Olá caros leitores,
Como sabem estou de volta depois de ter dado uma pausa neste projeto, espero que me perdoem por isso e saibam que estou disposto a levar até o fim por vocês, aos que ja leram a história recomendo que leiam novamente pois estou revisando tudo e acertando algumas pontas soltas, aos novos leitores sejam muito bem vindos e ótima leitura.
ps. Esse capitulo ficou bem longo, quem não gostar pf desculpe. Fiz uma conta no WattPad, quem quiser acompanhar por la sinta-se convidado, meu perfil é Jpazini. Votem e comentem s2 amo a interação com vocês.
10 - Problemas
A minha vida só melhorou depois daquela viagem maravilhosa. Bê era sempre atencioso comigo, éramos ele e eu contra o mundo. Nós estávamos nos dando muito bem nas aulas, minhas notas estavam ótimas e com certeza eu não ficaria de final em alguma matéria. Por eu ser muito bom em trabalhos a galera brigava para ficar no meu grupo, era engraçado, mas para não gerar confusão eu escolhia aleatoriamente quem ficaria comigo. Nicholas nunca olhava para mim, e eu estava feliz por isso, as coisas seriam bem mais difíceis se não fosse dessa forma. O período estava acabando, as férias se aproximando, estávamos na correria para recuperar o que foi perdido e passar nas matérias.
Faltando duas semanas até as férias de fim de ano, a professora de Introdução à Engenharia Civil inventou um trabalho para fechar as notas, o que pegou todos de surpresa.
– Turma, para fechar a nota eu tenho um trabalho para vocês, eu quero uma pesquisa com uma curta apresentação sobre especialidades da Engenharia Civil, em dupla, para a última semana de aula. Eu já montei as duplas e o que irão pesquisar, vou fixar no mural da sala ao fim da aula. – disse ela com duas listas na mão.
Entre reclamações e suspiros de cansaço, até que eu achei interessante, e finalmente não teria que me preocupar com quem faria o trabalho. A aula seguiu normalmente. Os líderes da turma estavam combinando uma festa de fim de período, para a sala mesmo e quem tivesse namorando poderia levar a pessoa também, eu me animei, eu gosto de festas apesar de ultimamente estar mais caseiro. Foi confirmada a festa para o dia 19 de dezembro, cairia em um sábado, logo após o fim das aulas.
A aula terminou e todos correram para o fundo da sala ver as listas, exceto Nicholas, que arrumava calmamente sua mochila. Alguns ficaram felizes e outros decepcionados com as escolhas dos grupos. Eu fui andando até a lista e tive uma péssima surpresa. O tema era perfeito, estradas de ferro e as novas tecnologias no setor, mas eu faria exatamente com Nicholas, o que me desagradou de imediato. Olhei instintivamente para ele, que já estava olhando para mim. Enquanto ele me olhava eu andei em direção à professora e tentei convencê-la a trocar com alguém, mas ela foi firme e direta.
– Escolhi as duplas de forma aleatória, não vou te dar o luxo de trocar, pois todos iriam querer fazer o mesmo, se tem algum problema com ele, resolvam-se, mas quero o trabalho pronto. – disse ela dando de ombros enquanto recolhia as pastas e livros da mesa e saia da sala.
– Acho que faremos o trabalho juntos. – Nicholas disse atrás de mim. Levei um susto, pois não o vi se aproximar.
– Infelizmente. – disse enquanto andava para a minha mesa pegar a minha bolsa.
– John, por que você não esquece o que passou? Cara você já está namorando, eu também, seguimos a vida, não tem por que continuar com essa rispidez. – disse ele se aproximando.
– Nicholas, depois de tudo o que houve com o seu sumiço e a forma que me tratou naquele dia? Você não sabe o quanto eu sofri por sua causa, não da para esquecer assim, infelizmente não dá. – falei abaixando a cabeça.
– Eu sinto muito. Vamos tentar ficar bem, vamos usar esse trabalho para esquecer essa dor e seguir em frente. Desculpe-me por aquele dia aqui na sala, eu fui muito idiota contigo. Só não quero mais esse clima. Tudo bem? – disse ele triste.
– Eu preciso pensar ok? Amanhã nos falamos. – falei, saindo da sala.
– Ok John, até. – disse ele.
Andei até o estacionamento do prédio, eu estava pensativo com tudo o que houve, liguei para Bernardo e pedi para encontrá-lo, era fim de tarde já.
– Oi amor, tudo bem? – disse Bernardo.
– Oi Bê, estou mais ou menos, preciso te ver, está livre agora? – Falei meio rouco.
– Para você? Lógico amor, onde você está?
– Sai da aula agora, to aqui no estacionamento.
– Vem para minha casa, pode ser?
– Está ótimo, em 20 minutos estarei ai. Beijo.
– Ok amor, beijo. – e desligou.
Vitória é uma cidade relativamente pequena, mas o trânsito nos horários de pico tornava tudo um caos. Da UFES até a casa dele eram 5 minutos de carro, mas naquele horário com certeza eu demoraria mais tempo. Liguei o carro e sai. Uns 25 minutos depois eu cheguei à frente do prédio dele, estacionei na rua mesmo, os porteiros já me conheciam então subi direto. Toquei a campainha, Bê abriu a porta e me deu um abraço. Entrei no apartamento, o pai dele estava no sofá vendo o jornal. Ele me cumprimentou e Bê me puxou para o quarto dele. Após entrarmos ele me deu um abraço e um beijo muito carinhoso. Nós sentamos na cama e eu contei tudo o que houve.
– Acho que essa professora armou tudo isso com ele. Não tem lógica. – Disse ele ficando meio nervoso.
– Acalme-se Bê, isso é paranoia sua, foi apenas coincidência. Só que sou obrigado a fazer esse trabalho, então terei que ceder. – disse sério.
– Eu não quero que você saia com ele, não confio nele, tenho ódio dele.
– Bê, você me assusta quando fala assim, você precisa controlar esses seus picos de raiva, aquele dia você me machucou, e olha que era eu, imagina com outros, o que você pode fazer... – falei preocupado.
– Desculpa amor, é que eu tenho medo de te perder, e você é muito importante para mim, eu te amo. – disse ele triste enquanto me abraçava deitando no meu colo.
– Eu também te amo, não precisa se preocupar, eu vou fazer esse trabalho, e a vida segue. Ok?
– Não tenho escolha, mas quero uma coisa! – disse ele olhando para mim seriamente.
– O que você quiser Bê.
– Quero estar junto quando forem se reunir para fazer esse trabalho.
– Sério? Tudo bem então. Espere-me amanhã, após minha aula, na Biblioteca Central. Vou avisar a ele. Está mais tranquilo agora?
– Agora estou sim. Vem cá. – disse ele me puxando para um beijo.
Ficamos deitados juntos alternando entre beijos e carinhos. Não podíamos nos animar mais, pois o pai dele estava em casa. Passaram umas duas horas e ouvimos batidas na porta.
– Bernardo, o jantar está pronto, vamos para a mesa. – falou o Sr. Rodrigo sem abrir a porta.
– Ok pai, já estamos indo. Está com fome amor?
– Estou sim, vamos comer e depois vou para casa.
Nós levantamos e fomos para a sala de jantar onde havia uma mesa grande de vidro com oito lugares, sentamos juntos de um lado da mesa e o Sr. Rodrigo na cadeira ao centro. Jantávamos entre conversas tranquilas quando Bernardo falou.
– Pai eu quero te falar uma coisa.
– Pode falar filho.
– O John não é meu amigo. – disse Bê tranquilamente enquanto comia. Eu congelei na hora.
– Como assim meu filho? – disse o pai dele sem entender.
– Eu e ele estamos namorando.
Eu me engasguei na hora, eles ficaram preocupados comigo, tossi um pouco e recuperei o fôlego.
– Você está bem? – ambos perguntaram.
– Eu... Eu estou sim, só me assustei, o que você está fazendo? – Sussurrei para Bernardo.
– Está tudo bem amor, eu falei para meu pai há umas semanas atrás que eu era gay, e para ele o importante é a minha felicidade, não é pai?
– É sim meu filho. Confesso que não esperava isso, mas se você é assim eu não posso te obrigar a nada, então tenho que aceitar. Está tudo bem John, eu sou mais compreensivo do que imagina. – Ele brincou.
– Então não tem problema eu namorar o seu filho? – Falei com uma vergonha imensa.
– Não mesmo John, eu tenho observado vocês desde a primeira vez que você esteve aqui em casa. E essa aliança nos dedos de vocês já anunciou isso. Você é uma ótima pessoa, e está fazendo meu filho tão feliz que não tem como eu rejeitar esse relacionamento. Só quero que me prometa não magoar ele.
– Não se preocupe, eu amo demais o seu filho para fazer qualquer mal a ele.
O resto do jantar foi perfeito. Eu não imaginava que o pai do Bê fosse tão bacana. Despedi-me do Sr. Rodrigo, e o Bê me levou até meu carro, me deu um beijo e fui para casa. Dormi como um anjo de tão feliz.
No dia seguinte era dia de prova, o dia passou rápido por estarmos todos concentrados, após o término das questões eu sai da sala e encontrei com Nicholas me esperando na porta.
– Eu estava te esperando. – disse ele andando comigo.
– Então Nicholas, nós vamos fazer esse trabalho hoje, quinta e sexta após as aulas, na biblioteca Central.
– Sexta eu não poderei, mas conseguiremos terminar até amanha.
– Ótimo. Mais uma coisa, o meu namorado vai estar conosco.
– Por quê? – disse ele sem entender.
– Ele quer me acompanhar, não vejo nenhum problema.
– Se você está dizendo...
Nós andamos até a biblioteca e encontramos Bernardo esperando por nós na porta, ele me puxou num abraço bem forte e me arrancou um beijo que me pegou de surpresa. Eu sabia que ele estava fazendo isso por causa do Nicholas, e isso me irritou um pouco, mas eu fiquei na minha. Subimos para a área das mesas de estudo, eu liguei meu notebook e Nicholas pegou seu tablet e começamos o trabalho.
A pesquisa ia fluindo bem. No começo, Bê estava sempre grudado comigo, às vezes forçava um beijo e tal, mas com o tempo ele percebeu que estava agindo como um bobo e ficou mais tranquilo. O fim de tarde seguiu sem problemas, mesmo com Nicholas e Bê não trocando nenhuma palavra diretamente. Quando o clima ia começar a ficar mais descontraído alguém se aproxima de nossa mesa.
– John, é você?
– Marcos? – Falei em um tom de surpresa que Bernardo não deixou de notar.
– Quanto tempo né? Como está a faculdade?
– Está ótima. Como vê, estamos bem atolados... – Disse tentando evitá-lo, mas ele já foi se sentando ao lado de Nicholas.
– Eu sei que você sempre terá um tempo para seu melhor amigo, falando em amigos, me apresente os seus. – disse ele com aquele sorriso, aquele maldito sorriso.
Marcos era um cara bonito, quem negasse isso apenas estava mentindo para si mesmo, e droga, ele sabia ser sedutor quando queria. O tipo de cara que gosta de jogar e sabe como o jogo funciona. Eu o conhecia há muito tempo para saber disso, e tudo o que eu sentia por ele apenas me fazia não enxergar que eu era apenas uma peça no jogo.
– Este é o Nicholas, estuda comigo na Civil. – falei apontando para o Nicholas – E este aqui é o Bernardo, meu namorado.
– Seu namorado? Ual. – o tom de deboche deixou Bernardo irritado, pude sentir isso, Nicholas apenas analisava a situação.
– Tive mesmo muita sorte de conhecer o John. – disse Bernardo.
– Já que está segurando vela aqui não gostaria de ir tomar um sorvete comigo? – disse Marcos olhando diretamente para Nicholas e ignorando o que Bernardo acabara de falar.
– Foi mal, mas eu sou hétero.
– Sei... Bom, já vou indo, mas foi bom ver você John. Ótimo saber que está em excelente companhia. – disse ele piscando para Bernardo, e eu sabia exatamente o que aquilo significava.
– Foi bom ver você também. – despedi-me.
Após Marcos sair do nosso campo de visão, Bê e Nicholas olharam para mim como se esperassem uma explicação.
– Não quero falar sobre isso.
– Odiei ele! Como alguém como você pode ser o melhor amigo dele? – pergunta Bernardo.
– Não somos melhores amigos ok? – disse irritado.
– Então por que deixou ele dizer isso? – disse Nicholas.
– Você não se mete! – Bernardo falou para Nicholas, em seguida me indagando – E você, por que deixou ele dizer isso?
– Olha quando estou perto dele, não sei como reagir, me lembro de como eu era antes, frágil, submisso, nem me impor eu consigo. Debater ou brigar só me faria parecer bobo, ele sabe fazer mentiras se tornarem verdades, ele sabe manipular as pessoas. Inclusive a mim, mesmo conhecendo bem o jogo dele. E vi que ele está afim de você, aquela piscada foi o sinal que você é o novo desafio dele, e não tenho como competir amor. – falava num tom de decepção comigo mesmo.
– Afim de mim? Desafio? – indagou Bernardo.
– Sim, quando ele se interessa por alguém ele não desiste até conseguir, e você é exatamente o tipo que ele gosta. – falava antes de ser interrompido por Nicholas.
– Acho que já adiantamos muita coisa, podemos terminar em casa o que falta. Já vou indo. – Disse Nicholas rapidamente enquanto recolhia suas coisas, nos deixando sozinhos.
Eu permaneci em silêncio por alguns segundos, Olhava para o céu através das grandes janelas de vidro que percorriam toda a biblioteca, estava pensando em Marcos, no meu passado com ele e como tudo me atingira. Bernardo segurou minha mão, acordando-me do momentâneo transe que eu estava, e pediu-me para contar sobre o Marcos. Fiquei em dúvida se deveria ou não contar, mas confiava nele o suficiente para isso, logo contei.
Marcos e eu nos conhecemos no segundo ano do ensino médio, ele entrou no meio do ano por transferência, e já nos seus primeiros passos pela sala, um alvoroço se iniciou com todos querendo conhecer o garoto lindo de sorriso encantador. Eu fui um dos poucos que não se importaram com a sua presença, e não, isso não o fez olhar para mim, nada clichê desta forma acontece em minha vida, pelo contrário, passaram algumas semanas sem ele se importar com a minha existência.
Certo momento ao longo das aulas ouve um trabalho sobre esportes coletivos para a aula de educação física, e cada grupo deveria trazer um esporte coletivo por aula para a turma participar. Meu grupo trouxe o pique-litro, o que animou muito a turma, entretanto no dia do grupo do Marcos, muitos já estavam cansados, e Marcos não soube ser muito cordial em seu convite exigindo a participação de todos, o que gerou uma briga entre ele e a turma.
Ao fim da aula ele sentou-se com raiva no canto da quadra, preso em seus pensamentos. Eu poderia ter ignorado seu drama e ido para casa como todos, mas minha empatia pelos outros sempre falou mais alto, logo, eu caminhei em sua direção, sentando-me ao seu lado.
– O que foi? – disse ele bravo.
– Você sabe que não pode agir assim quando as coisas não saem como você quer, não é?
– Tanto faz.
– O pessoal te adora, só estavam cansados, respira e vai pra casa, amanha é outro dia. – disse com um sorriso acolhedor.
– Por que você se importa? Nunca falou comigo antes. – disse ele curioso.
– Correção: Nunca puxei seu saco antes. – e rimos. – Já vou indo, qualquer coisa sabe onde me encontrar.
Depois deste dia percebi os olhares de Marcos para mim sendo mais frequentes, até que um dia no intervalo ele me chamou para conversar, conversa que na verdade foi mais um desabafo sobre sua paixão por um modelo da mesma agência que trabalhava. Apesar de eu ser gay, eu não tinha meu gaydar muito afiado, então fiquei bem surpreso com aquela revelação, porém fiquei mais feliz por ele confiar este segredo a mim.
Assim começou nossa amizade, eu ainda passava por aquele momento turbulento devido ao meu relacionamento abusivo e Marcos me ajudou a sair dessa, me ensinou muito sobre como ser uma pessoa confiante, a me sobressair e a ser forte. Porém mesmo me tornando assim para os outros, com ele eu era totalmente o oposto, e ele sabia disso, ele gostava disso.
Dormíamos juntos, saiamos juntos, vivíamos juntos. Festas, jantares, viagens, cinema, shows e peças teatrais. Ele me apresentou um novo mundo, mundo que um garoto da periferia jamais conheceria por conta própria. Tudo estaria perfeito até hoje se não tivesse acontecido uma coisa.
Bastou uma festa, uma bebida a mais para tudo mudar e entrarmos em um caminho sem volta. Chegamos bêbados no apartamento da família dele, eles estavam viajando, o que significava que tínhamos todo o lugar só pra nós. Enquanto me despia de minhas roupas sujas da festa, Marcos, deitado em sua cama, me analisava com um olhar de curiosidade. Não preciso contar que transamos a noite toda, e sim, pra mim foi incrível.
Achava que aquele momento era a oficialização do nosso amor, sempre diziam que éramos perfeitos juntos, antes de dormir, sempre fazíamos declarações um ao outro, sentíamos ciúmes quando estávamos com outros caras, tudo isso contribuía para meu amor platônico crescer mais e mais. Porém no dia seguinte ele agiu como se nada tivesse acontecido, me senti mal, mas convenci-me que aquilo fora algo de momento, e foi, até que no fim da festa seguinte aquilo aconteceu de novo, e de novo, e de novo.
Poderia ter me contentado com isso, tinha o melhor amigo que poderia haver no mundo, ele me protegia, me completava, e ainda havia um ótimo sexo no fim da noite, e o preço para ter tudo isso era manter o segredo.
Mas eu já não era como antes, o John de alguns anos atrás poderia viver assim, mas não o de agora. Sou melhor que isso, e mereço o melhor, mereço o integral, mereço o completo, assim o chamei para conversar. Infelizmente não foi como imaginei. Ele gostava do que tínhamos, mas ele não sentia o mesmo por mim, pelo menos foi o que ele disse.
Marcos sempre ficava com o mesmo tipo de homem: branco e alto. Por um tempo achava que isso era coincidência, depois achava ser questão de gosto, por fim vi a verdadeira razão. Racismo é algo real em nossa sociedade, quem nega a sua existência: ou nunca sofreu ou nunca parou para analisar sua presença. O racismo direto, aquele usado muitas vezes na forma de ofensa é fácil de ser identificado, mas o racismo oculto em nosso dia a dia nem todos percebem, um deles é o “gosto”, e era assim com Marcos.
Sua “preferência” era regra, sei que há quem possa defendê-lo ou ter uma possível explicação para tal comportamento, mas, como exemplo, eu gosto de baixinhos, é uma preferência, mas se eu gostar ou até me apaixonar por alguém alto, isso jamais seria um empecilho. Essa é a diferença. E nossa sociedade está cheia de pessoas assim, seja uma senhora que abomina um beijo gay em uma novela, porém justifica não ter preconceito, pois seu cabeleireiro é gay, ou um pai não aceita que sua filha namore um garoto negro e diz não ser racista, pois tem amigos negros ou uma vendedora que julga a condição financeira de algum cliente devido à aparência, dentre outros casos.
Marcos não poderia ser visto em um relacionamento comigo, ter um amigo negro tudo bem, mas namorar um é outra história. E olha que sou bem claro, imagine o que outras pessoas passam todos os dias.
O que eu sentia era muito forte então nossa convivência tornou-se insuportável para meu coração, então fui me afastando dele aos poucos, parei de ir a festas juntos, logo depois não ia mais a sua casa, até que paramos de nos falar.
– Não sei o que dizer amor, sinto muito. – disse Bê.
– Passado, não se preocupe. Agora me diga por que estava agindo daquela forma com Nicholas?
– Que forma amor, eu estava normal.
– Não, não estava. Não precisa mostrar que eu sou seu ok? Jamais te trairia.
– Desculpa amor, eu queria mostrar para ele, para os dois que eu estava contigo, que você é meu.
– Bê, você tem que confiar em mim, se não houver confiança nada dará certo. Eu te amo poxa.
– Tudo bem amor, me desculpa. Para provar que eu confio em você eu vou te deixar sozinho com ele na próxima. Está bem?
– Ok amor. – ri – Mesmo sabendo que não haverá próxima.
Despedimo-nos e fomos para casa. Nos dias seguintes Nicholas e eu estávamos esquecendo a dor do passado e o trabalho foi feito. No fim de semana Bê e eu fomos para a praia e depois passamos a noite juntos, uma noite maravilhosa com muito sexo. Bê, apesar dos ciúmes e de ficar nervoso facilmente, era perfeito, e eu o amava demais.
A semana correu bem, terminaram as provas, a apresentação foi um sucesso e fui aprovado em todas as matérias o que é um caso raro na engenharia, quem é deste curso sabe bem. Meus problemas com Nicholas estavam passando, não que eu seria melhor amigo dele, mas a dor de antes já não era a mesma. Eu preferi não procurar saber tudo o que houve com ele, não queria revirar o passado e nem levantar discussões sem importância. Simplesmente deixei o tempo ajeitar tudo e segui em frente.
Finalmente, após o longo semestre, chegou a festa de fim de período. Era um sábado de céu limpo, e o dia estava pedindo comemorações. Eu arrumei minha mochila e fui de ônibus para a casa do Bernardo, pois eu me arrumaria lá. Depois de um banho juntos maravilhoso, com direito a um sexo oral incrível feito por ambos, nos arrumamos e estávamos prontos para sair.
Eu estava com uma bermuda verde dobrada até o joelho, uma camisa preta sem manga marcando meus braços e um tênis preto combinando com a camisa. Bê estava com uma calça preta e uma camisa rosa que o deixou muito bonito. A festa seria no bairro Jardim Camburi, um bairro de classe média na parte continental da cidade. Entramos no carro de Bê, expliquei direitinho como chegar e saímos muito animados. Porém mal sabíamos que aquela noite seria longa.