ANGELBOY – “Ontem a noite foi divertido.”
Desperto na manhã de domingo mais cedo que o normal. Quando acordo estranho o quarto por u segundo porém tudo vem a minha cabeça: a bebida, o Patrick que se encontrava deitado ao meu lado na cama, a foda louca de ontem a noite. Uau. Eu realmente fiz aquilo tudo que eu acho que fiz ontem a noite com o meu primo? Uau. Viro para olhar a hora no celular dele e vejo que ainda é 05:00 hrs da manhã. Quando me levanto sinto o meu corpo inteiro em agonia: minha bunda está em chamas, meu pescoço dolorido, minhas pernas tremem quando fico em pé.
-Ai... estou fodido, literalmente. -digo baixinho, sorrindo.
Olho para a cama e vejo a fera com qual tive o sexo mais insano da minha vida. Até mesmo deitado e em paz ele deixa passa um áurea animalesca. Pego o caminho do banheiro, passo direto para o boxe, ligo o chuveiro e deixo a água morna correr pelo meu corpo. Tiro o suor do meu corpo com o sabonete, após me enxugo com a toalha que está no banheiro, acredito que seja dele, e vou andando pelado até o meu quarto. Ele ainda dorme profundamente.
Chegando no quarto, coloco uma roupa e decido sair para uma caminhada: calço o meu tênis de corrida e saio de casa. Coloco o fone de ouvido, dou play no aleatório e começa a tocar “Closer” do Nine Inch Nails. Começando a correr sinto o vento frio da manhã cortando no meu rosto, percebo alguém uns metros a minha frente e chegando mais perto reconheço, acelero o passo e quando chego ao seu lado tiro o fone de ouvido e ele nota minha presença na mesma hora:
-Lucas, o que aconteceu? -O Cássio pergunta exasperado e para de supetão.
-Ué, resolvi dá uma caminhada essa manhã... não haja tão surpreso... -respondi.
-Não é isso Lucas, seu pescoço, está todo marcado com marcas de dedos, está roxo... Você foi agredido por alguém? -ele pergunta com um tom de preocupação clara na voz.
Por algum motivo esqueci total de todo o enforcamento da noite anterior e antes de sair de casa não chequei no espelho.
-Ah, não precisa se preocupar não, ninguém me agrediu.
-Lucas, se alguém fez algo com você, pode confiar em mim...
-Já falei que ninguém me agrediu. -falei chateado. E aliás, eu não preciso de você para me defender, não sou um donzelo indefeso... -Dizendo isso voltei a correr, porém segundos depois ele me alcança e segura o meu braço.
-Lucas, me desculpa, não quis te deixar chateado, só quis que soubesse, se precisar de algo é só chamar... Mas acredito em você, se você diz que nada aconteceu então nada aconteceu. A vida é sua e você não precisa me explicar. -ele fala isso me observando com um olhar carinhoso.
-Ok, desculpas por ter surtado, eu juro que nada de violento aconteceu, não fui machucado, muito pelo contrário, mas também não quero falar sobre isso, não com você, pelo menos.
Por alguma razão, eu não me sentia confortável falando com o Cássio sobre isso, eu não me sentia desconfortável com ninguém, muito menos para falar sobre sexo, mas estranhamente ele era a única pessoa que me fazia sentir assim.
-Podemos voltar a correr? -eu perguntei tentando mudar de assunto. Aposto que consigo chegar na padaria antes de você. -falei com um tom de desafio e comecei a correr.
-Lucas, isso não é justo... -ele grita e começa a correr.
Em pouco tempo ele me alcança, quando se tem pernas do tamanho de um poste as coisas se tornam mais fácies, eu imagino, mas, ainda assim, dou o meu melhor, quando sinto a boca secar já estou bem perto da padaria, acelero o passo e ele tá na minha cola, algo me diz que ele tá tentando me deixar ganhar ou ao menos empatar com ele, é o que acontece, chegamos os dois ao mesmo tempo.
-É, eu ganhei a aposta. -ele fala com um tom vitorioso.
-Lógico que não! Eu que ganhei, ao menos eu que deveria ter ganhado, se você fosse um cavalheiro teria me deixado ganhar.. -falo manhoso.
-Bem, sou cavalheiro o bastante para convidar você, ó querido príncipe, para tomar café da manhã nessa singela padaria. Topa? -ele pergunta me dando a mão.
-Se você pagar, nobre senhor. -digo aceitando a sua mão.
Entramos na padaria e sentamos no balcão, pedimos água e depois eu pedi uma xícara de café e uma fatia de bolo de cenoura, um sonho de doce de leite e fiquei de olho na torta de morango.
-Uou, vai com calma formiguinha. Desse jeito vai ficar diabético quando chegar na metade dos 20. -ele me adverto com um tom de voz divertida.
-Eu amo café da manhã por isso, é a única refeição que é socialmente aceitável você comer bolos e tortas e ninguém julgar. -eu digo tomando um gole da xícara de café.
-Como se você se importasse com o que os outros julgam de você, não é verdade? -ele diz.
-Bom, eu tento... -respondo e nós dois rimos.
Conversamos por um bom tempo sobre tudo: filmes, séries e livros, músicas, o que ele tem achado do bairro, vizinhança, dos outros professores da escola. Ele me pergunta sobre os meus planos para depois da escola e eu digo sobre a minha viagem do ano sabático e ele acha superinteressante, ele pergunta sobre meus amigos da escola e nesse momento entra o Yago, com a mesma expressão de superior de sempre, porém quando ele me vê acena com a cabeça por um segundo e eu o chamo:
-Olá Yago. Bom dia. -eu digo.
-Bom dia Lucas. -ele responde.
-O que faz tão longe de casa? -pergunto, já que essa não era a padaria mais perto da sua casa.
-Ah, eu gosto mais da torta de caramelo daqui do que a de perto de casa. -ele responde e olha para o Cássio.
-Yago, esse é o meu vizinho, o Cássio, ele é novo aqui no bairro, ensina na escola perto da sua casa, aliás.
-Olá Yago. Prazer conhecer você. -o Cássio fala com sua voz grave. É amigo de escola do Lucas?
-É um prazer conhecer você Cássio. -o Yago responde educadamente.
-Eu e o Yago somos mais colegas do quê amigos, não é verdade? -indago ao Yago.
-Eu diria que somos mais parceiros. Você não acha? -ele diz.
-É, você poderia dizer que sim. -falo sorrindo para ele enquanto tomo um gole do café.
-Bom, agora eu tenho que ir comprar a famosa torta e voltar para casa: tenho um longo dia pela frente. -ele diz e se despede.
-Nossa, uma tensão entre vocês dois hein? -pergunta o Cássio com curiosidade. Já aconteceu algum atrito com vocês?
-Atrito é a palavra certa para o que aconteceu comigo e com o Yago. -respondo.
O Cássio me encara por uns segundos, pede licença e vai pagar a conta. Vejo quando o Yago vai embora da padaria e ele acena mais uma vez. Retribuo e noto seu olhar indo para o caixa onde o Cássio estava saindo.
No caminho de volta para casa o Cássio pergunta:
-Você e o Yago já tiveram algum tipo de relacionamento?
-Não um relacionamento, até semanas atrás nós eramos mais inimigos do que parceiros, como ele falou, mas ele ainda é indiferente para mim.
-Isso não respondeu minha pergunta mas tudo ok. -ele fala sorrindo.
-Porque você tá tão interessado para saber? -pergunto.
-Nada ué, apenas que vocês tem a mesma idade, estudam no mesmo colégio, na mesma sala... Só imaginei...
-Imaginou o quê? -quero saber.
-Bem, imaginei que vocês tivessem algo ou sei lá. Vamos mudar de assunto. -ele diz.
-Está interessado no Yago? -eu pergunto com um tom de brincadeira. Eu não culpo você, o babaca é realmente muito bonito, extremamente bonito na verdade, mas é um idiota, se você quer saber.
-Não estou interessado no Yago, de onde você tirou isso aliás? -ele fala assustado.
-Eu tô brincando bobão... -falei gargalhando.
Entrando na rua vejo o senhor Magalhães, mais conhecido como tio Humberto, fazendo suas corridas lendárias, vindo na nossa direção: como sempre, seu grande pacote balançando entre suas pernas, e isso é que deixa suas corridas em um status lendário.
-Bom dia Lucas. -ele diz olhando para mim e enxugando o suor da testa com o braço. Bom dia Caio. -ele fala olhando para cima.
Eu começo a rir e escuto o Cássio corrigindo ele:
-Meu nome é Cássio, senhor Magalhães.
-Oh, me desculpe meu rapaz. -ele fala.
-Bom dia tio Humberto. -eu digo e ele volta a sua atenção para mim.
-Saiu para uma caminhada hoje de manhã? -ele me perguntou. Tenho sentido sua falta nos nossos treinos nas noites de sábado na quadra. Todos os meninos da vizinhança vão, só falta você.
-Tio Humberto, já expliquei ao senhor: estou ficando velho demais para brincar com outros meninos. -respondo a ele batendo os olhos.
-Ah, isso é besteira, você é um dos melhores apanhador de bolas da turma, você faz falta no time. -ele fala sem um pingo de malícia na voz. Agora eu preciso terminar esse circuito. Até mais Lucas, e aparece no próximo sábado. Até mais para você também Carlos.
-É Cássio, senhor Magalhães... - o Cássio começa mas ele já está longe.
Estou rindo e o Cássio fala:
-Ele é seu tio? Não sabia disso.
-Não! -falo rindo mais ainda. Ele não é meu tio, é meu vizinho desde sempre, ele é o responsável pela organização daquele campeonato de queimado, e desde novo pede para as crianças chamarem ele de “tio Humberto”.
-Ah tá, entendi. -ele ri. A protuberância no calção dele é hipnotizador. Ele deveria tentar esconder aquilo.
Não aguento e começo a gargalhar alto na frente de casa, o Cássio começa a rir também, passamos alguns bons minutos rindo daquilo.
-Ai, ai minha barriga... Ele definitivamente deveria checar aquilo porque é realmente enorme, até mesmo sem o calção. -falo sem pensar e sinto o Cássio me encarar.
-Como você sabe disso? -ele me pergunta arqueando uma sobrancelha.
Mas nesse momento a senhora Magalhães sai de casa e pergunta:
-Oh, Lucas, é você. Quis saber onde está o Humberto. Você o viu? -ela pergunta com sua voz fanha.
-Bom dia senhora Magalhães. Vimos sim, ele passou correndo e falou algo sobre precisar terminar o último circuito.
-Ah, muito obrigado querido. -ela responde e tira uma carteira de cigarro e acende um. Olá, você deve ser o novo vizinho. Finalmente tive o prazer de conhecer você... -ela fala com um estranho tom de voz que acredito que seja ela tentando ser sexy.
-Eu mesmo senhora Magalhães.
-Senhora não meu querido, -ela fala como se estivesse ofendida. Senhorita Magalhães mas se você quiser me elogiar pode me chamar de Pérola. -diz soltando uma baforada de fumaça.
-Ok, -eu digo tentando segurar o riso pois a expressão no rosto do Cássio é hilária. Eu preciso voltar para casa. Tenho umas atividades da escola para terminar. Dou tchau ao Cássio que tenta se sair também mas a senhora Magalhães começa a fazer perguntas. Entro dando risadas e escuto passos pela cozinhoquando entro na sala, por um momento me assustei, mas lembro do Patrick e sigo o caminho para a cozinha: ele está apenas de calção, fazendo o que parece ser o café da manhã dele.
-Bom dia. -eu digo.
-Opa, bom dia priminho. -ele fala e continua a fazer a comida. Saiu cedo para caminhar?
-Sim. -respondi sentando na cadeira perto do balcão.
-Aceita um café da manhã também?
-Na verdade, eu já comi algo na padaria, estava caminhando quando encontrei o Cássio, o vizinho. Apostamos corrida até a padaria e ele me ofereceu um café da manhã.
-Ah, entendi... -ele responde e dá um sorrisinho.
Eu sinto algo estranho no ar, estou esperando o momento que ele vai falar sobre a noite de ontem mas esse momento nunca vem. Quer dizer, ele não estava tão bêbado assim, ou estava? Não é possível.
-Ontem a noite foi divertido. -escuto ele dizer.
Finalmente, pensei que tinha sido tudo coisa da minha cabeça.
-Foi sim... Vamos repetir mais vezes. -falei sorrindo.
-É, o negócio é o seguinte: eu raramente fodo duas vezes seguidas com a mesma pessoa, principalmente com de menor, ontem foi luxúria e o tesão que tava me matando, além do mais, eu tinha que te dá uma lição, você fica andando por aí com seus shortinhos e essas pernas grossas, fazendo biquinho e provocando todo mundo com essa bundinha... -ele falou se aproximando.
Quis saber se você era tudo isso mesmo, -chegou mais perto e me colocou em pé. E você é, foi uma delícia ontem a noite, você se provou ser um putinho insaciável, mas isso não pode ser algo regular, você é meu priminho, eu tenho que proteger você e não... -ele olhou para o meu pescoço com roxos e marcas da mão dele. E também estou me mudando para um AP novo esse final de semana. E vou está muito ocupado com o trabalho. Seu papai me deixou uma grande responsabilidade. Mas, ontem a noite foi realmente divertido. Agora me deixa comer esse sanduba que depois eu vou na praça fazer meus exercícios. -ele me dá um tapa na minha bunda, eu pulo surpreso e vou saindo da cozinha.
O que caralho de fora que eu acabei de levar?