Fiquei surpreendido, ao me chamarem na portaria do meu local de trabalho e entregarem aquele pequeno envelope branco. Dentro dele uma passagem de ônibus intermunicipal para uma cidade próxima, mas que eu desconhecia completamente, uma chave e um endereço com instruções tão detalhadas de como chegar, que só poderiam ter sido feitas por alguém que me conhecia o suficiente para saber do meu péssimo senso de orientação. Eu não conhecia sua letra e seu nome não estava no envelope, mas, por um segundo, ao abri-lo, senti o seu cheiro, o mesmo perfume que me entorpecia todas as raras vezes que estive perto da sua pele. Antes de pensar duas vezes, já estava seguindo as orientações traçadas naquele papel.
Nas horas de viagem que se seguiram, sem fazer ideia do que poderia esperar de tudo isso, e tomado por um misto de ansiedade e excitação pela situação desconhecida que se aproximava, várias dúvidas se embaraçavam em minha mente: e se a carta não fosse dEle? Eu estaria seguindo, sozinho, sem que ninguém soubesse do meu paradeiro, para "cair nas mãos" de algum desconhecido, ou mesmo, um dos muitos conhecidos que tentavam, em vão, ter nos braços este meu corpo que só deseja o dEle. Mas, lembrava-me do cheiro que senti ao abrir o pequeno envelope, tão inebriante, tão único, e meu corpo estremecia de desejo enquanto era tomado pela certeza de que estava indo ao seu encontro.
Desci do ônibus procurando seu rosto, em vão. Já era noite, a rodoviária esvaziada da pequena cidade do interior da qual eu só sabia nome, dava a impressão de que eu estava num desses lugares em que a população se recolhe com o sol. Aproximei-me de um funcionário que fazia a limpeza do local. Com seu cigarro de palha na boca e uma vassoura nas mãos, assim que mostrei o endereço, ele gentilmente indicou para onde eu deveria seguir. Em uma cidade tão pequena, ficou claro que eu não teria maiores problemas em encontrar o lugar.
Em pouco mais de 20 minutos de caminhada, em uma rua já afastada da pracinha central da cidade, encontrei, pendurada em um poste, uma placa com o nome da rua que procurava. A essa altura, o coração já saltava pela boca, embora a cabeça tomada pelo pouco juízo que me resta quando estou envolvido em qualquer coisa que se refira a Ele, gritasse com toda a força que eu desse meia-volta e entrasse no primeiro ônibus de volta para casa. Que diabos eu estava fazendo ali? Como me deixei levar desse jeito? Pensava enquanto os olhos seguiam buscando os números das casas, e os pés desobedientes, como todo o resto do meu corpo quando estou junto ao corpo dEle, seguiam rapidamente, no ritmo ofegante da minha respiração, rua adentro.
Ao parar diante do número que eu buscava e que indicava um pequeno casebre de luzes apagadas, a frustração foi inevitável. Nada indicava uma presença humana naquele lugar, mas, pelo adiantado da hora, só me restava entrar, com o corpo em chamas, na casa fria. A chave que veio dentro do envelope anônimo entrou fácil na fechadura e destrancou a porta que, ao abrir, rangeu.