Pensando no passado, eu até me diverti. Acho que não aproveitei tudo o que eu podia mas… Deu pra juntar experiências. Deu pra saber em quem podemos confiar, no que podemos fazer.
Antes de me perguntarem do que eu estou falando. Bom… Eu e Luciano nunca mais nos falamos direito. Foi um inferno durante todo o ano letivo. Acho que ele pensou que eu contaria pra alguém. Aquele Luciano que sempre acenava pra mim e pra Rafaela, agora vinha com empurrões e palavras ofensivas.
Não sei o que tinha dado nele. As chacotas e as humilhações que ele tinha o prazer de apresentar na frente dos amiguinhos, estavam acabando com o meu ano letivo.
Rafaela também não entendia o que tinha acontecido, o porque Luciano tinha mudado tanto. Perguntava se havia acontecido algo, mas eu sempre negava. Com medo dele fazer algo pior.
Aquele não foi um ano legal. Tanto que eu perdi.
¥¥¥¥¥¥¥¥ aos 15 anos ¥¥¥¥¥¥¥¥
Cheguei na mesma escola, pelo mesmo caminho, com o mesmo uniforme. Entrei pelo portão principal, reconhecia os alunos da minha turma passada. Não falei com nenhum. Entrei na secretaria pra pegar as informações do primeiro dia de aula. Onde seria a minha sala?
Eu estava na mesma sala do ano passado. A sala ficava de frente para a pista principal. Onde passava muitos carros e tinha um trânsito intenso. As vezes mal dava pra ouvir o professor ou respirar por conta da poluição. Era a nova sala dos repetentes? Só podia.
Ajeitava minhas coisas na carteira: caderno, caneta, lápis… A mochila ficava na cadeira encostada em minhas costas. Apoiei a cabeça nas mãos com os cotovelos na mesa e esperei paciente todos os alunos entrarem e o professor chegar.
Reconheci três rostos de alunos do ano passado, repetentes também. Mas não tinha intimidade com nenhum. Todos os outros pareciam ser alunos novos. E foi ai que eu comecei a sentir falta da Rafaela.
O professor entrou na sala e deu a primeira aula. Começou se apresentando. E só, já enfiou assunto no quadro. Onde está aquela receptividade de primeiro dia de aula? Onde os alunos sentam em círculos e se apresentam?
Esse não era aquele tipo de professor.
Reinaldo era o professor de matemática daquele ano. Ou seja. Eu tava ferrado. Bem ferrado.
O sinal anuncia o segunda horário. E ainda seria aula de matemática. Reinaldo liberou três pessoas pra irem ao banheiro e beberem água. Eu continuei na minha cadeira.
Quando íamos voltar pra aula. Mais dois alunos chegam na sala, atrasados. E só entraram no segundo horário. Todos olharam pra eles. Uma garota loira de óculos fundo de garrafa e Luciano.
As únicas cadeiras sobrando eram uma atrás de mim e outra no fundo da sala. Luciano passou ao meu lado sem nem me olhar e seguiu pra do fundo. A garota sentou atrás de mim. Ela era estranhamente fofa.
A aula seguinte foi de história. A professora era velha e tinha uma voz engraçada. Durante a aula dela, Luciano não economizava nas piadinhas. Ele seria um aluno que daria trabalho aquele ano. E isso os professores já estavam anotando.
O sinal anunciando o intervalo tinha soado e todos saíram da sala. Menos eu e a novata.
Alguns poucos minutos e ela me oferece biscoito. Recuso e esboço um sorriso. Primeira vez que alguém estava sendo simpático comigo naquele dia infernal. Conversamos um pouco. E logo as aulas voltaram.
No final todos começaram à sair e eu resolvi falar com a novata mais uma vez. Perguntei qual o caminho dela pra casa, pra se der certo irmos sempre juntos. E olha só. Era o mesmo caminho. Se bem que ela virava a direita umas três ruas antes da minha. Mas a maior parte do caminho, poderíamos ir conversando.
Sinto uma mão conhecida em meus ombros e logo que me viro com um abraço da Rafaela.
- Porque não veio me ver no intervalo? Fiquei te esperando pra contar a novidade do ano.
Assim que ela fala isso, eu com cara de sem entender nada, Luciano vinha em nossa direção. Ele abraçou Rafaela por trás e a beijou nos lábios.
Eu fiquei paralisado. Fui salvo pela voz da novata que disse já estar pronta. Aproveitei o ensejo e me despedi, sem muitas desculpas, da Rafaela e do Luciano.
Segui pra casa sendo a pior companhia.