Uma família perdida
Capítulo 5 – Abrindo o jogo com o César (um acidente de percurso).
Depois de toda a verdade a respeito de minha mãe vir à tona, graças ao castigo mal sucedido que dei ao pastor, tratei de contar tudo ao meu pai, afinal depois da nossa confissão de amor mútuo, decidimos não mais esconder nada um do outro.
A notícia de que minha mãe teve um caso com Suzana mexeu muito com o meu pai, ao ponto de ele ter me confessado que, embora tivesse muito carinho por ela, já não a amava, e que teve plena certeza disso após o castigo que aplicamos nela. Foi então que ele me disse:
- Eu quero me separar de sua mãe. Meu Binho, hoje eu tenho certeza que no meu coração só tem espaço pra duas pessoas: você e o César. Espero que entenda isso, mas assim como eu te amo, também amo o César.
- Pai, eu preciso confessar: quando fiz o que fiz com o César, achei que não passaria de uma chantagem sexual, mas a verdade é que eu o estou desejando intensamente desde aquela vez, e sei que ele te faz um bem muito grande. O meu maior sonho é que possamos viver em harmonia. Nós três. – disse eu.
- É tudo o que eu mais quero! – disse, em tom vibrante, meu pai.
- Eu te amo – dissemos um ao outro quase que ao mesmo tempo, nos beijamos, e rimos.
O tempo urge, e eu lembrei-me de que precisávamos ter uma conversa franca com o César. Pedi a meu pai que ligasse para o celular dele:
- César? – perguntou meu pai.
- Oi Sérgio, aqui é a Suzana! O César deu uma saída, e deixou o celular aqui. Disse que ia te encontrar, aliás...
- Mas ele disse onde estava indo?
- Então... Ele falou que iria à sua casa buscar a cola que havia emprestado pro seu filho. Foi sua mulher que ligou aqui, inclusive.
- Obrigado, Suzana! Tinha me esquecido disso – mentiu meu pai.
Assim que ele encerrou a ligação, fomos voando, de tão rápido, de volta a nossa casa.
Chegamos lá, e estávamos prestes a testemunhar uma tragédia: minha mãe, com uma faca na mão, ameaçava perfurar o César em meio a uma briga entre eles. Meu pai, tomado de ira, não se conteve, e interviu:
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? LARGUE JÁ ESSA FACA, SILVIA. NÃO OUSE FAZER UM SÓ ARRANHÃO AO CÉSAR. – Gritou, entrando na frente do César.
Fiz sinal para que César viesse ao meu encontro, mas ele ainda estava desconfiado de mim, o que me obrigou a tomar uma atitude drástica: puxá-lo a força. Ele, atordoado com tudo isso, não fez resistência. Mandei que entrasse no carro e trancasse as portas. Enquanto isso, meus pais discutiam severamente. Corri ao encontro deles. E então ouvi meu pai dizer tudo aquilo que ele havia guardado dentro dele há tempos:
- VOCÊ É MÁ, SILVIA. UMA VÍBORA, E O PIOR DE TUDO: MENTIROSA. O SEU CASO COM O PASTOR NÃO FOI O ÚNICO, E QUEM DIRIA HEIN? QUER ME CRITICAR POR EU ESTAR TREPANDO COM O CÉSAR, MAS VOCÊ BEM QUE ANDOU SE DIVERTINDO BASTANTE COM A SUZANA, NÃO É? HIPÓCRITA! É ISSO QUE VOCÊ É!
VOCÊ É BAIXA, FALSA MORALISTA, E EU NÃO QUERO MAIS SABER DE VOCÊ. VOCÊ TEM ATÉ O FIM DO DIA PRA SUMIR DESSA CASA, ESTÁ ENTENDENDO? SOME DAQUI, SEU LIXO.
Antes que eu pai pudesse terminar de gritar tudo o que estava entalado, minha mãe, em total descontrole, esfaqueou-o na barriga, e em um momento de lucidez, dando-se conta do que fizera, trancou-se em casa.
César, ao ver o que aconteceu, saiu depressa do carro e foi ao encontro de meu pai para socorrê-lo. Vendo que ele estava em boas mãos, resolvi que era hora de por um fim nisso de uma vez por todas.
Arrombei a porta da casa, e vasculhei toda a casa atrás dela. Nem um sinal da minha mãe. Olhei seu quarto, estava todo revirado. Ela não levou roupa nenhuma, mas seus documentos, passaporte e dinheiro haviam sumido, junto com uma mala de emergência. Fui até o porão da casa, e pude ver que a claraboia estava aberta. Ela fugiu.
Mesmo estando furioso com a situação, penso que foi a decisão mais acertada de minha mãe, pois eu não responderia por mim se a visse: eu estava disposto a mata-la.
Peguei o telefone para chamar a polícia, mas não foi preciso: César já havia feito o trabalho. O policial veio falar comigo, disse que precisaríamos dar nosso depoimento na delegacia depois, mas que já havia acionado a central para uma fugitiva. Eu colaborei com todos os dados e ainda arrumei uma foto dela, para melhor identificação. Segundo o policial, a Polícia Federal seria acionada para evitar que ela tentasse fugir do país.
O meu pai foi levado para o hospital mais próximo. Eu e César seguimos a ambulância.
Mesmo em meio a esse caos, lembrei-me da conversa que precisava ter com César. E então resolvi quebrar o silêncio:
- César, me perdoa.
(Continua)