Um Garoto de Sorte 1

Um conto erótico de Jades
Categoria: Homossexual
Contém 2499 palavras
Data: 03/12/2017 09:24:45

Eu nunca fui organizado, mas para ler as mensagens do meu trabalho “extra” estabeleci um horário padrão: onze e meia da manhã. Todo dia, assim que saía do estágio, pegava o celular para ver o que tinha, na rua mesmo, antes de ir almoçar. Comecei com isso quando precisei complementar a minha renda com um trabalho que a família e amigos menos chegados não devem saber. Não que eu corra riscos de ser preso, nada disso, mas por moralismos, sabe, essas coisas. Mas eu preciso me manter na cidade, estudar, viver e pagar as contas. Um amigo me deu a ideia, analisei com cuidado e fiz o de praxe, anúncio, fotos e tal. Não estava exatamente passando fome na ocasião, então eu dizia que me daria ao luxo de recusar clientes que não agradassem, mas me disseram que isso não ia durar muito. Enfim...

Com uma semana na atividade eu tinha feito três programas, foi fácil, segui umas dicas. Um carinha magro, anêmico, reclamão e casado, um cara gordinho, religioso e casado, e um cara grandão, desses de academia que não disse uma palavra durante duas horas, não olhou pra mim, não quis muito contato, mas o problema era dele. Cobrei trezentos reais cada, meu amigo Tico achava que eu poderia cobrar mais, afinal sou bonitão, 22 anos, versátil e bem equipado, digamos assim. A procura é grande, ele disse, eu ia já subir o valor para quinhentos quando me dei conta de que pelo segundo dia seguido não tinha nenhuma mensagem pedindo o serviço, só mensagens inúteis e piegas, por isso ponderei e acabei deixando o valor como estava.

Tinha pouco mais de um mês que eu tava estagiando com remuneração numa construtora, afinal também faço engenharia civil. O salário é aquele que mal paga o valor da quitinete, mas é bom para manter a fachada, a família sempre quer saber como ando me virando e aí eu falo que trabalho na construtora. Mal sabem eles! Por que é academia, roupas bacanas (poucas, na verdade), um celular novo comprado numa promoção, comida saudável, o custo da moradia, a faculdade que pago quarenta por cento e por aí vai. E ainda fui reprovado na seleção para manequim no shopping, reprovado na seleção de modelos de uma agência e prestes a ser reprovado no semestre da faculdade também. Por isso não me senti errado quando aceitei a sugestão de um colega da academia que vivia apenas de programas. Apenas me orientou a não usar drogas e a ficar esperto com clientes excêntricos que podiam se tornar perigosos. Os horários eram flexíveis, conforme a escolha do cliente e a minha agenda. Era depois da aula, um durante a aula, que faltei, obviamente e outro durante a tarde, quatorze horas, com sol quente e tudo mais.

Enquanto almoçava eu conferi as mensagens novamente. Nada de novo, nada de importante. Eu precisava de mais uns três programinhas pra pagar a fatura do cartão e poder sair um pouco, já que não tava rolando por causa do orçamento apertado. Mas ao constatar mais uma mensagem inútil, desanimei e fui dormir. Não fui à academia, tinha acabado o suplemento, de forma que enrolei até a hora de sair pra faculdade, bastante aborrecido. A mochila estava rasgando a alça, pra piorar, era uma porcaria chinesa mesmo.

A vantagem de dormir cedo é estar bem descansado pela manhã. Saí com disposição para a construtora, que por sorte ficava perto e me evitava o gasto e o aborrecimento do ônibus. Cheguei antes, cumprimentei o pessoal, senti os olhares da mulherada, enfim, um dia normal. O legal de ser estagiário é a possibilidade de aprender novas funções. Em pouco tempo na empresa eu já fazia o melhor café, atendia ao telefone, estacionava o carro da gerente e claro, fazia a minha função que era a mais variada possível. Foram três meses desempregado, então eu não tinha do que reclamar. A gerente gostava de mim, uma mulher mais velha que me cobrava o serviço muito bem feito, mas me dava dicas preciosas que não dava aos outros novatos. As meninas então, eu tinha até pena delas, mas não podia fazer nada.

Nesse dia em especial, uma sexta-feira, teve uma movimentação diferente, todos estavam calados e tensos. Arquivos foram arrumados, pastas foram inspecionadas, a gerente estava com os nervos à flor da pele. Uma das corretoras, a mais nova na empresa, saiu do banheiro com os olhos vermelhos, a recepcionista foi chamada à gerência e entrou de cabeça baixa. A coisa não estava boa naquele dia e eu preferi ficar quieto na minha, fiz o melhor café que eu poderia e saí dez minutos depois do horário. Antes de sair ainda pude ouvir uma voz calma, porém sarcástica debatendo com as duas moças que na certa estavam sendo despedidas. Era uma voz de homem e ouvi da auxiliar de serviços gerais que era o patrão, um homem que só aparecia para resolver problemas graves ou em confraternizações de fim de ano. Como Vera, a gerente, era o seu braço direito naquela filial, ele só vinha nessas ocasiões e por isso eu nunca o tinha visto, nem comido, só ouvido falar. De qualquer forma, já tinha vencido o meu horário e eu fui embora pensativo.

Distraidamente olhei as mensagens e não tinha nada, pra variar. Quando sentei para almoçar meia hora depois, vi que tinha mensagem recém-chegada, olhei e era de um cara que dizia querer me fazer uma proposta diferente. Sem criar muita expectativa, ignorei e mandei a resposta usual — preço, tempo, proteção e tipo de local. Ele me ligou alguns segundos depois que enviei a mensagem.

— Vi suas fotos e tive o prazer de observa-lo ao vivo. Estou interessado.

— Que bom! — nem dei bola pra conversa do “ao vivo”, as minhas fotos da página não mostravam o rosto — O que deseja, especificamente?

— Quarenta e oito horas com você.

— Nossa, e o que faremos nesse tempo todo?

— Das dezenove horas de hoje às dezenove horas do domingo. Você não estará ocupado, já estou sabendo.

Um perseguidor? Era excitante, mas a prudência vinha em primeiro lugar.

— Esse não é o meu programa normal.

— Cinco mil...

Me calei para processar a informação, quase tossi. Ele continuou.

— ... em dinheiro na sua mão.

— Me dê mais detalhes então sobre o que gostaria de fazer.

— Quero companhia para o fim de semana. Conversar, beijar na boca e você sabe o resto...

Ele riu, a voz dele era suave e sensual. Embora a imaginação me levasse a pensar num cara gostoso por causa da voz, a consciência me dizia que devia ser um maluco homicida ou um cara bem fora dos padrões.

— É muito tempo. Onde seria?

— Na minha residência, endereço conhecido, não há o que temer. Está com medo?

— Não, não. Mas estou achando o programa longo demais...

— Quer mais dinheiro?

Nem era em dinheiro que eu estava pensando, mas já que ele mencionou o detalhe...

— Ora...

— Se você me agradar, pago mais, muito mais.

— Você não disse o que pretende fazer em quarenta e oito horas. Como posso te agradar?

Deitei no sofá-cama e fiquei olhando para o teto.

— Me faça companhia, apenas isso. Mas tem um detalhe importante.

— Sim? — sabia!

— Na sua página você diz que é versátil, mas preferencialmente ativo. Só que comigo será o que eu quiser, na hora que eu quiser, entendeu?

— Estou entendendo. Mas...

— Cinco mil e mais bônus desempenho, a gente chega facilmente nos dez mil. Dois dias inteiros à minha disposição. Se alguém te fizer uma proposta melhor, me avisa que eu cubro, mas eu duvido que façam. Quero você pra mim esse fim de semana. Temos um acordo?

O valor era bem tentador, mas alguma coisa não estava me cheirando bem. Pelo jeito que ele falava, me dava a impressão de ser um dos meus professores. A voz e a coisa com as palavras, mas por outro lado era pouco provável que algum professor universitário me fizesse uma proposta tão cara. Se fosse seria um constrangimento, embora eu ainda pudesse lucrar, enfim. Saí dos devaneios, o desconhecido que dizia me conhecer estava esperando pacientemente.

— Vou querer informações extras, você sabe, segurança.

— Compreensível. Vai deixar um amigo avisado para chamar a polícia caso você não dê notícia na noite de domingo?

— Sim, sim... — era uma boa ideia — E mais detalhes sobre o que você quer durante o programa, não vou topar qualquer coisa. E a garantia de que eu vou poder sair caso alguma coisa não saia como o planejado.

Ele riu descontraído.

— Tudo garantido! Te busco às dezoito e quarenta em frente ao seu prédio ou na praça próxima, se preferir.

— Dezenove horas.

— Dezenove horas aqui na minha casa, antes disso não conta. São vinte minutos de viagem.

— Tudo bem.

Era estranho negociar assim, um cliente exigente, mas essas coisas acontecem, Tico me disse. Ele disse que um cara queria apenas usar drogas com ele no motel, outro queria ficar conversando depois de uma foda de dez minutos, outros eram violentos e eu devia ficar esperto quanto a isso. Mas eu estava interessado no misterioso das quarenta e oito horas. Ele me passou alguns detalhes, mas nada de excêntrico ou anormal.

Nem preciso dizer que passei o resto do dia ansioso, não é? Não fui malhar, fiquei em casa pra cuidar da minha beleza e higiene, de forma que quando deu dezoito e trinta eu saí para a praça. Um carro da marca Jeep chegou dois minutos depois e estacionou logo à frente na rua. Por alguma razão eu deduzi que fosse o cliente, mas fui andando devagar. A porta do carona se abriu antes que eu me aproximasse do motorista e eu entrei com certo receio.

— Oi — disse um homem inacreditavelmente gato. A voz da ligação era ainda melhor ao vivo.

— Oi — respondi com um sorriso safado que treinei no espelho. Estava interessado num tal de bônus.

— Você é bem bonito mesmo.

Ele passou a mão na minha perna devagar, me olhando.

— Achei que você já tivesse me visto pessoalmente...

— Eu já vi sim, mas nunca tinha reparado bem. Se eu soubesse que estava para alugar...

Ele sorriu muito safado e eu me calei. Ele ligou o carro e logo entrou no trânsito, sempre com mão direita em mim, vantagem dos carros automáticos. Nos sinais ele aproveitava para me bulinar.

— Alexandre, não é?

— Sim.

— Xandy Dotado, uau!

Ele queria papo, então entrei na dele.

— Você vai gostar, eu garanto.

— Isso eu vou ver depois. O que quer comer essa noite?

— Oi? — não entendi.

— São dois dias gatinho, você terá que comer, beber, dormir e usar o banheiro.

— Ah sim. Você escolhe.

— Não, não. Se fosse pra fazer tudo eu ficava sozinho. Vai, escolhe e eu peço logo, demora a ficar pronto. Aqui estão alguns cardápios dos meus locais favoritos.

Ele me entregou uns panfletos plastificados, peguei desinteressado. Sem me ater muito nos detalhes, marquei um item num catálogo muito bonito. Era um filé grelhado com arroz, legumes na manteiga e salada. Só de ver a foto do prato senti a boca salivar.

— Está com fome? — ele perguntou sorrindo.

— A foto me atraiu.

— Entendo. Também gosto de comida simples.

Não respondi. Fiquei pensando se filé grelhado era comida simples.

— Tudo bem se você quiser beber refrigerante, mas tenho um bom vinho.

— Prefiro não beber.

Não conversamos mais no caminho, ele pegou o celular e ligou para o tal restaurante. Ouvi sem prestar atenção e olhei a rua. Casas imensas dos dois lados, alta segurança, pouco movimento, o bairro dos ricos. Quando guardou o aparelho ele voltou a alisar a minha perna.

De repente um portão começou a abrir e entramos numa garagem. O homem saiu do carro e vi que ele vestia roupas escuras, calça preta a camisa cinza de malha que lhe ficava bem nos braços magros, mas não esqueléticos. Saí e olhei em volta, o jardim era pequeno e bem cuidado, a casa era branca, quadrada, cheia de vidros verdes e iluminação indireta. Ele abriu uma porta no interior da garagem que devia ser uma entrada íntima, e esperou que eu o acompanhasse. Me senti estranho naquele ambiente imenso e bem decorado. Olhei para trás quando ouvi um clique de fechadura, ele sorriu e se aproximou.

— Aqui vai ser só amorzinho, relaxa, eu não curto essa coisa de bater não. Eu tranco tudo por segurança, você sabe.

Ia responder, mas ele pegou meus dois braços, me puxando para si. Ele tinha um rosto bonito, de traços marcantes, não era jovem, mas também não tinha mais de quarenta, com certeza. Me deu um selinho, depois foi até o sofá e sentou, eu fui me aproximando.... Ele ficou me olhando, me apreciando e mordendo os lábios.

— Você me agrada muito, sabia? Novinho metido a garanhão.

— Ah é? Que bom...

Ele estendeu a mão com a palma virada para cima, dei a minha a ele, que foi me puxando bem devagar, com os olhos nos meus. Os dele eram escuros e brilhantes.

— Vem, senta aqui — ele bateu nas próprias coxas, eu fui. Aquilo era esquisito para quem estava acostumado a comandar, nunca fui mansinho desse jeito nem nas paqueras, nem no programas recém-começados. Mas era o trabalho, né.

— Aqui? — passei a mão na perna dele de forma safada. Ele riu e a tirou, me fez sentar de frente para ele.

— Não se apresse, são dezenove e dois. Há muito tempo ainda.

— Você que manda — mordi a orelha dele, que passou as duas mãos nos meus braços.

— Exatamente, eu comando. Se você não curtir, pode ir embora.

Me afastei e o olhei nos olhos.

— Ah, é?

— Sem dinheiro.

— O proporcional ao tempo que eu permanecer. Nós combinamos.

Ele aproximou o rosto do meu, senti seu hálito quente.

— Mas sem bônus.

— Tanto para mim quanto para você.

Ele riu e tocou os lábios nos meus, bem suaves. Depois começou um beijo lento, explorando a minha boca devagar, as mãos não se moviam, uma estava na minha perna, outra nas minhas costas, estavam quentes, mas paradas. Nos beijamos longamente, ele parado na mesma posição e me segurando, o clima esquentou rapidamente. Atrevido, eu desci minha boca pelo pescoço dele, que gemeu alto e de olhos fechados, as duas mãos me apertaram. Lambi o lóbulo da orelha e a curva do pescoço e senti que os pelos dos braços dele se eriçaram, assim como a voz que saía rouca nos gemidos. Era gostoso eu no colo dele, ele me segurando forte e nos beijando devagar. Me ajeitei melhor na posição e senti o cliente bastante excitado, abri meus olhos, estávamos bem próximos por causa do beijo.

— Como eu te chamo? Você não me deu nenhum nome...

Ele sorriu e fixou o olhar no meu, depois ficou sério, esperou alguns segundos antes de responder.

— Me chame de Chefe...

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Olá, como vão?

Eu sei que eu já me despedi do site devido a alguns probleminhas de plágio, mas como vi que isso acontece em todo lugar e eu estava com saudades daqui, voltei com esse conto. Ele é curto e está prontinho.

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Comentários

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Ou, eu dei dez e computou um! Sacanagem do site... Acredito que tenha acontecido com outras notas abaixo também.

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Cara, muito contagiante! Continue logo! Não nos faça sofrer com a demora, rsrs. Abraços!

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você voltou! senti sua falta por aqui. Vou acompanhar esse com certeza!

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Ótimo conto você é um bom escritor de literatura erótica quanto aos plágios isso só vem comprovar isso ninguém iria copiar algo ruim ... Parabéns !!!!!

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Muito interessante até agora! Aguardando mais!

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E não pare viu, estou bem curioso sobre esse!

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Ah Jades que saudade, amei o novo conto. Some não!!

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Que saudade de você hahahaha quase surtei quando vi que vc tinha voltado. Nem preciso dizer que seus contos são ótimos, que bom que voltou ♡

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