Continuação do conto/relato "E Do Auge do Que Era Perfeito..."_______
Eu olhei em seus olhos, bem lá no fundo e tudo o que consegui demonstrar, transmitir, foi uma pura e completa decepção. Mas o que mais estava estampado em minha face era o grande e absoluto nojo.
2 meses antes...
Os dias com a Amanda não eram simples, havíamos nossas discussões pelos preparativos de nosso casamento, se seria algo grande ou simples, teríamos de descartar a igreja porque ela já havia sido casada oficialmente antes com o pai de sua filha, então em certos momentos, tínhamos “problemas no paraíso”, como todo casal.
Mas para mim, tudo aquilo fazia parte da magia do que era estar com ela. Eu considero essa a fase mais imbecil e irracional da minha vida. Talvez tenha sido o único ano de minha vida, tempo que durou tudo isso, em que fui um completo adolescente influenciável, irracional, não guiado pela razão. Tudo o que eu pensava, era na Amanda de uma forma melosa e shakespeariana que dava até asco em quem estivesse por perto. Mas por outro lado foi o último momento em minha vida em que me recordo ter amado verdadeiramente uma mulher.
A última vez que estive no interior com ela, estávamos em um encontro de “casal” com minha irmã caçula e meu melhor amigo. Em determinado momento, me levantei para ir no banheiro da lanchonete e ao entrar, dei de cara com um cara de cabelos pretos e com um corte que eu invejei (sempre quis ter cabelos lisos), olhos verdes, todo bombado e bem alto e bem apessoado, daqueles caras que chamam a atenção, que tem magnetismo próprio. Lembro que fiquei imaginando que se eu me parecesse com ele, a vida com as mulheres antes da Amanda teria sido muito mais fácil. Entrei no banheiro, fiz minhas necessidades saí.
Na lanchonete, percebi que o “bonitão” do recinto estava sentado de frente pra Amanda, acompanhado de uma loira mais ou menos da minha idade muito bonita, bem arrumada e que não tirava os olhos dele, ria de tudo o que ele falava, ajeitava o cabelo toda vez que ele olhava pra ela, agia como se ela tivesse que estar grata pela presença dela ali, e a coitada babando, alisando as mãos dele, soltando risinhos. Pela primeira vez estava vendo esses caras “pegador-macho-alfa” que tanto se contam as “lendas”. Deixei de dar bola pra isso e fui dar atenção pra Amanda, mas percebi que ela estava corada e quando perguntei se estava bem, ela apenas respondeu que sim, soltando um sorrisinho de quem está aprontando. Respeitei seu espaço e privacidade e não dei mais importância ao fato.
Umas semanas depois, Amanda estava em São Paulo para fazer compras no Brás e 25 de Março. Queria aproveitar a época de Natal para comprar tudo o que pudesse de barato, tanto para ela, quando para a filha. Eu a acompanhava em tudo, como qualquer noivo, mas quando estávamos enfim descansando em uma lanchonete, já na região da Paulista que a levei para conhecer, a percebi totalmente distraída, calada, toda hora verificando seu celular, as mensagens de SMS. Tentei não dar bola pra isso, imaginei que fosse preocupação com a filha e continuamos o passeio, eu prestando atenção nos lugares mais do que ela.
À noite, quando fui indaga-la se estava tudo bem, que poderia conversar comigo sobre qualquer coisa, ela me puxou para a cama e fizemos amor, só que ela estava diferente, mecânica, fingindo orgasmos quando eu mal havia começado a tocá-la ou penetrá-la. Nas noites seguintes era o mesmo, era eu começar a conversar com ela sobre o que poderia estar acontecendo, ela me puxava para fazer sexo e sendo mecânico, sem sua participação, o sexo não era nem perto de ser prazeroso.
A indaguei se ela estava tendo dúvidas, se queria terminar o noivado, eu ficaria chateado mas entenderia e seguiria em frente. Isso parece tê-la despertado daquela distração que sua mente estava e disse que não, que me amava mais que tudo, pediu desculpas e me levou para cama novamente e foi esse talvez, o último sexo sensacional que tivemos, com ela se entregando para mim de uma maneira que desde nossas primeiras transas não acontecia.
Os dias dela em São Paulo acabaram e ela retornou para o interior. Tive uns compromissos na escola (eu ainda era menor de idade e ainda no ensino médio) em que precisei participar de um grupo de trabalho em que faria uma apresentação gigantesca sobre a história do Brasil para várias escolas. Como sempre fui amante de história, me envolvi de cabeça no projeto e precisei ficar algumas semanas sem ir para o Paraná e nem adiantava ela vir pra São Paulo que não poderia dar atenção a ela, portanto, ficamos semanas só nos falando por celular.
A apresentação foi um sucesso, recebi elogios até do governador e prefeito e tenho a foto que tirei com eles até hoje. Mas não via a hora de ir para o interior e ver Amanda, afinal, eram dois meses só na base da punheta, sem sexo algum, sendo que tinha a mulher mais linda do mundo a centenas de quilômetros de distância de mim.
Cheguei no interior e estava em casa apenas minha irmã com quem eu havia brigado por tentar me alertar sobre a Amanda. Ela disse se eu ia pra casa da sogra e disse secamente que sim. Ela atendeu o telefone que tocou em casa, respondeu quase cochichando alguma coisa, se virou pra mim e disse que precisava me mostrar algo, mas que eu tinha que confiar nela. Estando brigado com ela, pedi pra mostrar logo que não tinha tempo pra jogar fora e tinha que ir ver a Amanda, nem havia avisado que havia chegado ainda. Ela apenas disse que o que tinha pra me mostrar não estava em casa e eu teria que ir com ela, que eu tinha que confiar nela só dessa vez e prometia nunca mais nem mesmo olhar na minha cara se eu preferisse assim, mas eu tinha que ir com ela.
O tom sério dela, o que era bem incomum, sempre estava com um ar cínico de piadista na cara, me fez prestar atenção e decidi que já que estava a dois meses sem a Amanda, o que era alguns minutos a mais. E já era hora de esquecer as bobeiras da minha irmã.
Fui seguindo minha irmã por diversas quadras e ruas. Parecia que não chegaríamos nunca, já estávamos inclusive em outro bairro e quando entramos em uma rua estreita, avistei minha irmã caçula segurando no ouvido o ganho de um telefone público. Um senhor alerta despertou em mim, meu coração disparou e meu corpo ficou gelado, mas não conseguia pensar em nada que pudesse explicar aquela sensação, aquele peso.
Chegamos em frente a um portão, minha irmã confirmou com a caçula em um aceno de cabeça e em um tom baixinho disse para eu entrar dentro da casa e ir em direção ao quarto. Disse o que havia para me mostrar estava lá e que eu iria tirar minhas próprias conclusões. Os olhos marejados da minha irmã caçula meio que me entregou o que poderia ser, mas eu mesmo assim preferi acreditar que se trataria de alguma surpresa que elas poderiam estar armando para mim, na minha cabeça, aquela poderia até ser uma casa que a Amanda teria encontrado pra gente morar temporariamente quando casássemos.
Fui entrando e já dentro da sala escutei gemidos altos vindo da direção dos quartos. E eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar no mundo. Meio cambaleando, com a visão turva e sem meu sentido de equilíbrio, fui me arrastando pelas paredes até chegar no quarto que estava com a porta aberta. Na cama, Amanda estava nunca, sentada e rebolando no pau de um cara que a princípio não vi, apenas deu pra ver pelas pernas que era alguém que frequentava academia. Ela gemia alto, enquanto suas mãos acariciavam os próprios seios, as mãos do cara seguravam e apertavam sua cintura, alterando em apertar os seios dela enquanto a chamava de amor e pedia pra ir mais forte, pra cavalgar mais forte.
Eu não conseguia me mover, fiquei parado estático assistindo aquela cena, enquanto via aquele corpo perfeito e maravilhoso que eu amava tanto dando e recebendo prazer a outro homem. Via aquele quadril, aquela bunda redondinha que tantas vezes me peguei admirando sentando com intensidade em um pênis claramente maior que o meu, sem camisinha, totalmente lubrificado, enquanto ela dizendo que estava amando tudo aquilo, que amava ELE, que estava quase gozando.
Ele inverteu a posição em um movimento hábil, ficando por cima com ela em posição de frango assado e passou a meter em sua buceta com força, as batidas de sua virilha em sua bunda pareciam marteladas até ela explodir em um gozo intenso com ele também despejando tudo dentro dela.
Eu não estava excitado com aquela visão, mas não podia deixar de apreciar que mesmo naquele momento ela estava linda. E isso era o que mais machucava. Senti um peso enorme no peito, como se algo fosse explodir pra fora, senti um ódio avalassador e um nojo tremendo vendo a mulher que mais amei na vida, na cama com outro homem. E então me lembrei que teria sido esse sentimento, essa angústia, esse desespero, esse ódio, raiva, nojo, seria isso que o pastor teria sentido se tivesse pego eu na cama com a Cibele. Porque o que estava sentindo naquele momento não desejava à mais ninguém, nem mesmo a um inimigo.
Então me dei conta que Amanda me olhava com os olhos petrificados e o cara me olhava com raiva, sem entender o que eu fazia ali. Eu o reconheci de imediato da lanchonete, era o “bonitão” que estava com a loira meses antes na mesa próxima à nossa e que eu havia cruzado na saída do banheiro. Então ele me reconheceu e me perguntou:
- Cara, você é otário? Ela já não terminou com você? Tá seguindo minha namorada é caralho?
- Sua namorada é o caralho, é a minha noiva que você está comendo seu filho de uma puta – respondi meio que gaguejando já cuspindo.
Parece que ele compreendeu antes mim tudo. Ele olhou pra ela e perguntou.
- Você não disse que tinha terminado seu noivado? O que ele tá fazendo aqui?
Ficou eu e ele olhando ela, esperando uma resposta, ela petrificada, mais branca ainda do que já era. Minhas irmãs entraram na casa e assumiram o controle da situação e disse para o cara que não havia tido término de noivado algum, pelo contrário, até buffet as três haviam ido procurar durante a semana, mas descobriram os dois e achavam que se tratavam de um caso que estavam tendo. E ali, os dois, na verdade estavam em um namoro sério, com ele também sendo enganado.
Amanda começou a querer se explicar, mas tudo o que vi foi minha irmã caçula cerrando os punhos e descendo um soco bem dado no meio do olho direito dela, que caiu da cama do outro lado, simplesmente saiu do quarto e da casa, nos esperando do lado de fora. Eu olhei para minha irmã, com quem havia brigado meses antes por causa da Amanda, segurei em suas mãos e pedi ali mesmo seu perdão por ter duvidado e ter feito o que fiz. Ela acariciou meu rosto, me beijou na testa e também saiu da casa dizendo que me esperaria lá fora.
Eu olhei em seus olhos, bem lá no fundo e tudo o que consegui demonstrar, transmitir, foi uma pura e completa decepção. Mas o que mais estava estampado em minha face era o grande e absoluto nojo.
Olhei pra ele, olhei para ela, tirei minha aliança de noivado e coloquei em cima da cômoda do lado da porta. Me virei e saí.
Desnecessário dizer que isso me abalou profundamente. Estando do outro lado da moeda me fez rever muitas coisas. Descobri depois que ela tinha outros namorados e nunca havia sido fiel, nem à mim, e nem a nenhum deles. Eu era o único otário a ter pedido em casamento, eu, um garoto de 16 anos. Acabei me encontrando com o “bonitão” depois, pra uma conversa de “homem pra homem”, nos acertamos sem ressentimentos e ficamos muito amigos, tanto que anos depois ele se tornou meu cunhado, se casando com minha irmã.
A Tereza continuou amiga de minha mãe, mas já sabia do resultado desse relacionamento, havia sido assim desde o início do primeiro casamento da Amanda, mas se tivesse dito algo, eu não teria acreditado nela, assim como não acreditei na minha irmã. Minha irmã por sua vez, já tinha pego a Amanda com outro cara muito tempo antes, mas depois que eu briguei com ela, resolveu esperar até conseguir e poder me provar a traição.
Hoje em dia a Amanda é garota de programa (é sério) em outro estado, teve mais dois filhos e é uma pena ver que depois de 15 anos, sua filha que hoje tem quase 18 tá quase seguindo esse caminho. Eu me vinguei da Amanda de certa forma que não me orgulho nem um pouco. A lição que aprendi com ela no fim, é de nunca me apaixonar e nunca confiar em ninguém e de fato isso me abalou ao ponto de nunca mais amar nenhuma outra mulher e nunca mais ter conseguido ter um relacionamento que durasse mais que 6 meses.
Aquele que antes era o caçador de casadas, também teve seu longo momento de caça. Como é que diz o ditado, “aqui se faz....”?Bom gente, talvez este tenha sido o conto/relato menos erótico que escrevi aqui, mas precisava contar isso de alguma forma. Peço desculpas por ser tão prolixo.
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