Congelado. Sentia-me assim vendo da porta do quarto meu namorado montado em outro rapaz. Assistia anestesiado ele comendo aquele passivo que gemia de prazer até que ele percebeu que eu estava ali.
Ele que é moreno claro ficou pálido e saiu de cima do passivo me olhando. O rapaz que estava virado para o outro lado pareceu não entender no primeiro momento o que tinha acontecido e ao se virar e me ver puxou rapidamente um lençol se cobrindo e escorando na cabeceira. Nessa hora reparei no criado mudo ao lado o porta retrato com nossa foto numa viagem que tínhamos feito juntos pra serra.
Namorava o Lucas há quase um ano. Conhecemos em um barzinho LGBT que fui com uns amigos e após algumas trocas de olhares mandei um recado chamando ele pra se sentar com a gente ao que ele aceitou.
Começamos a sair a partir daquele dia e poucos encontros depois eu já estava apaixonado. O sexo era extremamente gostoso e nossa química parecia única. Ele era da minha altura, moreno, peito liso e largo, pernas grossas e com pelos, mão macia e um sorriso que sempre me derretia.
Adorava transar com ele de frente pro espelho só pra ver o contraste da nossa pele, moreno e branco se completavam perfeitamente.
Nem pensava em outros caras, estava mergulhado naquele relacionamento; mas agora eu constatava que a recíproca não era verdadeira.
No dia desse acontecimento, resolvi fazer uma surpresa após sair do serviço e seqüestrar meu namorado pra uma noite de cinema pra comemorar uma promoção que eu tinha recebido. Entrei sem avisar já que eu tinha chave do AP e sabia que aquela hora ele deveria estar provavelmente no banho após academia, queria começar a comemoração no chuveiro mesmo.
Entrei no apartamento e logo escutei uns barulhos de gemidos vindo do quarto. “Não acredito que esse safado está batendo punheta vendo pornô”, pensei comigo mesmo e rindo. A medida que me aproximava do quarto, no entanto, me dei conta de que os gemidos pareciam reais demais, mas nunca imaginei que aquela seria a cena que eu veria ao abrir a porta.
Ver a foto pareceu me acordar do transe e consegui me mover dali, só queria ir pra longe daquela cena, daquela realidade. Escutava Lucas me chamando enquanto tentava vestir a roupa e vir atrás de mim.
Tudo que eu não queria era ser seguido e nem ser visto saindo correndo dali. Ao invés de descer pelo elevador, fui pra área de escadas pro andar de cima.
Fiquei sentado ali e deixei as lágrimas rolarem. Uma mistura de sensações crescia dentro de mim: descrença, mágoa, tristeza, raiva e um sentimento de ter sido feito de idiota.
Desci as escadas e saí pela rua sem rumo, só sabia que não podia ir pra casa daquele jeito...minha mãe ficaria me perguntando o que tinha acontecido e eu não estava com ânimo de disfarçar, ainda por cima era bem provável que o Lucas estivesse lá.
- Claudinha, posso dormir aí hoje – perguntei pra minha amiga de anos
- Dan, o que houve? Que voz é essa? – ela perguntou preocupada.
- Depois eu explico, posso ir?
- É claro, seu bobo...vem logo.
Contei pra ela o que tinha acontecido e desabafei um pouco com minha amiga, que por fim falou que ia matar o Lucas quando visse ele.
Avisei minha mãe que ia dormir fora e ela me perguntou o que tinha acontecido, que o Lucas tinha ido lá atrás de mim...falei que no dia seguinte explicava. Eu claro, já tinha desligado o celular, não estava preparado pra falar nada ainda com ele.
Acordei cedo no outro dia, tomei um bom banho e saí pra encarar a vida. Liguei o celular e tinha umas 50 mensagens do Lucas: pedidos de desculpa, perguntas de onde eu estava, tentativas de explicação. Cada frase que eu lia dele pensava comigo mesmo “cretino, como puder ser tão cego”. Tentei me acalmar e juntar forças pra enfrentar aquilo de vez e mandei uma MSN falando que passaria lá na casa dele de manha.
Uma hora depois estava na frente do apartamento dele, bati na porta e quase instantaneamente ele abriu. Estava com olheiras e eu o afastei quando ele fez menção de se aproximar de mim. Entrei pelo apartamento e vi várias latas de cerveja na mesa da sala.
- Dan, por favor...me desculpa, eu...
- Lucas, agora eu quero falar..depois você fala tá bom? – falei formalmente, deixando ele sentir a frieza que eu sentia.
- Ta bom, amor
- Primeiro, não me chama de amor... amor – falei rindo irônico – quem ama não faz o que você fez...bom mas não é isso que quero falar – falei tentando me recompor pra conversa não desandar de onde eu queria.
- Há quanto tempo você me põe chifre? – perguntei olhando ele bem nos olhos
- Dan, foi só...
- Nem começa que eu não sou trouxa mais, não vou acreditar...anda...há quanto tempo?
- Eu não quero falar disso – Lucas falou tentando se aproximar de mim.
- Não quer conversar, tá bom...então eu vou embora
- Não... espera – ele falou quando me levantei – a primeira vez foi há uns 3-4 meses...não lembro bem
- Como foi?
- Pra que vocÊ quer saber?...
- Como foi, Lucas?- falei sentindo o escorpião gritar dentro de mim, ódio a ponto de me fazer explodir...quer dizer que eu já estava há quatro meses sendo feito de bobo...beijando aquela boca com paixão achando que ele sentia o mesmo.
- Foi com um cara que conheci num bate papo
- Com quantos vocÊ ficou? – falei agora sentindo um pouco assustado
- Mais de cinco – ele respondeu olhando pra baixo
- E esse de ontem? Onde conheceu? Há quanto tempo sai com ele?
- Dan, por favor
- Responde, Lucas
- Conheci na academia...há um mês
- Cretino, transar na nossa cama em frente nosso porta retrato – falei me levantando e indo até o quarto dele.
- Dan, me desculpe – ele falou vindo atrás de mim.
Fui direto ao porta retrato, tirei a foto que estava ali e rasguei ao meio pegando a minha metade.
- Dan, pára...vamos conversar.
- Já sei tudo que eu tinha pra saber - falei abrindo o guarda roupa e tirando algumas peças minhas que ficavam ali e colocando numa bolsa minha que estava lá também.
Eu ia guardando e ele falando pra parar, tentando se aproximar de mim e eu repelindo. Sentia mais ódio agora de saber que eu fiquei tanto tempo vivendo uma ilusão.
- Pronto –falei quando terminei de recolher tudo – Está tudo terminado...agora você trepa com quantos quiser e quando quiser, apesar que eu acho que você não precisa da minha autorização pra isso.
- Dan, por favor...me desculpa...
- Acabou, viva sua vida...eu vou fazer o mesmo e ver se deixo de ser otário de me apegar aos outros.
Saí do apartamento com o rosto erguido, mas por dentro no limite das minhas emoções.
A próxima semana, me dediquei exclusivamente ao meu serviço e a cuidar de mim mesmo. Ainda doía o meu rompimento, mas eu estava decidido. Não queria ficar com ninguém por um tempo, mas tinha uma certeza: não queria mais me apegar a ninguém, ia apenas curtir ao máximo o prazer.