Os guardas do castelo cercaram o meu tio e o prenderam.
- René, pode baixar a espada. Obrigado por proteger-me. Você tem a minha gratidão.
René baixou a espada e curvou-se diante de mim.
- Vida longa ao nosso Rei! Vida longa ao nosso Príncipe! Devo-lhe a vida do meu irmão. Vamos ver a Princesa Mily, Alteza Real?
Minha tia ao ver o marido preso
veio ao encontro dele.
- François, tanto que eu pedi-te para não fazer nada contra sua família. Você não ouviu-me e agora será preso e julgado por traição.
- Sobre o que falas, louca? Você mesmo arquitetou o rapto da minha sobrinha. Você é tão culpada quanto eu.
Ao ouvir meu tio acusando a própria esposa, não tive outra escolha a não ser mandar prende-la.
- Guardas, levem a Princesa Catarina também. Coloquem-na numa parte separada do Príncipe.
- Sim, Alteza Real.
A Princesa Catarina também foi presa e levada com o Príncipe François.
- Bernard, desculpe-me mas não tive outra alternativa.
- Você fez o que é certo.
Lágrimas começaram a rolar no rosto do Bernard. Ele me abraçou e depois foi embora consolado por Merísia.
- Quero ver minha irmã, René.
- Sim, Alteza Real. Venha comigo.
Fui ao estábulo com René. Alguns nobres queriam saber como deu-se a prisão dos meus tios, mas eu estava sem tempo para explicar-lhes o problema.
Seguimos por dentro do Castelo até a casa do René, uma construção modesta muito aconchegante próxima ao estábulo.
A Mily estava deitada no sofá e dormia tranquilamente. Beijei-a na testa e deixei-a descansar.
- Conte-me como tudo aconteceu. Onde minha irmã estava? Com quem? - Falei sentando-me numa poltrona.
- Eu fiquei vigiando sua irmã quando Vossa Alteza partiu. Ela estava brincando com a Princesa Merísia, mas a Princesa Catarina apareceu e pediu para a Princesa Merísia fazer alguma coisa. Em seguida, vi quando a Princesa deu uma ordem aos guardas e levou a Princesa Mily até perto da reserva. Dois homens aguardavam-na e ela foi levada por eles. A Princesa Catarina entrou como se não houvesse feito nada. Quando a Princesa Merísia voltou a Mily já havia sumido, e eu levei dois guardas comigo e conseguimos resgatar Sua Alteza Real. Ela ficou muito assustada, mas conseguimos fazê-la dormir.
- Nossa, René, eu nem sei como posso retribuir sua lealdade e amizade. Você salvou minha irmãzinha do perigo. Meus pais jamais perdoariam-me caso algo acontecesse. Muito obrigado, meu amigo.
- Alteza, o senhor não precisa agradecer-me. Meu irmão também foi salvo pelo senhor. Eu terei uma dívida de gratidão para sempre. Eu também gosto muito do senhor. É uma honra poder servir-lhe.
René pegou nas minhas mãos de uma maneira que deixou-me envergonhado.
Nós continuamos conversando sobre como foi o resgate da Mily e quais seriam os próximos passos após a prisão dos meus tios. Enquanto conversávamos, a Mily acordou.
- Hugo, uns homens maus levaram-me no cavalo, mas o René e os guardas brigaram com eles.
- Eu sei, Mily. Eu estou aqui e não vou deixar nada de mal te acontecer.
Abracei a Mily e levei-a nos braços para o castelo. A Karin, babá da minha irmã, deu-lhe um banho, e eu coloquei-a na cama e fiquei fazendo carinho nela até que dormisse de novo.
- Karin, olhe-a para mim. Preciso conversar com o Primeiro-Ministro. Se precisar de alguma coisa, peça para o Johan chamar-me no Gabinete.
- Sim, Alteza Real. Cuidarei da Mily.
Saí do quarto da Mily e fui em direção ao Gabinete Real.
- Alteza Real, perdoe-me interromper, mas o Príncipe Bernard deseja vê-lo em seus aposentos.
- Sirva algo ao Primeiro-Ministro, Johan, e diga-lhe que logo estarei indo ao seu encontro.
- Com sua licença. - curvou-se e saiu.
Fui aos meus aposentos e encontrei o Bernard sentado na minha cama.
- Pediu para falar comigo, meu amor. - falei fechando a porta.
- Sim, meu Príncipe, nós precisamos conversar. Quero desculpar-me pelos meus pais. Infelizmente eu não sabia de tudo isso. Como fui cego.
Ajoelhei-me entre as pernas do Bernard e peguei em suas mãos.
- Você não tem culpa pelo o que eles fizeram. Nem eu acredito que o tio François pudesse ser capaz de trair o próprio irmão, a própria família. Saiba que nunca desconfiaria de você. Independente do que aconteceu, eu te amo e sei quem você é. O homem da minha vida e que jamais foi ambicioso.
- Estou triste pelos meus pais, sei que isso pode representar a morte deles, mas você fez o certo. Eu quase apontei a espada para o meu pai também. Ele é meu pai, mas você é o que tenho de mais precioso.
- Se você quiser, quando terminar de conversar com o Conde, nós podemos cavalgar um pouco, irmos até os vinhedos. Isso se estiveres livre.
- Iremos. Passe o perfume que eu gosto. Nós iremos nos amar em meio as videiras.
Beijei o Bernard e fui até o Gabinete.
- Sua Alteza Real - curvou-se -, espero não estar interrompendo nada. Soube que a Princesa Mily já está segura.
- Não interrompe nada, Primeiro-Ministro. Minha irmã está dormindo tranquilamente. Eu estava conversando com meu primo sobre a prisão dos pais.
- É sobre isso que vim falar, Alteza Real.
- Sente-se. Fique à vontade.
- Vim dizer pessoalmente ao senhor que consegui reverter o anúncio feito ao Parlamento. O Príncipe François fez tudo de caso pensado. Foi um plano muito bem arquitetado, mas que foi descoberto a tempo. Como Conselheiro direto da Coroa, aconselho que Vossa Alteza dê uma condecoração ao seu professor de treino e montaria e chefe do estábulo. Ele seria um excelente Chefe da Guarda Real.
- Tem razão, Primeiro-Ministro. Acredito que o meu pai apoiará minha decisão. Mas ainda aguardarei o seu retorno para fazê-lo.
- O retorno de Suas Majestades será breve. Fico feliz que tenha gostado da minha sugestão.
- Teremos mais alguma coisa, Primeiro-Ministro?
- Sim, Alteza Real. Trouxe uma Lei sobre impostos para sua apreciação e sanção. O senhor pode ficar a vontade para estudá-la e vetar qualquer trecho ou sancionar na íntegra. Qualquer dúvida que Vossa Alteza tiver, pode contar com minha ajuda. Se me dar licença, preciso ir.
- Claro, Primeiro-Ministro.
- Até outra hora, Alteza Real. - curvou-se, apertou minha mão e foi embora.
Convidei o Bernard para cavalgar, mas precisaria conversar com a Selene. Pedi a os dois melhores cavaleiros do castelo para buscá-la em Gartel.
- Procurem por ela e peçam para vir ao meu encontro. Deixarei Johan avisado.
- Com sua licença, Alteza Real. - curvaram-se e foram embora.
Na prisão...
- Soube que o meu irmão fará uma festa em comemoração ao casamento do meu sobrinho desgraçado. Eu preciso que você deixe tudo pronto porque o espião de Honzel já sabe sobre minha prisão.
- Sim, Alteza.
O guarda foi embora.
- Sairei desse lugar como prisioneiro e voltarei como Rei.
Nos aposentos do Príncipe...
- Johan, informe ao meu primo que levarei um pouco mais de tempo para estar pronto. Diga também que estarei esperando uma visita.
Johan foi avisar ao Bernard.
No estábulo...
- O Lírico e o Desbravador já estão prontos. Os Príncipes sairão logo.
No castelo...
Após um período maior que o esperado, Selene chegou ao castelo.
- Acompanhe-me até os aposentos do Príncipe Hugo, senhora.
- Sim.
Selene seguiu Johan até chegarem ao meu quarto.
- Alteza Real, a sua visita chegou.
- Obrigado, Johan.
- Com licença, senhor. - curvou-se e saiu.
- Alteza, fiquei feliz com seu chamado. Algo preocupa-me?
- Selene, quero que fique no castelo como minha convidada.
- Não é certo, Alteza Real. Sou uma simples camponesa. Uma mulher como eu, que faz o que eu faço, não é bem vista na Corte. Não tenho dinheiro, não tenho a simpatia dos religiosos. O futuro sempre causa medo, e eu sou vista como uma mulher do mal.
- Não importa, eu sou o Príncipe. Ninguém vai ousar questionar-me.
- Alteza, eu não poderei ficar, mas já sei o que aconteceu. Seu tio tentou contra sua vida. E isso não é tudo: o luto chegará ao castelo. O que separa-te do teu grande amor irá.
- Selene, você poderia falar-me com mais clareza?
- Isso é tudo o que vejo: grandes bandeiras negras no castelo. Vejo um homem despedindo-se de uma mulher. Esse homem está na sua frente. Vejo vocês dois juntos.
- Selene, eu estou com medo. Luto? Meu Deus! O que mais falta acontecer aqui?
- Meu jovem Príncipe, agora preciso partir. Tenho minhas crianças para alimentar.
- Crianças? Você tem filhos?
- São como se fossem. Eu cuido de algumas crianças que foram abandonadas nas ruas de Gartel e região.
- Pedirei aos guardas que levem alguns alimentos da nossa dispensa para você cuidar deles. Muito obrigado por ter vindo. Em breve farei-te uma visita.
- Obrigado, Alteza Real. - curvou-se e foi embora.
Pedi a Johan que chamasse Bernard e fomos cavalgar. Em pouco tempo estávamos nos vinhedos reais.
Os vinhedos reais ficavam um pouco longe do castelo. Eram enormes e produtivos. O vinho produzido em Austo era exportado para vários países do mundo.
- Venha, meu Príncipe.
Bernard ajudou-me a descer do cavalo.
- Bernard, não precisava. Não sou criança e nem nenhuma donzela.
- Eu sei, meu Príncipe, mas gosto de cuidar de você, de poder estar sempre servindo-te. Eu te amo.
Eu e Bernard nos beijamos, mas fomos interrompidos por uma voz.
- Merísia, o que faz aqui? - falou separando-se de mim.
- Eu que deveria perguntar isso a vocês. Eu segui-os para ver onde vocês iriam, o que vocês tanto faziam juntos. Pensei até que estivesse levando o seu primo para um prostíbulo. Mas vejo que fui tola, enganada esse tempo todo. Você e seu primo são dois imorais.
- Nós podemos explicar. - falei.
- Não, Alteza Real, o que vi aqui não tem explicação. É muito claro. Contarei a todos o que acontece nas surdinas do castelo. Isso é um ultraje à Coroa.
Merísia saiu correndo em direção a uma das saídas dos vinhedos. Bernard segui-a para tentar acalmá-la e impedir um escândalo no Reino. Meu pai jamais suportaria.
Próxima a saída estavam uma carroça com algumas ferramentas pontiagudas. Enquanto corria desesperada, Merísia tropeçou e foi de encontro a uma das ferramentas, que perfurou-a do lado direito do abdômen.
Bernard jogou-se no chão em desespero. Merísia estava morta.
Continua...
Mais um capítulo para vocês. Gostaram da Selene? E da morte da Merísia? Em breve surgirão mais personagens que movimentarão a estória.