houve uma acorrida dos outros detentos para a entrada do cubículo. Assim que as primeiras cabeças apareceram e tomaram ciência do que estava acontecendo, eu imaginei que estaria salvo. No entanto, bastou o Ayaz virar a cabeça na direção deles, para que ninguém movesse mais uma palha. Ao invés disso, começou uma algazarra instigadora. Aqueles olhares queriam assistir ao espetáculo selvagem que estava por vir. Numa fração de segundos o Ayaz tirou as calças e o caralhão de dentro de uma espécie de suporte atlético, cavado e ajustado às coxas peludas e, muito encardido num tom amarelado onde ficava alojada a pica. Fiquei tão petrificado que não conseguia mais reagir. Quando minha bunda emergiu da cueca que ele arriou, com aquela marca imaculadamente branca deixada pela sunga, a gritaria entre os detentos se tornou histérica. Eu ergui meu olhar marejado em direção ao teto como num ato de súplica. Por cima do ombro do Ayaz, eu vi o aglomerado de cabeças sendo arremessadas para o lado e o corpo do Rogério abrindo caminho entre elas. No instante seguinte eu estava no chão, despencado daqueles braços que me comprimiam. O Ayaz recebera um golpe na nuca que o fez cair ajoelhado junto comigo. Eu me afastei o mais rápido que pude. Agora a turba alucinada berrava como se estivesse no Coliseu da Roma antiga, sedenta por ver o sangue e, quem sabe, a morte de um daqueles titãs.
A partir daí, o cenário diante dos meus olhos foi aquele com o qual iniciei este relato. Enquanto aquele turbilhão de pensamentos me assolava, nem me dei conta de que continuava sem as calças e junto do aglomerado de detentos. Só voltei à razão quando senti que estava novamente aguilhoado a um par de braços. Um dos detentos me agarrava por trás. Era um sujeito de bigode e cavanhaque que vivia à sombra do Ayaz. Era um daqueles tipos que se escorra na força e poder de outros para colher as migalhas deixadas por eles. Eu já sentira o olhar libidinoso dele escrutinando meu corpo durante o banho. Mas, ele nunca se atreveu a se insinuar para mim, pois sabia que Ayaz tinha essa primazia e, sabia também, quais seriam as consequências de um atrevimento seu. No entanto, agora que o macho alfa que ele tanto temia, tinha que lutar pela própria sobrevivência e, não estava se saindo muito bem nessa empreitada, ele viu a chance que conseguir o que desejava. A agitação entre os detentos era tanta e, a briga entre o Rogério e o Ayaz estava por chegar a um desfecho atroz, que ninguém se preocupou com o fato de eu estar me debatendo novamente. A jeba do sujeito roçava meu rego, dura e afoita, procurando as preguinhas onde ele há pouco havia enfiado um dedo explorador. O pré-gozo abundante melava meu rego virgem, quando notei o Fabrício dando uma gravata no sujeito, e ele ir perdendo as forças com as quais me continha. O Fabrício e eu trocamos um olhar furtivo, mas nele estava toda a minha gratidão por seu ato salvador.
Quando os carcereiros e policiais invadiram a ala determinando que todos entrassem nas celas, o corpo do Ayaz jazia desconjuntado sobre o chão onde faltavam grandes trechos de ladrilhos. Ele movia os braços descoordenadamente e sua cabeça estava imersa numa poça de sangue. O Rogério bufava como um touro, inclinado sobre o corpo quase sem vida, e cuspia sangue pela boca, enquanto a musculatura tensa e os punhos cerrados, ainda não tinham se apercebido de que nenhuma reação mais viria daquele corpo. Ao ver aquele olhar errante, meu peito se comprimiu de tal forma que eu pude sentir cada batida do meu coração agitado. Tomei-me de um sentimento tão afetuoso e profundo por ele como jamais havia sentido. Não era pura e simplesmente gratidão o que pulsava em meu peito, era algo tão avassalador que eu tive medo de descobrir o que era.
O Ayaz, ou que sobrou dele, foi levado para uma enfermaria. Meia hora depois, vimos uma ambulância entrando no pátio. Ele foi colocado nela e duas viaturas policiais escoltaram a ambulância para fora do portão principal. Quase simultaneamente, o diretor do presídio, acompanhado de um séquito de policiais, entrou na ala em que estávamos. Sua expressão taciturna e autoritária fez com que um silêncio precavido imperasse no corredor e nas celas. Ele caminhou diretamente para o cubículo do banheiro, onde o Rogério terminava de limpar o sangue que estava espalhado em seu rosto, braços e tronco em meio aos farrapos que restaram dos andrajos que o cobriam. Eu estava ao lado dele e procurava estancar, com um trapo da minha bata, uma pequena hemorragia num ferimento em suas costas, pouco acima da cintura, causado pelas bordas cortantes dos ladrilhos. Seus músculos pareciam pedras sob sua pele, todo seu corpo continuava tenso.
- Não bastasse a encrenca na qual estão envolvidos e você continua arrumando mais confusão. – a voz do diretor saiu calma, porém acusatória.
- O culpado foi aquele sujeito! Ele começou tudo. – argui, de pronto.
- Qual é o seu papel nessa confusão? – inquiriu o diretor. Imediatamente senti meu rosto corar. Seria necessário dizer que eu estava prestes a ser estuprado? A vergonha me deixou sem palavras.
- Bem! Estou esperando, o que você teve haver com essa briga? – insistiu. Embora sua fisionomia me dissesse que ele já conhecia o motivo.
- Ele estava me provocando desde que chegamos aqui. Queria briga e foi o que conseguiu hoje, minha paciência tem limites. – interveio o Rogério, antes que eu pudesse responder.
- Você deve compreender que a disciplina é o único modo de conduzir as coisas por aqui, não é? E, aos indisciplinados aplicamos o devido castigo. Você vai nos acompanhar e veremos se depois ainda vai continuar subvertendo a ordem das coisas. – sentenciou o diretor, enquanto quatro policiais cautelosamente se aproximavam do Rogério para leva-lo dali.
- Aquele sujeito ia me estuprar! – as palavras saíram da minha boca, tão altas e claras, que podiam ser ouvidas na outra extremidade do corredor. – O Rogério só estava me defendendo! – emendei. – Não podem jogar a culpa nele! Para onde o estão levando? – de repente, tive medo do que podiam fazer com ele. Um medo de nunca mais vê-lo, um medo de ficar sem ele. Coloquei-me à frente do Rogério impedindo o acesso dos policiais.
- Eu o aconselho a não arrumar mais confusão, já basta o que tem instigado nesses detentos, ou serei obrigado a tomar providências com relação a você também. – afirmou o diretor.
- Então me levem com ele! Se, sou culpado, também mereço minha punição. – eu não poderia fazer nada se decidissem fazer alguma coisa contra o Rogério, mas precisava estar ao seu lado, senão, não teria paz. O Rogério pegou meu rosto entre suas mãos e olhou fundo nos meus olhos, balançou a cabeça negativamente, e não precisou dizer uma palavra para que eu compreendesse o que queria me dizer.
No final daquela semana trouxeram o Rogério de volta. Os ferimentos que ele tinha pelo corpo estavam cobertos por curativos. Ele caminhava com firmeza quando a porta da ala foi trancada atrás dele. Corri em seu encalço e o abracei, ele deu uma leve esquivada e soltou um suspiro, pois eu, inadvertidamente, coloquei minha mão sobre aquele ferimento nas suas costas. O Mathias e os outros três também acorreram à sua chegada.
- Você está bem? O que fizeram com você? Eles te maltrataram? – eu estava tão eufórico com a volta dele que mal me continha. Ele acenou positivamente com a cabeça e me deu um discreto sorriso. O mais lindo e significativo que eu já recebera.
- Onde você ficou todos esses dias? – perguntaram o Mathias e o João, ao mesmo tempo.
- Depois de fazerem esses curativos na enfermaria, fui colocado numa solitária. Não foi tão ruim assim, estava mais limpa do que esse lugar. – respondeu ele calmamente. – Antes de trancarem a porta o carcereiro me disse que eu teria tempo suficiente para refletir sobre meus atos, aquele filho da puta.
- Eu tive tanto medo de que pudessem fazer algo terrível como você. – disse, sentindo minha voz falhando e meus olhos marejando. Só então, percebi que ainda estava abraçado a ele. Foi constrangedor, dezenas de olhares acompanhavam a cena.
Os primeiros dias de novembro deixavam claro que estávamos em pleno outono. As madrugadas se tornaram frias e, não raro, eu acordava com o corpo enregelado do vento frio que entrava através das grades das janelas sem vidros, próximas ao teto. Lembrava-me do meu quarto em casa e sentia saudades da proteção e do conforto que ele representava. Tínhamos acabado de voltar do banho de sol no pátio, onde a maioria dos detentos se limitou a ficar acocorado, segurando as mãos dentro das mangas dos agasalhos para se proteger o vento gelado, que soprava apesar do sol que banhava os edifícios com sua luz gélida, quando fomos avisados da presença do advogado. Ao contrário das outras vezes em que ele vinha trazer notícias sobre o processo, em que cada um era levado individualmente ao parlatório, desta vez o Mathias, o Rogério e eu pudemos seguir juntos. Não fomos levados ao parlatório e, sim, para uma sala no edifício da administração. O advogado abriu um sorriso de vitória, assim que nos viu entrar, levantando-se da cadeira junto à mesa de um funcionário e abanando no ar umas folhas de papel.
- Aqui estão as sentenças do juiz! – começou ele. – Vocês não devem mais nada à justiça turca. Estão livres para embarcar para o Brasil. – emendou, enquanto o Mathias o abraçava com entusiasmo.
- Finalmente! – consegui balbuciar e, imediatamente, comecei a chorar.
- Vocês vão receber seus pertences e podemos sair daqui. Eu os deixarei no hotel. – disse ele, contente pelo dever cumprido e, ciente de que tinha driblado com sucesso todos os meandros obscuros do sistema judicial.
- Vamos sair agora? Nesse exato momento? – parecia que o Mathias não estava acreditando no que ouvia. – Vamos poder sair desta merda de país! – exclamou em português, virando-se para mim e para Rogério.
Só conseguimos passagens, para que os três pudessem viajar juntos, para dali a quatro dias. Não tivemos nem o interesse de fazer uma caminhada nas cercanias do hotel, e permanecemos o tempo todo no quarto, só descendo até o restaurante para as refeições. Logo que chegamos ao hotel, percebemos que faltava muita coisa nas nossas mochilas, tudo de mais valor havia sido furtado enquanto estavam sob a guarda dos funcionários do presídio.
- Esses miseráveis fizeram um rapa na minha mochila! – afirmou o Rogério, assim que percebeu o roubo. O Mathias e eu fomos conferir as nossas e elas também haviam sido espoliadas.
- Tive vontade de retrucar quando o advogado disse que já não devíamos mais nada para a justiça turca. Que eu saiba, nunca devi nada. Esses incompetentes precisaram de quase quatro meses para descobrir isso! Revoltante! – exclamei exasperado.
- Por pouco não eram eles que iam ficar devendo sua castidade a você! – afirmou o Rogério, estampando o primeiro sorriso descontraído depois de toda aquela maratona. Fiz uma careta e atirei meu travesseiro nele. Ele o apertou contra o peito e continuou com aquele risinho zombeteiro.
- Ei! Vocês não vão entrar num clima de paquera na minha frente, não é? – protestou o Mathias.
- Larga a mão de falar besteira! – censurei corando.
- Está querendo levar uma no pé do ouvido? – questionou o Rogério.
- Até acredito que vocês vão negar o que está estampado na cara de vocês. Mas, tentem enganar outro, comigo não cola. – voltou a afirmar. – Vocês formam um belo casal e, muito conveniente. A brandura de um contrapondo a truculência do outro. Isso só pode dar certo! – exclamou numa gargalhada, esquivando-se do pé do Rogério que vinha em sua direção.
Estávamos sobrevoando o Atlântico, o ronco monótono dos motores do avião já tinha embalado quase todos os passageiros no sono. A cabine estava mergulhada numa penumbra mansa. Do meu lado esquerdo, o Mathias dormia a sono solto encostado ao travesseiro colado junto à janela. Do meu lado direito, o Rogério fazia boa parte de seus ombros avançarem sobre o corredor e sobre mim. O calor que emanava dele era o que de mais aconchegante podia haver. Eu estava muito ansioso para chegar logo em casa e não conseguia dormir. Achei que era o único acordado, mas, de repente, senti o braço do Rogério invadindo meu espaço e procurando minha mão. Ele a tomou entre a sua e a apertou com suavidade. Virou o rosto em minha direção e sorriu. Eu retribui um pouco tímido e um pouco confuso com aquela demonstração de carinho tão incomum nele. Mas, ele continuou a me encarar, puxou minha cabeça de encontro ao seu ombro e, antes de eu a apoiar nele, sua boca se colou na minha. Subitamente, eu quis que aquele voo durasse para sempre. Sabia que, quando as luzes se acendessem, os passageiros acordassem, o avião começasse a correr pela pista, tudo estaria acabado, como um sonho bom que desaparece quando a alvorada chega.
Os dias seguintes foram dedicados aos festejos do nosso retorno, tanto em nossas casas quanto na faculdade, e a contar centenas vezes toda nossa tragédia, a rever amigos e parentes que havia tempo, mesmo antes do acontecido, não víamos e, a finalmente, desfrutar aquela sensação prazerosa e ímpar de pertencer a um lugar. A cada final de semana uma família fazia um churrasco em comemoração à nossa volta. Quando tudo tinha voltado aos eixos e nosso infortúnio deixara de ser o principal assunto, o Mathias nos propôs que passássemos o final de semana na casa de praia dos pais dele, só nós três, para tentarmos reaver aquela paz que há tempos não tínhamos. Estávamos na lanchonete da faculdade quando ele fez o convite.
- Humm ... não sei não. Da última vez que você veio com essas ideias de viajar com você acabamos entrando numa roubada. – afirmei, ao que o Rogério concordou comigo.
- Vocês devem estar de gozação comigo! Como eu podia adivinhar que aquela galera ia aprontar o que aprontou? É brincadeira! Quer dizer que vocês acham que eu sou o culpado daquilo tudo? – respondeu ele, chateado com nossa posição.
- Larga a mão de ser melodramático! Não estamos dizendo que a culpa é sua, mas que foi uma tremenda cagada chamar aquele pessoal, lá isso foi. – sentenciou o Rogério
- Tá! Posso ter sido um vacilão! Mas, agora vamos só nós três. Bem! Eu queria convidar a Luiza e ela só ia topar de a Marina fosse junto, vocês sabem como são aquelas duas. Custa vocês me darem uma força? Eu resolvi que vou investir na Luiza, faz um tempinho que estamos naquela de vai-não-vai. – choramingou ele. Aliás, era essa sua capacidade de conseguir que as pessoas entrassem na dele, fosse uma fria ou não.
- De três já estamos chegando a seis, ou você acha que a Marina vai sem o Gustavo? Esses dois não se largam mais, aquilo vai acabar em casamento logo depois da formatura, pode crer. – argumentei.
- Mesmo assim. O que custa? Deixem de ser bundões, vamos lá! – sabíamos que seriamos atormentados por seus argumentos se não aceitássemos logo. Encarei o Rogério como que deixando para ele a decisão final.
- Topamos! Mas eu vou com o meu carro, se me encher o saco dou o fora! – ele usou aquele tom de voz emburrado, que lhe dava a fama de durão.
Eu conhecia a casa desde a infância, já estivera lá inúmeras vezes, quando o Mathias e eu ainda erámos vizinhos no mesmo condomínio. O mar sempre me apaziguava e, havia muito dentro de mim que estava precisando de respostas e, talvez na tranquilidade da pequena enseada no litoral de Ilhabela, onde ficava a casa, eu pudesse encontrar essas respostas ou, no mínimo, tranquilidade para digerir o que me inquietava.
Com o semestre praticamente perdido na faculdade, onde só acompanhávamos as matérias nas quais ainda havia uma chance de passarmos sem ficar de DP, pudemos seguir na sexta-feira cedinho para um fim de semana que prometia muito sol e calor naquele novembro com cara de verão. A casa ampla, debruçada sobre um penhasco coberto de vegetação nativa, pela qual passava a curta trilha até a areia grossa e amarelada da praia, permitia o convívio com a galera ou, o isolamento necessário, nalgum cantinho mais reservado, para divagar sobre a vida. A sexta-feira foi agitada. Afora a viagem em si, fizemos muitas coisas. O Gustavo, namorado da Marina, tinha levado, a reboque, um jetski. Além dele, o Rogério era o único que sabia pilotar um troço daqueles. Por conta disso, ele quis me ensinar a pilotar. Ergui meu dedo médio com os demais dobrados sobre a palma da mão direita, em direção ao Mathias, quando ele deu uma piscadela e, colocou na cara aquela expressão de ‘aí tem’, no momento em que o Rogério se prontificou a me ensinar a pilotar. Acho que foi por isso também, que não consegui, nos primeiros momentos, me concentrar nas instruções do Rogério. Preferi acreditar nisso, ao invés de atribuir aquela desconcentração aos braços musculosos, pelos do peito dele resvalando constantemente nas minhas costas e, minha bunda estar tão voluptuosamente encaixada em sua virilha, onde ele acumulava o tesão que estava sentindo com aquela proximidade, explícito na ereção que nem tentava disfarçar.
- Nem acredito! Foi mais fácil do que pensei! Quanto tempo demorou? Umas quatro horas? Acho que consigo pilotar isso sozinho de agora em diante. O que você acha? – perguntei animado, assim que tinha ganhado confiança e dominava o jeito de conduzir o jetski.
- Está ótimo, sem dúvida! Mérito do professor aqui! – respondeu ele, num tom jocoso e convencido.
- Engraçadinho!
Apesar de termos ido dormir de madrugada, não consiga pegar no sono. Eu me virava de um lado para o outro, consultando o display do celular e parecia que as horas não passavam. Por volta das cinco da manhã estava tão impaciente que resolvi sair do quarto e dar uma caminhada pela praia. Ao sair da trilha entre as árvores, o alvorecer estava imerso numa bruma úmida. Acima do azul pálido do mar flutuava uma camada de luz produzida pelos raios do sol que ainda estava mergulhado abaixo da linha do horizonte. A praia estava deserta e calma, à exceção de duas gaivotas que ciscavam bem próximo de onde as ondas vinham depositar sua espuma branca na areia. Aquela imensidão a minha frente e o perfume que vinha dos manacás na vegetação atrás de mim, me fez ver o quão importante era a liberdade. E, ela estava ali, diante dos meus olhos para ser usufruída em toda sua plenitude. Num impulso, tirei minha bermuda e caminhei em direção à água. Eu não estava tão sozinho quanto havia pensado. O Rogério me observava do final da trilha. Tinha acordado ao ver-me sair do quarto e veio atrás de mim. Só não esperou encontrar o que viu na praia. Tirou o celular do bolso da bermuda e registrou o que ele depois, ao me mostrar a foto, chamou de a mais pura liberdade. Já na água, massageado pelas ondas, em dado momento, me virei em direção a praia, o Rogério estava deixando a bermuda cair na areia, e começou a caminhar na minha direção. Meu coração parecia querer sair pela boca. O sincronismo de todos aqueles músculos se movendo a cada passo dele e, a rola imensa balançando solta sobre aquele sacão fizeram meu cuzinho se contorcer num desejo impudico. Nem a água um pouco fria àquela hora do alvorecer conseguiu refrear a determinação dele, o cacetão começou a endurecer à medida que ele se aproximava de mim. O sorriso franco e lindo que ele abriu para mim não escondia suas intenções. O dia de saldar a minha dívida havia chegado. Senti um arrepio percorrendo meu corpo, era o tesão querendo pagá-la. Assim que ele me alcançou, seus braços envolveram minha cintura, o falo com aquela cabeçorra completamente estufada se alojou no meu rego no instante em que ele me apertou contra seu corpo. Cobri os braços vigorosos dele com os meus e encostei minha cabeça em seu ombro, isso facilitou o acesso dele à minha boca. O beijo veio tão molhado quanto a água na qual estávamos imersos até a cintura. Aceitei aquela língua que ele enfiou na boca e a acariciei com a minha.
- Eu tive um lampejo durante aquele sua luta com o Ayaz e soube o que estava em jogo naquela disputa. – afirmei sereno.
- Eu não podia deixar que ele ou qualquer outro, tocasse em você antes de mim. Eu precisava ser o primeiro! – retrucou o Rogério
- Eu nunca tinha pensado em alguém me tocando. Até aquele dia. E, desde aquele beijo no avião, eu fico imaginando como seria você me tocando. – eu podia sentir os pentelhos dele roçando a pele das minhas nádegas, e nunca pensei que podia sentir tanto tesão.
- Você quer que eu te toque? Porque é isso que eu quero desde a época das caronas para a faculdade. – inquiriu ele, cada vez mais assanhado.
- É o que eu mais quero! Você é o único que eu quero que me toque, porque sei que vai ser a coisa mais sublime que já me aconteceu. – assegurei confiante. Ele começou a dar vazão a seus instintos.
Firmei as pernas, ligeiramente abertas, na areia que se movia debaixo dos meus pés para me estabilizar; quando a jeba, conduzida por uma de suas mãos, entrou num só golpe no meu cuzinho, distendendo os esfíncteres e rasgando minhas preguinhas, enquanto eu gania com a boca selada por seu beijo viril. A maré baixa trazia ondas pequenas que apenas nos faziam balançar ao sabor delas. Olhávamos para o horizonte, onde o sol começava a despontar, como se estivéssemos à procura de algo além dele, quem sabe o nosso futuro. Ele movia a pelve de encontro à protuberância das minhas nádegas, imprimindo um ritmo cadenciado ao caralhão que se movia num vaivém delicioso dentro das minhas entranhas. Eu gemia e, ora gania mais aguçadamente, quando a pica me estocava num ponto mais sensível e profundo. Aquilo parecia aumentar o tesão com o qual ele me fodia.
- Puta cuzinho gostoso da porra! – sussurrou ele, lambendo e chupando minha orelha. – Esse cuzinho é meu, é do meu caralho! – gemeu entre os dentes cerrados, como para ter certeza do que estava falando.
- Ai Rogério! Todo o meu ser quer ser seu. – balbuciei, levando aquela tora no cu, enquanto minha pica esporrava como um vulcão.
Precisei ganir desenfreadamente quando ele imprimiu não só mais cadência, mas também, mais força naquelas estocadas. O corpo dele ficava cada vez tenso abraçado ao meu e, de repente, senti que sua pelve se contraiu. Meu cuzinho começou a ficar encharcado daquela porra que ele ejaculava descontroladamente. Aliviando-se libidinosamente no calor receptivo da minha bunda, ele soltou um urro rouco e prazeroso, como quem acabara de realizar um sonho longamente acalentado. Permanecemos ali, abraçados e contemplando o amanhecer, de maneira imprudente e despudorada, sem nos incomodarmos com o mundo.
- Não estou com a menor vontade de tirar o cacete do seu cuzinho. – murmurou ele, embora a pica só estivesse à meia bomba, já fazia um tempinho e, talvez a razão estivesse nos impelindo a sermos mais prudentes. Afinal, em pouco tempo alguém podia aparecer na praia.
Quando ele tirou o caralhão do meu cu, a ondinha rasa que passou entre as minhas pernas, teve a espuma branca que a cobria tingida de um vermelho vivo. Ele abriu um sorriso diante do meu constrangimento.
- Aquele é o seu cabaço! O mais gostoso cabaço que eu já tirei. – disse ele, tornando a me envolver pela cintura, depois de apontar para a manchinha de sangue que seguia seu rumo em direção a areia. – Obrigado! – emendou solene, mergulhando seu olhar nas profundezas dos meus olhos verdes.
- Eu te amo! – confessei meio tímido.
- Eu também te amo! Mesmo ainda não compreendendo bem esse amor, eu sei que te amo, sei que preciso dos teus carinhos, sei que preciso de você. – revidou ele.
Nem eu sei como lidar com esse amor, pensei em confessar. Mas, havia uma conexão tão intensa entre nós naquele instante e, aquele esperma morno entre as minhas pernas era tão maravilhoso, que eu optei por não estragar aquele momento com problemas existenciais. Haveríamos de encontrar, juntos, uma maneira de viver aquela paixão.
Foi muito engraçado ver a cara do pessoal quando regressamos a casa, ainda molhados, querendo saber por onde estivemos andando tão cedo.
- Perdi o sono e resolvi dar uma caminhada na praia, acabei acordando o Rogério sem querer e ele resolveu me acompanhar, onde está o mistério nisso? – retruquei, diante a insistência deles em saber onde estivemos. Só não percebi que meu tom de voz coagido revelava mais do que as minhas palavras.
- O que temos para o café? Estou faminto! – perguntou o Rogério, indiferente aqueles olhares inquisidores.
Passamos a maior parte do sábado na praia. O dia estava lindo e, apesar do sol a pino, não fazia um calor excessivo, uma brisa constante ajudava a amainar o calor.
- Eu gostaria de praticar mais um pouco de pilotagem, se você não se incomodar com isso, é claro, Gustavo?
- Vai firme! Só treinando é que você vai adquirindo habilidade e confiança. Vai nessa! – revidou ele, naquele momento mais interessado em dar uns amassos na Marina.
- Por via das dúvidas, vou te acompanhar. – sentenciou o Rogério. No entanto, dava para ver na cara dele que, aquela prévia do alvorecer, só tinha despertado nele o desejo de me enrabar a maior quantidade de vezes possível. Senti-me um viadinho rameiro, pois estava tentado a me entregar à sua concupiscência sem nenhuma reserva.
Eu estava indo muito bem, pilotava com desenvoltura, conseguia atravessar as ondas no ângulo certo, fazia as curvas com total controle do jetski. No entanto, uma única vez, por pouco, não capotamos. O Rogério explorava minha bunda com as mãos afoitas, tinha arriado minha sunga e chegara a meter um dedo no meu cuzinho só para me provocar. Eu fingia não estar perturbado com suas sacanagens, até o momento em que ele, aproveitando-se de estarmos cortando uma onda apenas apoiados nos pés, tirou a rola dura para fora e, ao sentar, me segurou pela cintura fazendo com que eu atolasse aquela jeba no cu lacerado. A sentada foi tão profunda e a dor que se irradiou dentro de mim tão intensa que eu encolhi os braços torcendo demasiadamente o guidão do jetski para um lado, o que nos fez fazer uma curva fechada demais e quase tombar a moto aquática.
- Maluco! – berrei, não sei se de susto ou se de dor.
- Vai me dar atenção agora ou não? – perguntou ele, chupando meu cangote.
- Está querendo nos afogar?
- Não. Só quero você cuidando da minha pica. – ronronou ele.
- Tarado! Sabia que você está me arregaçando todo? – devolvi, num protesto sem convicção.
- É exatamente essa a minha intenção. – assegurou, novamente num ronronar que deixava meu corpo todo mole e minha mente embotada. Ele sabia se fazer desejado, e como sabia.
Foi providencial o Rogério e eu termos ficado sozinhos no mesmo quarto e, no mais afastado dos demais. Logo na chegada, eu desconfiei que tinha a mão do Mathias envolvida naquela distribuição dos quartos; mas, estava feliz demais por ter o Rogério tão pertinho de mim por alguns dias que, no íntimo, agradeci o Mathias pela artimanha. Passava da meia noite quando todos se recolheram. O Rogério tinha saído do banho e, assistia TV, tão nu quanto veio ao mundo. Meu cuzinho ainda ardia, e eu mal conseguia passar a mão sobre as preguinhas durante o banho, sem sentir dor. Mesmo assim, aquela imagem dele refestelado de pernas bem abertas sobre a cama era tentadora. Joguei a toalha sobre minha cama com a maior displicência, fui apanhar uma cueca na mochila e voltei para o espaço entre as duas camas fingindo que a vestiria. Com o rabo do olho ele disfarçadamente acompanhava cada um dos meus movimentos. Eu percebi que ele estava ficando excitado, porque ajeitou o cacetão e mexeu no saco por três vezes. Aquilo fez meu cuzinho assanhado piscar alucinadamente. Ele fingia estar concentrado na tela da TV, quando comecei a deslizar a ponta dos dedos nos pelos do peito dele. Sentei-me na beira da cama e comecei a percorrer os pelos que desciam pela barriga dele e iam se juntar aos densos pentelhos. Ele fazia força para se controlar, eu me divertia com a agonia dele. Percorri o caminho entre o umbigo e os mamilos dele uma meia dúzia de vezes, a respiração dele se acelerava, mas ele não se entregava. Ao descer lentamente, mais uma vez, com a ponta dos dedos apenas roçando de leve a sua pele, mergulhei a mão nos pentelhos dele. Quase dava para ouvir o coração dele agitado dentro daquele peito enorme. Ao tocar de mansinho na pica, o autocontrole dele acabou. A ereção começava a tomar corpo, dava para sentir o sangue afluindo numa torrente para aquela rola que se encorpava a cada segundo. A chapeleta se estufava, arroxeada e úmida. O primeiro pré-gozo brotou do imenso orifício uretral, e o cheiro de macho chegou às minhas narinas, tentador e lascivo. Inclinei-me na direção dele e toquei suavemente meus lábios na cabeçorra. O pau que estava na minha mão dobrou de tamanho. Olhei meigamente nos olhos arregalados dele, e fui abocanhando aquela chapeleta lambuzada. Chupei e lambi, sem nenhuma urgência, cada milímetro do membro avantajado dele. Ele arfava deleitando-se com os movimentos da minha língua e dos meus lábios sugando seu néctar.
- Ah, Dudu! – gemeu, liberando mais pré-gozo salgado na minha boca.
- Era minha atenção que você queria? Isso está bom, para começar? – murmurei sedutor.
- Está ótimo, nem pense em parar! – exclamou ele, num gemido de tesão
- Quem disse que eu estou pensando em parar? – provoquei.
Ao afagar os culhões no sacão peludo, eu senti como estavam ingurgitados, nem parecia que já tinham fornecido, por duas vezes naquele dia, porra suficiente para deixar meu cuzinho encharcado. Até então, eu nunca tinha colocado uma pica na boca. Mas, o sabor da do Rogério estava me deixado alucinado de prazer. Ao lembrar-me de que naquilo, que eu estava chupando, se concentrava a masculinidade e a virilidade dele, eu tornei a fixar meu olhar no dele, quase como uma suplica, para que ele me deixasse saborear seu sumo viril. Ele se contorcia procurando prolongar aquele prazer, por vezes chegava aos limites do clímax, tirava rapidamente a pica da minha boca e me advertia.
- Ah Dudu! Não brinca com isso! – a advertência saía num gemido cheio de tesão. Eu não ia obedecer, não podia obedecer, eu queria aquela seiva todinha para mim.
Eu agora segurava a rola latejante numa mão, massageava o sacão na palma da outra e, sugava a cabeçorra num vaivém envolvido numa ternura lânguida. Ele segurou minha cabeça entre as duas mãos, ergueu a pelve enfiando a rola na minha garganta, retesou toda musculatura ao redor da virilha e, junto com um urro, deixou os jatos de porra fluírem diretamente na minha boca. Eu mantinha os olhos fixos nele, extasiado com o prazer que tinha lhe proporcionado, e engolia encantado aquele néctar espesso e delicioso.
Adormeci com a respiração morna dele resvalando a pele da minha nuca, abraçado em conchinha, sentindo cada batida de seu coração percutindo nas minhas costas. Haveria algo mais sublime nesse mundo? Era essa a resposta que eu procurava, enquanto o marulhar das ondas trazido pelo vento, cerrava lentamente minhas pálpebras. O Rogério já dormia. A pica dele, agora flácida, tinha ficado no meu cuzinho, não sei se por ele ter adormecido antes de retirá-la, ou se propositalmente, pois àquela altura, ele sabia que não havia lugar mais aconchegante para aninha-la.