Mas o melhor de tudo, são essas duas aqui - disse Thomas, puxando duas chaves de cores e diferentes tamanhos - A chave da sala da diretora Carolina e a chave da porta do terraço. Eu subi lá, e ninguém vai lá a tempos, a maçaneta tava até enferrujada. É um lugar muito foda, que poderia ser extremamente bem aproveitado por nós.
Caralho, que foda isso…. Mas sério, como tu conseguiu? - perguntou o Matt.
Um mágico nunca revela seus truques….
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COISAS DA ADOLESCÊNCIA
CAPÍTULO IV – O INTERVALO
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Para de frescura, conta aí - falei.
Um dia desses, quem sabe.
Falando em aproveitar coisas… que tal a gente aproveitar bem esse primeiro dia de aula do Juliano coordenador? - disse Ronan, sarcasticamente, abrindo a mochila e mostrando dois rojões enormes.
Hahahahahaua bora, ele merece - falei.
Bora estourar, e eu sei aonde - Thomas comentou, seus olhos brilhando de excitação - Atrás da escola, no pátio c, tem aquela passagem de carros que ta sempre com os portões trancados ta ligado? Que vai pra casa das irmãs? Tem dois contêineres de lixo, que vai o despejo da cozinha. É tri fechado ali, ninguém tem como nos ver, e é relativamente perto da sala da coordenação, sepa o bosta do juju leva um cagaço ahhahauau.
Cara, eu tenho um rolo de cordão de tecido dum trabalho do ano passado ainda na mochila, dá pra usar pra aumentar a distância do pavio - falei - só dizer quando e fazemos.
No intervalo? Fecha a mochila aí Ronan, a Roberta ta vindo - disse Matt.
Iai meninos - disse a Roberta, do segundo ano, se agarrando no Thomas, após nós concordarmos rapidamente com o plano - não sei se o Thomas avisou vocês, mas eu vou dar uma festa lá em casa no fim de semana, meus pais viajaram e tal…. Então ba, só colarem lá.
Baa eu pilho! - disse o Ronan, entusiasmado, enquanto os alunos começavam a se dirigir às salas de aula - Rafa, Matt?
A, não sei…. - respondi - não ando muito a fim de sair….
Vamo meu, vai ser legal… - falou Matt, mesmo com uma expressão de compreensão
Vou pensar.
Mas eu não queria nem pensar. Eu só não queria ir. Além da tortura de sempre de ser obrigado a pegar minas (o Matt sabia que eu odiava, mas queria mesmo assim que eu fosse), ia ter que ver ele e o Tom naquela disputa idiota deles de quem pega mais…. E eu realmente não estava afim de ver o Matt com outra pessoa.
A cara, poxa, primeira festa do ano, temos que ir os quatro, vai ser foda! - falou o Ronan, enquanto começávamos a subir as escadas para a sala.
EI, vocês quatro aí, já para a minha sala! - gritou Juliano, do hall de entrada.
O Thomas gelou no momento em que ele ouviu o Juliano chamar, levando instintivamente a mão até o seu bolso, onde ele guardara o molho de chaves da escola.
A gente não fez nada! - respondi na hora.
Tá se sentindo culpado? Só venham até a minha sala - ele se virou e entrou na porta que dava diretamente no hall.
Nos entreolhamos com uma cara de dúvida e medo. Não tinha como ele saber dos rojões, nem das chaves…. Acho. Matt foi na frente, descendo as escadas de volta, enquanto o Thomas guardava o molho de volta na mochila. Ao entrarmos na sala, vimos a diretora Carolina sentada de frente para a porta, com o Juliano de pé as suas costas. Haviam quatro cadeiras ali, onde normalmente só haviam duas. Isso já tava planejado.
Olá meninos, bom dia, sentem-se por favor - disse a diretora.
“Então, vocês devem estar se perguntando o porquê vocês foram chamados aqui”, continuou ela, assim que nos sentamos. “Eu queria ter uma conversa com vocês quatro antes de largar, definitivamente, esta função. Vocês finalmente conseguiram estudar juntos na mesma sala, após a reprovação dos senhores Thomas e Matheus. Isso pode ter sido motivo de comemoração pra vocês, mas para nós não foi nada além de preocupação. Colocar vocês juntos na mesma sala é o mesmo que dar os controles de uma bomba atômica á animais de zoológico. É um risco em potencial que nenhum dos seus professores, e nem eu mesma queria correr. Se em turmas separadas vocês já causam o caos…. Foram estudadas diversas formas para tentar evitar isso, desde separar o primeiro ano em duas turmas, o que se tornou impraticável, devido ao número pequeno de alunos, até não aceitar a rematrícula de vocês.”
Essa última defendida por mim, inclusive - disse Juliano.
Claro que foi - respondi - só podia.
“Enfim meninos - continuou a diretora, evitando discussões - acabou por ser decidido que a turma de vocês começará o ano com um espelho de classe definido, com vocês separados em cada canto da sala. Também ficou decidido que qualquer delito causado por vocês será punido diretamente com uma suspensão, sem advertências. Por favor meninos, não deixem a situação chegar a este ponto. Gosto muito de vocês. Agora, vão para a sala…. Estudem, por favor….”
Saímos da sala da coordenação, mas só fomos falar alguma coisa dois andares acima.
Certo que isso aí é coisa do Juliano…. Disse o Matt - E agora, sem a diretora Carolina, estamos ferrados. Certeza que ele afastou ela de propósito pra ferrar a gente...
Calma aí, senhor importância - disse o Thomas - ela foi afastada porque está cansada e quis ficar com a parte boa só, que não estressa ela. Eu só to puto que eu não sabia disso do Juliano antes. Muito puto. A gente podia ter feito algo pra impedir…
Como que tu iria saber disso antes??? - perguntei - Se tinha alguém que poderia saber disso antes, era eu.
Tu não é o único que tem informações da escola fora daqui…
Como assim?
Não te interessa - respondeu Thomas, depois de um momento de silêncio, ao abrir a porta da sala.
>>>>POV MATT<<<<
Ao entrarmos na sala, vimos quatro classes vazias, uma em cada canto… Nos olhamos com tristeza.
Olá, vocês devem ser Thomas, Rafael, Matheus e Ronan, correto? Eu sou Rosa, a nova professor de Matemática de vocês… Vocês estão atrasados….
Aposto que tavam fumando ou quebrando alguma coisa por aí - falou Pedro, em voz alta, de uma das classes da frente.
Aposto que tu não consegue ficar uma aula inteira sem ter essa cara de fracassado… ôpa, já perdeu! - respondi.
Pedro ficou vermelho de raiva, enquanto a turma toda dava gargalhadas dele. Pedro era o cara mais inútil que eu já conhecera. Ele tinha muita inveja da gente.
Ei ei, estamos começando o ano agora, não quero brigar com ninguém! - respondeu Rosa. ”Meninos, vão para os seus lugares! Juliano já me avisou da situação de vocês, então, Matheus e Thomas, aqui na frente… Thomas, você fica na parede da porta, o Matheus na da janela, Ronan no fundo na janela e Rafael no fundo na da porta, isso.”
Nos dirigimos as nossas classes. Passei ignorando o sorriso de deboche da Isadora, ex-namorada do Ronan e melhor amiga do Pedro (que foi quem fez eles terminarem, inventando que o Ronan a traiu em uma festa) e fui me sentar em meu lugar, ao lado do Pedro (que ostentava o mesmo sorriso na sua boca deformada pela cicatriz), na classe da janela.
Passei boa parte da manhã conversando com a Clara, minha melhor amiga, que sentava atrás de mim, sobre a festa da Roberta e tirando sarro do Pedro toda vez que ele fazia algum comentário ou piadinha imbecil sobre a aula, interrompendo a explicação dos professores. O pior dessa distribuição dos lugares não era sentar do lado da pessoa mais insuportável da sala, nem sentar longe do Rafa ou do Thomas mas, com certeza, sentar longe do Ronan. Tava foda de ficar no mesmo ambiente que ele sem nem mesmo poder vê-lo, já que ele sentava na mesma fileira que eu, fora do meu campo de visão.
O professor de história nos liberou para o intervalo alguns minutos antes do sinal. Fui direto pro fim da minha fila, 6 classes atrás. O que eu não daria pra poder beijar aquela boca carnuda?
E aí, como vamos fazer? - perguntei para o Ronan e para o Rafa (que chegou até a classe antes de mim), reprimindo meus sentimentos.
Coloca um rojão no seu bolso, eu levo o outro. O Rafa leva o cordão.
Mas precisaríamos de álcool pro cordão….
Deixa que eu pego, no laboratório - disse Thomas, se aproximando.
Bora então, nos encontramos lá embaixo.
Descemos correndo as escadas, passamos as portas do pátio A e fomos para o C, onde ficava o ginásio e as salas do turno infantil. Não demorou 3 minutos, e o Thomas já aparecia pelas portas do corredor com um volume nas calças.
Nossa, que pauzão hein? Disse o Rafa, mordendo o lábio.
Gostou é? Vamo ali atrás que eu te mostro ele.
Demos gargalhadas e fomos para os portões. Thomas destrancou e puxou o litro de álcool de dentro das calças. Mergulhamos o cordão no álcool, demos um nó atando o cordão e o pavio dos rojões, colocamos dentro dos contêineres e saímos, desenrolando o cordão conforme andávamos, trancando os portões no processo. Ao chegarmos nas portas do pátio, Rafa puxou o isqueiro do bolso e o riscou.
Posso fazer as honras, senhores?
Claro! Em homenagem ao teu irmãozão lindo - respondi.
Rafa acendeu o cordão. Pela distância, tínhamos um tempinho antes dos rojões estourarem pra fugirmos. Nos viramos para correr e Ronan para, de repente, apontando.
Fudeu galera.
Olhamos diretamente pra onde o Ronan apontava. Um brilho de reflexo do sol. Uma pessoa agachada. Pedro nos filmava com a câmera de seu celular.
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Fala galera, estou retomando o conto, depois de meses de pausa devido a faculdade hauahauaua. Pretendo terminá-lo desta vez. Dúvidas e sugestões nos comentários e no email matt.casacontos@gmail.com.
Abraços!